![]() ![]() |
![]() |
UFDC Home | Search all Groups | Digital Library of the Caribbean | World Studies | South America Collections | Caribbean Newspaper Digital Library | | Help |
Material Information
Subjects
Notes
Record Information
|
Full Text |
amazonica ANO I NO 9 BELEM, MAIO DE 2000 R$ 3,00 L cio Fldvio Pinto DESENVOLVIMENTO A paixio amaznica amazonica As necessidades de guerra fizeram o mundo voltar A Ama- z6nia na metade da d6cada de 40. Desta vez, tanto para e suprir de borracha, cujo acesso fora bloqueado no oriented pelo ingresso doJapAo na conflagraoo mundial, quanto para estabelecer na regilo uma base definitive. Nao foram apenas os estrangeiros, entretanto, que definiram sua posigo em relaao a maior fronteira de recursos naturais do planet: o pr6prio Brasil decidiu incorporar de vez ao seu territ6rio uma parte que repre- sentava mais de 50% dele, mas vivia como que A margem da eco- nomia national. Paradoxalmente, essa ofensiva de "integraAo na- cional", apesar de promovida para prevenir a intemacionalizalo da regiao, sempre em causa, acabou por aceleri-la. I Interesses nacionais e internacionais travaram alguns due- los na Amaz6nia. Na maioria das situag6es, porem, esse conflito foi mais ret6rico do que real, as palavras de ordem geopoliticas funcionando como um canto de sereia ou um boi de piranha. Na essancia, tais interesses se combinaram ao impor um ritmo ace- lerado de ocupaoo da regiao, a base de uma migrago intense e extensa, no desenvolvimento de atividades produtivas estabele- cidas para tender demands extemas, tanto do Brasil quanto de outros paises, mas nem sempre ou apenas excepcionalmente - afinadas corn a geografia e a hist6ria locais. Uma das conseqdincias desse "modelo" de desenvolvimento foi o deslocamento das elites locais do process decis6rio e o atropelamento da continuidade hist6rica regional, dois elemen- tos agregados as caracteristicas gerais do subdesenvolvimento national (como a exploracio do trabalho e a concentragao da renda). Eles impoem A Amaz6nia a condicAo de col6nia, em dupla dimensAo national e intemacional sujeita a decis6es tomadas fora do seu territ6rio e independentemente da sua von- tade (sem que at6 mesmo esteja em condic6es de orientar sua vontade de acordo cor o enredo real e imediato da sua hist6ria, retardada na compreensAo do tempo). A formulaaio e consolidacao desse "modelo" ocorreu en- tre as d6cadas de 50 e 70. A partir dai, tudo o que ter ocorrido 6 conseqUincia dessa alteraggo das variiveis principals do pro- cesso da vida na regiao, que fez suas expectativas e desejos se frustrarem, sua identidade ruir e seu future ser coberto pela n&- voa densa dos processes que, mesmo seguindo um roteiro traga- do, acabam engendrando mecanismos irracionais destruidores. Numa regiio de fronteira, na qual o agent principal esta de passage, o future ter fl6ego curto. Nesta ediiAo, procuro registrar as marcas dessa trilha em quatro significativos capitulos. No primeiro deles, atrav6s de uma excursAo de 30 ge6grafos e professors de geografia que visitaram a Amaz6nia, em 1956, b mundo amaz6nico 6 um campo de valores a espera dos homes de boa vontade e competin- cia. O passado nio serve de referencia, tantos sAo os errors cometidos pelas elites locais. Mas o future ainda 6 um livro em aberto. Espera-se que na sua escrita prevaleqa o conhecimento e a inteligencia humans. No capitulo dois esta o roteiro desse mundo em transigAo. O espago dominant ainda 6 o das vArzeas, local da mais antiga ocupagao humana e, por isso, de sua competencia. Mas ji co- mega o avango pela terra-firme. Ele ainda 6 sujeito a controls, mas esti pr6xima a derrocada da iltima fase em que a Amazonia teve veleidades de autonomia. O otimismo de fazer a pr6pria hist6ria estA.contido na pega publicitaria, de uma agencia de propaganda (o terceiro capitulo desta hist6ria) se tomou porta-voz da elite dirigente local. Ela ainda tinha a esperanca (ou a ilusao) de que poderia embarcar na nau dos novos donos do pedaco. Disse o que queria. Mas j! nao tinha o poder de fazer suas palavras se transformarem em decisoes. As decisoes vieram atrav6s do II PDA, o piano qtiinqiienal (1975/79) elaborado pela administrago Geisel como o capitulo regional do II PND (Piano Nacional de Desenvolvimento), atra- v6s do qual a alianca Estado-grande empresa colocaria o Brasil na companhia das superpotencias, a mais nova delas ( o quarto e derrsdeiro capitulo). Em setembro de 1974 publiquei em de O Estado de S. Paulo a primeira reportagem sobre esse piano, em seguida reproduzida em O Liberal. A leitura desse document, de 334 ptginas, reforcaria a decisAo que eu estava tomando de voltar a morar na Amaz6nia, depois de girar durante alguns anos, entire o Rio de Janeiro e SAo Paulo, em tomo das melhores pos- sibilidades profissionais e pessoais do tal do Sul Maravilha. A leitura do document jA era em si mesma chocante o bastante para nao deixar diivida quanto ao destiny colonial que Brasilia havia definido para a Amaz6nia. Tratei de noticiar ime- diatamente o conteddo do piano, convencido de que o native sofreria o mesmo impact que eu tivera durante a leitura do document, e tamb6m reagiria. Mas houve poucos comentArios. Nenhuma iniciativa pritica. Escrevi seguidamente entao sobre o PDA, um papel no qual Sir Cecil Rhodes faria constar sua assina- tura com embevecimento. Retomo minimo. A elite ainda achava que seu lugar estava garantido na pi- lhagem. Quando muito, por6m, ficariam para ela as sobras do banquet, desde que endossasse o enredo. Como acabaria en- dossando, entire arreganhos que nao passavam de negociacao interlocut6ria. Sua base econ6mica de sustentag~o foi solapada pela "tolerincia regressiva cor as atividades tradicionais" ex- pressa pelo PDA, fazendo eco h autoritria voz de Brasilia. Reproduzo a matdria que deu o "furo" por achar que as dedug6es sobre as intengSes, ainda quando escondidas, serao automkticas (serao mesmo?). Um quarto de s6culo depois, pode- se verificar que Brasilia criou um monstro ao conceber esse "mo- delo", um engendrador natural de desequilibrios prometendo cor- rigi-los atrav6s de um ato de vontade (o planejamento), produto acabado do iltimo piano para valer feito para a Amaz6nia (de- pois, foi s6 figuragio tecnocrata). Um monstro itil, mas que pode escapar ao control do criador, como qualquer conhecedor de feitiaria 6 capaz de pre- ver, mesmo quando o feiticeiro proclama comandar o espetAcu- lo e a alquimia. Como ter acontecido inmrneras vezes na hist6ria das iltimas d6cadas. E, ao que parece, continuara a acontecer nas d6cadas seguintes, desgastando o patrim6nio da Amaz6nia e ameagando sua sobrevivencia enquanto tal. -- / 9 *\\ c - 2 MAIO/2000 AGENDA AMAZ6NICA CAPITULO A historia interrompida m 1956 o Brasil sediou o 18 Congresso Internacional de Geografia. Uma das excursoes de campo programadas pelos organizadores para os participants do encontro era pela Amaz6nia. Lucio de Castro Soares, que comandaria a excur- sAo, escreveu um livro-guia para os congressistas. Sete anos de- pois, em 1963, o Conselho Nacional de Geografia editou esse guia (Amaz6nia, Rio de Janeiro, 334 piginas), em format pe- queno, com muitos mapas e fotografias. Passados 37 anos, o livro nao mereceu uma s6 reedi go, enquanto prolifera a subliteratura pretensamente cientifica sobre a regiio. Talvez o fato de haver sido produzido para um event especifico tenha imposto ao livro os estreitos limits de uma re- ferencia datada, que esgotaria corn o tempo o interesse por ele. Mas se 6 essa a razAo do esquecimento, dela tamb6m result uma perda para todos os que, querendo uma introducAo a Ama- z6nia, sAo levados a embarcar na canoa furada de livros escritos as pressas, para tender encomendas, por pessoas que nao co- nhecem realmente a regiao. O pequeno e precioso livro de L6cio de Castro Soares saiu do mercado ativo, nao figurando em nenhum catdlogo de editor, mas pode ser encontrado com alguma facilidade e a precos baixos entulhado em sebos. L8-lo nao 6 apenas uma das melhores maneiras de ter um correto acesso ao universe amaz6nico. Permite former uma imagem retrospective do dra- ma regional, dos acertos e desacertos do process de ocupa- g o da maior fronteira de recursos naturais do Brasil e a mais important do planet. Quando L6cio escreveu seu livrinho, a Icomi (Ind6stria e Com6rcio de Min6rios) estava iniciando a exportaiAo de manga- nes no AmapA (entAo territ6rio federal). Embora a jazida de Serra do Navio tenha sido descoberta casualmente pelo native MArio Cruz, localizar dep6sitos comerciais de minerios era apenas uma questdo de tempo para algumas das grandes empresas siderirgi- cas do mundo, especialmente as americanas, que jA vinham par- ticipando diretamente ou incentivando indiretamente pesqui- sas geol6gicas nesse sentido. Os brasileiros em geral, e os amaz6nidas em particular, nio acompanhavam essas frentes. NAo s6 nem principalmen- te porque elas eram conduzidas cor discricio ou sigilo. Mas porque seus cotidianos nao contemplavam esses temas. A Ama- z6nia ainda vivia a esperanca de "revitalizar" (como hoje se diria) o extrativismo vegetal, recuperar algumas Areas degrada- das pelos esforgos localizados de colonizago do passado (como na Zona Bragantina, a de maior densidade demogrifica e mais extenso passado econ6mico da regiao) e "valorizar" (o jargio da 6poca) o produto regional, atrav6s da industrializaiAo indu- zida pela substituiAio de suas importac6es, com o surgimento de fibricas de bens de consume imediato ou atW mesmo indis- trias de bens de capital. Em qualquer das situaq6es, o comando estaria corn as eli- tes locais e elas poderiam se movimentar num ritmo coerente com a lentidao relative da regiio. Afinal, a Uniao reconhecia o carAter em grande media autArquico da Amaz6nia, permitindo- Ihe desfrutar de um grau relative de autonomia nao conferido a nenhuma outra regiao brasileira. Essa tolerancia derivava do fato de que a regiao era pouco conhecida e o desconhecimento ava- lizava todas as expectativas que se tinha em relaiAo a ela, princi- palmente as expectativas positivas e ufanistas (um aval aos so- nhos de grandeza do pais para um future garantido por Deus e guardado em berqo esplendido). Uma autarquia federal, a SPVEA, tinha sido criada tres anos antes, em 1953, exatamente para executar o Piano de Valoriza- iAo Econ6mica da Amaz6nia, estabelecido pelos constituintes nacionais em 1946, tendo como base um orcamento formado por 3% da receita tributdria da Uniao. Enquanto a lei nao era aprovada pelo congress (e jamais chegou a se-lo), a SPVEA seguiu um Piano de Emergencia, criado em 1954 por uma comis- sio na qual a elite local era maioria, e o primeiro piano qiinqie- nal, em vigor a partir de 1955. Todos estavam de acordo num ponto: a longa fase da Ama- z6nia como reserve, depositAria dos sonhos (e tamb6m dos re- ceios) de um povo, al6m de caudatiria de expectativas intemaci- onais, tinha que acabar. A regiao iria deixar de ser promessa para se tornar realidade. Licio de Castro Soares exprime cor felicidade o estado de espirito de homes de ciencia, como ele, e de todas as pessoas bem intencionadas: a ciencia funcionaria como o abre-alas das frentes pioneiras que devassariam as imensas entranhas amaz6- nicas. Levas migrat6rias chegariam a regiao, possibilitando-lhe ter incrementos populacionais muito superiores as pobres taxas de crescimento demogrAfico end6geno, que impediam o home de ser o lider da hist6ria, at6 entao comandada pelos esmagado- res elements naturais. A Amaz6nia ainda era a pigina do Gene- sis deixada em branco por Deus para ser escrita pelos homes, conforme Euclides da Cunha a definira no inicio do sdculo. A escrita seguiria os ditames da inteligencia, acreditava Soares. Assim, os centros de produgAo de alimentos e todas as cultures de ciclo curto seriam instalados nas vArzeas do rio Amazonas, fertilizadas naturalmente todos os anos, sem grava- mes para os futures colonos, desde que alguns experiments (como os canais de colmatagem do Maicuru, em Monte Alegre, que os congressistas visitariam na excursAo) pudessem matu- rar, vencendo algumas das dificuldades que complicavam a sustentaiAo de cultivos jA estabelecidos ali, como a juta e o arroz, al6m da pecuiria. A terra-firme, onde estava a caa-ete dos indios, a floresta verdadeira, ficaria para uma segunda etapa, tanto por sua rique- za em madeiras consistentes e valiosas como por sua complexi- dade. O caminho prioritArio de penetracio ainda era o rio. Ape- nas em seus trechos encachoeirados seriam abertas estradas auxi- MAIO/2000 AGENDA AMAZ6NICA 3 liares para possibilitar a continuidade do transport e um acesso limitado as terras mais afastadas. A tarefa da ciencia era corrigir os erros cometidos por uma colonizacio empiri- ca, recuperar os danos e, cor o apoio de conhecimentos gerados em experiments tecnol6gicos, ir avangando pro- gressivamente para o interior da mata, cor atividades sele- cionadas e migragAo controlada. O home sabia que a na- tureza era uma fonte de problems. Mas tinha consciencia de que precisava respeiti-la para nio gerar problems mai- ores e mais persistentes. Alguns dos maiores entraves a humanizagio de uma paisagem dominada pela agua e a floresta eram relatives a habitabilidade da area. Mas Soares saudava as conquistas ja entAo obtidas: "A malaria esti, hoje'em dia, controlada e praticamente erradicada de certas areas e centros populaci- onais da Amaz6nia Brasileira, onde a profilaxia e o trata- mento de outras doengas tropicais endemicas vio sendo in- tensificados. Disso ji existem animadoras provas". Outra ordem de restrigOes decorria da pobreza dos solos para a exploragAo agricola, mas Soares acreditava que quando todos fossem convencidos da pobreza qufmi- ca e do alto grau de laterizagAo dos solos, expostos a exaustio pelas intensas chuvas, o resultado seria a adogAo de m6todos de cultivo agricolas racionais, ajustados as condicies tfpicas da Amaz6nia, e o reconhecimento de que a floresta em equilibrio cor o ambiente tinha primazia sobre o solo pobre, que Ihe servia de suporte mecanico, exceto nas virzeas. A esperanca de gente cbmo Soares era de que a Ama- z6nia estivesse prestes a inaugurar o novo livro, pondo fim As lendas sobre sua insalubridade para a vida humana ou a impossibilidade do estabeleGimento de uma atividade eco- n6mica regular num caos que a diversidade de vida e o im- pdrio dos elements naturais tornava indomesticivel. Essa situagio poderia ser modificada "quando a Amaz6nia se transformar numa area de atracAo humana, pelo melhor apro- veitamento dos seus recursos naturals, pelo cultivo racional de seus solos, pela sua auto-suficiencia alimentar, pela me- lhoria das suas condigSes de sadde, pela organizaclo e efi- ciencia de seus transportes, pela elevacgo do nivel cultural de suas populag6es, para citar somente alguns de seus pro- blemas mais aflitivos". Tal ofensiva permitiria vencer o complexo patogenico tropical", que mantinha em condicgo de pobreza e isola- mento o home numa regilo potencialmente rica, porque lhe faltavam os "recursos tecnico-cientificos" de que ja dis- punham outros povos, gragas ao "extraordinario progress alcangado pela Ciencia e pela Tkcnica nos iltimos anos", possibilitando "a ocupagAo e o aproveitamento de grandes areas tropicais e equatoriais, em condig6es muitfssimo me- Ihores que no passado". O piano de valorizacgo executado pela SPVEA colocaria esses instruments valiosos ao alcan- ce do home amag6nico. O desafio era formidivel, mas a confianga no conheci- mento era maior ainda. "Nao sendo regiao de ficil ocupa- gAo e aproveitamento, a Amaz8nia esti, por6m, long de ser, como nos revelam as suas verdadeiras condigQes meso- 16gicas, uma terra proibida ao home civilizado, podendo- se mesmo acreditar que, convenientemente estudada e inte- ligentemente explotada, possa ela vir a se transformar num abundante manancial de mat6rias-primas essenciais a vida modern e numa area altamente produtora de alimentos, abrigando, ao mesmo tempo, uma populagio racionalmente integrada em seu meio geogrifico e de sobrevivencia garan- tida por uma satisfat6ria estabilidade econ8mica e social", previa Soares. Seus sonhos, entretanto, s6 tinham alguma chance de se realizar se o ritmo de expansio das frentes econ6micas pu- desse ser mantido como se fosse uma hip6tese cientifica de trabalho, admitindo pelo menos o m6todo do ensaio e erro, al6m de uma tentative experimental antes da execugho co- mercial, a ciencia antes da economic. Mas enquanto a Icomi embarcava no porto de Santana s primeiros milhares de tone- ladas que iriam alimentar de manganes os altos-fornos da Bethelhem Steel, nos Estados Unidos, e servir de estoque es- trat6gico, virias campanhas de "aerogeologia", a mais moder- na das tdcnicas empregadas naquele moment para detectar dep6sitos de min&rios, eram realizadas na Amaz6nia, num total de 1,1 milhio de quil8metros quadrados da regiao. Alguns grandes grupos econ6micos ja sabiam o que queriam na regiio e utilizavam os meios adequados para atingir o alvo mais rapidamente, cor maior eficiencia. Os brasileiros nao estavam atualizados a respeito. Tanto que no contrato cor a Icomi, o governor estabeleceu que o 11- mite permitido de exportacio era de um milhao de tonela- das de manganes ao ano, para que a Icomi tamb6m pudesse tender o consume national. Na verdade, um milhao de to- neladas era o mAximo que a Bethlehem esperava extrair da mina de Serra do Navio, um volume tao alto que a exaus- tao ocorreu antes do final da concessAo, de 50 anos. En- quanto o mindrio teve elevado teor, a indistria brasileira nao viu a cor do manganes. Nao dominando o enredo da hist6ria, nao sabiamos como escreve-la. Fomos usados. As esperancas de Licio de Castro Soares se frustraram porque a ciencia e a t6cnica foram deixadas de lado. Ou melhor: nao foram usadas em favor do home necessitado das ferramentas certas para se ajustar ao ambiente e utilizi- lo inteligentemente. Foram usadas na forma de motosserra, desfolhante quimico, bulldozer e outras maquinas e conhe- cimentos para submeter a regiao. SO ritmo passou a ser aceleradissimo, as frentes se multi- plicaram, a migrag o se tornou incontrolavel, os objetivos fo- ram definidos categoricamente no mercado comprador e o ho- mem local, como seu meio natural, passaram a ser um detalhe dessa estrat6gia. Mas o livrinho quase cinqiientenario perma- nece servindo de referencia para uma Amaz6nia que podia ter sido e nio foi, mas, quem sabe, ainda poderi vir a ser. Se, para isso, tomarmos o comando da nossa pr6pria hist6ria. Para tal empreitada, o livro de Lficio de Castro Soares continue cor a mesma serventia das suas origens: 6 um guia. 4 MAO/2000 AGENDA AMAZ6NICA CAPITULO 0 roteiro de visit O s 30participantes do XVII Congresso Internacional de Geografia que escolheram a excursdo 8, dentre as ofe- recidaspelos organizadores do encontro, optarampor visitara Amaz6nia. A maioria dos excursionistas era da Europa. Entre representantes das superpotincias, surpreendentemente os russosganhavam dos americanospor5 a 4. Examinado apartir de hoje, o roteiro impressionapela durafdo da viagem, de 21 dias (trhs semanas completes), epelofato de que apredominan- cia do meio de transport era pelo rio, num navio que se transfor- mou em "hotelfluvial". Sempressa, conversando e observando a paisagem, os excursionistasfizeram algo que, hoje, dificilmente seria apreciado. 0 eixo da excursdofoi a calha do rio Amazonas. Os ge6- grafos eprofessores degeografia desceram nasprincipais cida- des existentes entire Belem eManaus, penetrando em "terra-firme" (como escreve Licio de Castro Soares) ate onde se implantavam atividades bumanaspioneiras. Algumas, em ligac~o direta efran- ca com uma base jf estabelecida no curso dopr6prio rio, como indastrias de beneficiamento dejuta e serrarias, e outras que faziam a troca da base econdmica do extrativismo, que era vege- tal e comegava a se tornar mineral cor a exploraao dasjazidas de mangans doAmapd. Umpressuposto do roteiro era de que essas novas atividades promoveriam um salto bist6rico, mas ndo teo extenso que acabas- se resultando num vdcuo, intransponivelpelos natives, alm de sua capacidade de compreensdo e dominio. Tradiko e moderni- dade, conservagfo e inovagdo baveriam de conviver. Os cientis- tas veriam os danos causadospela exploracoi intense de um solo fracoparapropor correedes e ajustes, ndo para ampliar a ofensi- va dessa destrutiva agriculture migratdria- como, infelizmente, acabaria ocorrendo. Seriapedag6gica a repetigdo desse roteiro. Quarenta anos depois, o eixo da colonizaKo deixou deserfluvial, tornando-se rodovidrio, multiplicando o alcance daquelaspequenas vias de penetragdo limitada que os excursionistaspuderam ver. Tudo o que sefaziapara incrementar e racionalizar a exploragpo das "terras-pretas" e das vdrzeasfoi abandonado, ouporque ndo deu certo, ouporque ndo teve continuidade. NoMaicuru, os canals atravs dos quais assedimentosseriam levadospara campos de deposiko, de cuja colmatagem surgiria o solo mais rico doplaneta, acabaram erodidospelas dguas doAma- zonas, dando origem a uma bala, quase um estudrio. Aforpa da natureza atrapalhou a engenbaria do homem.Jd na vdrzea do Guamd, os experiments do Instituto Agron6mico do Norte (hoje Embrapa, depois de tersido Ipean)ficaram nasprateleirasporque procura-se ndo mais a margem do rio, mas a beira da estrada. Atravis dela houve um ca6tico avango sobre a terra-firme, vistapeloprisma da excursdo como um lugara exigiruma aproxi- magdo lenta e atentapara ndo serprofanado, destruido. lpouco provdvelque qualquerdosge6grafos, entire os quais estava gente de fama, como ofrances Francis Ruellan, imaginasse que nas quatro dcadas seguintes os agents da ocupado daAmaz6nia viessem a desmatar500 mil quiOmetros quadrados defloresta native, justa- mente nas dreas mais altas, de intense laterizado, comopuderam venficar em todas as suas viagenspor terra. Para todos, o sentido dapenetragdo seria apartir das vdrzeas, avangando cautelosa- mentepara as "terras ignotas" do interior, ndo um salto que deixou para trds a hist6ria, ageografia e a inteligencia, como ocorreria a partir da d6cada de 60. Como lixo deixado displicentemente, o excursionista dos nos- sos diaspoderd veras ruinas das indlstrias que tentaram avanpar no beneficiamento de matria-prima local (ou aculturada na re- gido, como ajuta), e o descompasso entire o horizonte mental e de expectativas da hist6ria regional e a r6gua-e-compasso impostos pelo "grandeprojeto"que veio defora, viradoparafora. Afutura hidreltrica do Pareddo, no Amapd, por exemplo, foi incluida no roteiro de 1956por ser uma importante usina hidreltrica" que entdo comegava a ser construida. No entanto, toda a sua capacidade degerapdo representaria apenas 10% da potencia de uma s6 das mdquinas instaladas na hidrel6trica de Tucurui que tem 12 enormes turbines (de330 mil kw cada) insta- ladas (e mais 11 por instalar na iniciada segundafase). Oparale- lismopermiteestabeleceruma ordem degrandeza entire o que seria a evolucpopor dentro da Amaz6nia e o que significou sua ocu- papdoapartir defora, num modelo tipicamente colonial. 0 roteiro 6 um guia da Amaz6nia quepoderia tersido, se tivesse continuado a disporde algumgrau de autonomia ou evolu- ido num ritmo menos intense, e umaAmaz6nia que 4, dependent, em seus esquemas vitais, do mundo exterior, que impde uma mar- cado acelerada das atividades humans. Para gedgrafos, acom- panhar a excurso pode ter um efeitopositivo: mostrar como a geograflaperdeu a identidade com seu campo especiflco de estudo, o homem e apaisagem, aoprocurarenriquecimentos na sociolo- gia, napolitica ou na antropologia. A interdisciplinaridadeper- mitiu o adensamento de conteudo human de uma ciencia quese tornava inspida e assdptica enquanto mera reproduWo da natu- reza. Mas, em exagero reducionista, empobreceu aperspectivapro- priamentegeogrdfica dos seuspraticantes, transformando sua ci- encia numa extenso daquelas que deveriam complementd-la. A Amaz6nia, particularmente, ganbaria se osge6grafos vol- tassem a cuidar melhor das estruturasfisicas do globo, ndo como elements estaticos ou isolados, mas como uma dimensdopr6pria do nosso mundo. Todospodemos ganhar com a leitura do roteiro preparadoporLtcio de Castro Soares, ainda mais se apartirdele uma excursdo tdo inteligentefizesse o visitante encarar a verda- deiraAmaz6nia. Nofecho do seu livro, Soares apresentou esta brevee no- t(cia da excursdo " Utilizando os mais variados meios de transport, a excur- MAIO/2000 AGENDA AMAZNICA- 5 sao destinada A Regiao Norte do Brasil percorreu, em mais de 6 mil quil6metros de itinerArio, uma das mais extensas e caracteris- ticas parties da imensa bacia amaz6nica, que se estende do Pla- nalto Brasileiro ao maciqo das Guianas, onde o tipo de clima quente e timido e a natureza florestal da vegetacAo sao elemen- tos geogr~ficos fundamentals na caracterizacgo da regiao, que ter como eixo o grandiose rio Amazonas. Tendo deixado o Rio de Janeiro de aviao, nos iltimos mi- nutos do dia 23 de agosto, o grupo de excursionistas constitu- ido por 24 ge6grafos e professors de Geografia, de 11 naciona- lidades chegou a Manaus ao meio dia do dia 24, passando por Bel6m as seis horas da manhd. O trajeto Beldm-Manaus propor- cionou uma vista de conjunto do fundo do vale amaz6nico, par- ticularmente do seu espesso manto florestal e da planicie aluvial do Amazonas, a qual p6de ser observada desde osconfins oci- dentais da ilha de Maraj6. Na curta permanencia do grupo em Manaus (3 horas so- mente), foram visitados uma modern fiacqo e tecelagem de fi- bras de juta, uma usina de beneficiamento de borracha, o Insti- tuto de Pesquisas da Amazonia, bem como realizada uma rnpida excursao pela cidade e seus arredores, incluindo as obras da refinaria de petr61eo, com paradas nos pontos de maior interesse geogrAfico. Neste mesmo dia o grupo se deslocou de aviao para Santar6m, tendo entAo oportunidade de, em v6o a baixa altitude, melhor observer a paisagem da bacia amaz6nica, isto 6, da sua "varzea" e da sua zona de "terra-firme". O dia seguinte, 25, foi dedicado a uma visit A cidade de Santar6m, capital regional do Baixo Amazonas, e A realizaCgo de uma excursao fluvial A regiao da foz do rio Tapaj6s, e a virzea da margem esquerda do rio Amazonas. Em 26 realizou-se a planejada excursao fluvial ao lago Gran- de do Curuai ou de Vila Franca, important zona de criacAo de gado da varzea amaz6nica: no povoado de Socorro, sito a mar- gem sul deste lago e na borda do plat6 terciario, foi examinada uma mancha de carnpo de "terra-firme" dentro da floresta, onde ocorrem elements vegetais arb6reos tipicos do cerrado do Pla- nalto Central Brasileiro. No dia 27 foi visitado o planalto terciario de Santar6m e as plantaC6es de seringueiras de Belterra (ex-plantac6es Ford), nele situadas. Nesta excursao de 32 quil6metros, feita em autom6veis e caminhoes, foi, primeiramente, atravessado o terraao onde est& a cidade de Santar6m e observada a sua vegetagAo semidecidua. Galgado o planalto foram visitados o campo agricola do governor federal e a extensa zona de colonizagAo (colonos nordestinos, principalmente) que se estende para o sul. Guiados por um t6c- nico da MissAo Florestal da FAO na Amaz6nia, os excursionistas penetraram num trecho de floresta primitive do planalto, tendo ali uma preleio daquele especialista sobre o inventario florestal que aquele organismo das Nac6es Unidas est! realizando na Amaz6nia, para a utilizag~o racional e econ6mica de suas ma- deiras. Ainda no planalto, no povoado de Santa Jilia, foi exami- nada uma mancha de "terra-preta", numa trincheira previamente aberta; da discussAo havida entire os ge6grafos mais interessados em solos resultou a aceitacgo, por parte da maioria deles, da origem artificial (humana) das "terras-pretas" em questAo, que seriam, assim, de origem arqueol6gica (testemunhos de antigas aldeias indigenas). Em Belterra foram demoradamente visitadas as plantag6es de seringueiras e as suas industrials de preparagAo do latex para exportacao. Neste mesmo dia o grupo retomou a Santar6m, descendo de navio o rio Tapaj6s. No dia seguinte, 28, foi visitada, em Santar6m, a serraria- piloto da Missio Florestal da FAO na Amaz6nia, e a grande usina de fiacao e tecelagem de fibras de juta de Santar6m, entao em final de construgao e inicio de montagem, bem como as instala- coes do Instituto Agron6mico do Norte para selecio e prensa- gem de fibras de juta. No dia 29, os excursionistas deixaram Santar6m no navio fluvial que lhes iria servir de "hotel flutuante" durante o resto da excursao, corn destino a Monte Alegre, tocando antes em Maicu- ru, margem esquerda do Amazonas, onde foram observados os primeiros resultados das experiencias de sedimentaqao provoca- da da virzea amaz6nica, que ali estAo sendo levadas a efeito pelo Instituto Agron6mico do Norte, bem como a criagao de bdfalos indianos, ali feita pelo IAN. No dia 30 foi feita uma excursao ao planalto paleoz6ico de Monte Alegre, para observances da sua geologia, geomorfologia (domo devoniano) e vegetaao (campos limpos e mata semideci- dua), bem como uma visit ao nicleo agricola do govero fede- ral nele existente (colonos brasileiros e japoneses; neste mesmo dia realizou-se uma excursao fluvial pelo rio Paituna, corn visit a um tipico lago da varzea amaz6nica. Em Monte Alegre foi ob- servado o intense trabalho da erosao pluvial na borda do alto terraco tercitrio, ao p6 do qual esti construida a cidade, recente- mente vitima de catastr6fico soterramento. Os dias 31 de agosto, 1 e 2 de setembro foram gastos na viagem de Monte Alegre a Macapi, descendo o rio Amazonas; neste trajeto foram feitas duas paradas na "regiao das ilhas" (si- tuadas entire as ilhas Grande de GurupA e de Maraj6), sendo visitadas uma usina de beneficiamento de borracha e uma gran- de serraria a vapor. Chegando a Macapa na noite do dia 2, foi, no dia 3, feita uma excursao, por estrada de rodagem, desta cidade A col6nia agricola Matapi, situada pr6ximo ao rio Araguari. Neste percurso os excursionistas tiveram oportunidade de fazer observa6oes sobre os "campos-firmes" da baixada litoranea do Amapa (for- maaes do tipo savAnico, de gramineas baixas cor esp6cies ar- b6reas do cerrado), bem como sobre as formag6es lateriticas de seus solos, sobre a morfologia de seus terragos pleistocenicos e sobre o contato destes terrenos corn o embasamento cristalino. Na col6nia de Matapi (criada para o abastecimento de Macapi), foi observada a atividade agricola dos colonos nacionais e japo- neses nela estabalecidos. Em seguida o grupo se deslocou para Porto Platon, no rio Araguari, acampamento-base para a constru- cgo da estrada de ferro do min6rio de manganes da Serra do Navio. Neste mesmo dia foi feita uma excursao a cachoeira do Paredao, no rio Araguari, onde foram visitadas as obras iniciais da grande usina hidrel6trica, que aproveitard esta queda d'agua. No dia 4 foi realizada, pela entao rec6m-construida Estrada de Ferro do Amapl, uma excursio As jazidas de manganes da Serra do Navio (alto rio Amapari); esta excursao ferrovidria teve 6 MAIO/2000 AGENDA AMAZONICA inicio em Santana (porto de exportacao do mindrio de manga- nes), no rio Amazonas. A partir de Porto Platon foram observa- dos, nos cortes recentes da ferrovia, pormenores da estrutura do desgastado peneplano cristalino (rochas arqueadas e algonquia- nas) da encosta do planalto das Guianas, bem como varios as- pectos da densa floresta tropical que o recobre. O dia 5 foi dedicado A visit da cidade de Macapa, sua hist6rica fortaleza colonial e monumentos da linha do equador, que passa a poucos quil6metros ao sul da capital do territ6rio. No dia 6 realizou-se uma excursao fluvial, subindo o rio Amazonas, a cidade amapaense de Mazagao, situada no rio Vila Nova, onde foram observados os trabalhos de enxertia e multi- plicaoo de mudas de seringueiras e cacaueiros de selecionadas linhagens, no post agricola do governor territorial, ali existente. No dia 7 o navio deixou Macapi corn destino a cidade de Soure, na ilha de Maraj6, onde chegou no dia 9. Nesta viagem, feita pela "regiao dos furos", a oeste da ilha de Maraj6, foi visita- da a cidade marajoara de Breves, important centro madeireiro da "regiao das ilhas". No dia 9, partindo de Soure, foi feita uma excursao fluvial, pelo rio Paranaquara, a uma grande fazenda de criaoo de gado da ilha de Maraj6, onde estao sendo empregadas modemas t6c- nicas para melhoria do rebanho bovino. No dia 10 os excursionistas chegaram de navio a Bel6m, visitando no dia seguinte o Museu Paraense Emilio Goeldi e seu jardim zool6gico cor exemplares da fauna amaz6nica. No dia 12 foi realizada uma excursao, em 6nibus, a cidade de Capanema, situada na "Zona Bragantina", a mais antiga e mais densamente povoada area agricola da Amaz6nia Brasileira. Nes- ta excursao foram principalmente observados: o relevo e a dre- nagem dos terrenos quaternmrios e tercidrios do litoral paraense, as lamentdveis conseqtUncias da rotacao de terras nos terrenos arenosos da "terra-firme" da Amaz6nia, a decadente atividade agricola regional; e estudado, em Capanema, um dep6sito de calcArio limnol6gico, em exploraQAo para produqao de cal, da formago miocenica marinha de Pirabas. No dia 13 de setembro, iltimo dia da excursao, foi feita uma visit A cidade de Bel6m e ao Instituto Agron6mico do Nor- te, situado em suas imediag6es. No IAN, os excursionistas co- nheceram as experiencias que estao sendo realizadas pelo Insti- tuto para o aproveitamento agricola racional das virzeas do rio Guama visitadas pela mare, bem como tiveram uma visAo de varios perfis de solos desenvolvidos em terrenos do Quaternmrio Antigo do litoral amaz6nico. _em P 'W' CAPITULO Otimismo no future S. M. Publicidade comemorou seu quarto ano de exis- tencia corn um antnciopublicado na imprensa de Be- eem novembro de 1960, um mes depois queJdnio Qua- dros se elegeu president da Repablicaprometendo, a um ni- mero record de brasileiros, que nele votaram, limpar opais de suas sujeiras cor a vassoura da moralidade pablica. Os brasileiros viviam ofim dos cinco anos de euforia e otimismo dejuscelino Kubitscheck, que se comprometera afazer o Bra- sil crescer 50 anos em um qiinqa#nio. Sabiam que era alto o prego desse crescimento econdmico exponencial, tanto em in- flacdo quanto em prdticaspolfticas. E estavam disposto a en- tregar nas mdos de um politico carismdtico a conta da quita- ado. Havia motivospara confianva. Na Amaz6nia, oprogressoparecia bater naporta de en- trada, embora ndo se soubesse exatamente quem seria o bene- ficidrio. A S. M. (na dpoca sediada no Boulevard Castilbo Franca, 62, 2 andar, boje local inimagindvelpara uma em- presa depublicidade), depots se tornaria a Mendes Publicida- de, a maior de todas as ag6ncias apartir desse marco. Dedi- cada propaganda, promofao de vendas, reladges ptblicas, pesquisas e outdoor, como dizia seu antncio, ela se tornaria porta-voz da elite empresarialparaense. E nessa conditao Scriou esse anuncio, que e um exemplar retrato de epoca. NEM S6 DE BORRACHA VIVE A AMAZONIA... Mas de outros produtos materials, e da iniciativa e inte- ligencia dos seus homes. A associagAo da goma elastica a economic da imensa planicie 6 ainda um resquicio do tempo em que acima de 30% da receita pfblica da Unito se deviam ao leite de serin- ga. Hoje a Amaz6nia 6 muito mais do que simples produtora de goma conquanto continue assegurando ao Brasil o pri- vil6gio de ser o finico pais do mundo cor uma grande in- dustria de artefatos de borracha que produz, igualmente, a sua materia prima. Mas outros itens entraram na sua pauta de produg o e exportag o, diversificando-se a sua pr6pria estrutura eco- n6mica. O Brasil deve-lhe agora, sobretudo nos iltimos cin- co anos, nio apenas o suprimento de diversas materias pri- mas importantes, como a diminuigio de seus deficitss" do balango de pagamentos. Passo a pass, a Amaz6nia deixa de ser um 6nus para o pais, para tornar-se um fator positive de seu crescimento integrado. Talvez o Sr. nao saiba. EntAo anote alguns pontos im- MAIO/2000 AGENDA AMAZ6NICA 7 portantes para compreensio do papel que a Amaz6nia de- sempenha atualmente no Brasil. No lustro que agora se encerra, verificaram-se fatos como este: Mais de 90% da pimenta do reino tru~go ou reparos. Sera o (inico ponto de apoio para a na- vegaigo oceanica entire as Antilhas e o Recife. O Sr. encontrari agora, ao seu dispor, uma frota nova dos Snap [Servifo de Navegaado da Amaz6nia e dos Portos do e de algumas fibras vegetais (jutas e malvas) consumidas pela ind6stria naci- onal, provem agora da Amaz6nia at6 poucos anos gastaram-se preciosas di- visas para import--las. Centros de treinamento t6cnico para extralgo racional de madeiras, e in- distrias para seu aproveitamento foram e continuam a ser instalados. Um projeto ji iniciado, por exemplo, fornecerd em breve, anualmente, alguns milhbes de dormentes "curados" de que as nossas ferrovias e as do mundo inteiro carecem. EstAo saindo da Amaz6nia atd 80% do manganes que exportamos pelo Brasil. Empresas de pesca da regiao reme- tem camario ate para os Estados Unidos. Mas nao 6 s6 no setor prima- rio que isto se passa, Indfistrias novas surgiram. Tome nota: A Onica refinaria de petr6leo ao norte da Bahia encontra-se em Manaus, e abastece de seus derivados todos os Territ6rios e Estados at6 o Piaui. A linica fAbrica de cimento em latitude mais setentrional do que da Pa- raiba esta sendo montada em Capanema (Pard). Quando comegar a produzir, no primeiro trimestre de 1961, abastecera todo o Norte. Outras indistrias menores estAo sendo instaladas ou projetadas: embala- gem, madeiras, papel, etc. No setor de transports, nio 6 apenas a Belim-Brasilia que deve ser registrada no nosso period de andlise. Ate dezembro ela deveri entrar em trifego normal. Al6m da ponte sobre o rio Guami, j$ inau- gurada, devera entAo ficar conclu- ida uma outra ponte sobre o rio To- cantins, com um dos maiores ar- cos do mundo em concrete proten- dido: 140 metros de vio. Mas; re- gistra-se igualmente: Sera inaugurado, em breve, o di- que seco de Belem. Poderf receber na- vios de ate 20 mil toneladas, para cons- SNEMSO DE BORRACHA SVIVE A AMAZONIA... Mot do outro prdutes materials, e do iri ati .v e intlelioncio dos ses homnnar. S A asscciassio do gome elaslica oeconomia do imenio planicie 6 ainda um resquicio do tempo am qut ocima de 30% do rocetif public do Unido so deviom ao leote de setingo. Haoj a Amaz6nino muito mais do que simple produtora do game 0onquonlo continue e otOguraO. a0 BSmail 0 prtiilegio de oar o onfce pa o undo m a an ind do ndo o gand indi do orltfaios de borracha quo produz, iguolmoeno, a su0 mottirio prime. SMa outetroi tins enttrrom no $su pouoa do pro dut;o C xporto oi, divensifl condo-so a sua propria eitrutur ocondmica. 0 6rasil deve-ihe agora, sobretudo nos Sutiimos cinco ones, nao open s a suprimento do diverues motlaias prima, impor- tontes, como a diminui;io de sous "deficits" do blanono do pogamentos. Passi o posso, a Amatcnia doixo do ser um anus porto po0l, pom tfanomr-s um foe lor positive do s0n crescimento integrado. Talvei o rS. n6o saiba. Entor anofte olgusu pontos important pare comproe ensao do papal quo a Amaz6nni. dsrompnh aolottimento no Btasif. No lustro que agora so encerre, verlficaram-so fotos come oste: Mois de 90% do pm do P reen o d o tm o do gumOl i;br gt eo;t (iuios molrost crosnemido polo inddstrio natcono provem agoa do Ame6rnda at6 pauctr c05o goslarom-ie precious divisas para importd6los. Centre do troinmeato tOla Ko pora extralSto roeonal do modeiro a industrno pare see oprovertomento foram e conlinctom a sor inslaodos. Um proia, 1i iniciodo, par exemplo, tomoter6 em brore, arnuoalmot, ofiguns mrslhe do dotrmntne "cvrodat" do que a$ posSos ferroias at do mo o idnlo eiro iEprhios d4 poeco do regioo romnemm camordo ot, pora as Estodos Unidoi. Mos n6o 4i 6 no'selor prim6rio que isto so passe. Industrias novas surgirom. Tome nota: A ;co rofm~rin do petrdeeo ao nrte do Bahia entontraose em Mo aus, e a beatec do wus derivodos todos as Ternrioors Estadod ol o Pioui. A naO fdbrco do cimenlo em tatoitd mo*, seteniraowal do que ParObo. est6 t-o* do mot'edo c Copenymo tPard). QuandOo ncoa or a produoit, no ptrote;r tro.mettr de 1961, abo.etero6 *do Note., Outrage induistri menores oit6o sedo intloadao ou projetodest embaoogoem modotos. ppaol, etc. 'No sloret1 otr portrs n6o 4 opens a Blim-gBrasilia que dve ser registrada no nosso period do on6lise. Afi Dezembro dover6 ela entrar em trifego normal. Alim do ponto sobre a rio Guam6, j6 inougurada, devera entao ficar concluida uma outra sabre a rio Tocontins, com um dos moiores arcos do mundo em concrete protendido: 140 metro de voi. Mos, registre aalmente: Sor6 inoguroda, em brsao, o i dic ur B o s Bolim. Fodoer roatber noav c at 20 mil tofnlados, pare ooitroyso oa eOpaoto. Setr6 o in; 0 Sr. oncentroa6 ogora, a*o w diSpor, smo froto nova dot Snapp qi" a frontprttor6 dt 5e1lm aiS Manous m maos do ume soemona. com todo a confOlrt dos nova *r.- des do poassgeiro. 10%, no minimo, do gooalino do avriao conmumido no 8tosti 6 omprogoda no imemon percuruos amoakicos. E. do code <4 u 5 viain oue pousom no Atrotorto nfe ntoarn de Vtl.-( -C t0ormm), uM polo meno Irar profi.o de empriso ftogonal. Muilos outres fltos podem ser citedos, q ,e demonstram o espirito empreendedor da gento amaz6nica, e a sun determinaagio d participar do desenvolvimento regional. Por exempio: Nestes ltlmos 5 Inwa foi c ode a Univetirsded do Pero. aoli de --er'so, e. '*te rCmenta de eonsno de tod o aos ntve,. surgidost as dver s nidados do regiSa. o* ~utgerm, no mnsmo pe odo, numeroats ema-ioi de rdds*, eOtd tndo introllod a pri mtlfo esioai de TV do Norte 9 ovtras estao protetodos. Uo cdde o d Bed o o'" t optrerenlo on mao altos indicet do wrcuoiado do jbmoai did. iti do todat as top.toai braoileros (oa exeqo do onttgo D. F. de Sao Paul). Mas, jpenas pare dar lhe umo iddio dos potentiolidades do area, qu s6 agoar come. Sarom a desportar pare a realidade, anote tombom: Circe do 30 a 40% dos (luxoe inemos do com rci; do Amoadnio faoem-4e esnte Ln" d'des do pr6prfo regiOl. O0 a0ldou loroveos ea- com"rCio extlercr do Amotaodio Nlsm ldo. nos iinmos ctinc onM0. suficint" pore aroetOr do 10 o 20% a0 "defi6tc" do boloano comtrcial btai* 4o0 wi d6aoto., UM ATO DE Ft NOS DESTINOS DA AMAZONIA POWt 10 timtl5om onUo do qaoqudtvle troipraMo qu lutrglu a S. M. Publitldade. fuo.d-lo tli un, ala d* to n"I 0tnoS a8 Ameadmoi t oiitr coCoil 0 i0O toIm laot nao r$no ieir- mat a conftloa Iretrsitla t.noamivol no future aosto rtgido imonsa a rica. Pet ito te mo com ttuldo conm o0a0 quote, omo oatrutos quo lavos rlido doi virtudas dot quolff.doe odaqle quuo o $o solo 01 cotde dOquolo quo produz a ose holtmm dinnmico., t ae ltpC orn. do mui AMo I0l6m mtalbo, 0oaTO a to lsinor roealidtde vivo pOlpnvl. tO 4 11- 14"5o 0a Ma$ Ao miaso d0 4C, oiCyrO$tno do S. M. hPtt l icrea qu hot.* OjmOwnMO F2PUB LICIDADE Boulevard Costilho Franoa, 62 2 BSelm do Pori Prn- .4.o ...A.. .4 V.... ..Z. ft .1 ft..... 11 8 MAIO/2000 AGENDA AMAZONICA Pard, Snapp, depois substituidospela Enasa] que o transpor- tara de Bel6m at6 Manaus em menos de uma semana, corn todo o conforto dos navios grandes de passageiros. 10%, no minimo, de gasoline de aviagco consumida no Brasil 6 empregada nos imensos percursos amaz6nicos. E, de cada 4 ou 5 avi6es que pousam no Aeroporto International de Val-de-Cans (Belem), um pelo menos traz prefixo de empresa regional. Multos outros fatos podem ser citados, que de- monstram o espirito empreendedor da gente ama- z6nica, e a sua determinacao de participar do de- senvolvimento regional. Por exemplo: Nestes iltimos cinco anos foi criada a Universidade do Para, al6m de numerosos estabelecimentos de ensino de todos os niveis, surgidos nas diversas unidades da region. Surgiram, no mesmo period, numerosas emissoras de radio, esti sendo instalada a primeira estagAo de TV do Norte [a TVMarajoara, dos Didrios Associados, em Belem] e outras estdo sendo projetadas. Uma cidade como Bel6m apresenta os mais altos indices de circulagao de jornais diirios de todas as capitals brasileiros (a excecgo do antigo D. F. [o Rio deJaneiro] e de Sao Paulo). Mas, apenas para dar-lhe uma idWia das poten- cialidades da area, que s6 agora comecaram a des- pertar para a realidade, anote tamb6m: Cerca de 30 a 40% dos fluxos internos do comercio da Amaz6nia fazem-se entire unidades da pr6pria regiao. Os saldos favoriveis do com6rcio exterior da Amaz6nia tem sido, nos tltimos cinco anos, suficientes para atenuar de 10 a 20% os deficitss" do balango commercial brasileiro em d6lares. UM ATO DE FE NOS DESTINOS DA AMAZONIA Pois tamb6m dentro do qiinqiuenio expirante que surgiu a S. M. Publicidade. FundA-la foi um ato de fM nos destinos da AmazOnia. E outra coisa nao temos feito n6s senao reafirmar a confianga irres- trita e irremovivel no future desta region imensa e rica. Para isso temos contribuido cor nossa quota, como arautos que temos sido das virtudes e das qua- lidades daquilo que di o seu solo fecundo e daquilo que produz o seu home dinimico. Essa esperan- Ca, de uma AmazOnia melhor, comeca a se tornar realidade viva e palpavel, e essa 6 uma alegria a mais na festa do 4 aniversdrio da S. M. Publicidade que hoje comemoramos. \ -^- .\ Ji ^ ^ ^ CAPITULO AAmaz6nia no (sob o) mundo A Amazonia e definida pelo II PDA (Piano de Desenvolvi- mento da Amaz6nia) como uma area [pioneira em fase e mudanga que imp6e um "reexame das concepgces antigas, que se deixavam dominar pelas iddias de complexidade sem balanced-las cor a das vantagens que o Pais pode auferir da complementaridade com a economic amazonica". Sera possi- vel eliminar essa "visdo horrorizada", que via a Amaz6nia como uma regiao de dimens6es gigantescas e incontrolivel, permitin- do que os stores "dotados de certas vantagens comparativas e por isso mesmo dotados de impulse dinamizador" assumam a hegemonia da ocupagAo seletiva desses vastos territ6rios. Neles, hi alguns stores economicamente muito en6rgicos: o madeireiro, implicando necessariamente a industrializagco da ma- deira em bruto; o de recursos minerals (ferro, cassiterita, bauxita, manganes, sal-gema, calcario e caulim); a pecudria bovina, tam- bem com industrializacgo imediata; a pesca empresarial; as indis- trias eletrodom6sticas e eletroliticas (grafite, carbureto de silicio, acetileno, ferro-ligas, aluminio, soda, s6dio, cloro); e certas lavou- ras sslecionadas de terra-firme ou virzea (dende, arroz, cana-de- agucar, borracha, pimenta, caf6 e, mesmo, juta e malva). Integracao Por suas caracteristicas fisicas e demograficas, a Amaz6nia - segundo o PDA tende a realizar seu crescimento econ6mico cor base em relagoes corn outras areas. "O mercado interno 6 pequeno e nAo comportara logo uma industrializagao em larga escala voltada para dentro. Esta devera processar-se basicamente com vistas ao abastecimento dos mercados national e externo, mediante a explo- ragAo de vantagens comparativas em terms de custos e qualidade". A Amaz6nia se complementaria assim corn a economic na- cional de duas maneiras: "por meio do suprimento de mat6rias- primas e de produtos industrializados regionais e mediante con- tribuig6es a receita cambial do Pais". Alguns produtos amaz6ni- cos ji sao considerados de grande importancia para o mercado brasileiro, como a borracha, estanho, madeira e energia. E al- guns produtos, se nao fossem cultivados na regiao, teriam qjue serr importados, como a juta e a pimenta-do-reino. A contribuig~o da Amaz6nia para a receita cambial e a ca- pacidade de importar do pais como um todo, que "ja 6 respeiti- vel tendo em vista a diminuta populagAo regional", devera ser "consideravelmente ampliada em future pr6ximo com a entrada em operagdo dos complexes madeireiros e de mineragAo, sem falar dos numerosos projetos agropecuarios". Alem dessa parti- cipagdo, a Amaz6nia 6 important em razdo dos seus recursos naturais, "que ajudam a viabilizar certos projetos do governor MAIO/2000 AGENDA AMAZONICA 9 federal". t o caso do ferro (necessdrio ao Piano Sidertirgico Na- cional) e do cacau (que recolocard o Brasil como o maior pro- dutor mundial). Efeitos semelhantes poderAo vir a ser observa- dos em relagAo ao arroz, ao agicar e a came". Extrativismo A economic traditional amaz6nica, envolvendo atividades como a extragao de madeira ou a coleta de sementes oleagino- sas, apesar de envolver 500 mil pessoas em seu process produ- tivo, devera figurar apenas secundariamente nos pianos oficiais de desenvolvimento. O document preve ainda o abandon da political official que tentava promover a sustentagco do extrativis- mo, por considerar que ele "inibe o crescimento regional". As filtimas administrac6es tentaram realizar uma diversifi- cago da economic amaz6nica, antes fundada no extrativismo, por meio de tres medidas: concessao de fortes estimulos a in- dustrializag~o, program de abertura de uma enorme frente de colonizacgo apoiada na ampliag~o do sistema viario e estimulos a reestruturacao da pauta de exportacges regionais. Esta political teria que levar a um crescimento equilibrado. Segundo o PDA, a Amaz6nia "ainda nao ter maturidade para um program de desenvolvimento equilibrado de storess, mas nao se pode considerar que o esforgo de diversificag~o "haja sido coerente e simultAneo. Faltava-lhe, para comegar, uma dou- trina bem fundada de ocupagAo e uso econ6mico da terra na Amaz6nia. Tais insuficiencias sao as principals responsiveis, sob o aspect de formulagio political, pela nota de insucesso que parcialmente tem marcado a acao federal na Amaz6nia". IndustrializaCio A political de industrializacio mostrou-se extremamente de- ficiente: a taxa de absorgAo de mao-de-obra sempre foi inferior a do crescimento da populagao ativa do pr6prio setor; a tecnolo- gia utilizada discrimina a mao-de-obra, privilegiando o capital; as novas indistrias implantadas abriram poucas condic6es de trabalho; a concentragco da renda gerada manteve em limits insatisfat6rios a capacidade de comando e os pr6prios investi- mentos, ao inv6s de se multiplicarem, estagnaram. ColonizaCio A political de colonizacgo cometeu muitos equivocos, pois enquanto encaminha para a regiAo "mais ou menos ordenadamen- te, um fraco contingent de families, que vao sendo assentadas se- gundo um esquema bastante patemalista e cujo ingresso numa era de agriculture commercial 6 ainda bastante lento, efeitos nao espera- dos da mesma political estimulam indiretamente, atrav6s de ondas de publicidade que se propagam muito al6m dos controls desejados pelo govemo, a intensificacao de fluxos migrat6rios espontIneos vdrias vezes superior, em tamanho, ao dos colonos 'dirigidos'". Es- sas levas sao constituidas "de lavradores sem nenhuma dotacAo de capital pr6prio, cor baixo nivel de conhecimentos gerais e por ve- zes viciados pela heranga de um rudimentarismo tecnico not6rio". Se de um lado a terra nao era f6rtil, como esperavam os colo- nos, nem o govemo tinha condicoes de fomecer-lhes fertilizantes, a imigragAo indiscriminada criou dificeis problems que agravaram a situagAo na Amaz6nia: absorcao de novos contingentes de rmo-de- obra, regularizaqdo das situac6es de posse, obrigagAo de destinar grandes quantidades de dinheiro para criar servigos bisicos, al6m de dirigir cr6dito para sustentar pregos agricolas". "Reduzindo a questao a terms simples, o incentive direto ou indireto a imigragao nordestina result apenas em deslocar geograficamente dentro do Pais um problema ja instalado em certa regiao, transferindo para a Amaz6nia o 6nus de recuperar os chamados excedentes populacionais do Nordeste". O docu- mento consider entao que a political de colonizacgo da Amaz6- nia fracassou e que sua revisao 6 indispens.vel. Exportaq6es Situando a Amaz6nia no context da political global, que "atribui &nfase a ajuda estrangeira e ao imperative de importagAo de certos bens de capital, insumos bisicos e tecnologia avanga- da", o PDA consider que a regiao interessa ao pais enquanto possibility o aumento das exportag6es. "Entretanto, models de desenvolvimento a base de exportag6es podem, em certos pon- tos, revelar-se arriscados para regi6es subdesenvolvidas como a Amaz6nia. Tudo indica que a administraAio federal e.stA alertada quanto a esses riscos que podem afetar o crescimento regional". Prioridades Os "cuidados t6cnicos e politico-administrativos" parecem orientar-se para os seguintes pontos-chave: "a) compatibilizar os interesses da exportacao future de carnes corn eventual contribuigAo ao atendimento das necessi- dades alimentares do pais; b) incentive ao processamento, na regiao amaz6nica, de bens minerals e produtos madeireiros, de forma a progressivamente mon- tar um regime que retenha o maior valor agregado possivel no pais e amplie as oportunidades de emprego produtivo na Amaz6nia. c) associacAo do governor federal a certos empreendimen- tos mineiros, quando julgado Citil ou convenient por motives econ6micos ou de seguranca national; d) protegao national a fauna e a flora, de modo a assegu- rar o equilibrio entire os interesses de frentes madeireiras, viarias ou minerals e os direitos do indio constantes'na Constituigco". O document admite que esses dois iltimos pontos sao os aplicagco mais falha. Brasis O Piano de Desenvolvimento da Amaz6nia admite, para fins de planejamento, que existem tres regimes distintas no Brasil: a mo- dema, constituida pelo Centro-Sul; a retardatdria e em estado de estagnagAo relative, que 6 o Nordeste; e a fronteira tropical, a Ama- z6nia. Na regiao amaz6nica, "as fontes propulsoras do desenvolvi- mento recent nao estAo situadas no mercado intemo nem, basica- mente, no aproveitamento da conjuntura intemacional. Tmr sua ori- gem em transferencias p6blicas e privadas, a partir da regido moder- na, em grau relative mais elevado que no pr6prio Nordeste". De certa maneira, o PDA justifica a existincia de desigual- dades entire essas regi6es, pois teria sido justamente o maior de- senvolvimento do Centro-Sul que permitiu a realizagao de maci- cas transferincias de dinheiro na forma de investimento para a Amaz6nia. Persistindo essa political, "as perspectives de desen- volvimento da regiao ficam estreitamente vinculadas a disponibi- lidade de recursos na regiao modern para transferencia". 10 MAIO/2000 AGENDA AMAZONICA A retribui~co que a Amaz6nia pode dar a esse investimento sera contribuindo para a realizagao das metas do I PND [Piano NacionaldeDesenvoluvmento]. Essa contribuicAo se efetiva de trs maneiras: corn a geragao de divisas, resultante de exportag6es; de economic de divisas, produzindo insumos bisicos para a regiao modema, hoje importados; e liberacao de producgo exportivel, comprometida atualmente por forte demand internal. Estrangeiro O PDA sugere que s6 se recona a investimentos externos quan- do os recursos oficiais e privados nacionais forem insuficientes. "t evidence que uma opgao por conferir prioridade a ajuda externa no desenvolvimento econ6mico em confront corn o de fortalecer os fluxos de capital privado brasileiro e, em alguns casos, os do pr6- prio capital pdblico national, envolve em si mesmo ur problema geopolitico e de seguranga ao qual estario atentas as autoridades federais de planejamento. Pode esperar-se que a opao talvez seja resolvida no sentido de colocar o recurso extemo preferencialmente na regiao modern, onde sua assimilaoo e suscetibilidade aos con- troles publicos permitem reduzir desde logo a possibilidade de fric- 96es futures e facilitar a acomodacgo de interesses reciprocos". Reconhece o document, entretanto, que o capital estran- geiro pode desempenhar um important papel na regiao, "urn papel complementary e itil, desde que se delimitem claramente obrigag6es e compromissos ao lado das vantagens, de forma a garantir o sucesso da estrat6gia geral do desenvolvimento". Desequilibrio Para realizar o objetivo central estabelecido pelo II PND, de crescimento do produto e distribuioo mais eqilitativa da ren- da, ser~ precise acelerar o crescimento regional cor base no aproveitamento das vantagens comparativas de stores ou pro- dutos regionais selecionados, intensificar a integraoo por meio da elevaoo do volume de trocas interregionais, promover a ocu- pagAo territorial e a aceleracao do nivel de seguranCa na area por meio do alargamento da fronteira econ6mica. O Pda prop6e-se entdo a executar na regiao um modelo de crescimento desequilibrado ("na media em que privilegia deter- minados stores ou produtos os dotados de vantagens compa- rativas -, pondo em plano secundrio os demais") corrigido ("na media em que se inserem complementac6es e correc6es que visam fundamentalmente a conduzir a regiio a participar das vantagens e utilidades que cederi ao Pais e ao Exterior". Mudanga Embora evite afirmar que a colonizaco dirigida sera extin- ta, o PDA sugere que ela sera desestimulada ao minimo porque motiva a migramo espontinea. O document pede ao Incra (Ins-' tituto Nacional de Colonizacio e Reforma Agraria) que atribua marcante seletividade ao process dirigido de povoamento da Amaz6nia", porque, nlo obstante seus m6ritos, "uma coloniza- co official disciplinada gem uma colonizagao espontAnea indis- ciplinada mais que proporcional". Como 6 impossivel proibir, o document acha necessaria uma efetiva seletividade no ingresso de novos imigrantes espon- tineos na Amaz6nia. Cre cuee "Inedida que o modelo demons- trar toda a sua forqa e a regiio estiver sendo impulsionada por uma dinimica vigorosa de crescimento", a mio-de-obra se des- locari naturalmente para a regiao. "Naquele moment, por6m, a natureza das atividades eco- n6micas em curso, os estilos de cultivo, as tdcnicas ja introduzi- das deverao provocar uma variac o de habito e uma adaptacAo cultural do imigrante, induzindo-o a preservar a ecologia ao in- v6s de aniquild-la e tornando-o tambbm, se for o caso, mais exigente em terms de regularizaoo de suas posses de terra, de defesa de precos, de acesso ao cr6dito, etc". Concentraalo A aplicacAo do modelo provocard a concentraSgo de boa parte dos empreendimentos nos setores-chave nas maos de pes- soas fisicas ou juridicas nao residents na regiao amaz6nica, "o que se explica pelo vulto dos capitals exigidos para p6-los em march e sabido que a regiao 6 carente desse fator". Reconhece que o modelo, embora contenha boas potencialidades, "encerra tamb6m uma predisposiao a provocar refluxo de renda para as zonas de origem dos capitals e de promover ali, ao inv6s de na Amaz6nia, seus principals efeitos multiplicadores". Correvio Esses efeitos negatives, entretanto, poderiam ser corrigidos pela adoVAo de linhas estrategicas apontadas pelo pr6prio pla- no. Uma delas seria o progressive aumento do nivel de elabora- 9Io das mat6rias-primas. Isso se tornaria possivel, em parte, pela crise do petr61eo, que elevou os pregos do transport a longa distincia dos min6rios em bruto "e torna atraente para as gran- des empresas o processamento industrial nas zonas das jazidas". Tamb&m a estrat6gia adotada pelas multinacionais nos paises subdesenvolvidos possibilitaria essa transformaoao: elas nro se inte- ressariam mais em manter absolute control sobre as fontes de ma- terias-primas, porque: 1) ao inv6s do control da mat6ria-prima, que- rem seguranca no fornecimento; 2) por isso, estao procurando a associac o cor grupos nacionais, na forma de "joint-ventures". *PecuAria O PDA prop6e que o govemo federal "declare a Amaz6nia Legal area preferential para exportaoo de came bovina durante o prazo de 15 anos a partir de 1975". Isso permitiria as modernas empresas de abate e frigorificaqao pagar pelo boi gordo precos mais elevados que no Brasil Central. Corn a media, se possibili- taria a moderniza go do setor do ponto-de-vista econ8mico e ecol6gico. Seria instituido tamb6m um regime especial de impor- taS6es de insumos relacionados cor a exploracAo da pecuiria de corte, corn a isenolo total de impostos. Em relacAo ao minerio, o plano sugere estender a fase de pesquisa geol6gica a legislagio dos incentives fiscais. Quanto a colonizagio, propoe quatro medidas: consoli- dacio dos nficleos de colonizacio ji existentes nas estradas, por meio da introdugAo de cultures industrials permanentes; desestimulo aos fluxos migrat6rios nao seletivos; fixacao dos colonos espontlneos ji localizados na area; reorientaco espa- cial e setorial dos futures contingentes migrat6rios e dos even- tuais excedentes demogrificos verificados entire os atuais colo- nos espontineos e entire as popula6oes atualmente vinculadas a estrutura extrativista. A MAIO/2000- AGENDA AMAZNICA 11 Os antincios do desenvolvimento Em abril de 1966 o Banco de Cr6dito da Amaz6nia desencadeou uma campanha para atrair investidores para a regiao (operagao "Brasil S.A."), oferecendo-lhes a colaboragao financeira do govemo, dinheiro retirado dos cofres p6blicos (dedug6es do imposto de renda) para multiplicar induistrias. "Nao 6 de admirar que, como por milagre, surjam fontes quase inesgotiveis de capitals para a Amaz6nia", diz o an6ncio, oferecendo a rede de 49 agencies do BCA, al6m da SPVEA (Superintendencia do Piano de Valorizagco Econ6mica da Amaz6nia) para contatos. Seis meses depois os depois 6rgaos seriam sucedidos pelo Basa e a Sudam, na "Operagco Amaz6nia" Mais capitalss imensos" para "grandes empreendimentos". Em dezembro do mesmo ano, a Ametal (Amaz6nia Metalirgica) declarava-se orgulhosa "em contribuir para a emancipaqdo da Amaz6nia, resolvendo mais um s6rio problema": a falta de parafusos. Sua fdbrica ja estava "capacitada a fomecer parafusos para as mais diferentes finalidades e em todos os tamanhos". Nao seria por falta de parafusos que a Amaz6nia deixaria de entrar nos eixos. No ano seguinte, anfncio da Facepa (Fibrica de Celulose e Papel da Amaz6nia, uma remanescente dessa onda de industrializacgo) garantia que a fase de Belem como a cidade do "ja teve" havia sido superada. A capital paraense passava a contar com papel "da melhor qualidade". A Facepa aproveitaria materia-prima local para vender "mais barato do que o importado". Entre outros produtos, o papel higienico, cujos estoques ji podiam ser renovados rapidamente na capital paraense, "sem as naturais perdas que ocasionam as longas viagens" dos produtos importados. BELEM FOI A CIDADE DO "JA, TEVE" .A.GOtA JA TEMOS PAr^EIi DA MELHOR QUALIDADE AtraO'mu ma um. poC a du flintliub" po- l alt C~omn est: JA T!MOI PAPE, DA lll .i QU'. ALII)DADE. Flabrleadn aqul. Alpr aiuUndo a matris inllt dpr Regiqo. VI NDIDO MTIS BARATO do qlo Ia- Spnnaio. 0 conumidor p au e -de . -iovtr -em apfde o -t mo.C no s noturati pcort a que oS~itoNas a. lt gas f BRICA DE CEIuLOLSE [ APEL AAlZONIA S. . ,,- ir.sa r?..is"" A AMAZONIA LANA A OPERA(AO "BRASIL S.A.!" - Sranl na. sup M I>OBI M.Mrr eerI i gri es aw ams M asMWru, jhitjl.u [ .... ... .... ..... ,f.r... luIn t S -f0So b0 ,m i fE SU1 poet-. ra* I j *'Pan' a.. r SS.fl.t A wran I u. w i i i Ir ,UI su, Ma1a 6 uf(M Oot r. au.,. .. a ... ,., .. S-- .-_ n . ..... ... ..m 0 EP E E. oO "I ...... ..J.a .... ..... gWd -"M -DO '' -,. l.I IBB i, K I '. BANCO DE CRT- 0 ,DA AAZONIA S.A. -B- ** ** '- a .. ... ..... - ..... ....... A .Y -- - Lno a,,ia l.ta S,. -...*.oe.le l la...r #aaa.. Sa. 0 SF 1 rout !IPARAFUSOS U| rI ',;,..11I ,,,-,, 1 I- pJu AMETAL . .. ,I :, :.u nl .. .ii." .........,. ... -^ 'R IAL SI.uq V aJ Wln, - ,r q Agenda Amaz6nica Travessa Benjamin Constant 845/203 Belm&/PA- 66.053-040 e-mail: jnmal@amanzn.mm.hr Telefones: 2237690/2417626 (fax) Produgo grfica: luizantoniodefariapinto |