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An, fo de 20 I R$ 3C F o Ano I N2 6 Belem, fevereiro de 2000 R$ 3,00 La c i o Fldv i o Pi n t o : '- .,: -" t ,. No final de 1984, quando foi inaugurada, a hidrel6trica de Tucuruf havia absorvido o equivalent a 5,5 bilhies de d6lares de investimento direto para ser construida. Mas o governor brasileiro, responsavel unico pela obra, ja havia pago at6 aquele moment outros dois bilhoes de d6lares de jurors vencidos durante a construgao. Quinze anos depois de ter entrado em operagio commercial, data comemorada com TUCURUI A pirimide energ6tica completou 15 anos (quem comemora?) bastante discrigdo no final do ano passado pela Eletronorte, Tucuruf ainda ndo est6 totalmente paga. E continue a dar prejuizos porque o lucro operacional que ja tem e superado pelo custo financeiro. bem provdvel que seu custo final, atualizado, jd tenha passado de US$ 10 bilhOes. Mas ainda ha juros por vencer, cobrados por agents financeiros internacio- nais que emprestaram dinheiro para a usina comegar, em 1975, num trecho do rio Tocantins 350 quil6metros a su- doeste de Belem. Cederam o dinheiro, mas, al6m dos juros e da taxa de risco, imposta a um pais considerado perigosamente instdvel como o Brasil, fizeram varias outras exigeiifas. A principal delas: que metade das 12 gigantescas turbines instaladas na usina viessem 0- da Franga, principal pais financiador. Ou seja, o Brasil usou par- te do caro dinheiro tornado de empr6stimo em favor da indfistria do pais de origem do dinheiro. Esse 6 um dos components da hist6ria de uma obra, jA corn d6cada e meia de funcionamento, que deveria motivar o cidadao brasileiro a ir muito al6m das formalidades de uma data comemorativa. Sendo a maior hidrel6trica inteiramente national (superada apenas pela usina de Itaipu, que 6 propriedade bina- cional de brasileiros e paraguaios), Tucurui 6 o mais important investimento pdblico de toda a hist6ria da Amazonia. Deveria ter-se tornado um divisor de aguas no Estado do Part, onde foi implantada. De fato, pode-se contar a hist6ria contemporanea da regiao antes e depois da hidrel6trica, mas no- com a entonagAo de progress que 6 sublinhada a margem dos discursos oficiais. Com Tucuruf, o Para se tomou o quinto Estado produtor de energia do Brasil, o terceiro que mais export energia para fora de suas divisas territoriais (abaixo do Parand e Minas Gerais). Uma finica unidade produtiva do Estado, a fabrica de aluminio da Al- bras, 6 responsivel por 1,5% do consume de energia de todo um pais corn mais de 160 milh6es de habitantes. Foi para fazer essa grande fabrica surgir que o projeto de uma hi- drel6trica no Tocantins saiu das pranchetas. NAo exatamente em resposta a antigas rei- vindicag6es da populaio native, especialmen- te de Bel6m, a maior cidade da regiao. Procu- rando escapar ao martirio dos constantes racio- ' namentos e blecautes, provocados por uma ofer- ta miseravelmente deprimida, os paraenses so- nhavam com algo em tomo de 300 mil kw. Tal produao atenderia o consume de entao e ain- da deixaria uma apreciavel margem de reserve para o future. Mas a capacidade de producao de Tucurui foi sendo esticada at6 alcancar nada menos do que 4 milh6es de kw. Isso porque os jap6neses, forcados a fechar suas fAbricas de aluminio por causa da brutal elevagAo do custo da energia (o aluminio 6 o bem industrial que mais gasta energia), a partir do primeiro choque do petr6leo de 1973, decidiram construir no Pard a maior fibrica de aluminio do mundo. Ela iria produzir 640 mil toneladas de metal primArio, mais da metade da capaci- dade instalada de todas fabricas japonesas. Precisaria entao de mais de 1,3 milh~o de kw. Ou seja: sozinha, essa fabrica deman- daria quatro vezes mais do que a sonhada hidrel6trica paraense. A Albris, constituida a partir de uma sociedade da entio estatal Companhia Vale do Rio Doce (51% do capital) com um cons6rcio japones (49%), acabou ficando cor metade do tama- nho inicialmente projetado. Os japoneses temiam ficar tAo de- pendentes de uma Onica fabrica, situada a mais de 20 mil quil8- metros do seu territ6rio. Mesmo reduzida a 320 mil toneladas (hoje sao 350 mil), a Albris ainda era a maior fibrica do conti- 2 FEVEREIRO/2000 AGENDA AMAZONICA nente (e assegura 15% de todas as necessidades de aluminio do Japdo). A outra metade que ela suprimiu foi preenchida pela maior indfistria mundial do aluminio, a americana Alcoa, que instalaria uma outra metalirgica equivalent em Sdo Luis do MaranhAo, associada a outra multinational, a Billiton. Aparentemente, havia energia de sobra para esses monstros de eletrointensividade e todas as necessidades de energia do Pari no curso de algumas d6cadas. Mas de 4 milhoes de kw de capacidade nominal, Tucuruf s6 podia garantir o ano inteiro menos da metade desse potential, naquilo que os t6cnicos chamam de potenciafirme. No "invemo" amaz6nico, 6 mais do que satisfat6ria a descarga natu- ral de agua da bacia do Araguaia-Tocantins (que ocupa quase 10% do territ6rio brasileiro, corn 780 mil quil6metros quadrados). Mas no verao, sobretudo nas estiagens mais rigorosas, a queda (chamada de deplepdo) da reserve de agua 6 muito grande. Cada uma das 12 turbines que funcionam na casa de mi- quinas da barrage de concrete, para gerar 330 mil kw (mais atW do que faria a festa dos paraenses no inicio da d6cada de 70), engole 500 mil litros de agua por segundo. Em linha, as 12 turbines precisam de seis milh6es de litros de agua a cada se- gundo. Isto quer dizer que a afluencia de agua ao reservat6rio (um lago artificial que Sse superpos ao leito natural do Tocantins, a partir do represamento de suas aguas, corn i rea de 2.850 quil6metros quadrados e uma r cumulacgo de 58 trilhoes de litros de agua) tem que ser sempre de seis mil metros c6bi- Scos, mesmo quando o verao 6 excepcional- mente rigoroso. Isso ocorreu no ano passado. A diminuigao da vazao do rio foi dristica e o reservatrrio da usina perdeu mais de dois tergos do estoque que movimenta as enormes turbines. Foi o reservatrrio que atingiu o nivel mais baixo de todo o pals, uma situagao que explica a expressive diferenga entire a capacidade nominal instalada (de 4 milh6es de kw) e a pot6ncia firme (de 2,3 milh6es). Essa diferenca cresceri ainda mais na segunda etapa da usina, cuja constru&o foi iniciada no ano passado. Com investi- mento de mais US$ 1,2 bilhAo (sem incluir os juros dos financia- mentos, que vAo criar uma outra espiral de custo), totalmente bancado pelo governor federal, outras 11 turbines (de 350 mil kw) serAo instaladas na extensAo da atual casa de mtquinas. Teoricamente, elas adicionarAo mais 4,2 milh6es de kw a poten- cia da hidrel6trica (que passaria a ter 8,2 milh6es de kw, situan- do-se entire as maiores do planeta. A oferta firme de energia, entretanto, nao irt al6m de 1,1 milhAo de kw. Isso porque as tomadas de agua da usina comple- ta irao engolir 11,5 milh6es de litros de agua por segundo, bern acima da vazAo natural do Tocantins durante boa parte do ve- rao. O reservat6rio passarA a sofrer sensiveis depleg6es constan- temente, ao contririo da situagao atual, quando a descida do nivel da Agua em escala mais expressive s6 ocorre excepcional- mente (podendo, dessa maneira, agravar os problems de asso- reamento ja constatados). A conclusdo 6bvia 6 que a utilizacao 6tima da barragem de Tucuruf s6 seri alcancada se outras represas forem construidas a montante da bacia, mesmo que sejam represas nao motorizadas. Represas rio acima irao segurar mais agua durante o period das cheias e soltd-las quando o nivel do reservat6rio se tomar critic, evitando perdas maiores de energia. Perdas, alids, que nao sAo fun- gAo apenas da descarga do rio, mas tamb6m da linha da agua. Um dos problems das barragens 6 a acumulagAo de mate- rial mais pesado na base dessa estrutura de contengo, causan- do entulhamento a partir do seu p&. Quanto mais assoreamento houver nas margens, mais material em suspensao o rio transpor- tard. A maior parte desse sedimento ficard retida na barragem. Com o tempo, elevarA o fundo do rio e teri o efeito de diminuir o volume de agua ao alcance da tomada que conduz essa agua para as turbines. O problema poderia ter sido evitado (mantendo o fluxo de sedimentos de montante para jusante, que evitaria o enfraquecimento da agriculture no Baixo To- cantins) se o descarregador de fundo da bar- ragem, que constava do projeto original, fos- se mantido. Por media de economic e por- que sua necessidade foi questionada, ele foi . suprimido na fase executive da obra. Essas questoes mostram que, ao contra- rio do que normalmente se procura incutir na opiniao puiblica, Tucurui I nao 6 um capitulo definitivamente escrito, uma pigina virada na hist6ria do ingresso do Para no mercado mun- dial atrav6s dos deslocamentos econ6micos provocados pela cruise da energia. Se nio chega a ser exatamente um capitulo ainda a ser escrito, 6 uma chaga em aberto. E, quando nada, uma hist6ria muito mal contada. Muitos dos problems decorrentes da obra foram transferidos para as costas largas de sua 6poca. No aspect ambiental, usando-se como habeas corpus preventive o fato de que a hist6ria da legisla- ao ecol6gica brasileira s6 comegou em 1981 (e, de forma positive, em 1986). Como obra pioneira e precursora, Tucurui nao poderia ser enquadrada retrospectivamente nas normas mais rigorosas que s6 surgiriam quando a usina ji estava funcionando. Esse 6 o raciocinio que autorizou a Sectam (Secretaria de Ciencia, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado) a renovar a licenga de operacao para a fase um e conceder a licenca de instalagAo para a segunda fase sem a apresentagCo de Rima (Re- lat6rio de Impacto Ambiental). A secretaria considerou suficiente dar essas licengas para a Eletronorte em troca de 14 programs ecol6gicos que a empresa se comprometeu a realizar. No entanto, al6m de estar defasada desde a origem em rela- Cao a um padrao intemacional de qualidade ambiental (remontan- do a hidrel6tricas construidas a partir da d6cada de 50, como As- suA, no Egito, e Grand Coulee e Boneville, nos Estados Unidos), a construmo de Tucurui simplesmente ignorou as exigencias do C6digo de Aguas, de 1934. Em plena casa das leis, a Assembl6ia Legislative do Pard, um dos dirigentes da Eletronorte, Armando Ribeiro Aratjo (hoje trabalhando em Washington, no Banco Mun- dial), disse que essa lei nao seria cumprida por ser invidvel. Ainda hoje, quando esse crime 6 lembrado, repete-se o mes- mo argument: nao havia necessidade de cumprir o C6digo de Aguas. O 6rgao responsivel tecnicamente pela lei, o DNAEE, se omitiu, como se omitiu o fiscal da lei, o Minist6rio Piblico e, em escala variAvel, todos os demais atores, socials ou institucionais. Isto quer dizer que na area de construg o de barragens ha leis que existem para nio serem cumpridas e um 6rgao do govemo assu- me esse desrespeito sem temer as conseqtincias, que ningu6m ira cobrar sua responsabilidade. O tangenciamento da norma legal, que exige a manutengAo da navegabilidade de rios que ji eram navegiveis quando foram repre- sados, deixa a mostra outro anacronismo de Tu- curuf: a barragem foi concebida e construida exclusivamente para gerar energia, mesmo com J sua ordem de grandeza: mais de US$ 10 bilhoes (ou 18 bilh6es de reals), perimetro do reservat6- .r rio de 7.700 quil6metros (quase quatro vezes a I distncia Bel6m-Brasilia), milh6es de metros ci- bicos de madeira submersos (menos de 5% apro- veitados economicamente at6 hoje) e um con- junto de efeitos ainda em prospecqo. A duras penas e ainda precariamente - tenta-se transformar essa represa monovalente numa obra de mltiplo aproveitamento: para a extrapgo de madeira, turismo, colonizagao, pesca. Mas o significado dessas atividades laterals 6 meramente residual. Tucuruf e um anacronismo porque nenhum pals contemporaneo da sua hist6ria realizaria tal empreitada sem considera-la como um dos itens (certamente o mais important, mas nunca o Onico) de um piano de desenvolvimento. FEVEREIRO/2000 AGENDA AMAZONICA 3 Nem deixaria que uma empresa exclusivamente de eletrici- dade, como a Eletronorte, se tomasse monopolista da barragem (especialmente para os fins da sua criaao, em 1973, nao por acaso o ano do primeiro choque dado pelos drabes no prego do petr6leo: tomar possfvel o p6lo de aluminio). Ela deveria estar enquadrada a (e sob) uma agnncia de desenvolvimento, que ma- ximizasse os beneficios do investimento, ao inv6s de concentra- 1Rs absurdamente entire poucos beneficiaries. A agencia existia: era a Superintendencia do Desenvolvi- mento da Amaz6nia. A Sudam at6 tratou dos estudos iniciais para o aproveitamento da floresta que seria afogada pelo repre- samento do Tocantins. Mas em 1977 foi colocada para escanteio por um govemo que parecia padecer de esquizofrenia. Pois en- quanto um dos seus bragos tudo fazia para que Tucurui fosse apenas uma represa de hidreletricidade, outro brago pagava ca- ras consultorias para preparar dois pianos: o Prodiat (Programa de Desenvolvimento Integrado do Araguaia-Tocantins) e o Piano de Desenvolvimento do Vale do Tocantins. Documentos volumosos que jamais desceram das prateleiras. Nem se encaixaram no maior investimento ptblico de todos os tempos na Amaz6nia. .. O desnivel de 70 metros criado pela bar- ragem permanece como a espinha atravessa- da no baixo curso do 25- maior rio do mun- do, tirando-lhe a plena navegabilidade de 2.200 metros que ele teria se as obras das eclusas (as maiores do mundo, exigindo mais de US$ 400 milhoes) tivessem sido realizadas simultaneamente as da hi- drel6trica. Como s6 cuida da energia (anos depois 6 que incor- poraria a ret6rica da "insergAo regional"), a Eletronorte passou em frente o pepino. Ele foi colocado sobre a mesa da Portobris (ja extinta), que nunca texe dinheiro ou forga institutional para assumir encargo tao pesado. Mesmo agora, quando os servigos no local foram retomados e o governor FHC garante que dessa vez "la nave va", ha motives para crer que a ret6rica continuard superando a realidade. Sabe-se tamb6m agora que tudo poderia ter sido muito menos caro do que foi e continue a ser. Corn a autoridade de ter sido um dos homes mais poderosos do pais, responsavel pelo deslocamento da hegemonia amaz6nica (substituida pela pre- ponderancia japonesa) na fronteira amaz6nica, o ex-ministro e ex-presidente da Companhia Vale do Rio Doce, Eliezer Baptista, disse que Tucuruf teria sido muito mais barata se nao tivesse havido tanta corrupAo na obra. Sem esses desvios de dinheiro (em dimensoes amaz6ni- cas), Eliezer estd seguro de que nao teria sido necessArio conce- der subsidio as duas indfstrias de aluminio. Para que elas pu- dessem entrar no mercado international corn um metal competi- 4 FEVEAtEIRO/2000 AGENDA AMAZONICA tivo, foram favorecidas por contratos que Ihes asseguram, du- rante 20 anos, energia barata independentemente de quanto cus- ta para a Eletronorte gerar essa energia. At6 2004, quando se encerram, esses contratos terao representado sangria superior a US$ 2 bilhoes. Sera como se essas empresas venham a receber de volta as fibricas que construfram. Depois de 2004, quem estiver operando Tucuruf (provavel- mente uma empresa privada, em substituigco A Eletronorte) nao aceitar~ mais esse nivel tao baixo de tarifa. A Albras ja esta ten- tando resolver o problema (grave, porque a energia represent um terco do custo final do lingote de aluminio). A said mais natural 6 integrar um cons6rcio para participar da privatizagao da Eletronorte, numa proporgao de capital compativel corn sua necessidade de energia. A outra alternative, de buscar um suce- daneo (o mais visivel 6 o gas), parece inexeqtivel no horizonte de uma d6cada. Qualquer said para o suprimento de energia a Albras ex- cluindo Tucuruf parece fora de cogitagco. E o que sugere a dispute para a construgao de uma segunda linha de transmissao entire Tu- i curui e o distrito industrial de Vila do Con- de, ja licitada, obra de US$ 120 milh6es, ar- . .....*' rematada por concessao de 50 anos pelo con- s6rcio Shahin/Alusa. Assim, depois de des- P d frutar por duas d6cadas de tarifa abaixo do custo de gerag5o, a Albris poderd manter um suprimento vantajoso se a arrematacao de Tucurui na privatizaCao seguir um padrao as- semelhado ao da venda da CVRD. Como dois tergos da energia fire da usina continuam a seguir para esses dois consumidores privilegiados, uma contabi- lidade afinada da relacao custo/beneffcio apontara um saldo negative. Mas 6 possivel reconstituir as contas verdadeiras de Tucurui? Talvez um bom ponto de partida fosse chamar o dou- tor Eliezer Baptista e pedir-lhe para tentar estimar a corrupcao que afirma ter existido nas obras da hidrel6trica. Se o custo atu- alizado da obra 6 de US$ 10 bilhoes, admitindo-se a menos one- rosa das taxas do mercado (o popular 10%), a corrupcao terd abocanhado um bilhao de d61ares do que foi aplicado em Tucu- rui. Se nao da recibo, a corrupcao ao menos deixa rastro. Um bilhao de d61ares 6 dinheiro suficiente para sair atrds dos cur- ruptos. Em qualquer lugar do planet. Detectando essa gordura ruim, pode-se tamb6m tentar iden- tificar as adiposidades mais sutis. Para a maior das serventias, essa revisao pode ser nada mais do que um trabalho academico. Neste moment em que, para viabilizar as eclusas, o seu custo passou por um process de voluntario emagrecimento orgamentirio, con- vinha aplicar tal metodologia ao que jai obra acabada (mas pre- cisa ter uma escrita verdadeira) e ao que ainda esta em curso. Para esse reexame ser a s6rio, Tucurui tem que sofrer reen- quadramento antes de uma decisdo tio grave como a privatizagAo da usina. A Sudam (ou a nova agnncia que sera criada em seu lugar) s6 existird de fato se exercer, se nao o control operacional, ao menos a supervisor de fato da hidrel6trica, acoplando-a ao desenvolvimento regional do vale do Araguaia-Tocantins. A priva- tizalgo da usina sera a culminagao de um process negative: a apropriagao dos beneficios da geracgo de energia (atrav6s do p6lo de aluminio) e a socializacAo dos custos (agravados pela corrup- Cgo que o ex-presidente da CVRD denunciou e at6 agora s6 o JoralPessoal publicou). Custos piblicos que continuardo a ser exigidos quando ficar claro que a otimizagAo da segunda etapa de Tucurui requer a regularizagdo a montante do rio. Nao 6 possivel que todos assistam passivamente a Vale do Rio Doce declarar a impossibilidade de fazer a industrializagAo do min6rio da Serra de Carajds dentro do territ6rio paraense por nao dispor de energia para o aproveitamento sidernrgico, en- SLeia e assine -I Lri V Js quanto um milhao de kw de Tucurui sao remetidos para o sul do pais. Essa limitacgo existe porque a hidrel6trica 6 um apendice das ind6strias mundiais do aluminio que se instalaram em Bel6m e em Sao Luis, embora nessa tipica inversao colonial de a exten- sao ser maior do que a base da qual deriva. Inversao que ajuda a explicar porque os Para, terceiro maior exportador de energia do Brasil, jamais tenha conseguido controlar a empresa federal de energia da sua base territorial (o atual president da empresa foi indicada pelo senador Jos6 Sarney, o mais notdvel politico do MaranhAo, onde o kw de energia oriundo de Tucurui 6 mais barato porque nao paga o ICMS cobrado dentro do Para). O Para, condenado a se tornar, nos pr6ximos anos, a maior provincia energ6tica brasileira (ja 6 a maior provincia mineral), nao sabe dessas hist6rias. A comemoragfo dos 15 anos de Tucu- rui, feita "en petite comite" pela Eletronorte, Ihe 6 um ato estra- nho. Mas se soubesse da verdadeira hist6ria, os motives que teria nao seriam nada comemorativos. Seriam para chorar. -iL l 1 241-7626 _-L Z 5-f C T I_ A_ _ iW ~ a~aiiif"ii T i j it~mLi 1 rnrs'~i ^L ~J*__|'U"| __ ^B '' v I i -s... ONTEM A maquina na eleiqao Em setembro de 1953, o advogado Aloysio da Costa Cha- ves, que era "funcionario de destaque" da Caixa Econ6mica do Para, enviou um telegrama ao governador do Estado, gene- ral Alexandre Zacharias de Assumpgao, protestando contra a participacgo do prefeito de Bel6m e de secretarios estaduais em comicios politicos. Temia que isso significasse a manuten- qo do "facciosismo pdblico das autoridades", que havia ca- racterizado o governor anterior, do PSD de Magalhaes Barata, derrotado em 1950. Assumpcgo mandou seu chefe de gabinete, Fldvio Morei- ra, devolver o telegrama de Aloysio, 'por descabido". Explicou ter como norma "nao fazer restricgo ao direito que possuem os funciondrios pOblicos de se filiarem a qualquer agremiacgo par- tiddria". Exemplificava corn o caso de um servidor publico: embora exercendo cargo de "imediata confianga" do governa- dor, era candidate a prefeito da capital 'por um Partido adverse da coligagao partidaria que elegeu o Governador do Estado". Lembrava ainda ser "piblico e not6rio que varios funci- onarios estaduais, tendo sido alguns nomeados na atual admi- nistragAo, sao fervorosos secretarios de organizagoes political que atacam o Governo, sem que por isso sofram qualquer sangAo". A "manifestagao de opiniao political" de qualquer servidor, independentemente de sua posigao hierdrquica, nao seria impedida, desde que exercida foraa do recinto da repar- tigAo pdblica". Negava, por6m, que seu govemo estivesse "pres- sionando o funcionalismo para adotar esta ou aquela opinion partidaria". Concluia invocando a pr6pria situagao de Aloysio Cha- ves, que defendia a candidatura de Renato Franco, president da Caixa Econ6mica, onde trabalhava, a prefeitura de Bel6m. 1) Aloysio da Costa Chaves foi, em seguida, president do Tribunal Regional do Para, reitor da Universidade Federal do Para, governador do Estado (1975-1978), senador (1979- 1987) e deputado federal, entire varios outros cargos publicos. Morreu em 1995. 2) Depois de tersido comandante military da A mazonia e da 8-Regido Militar, o generalAssumpdio se elegeu governador em 1950, derrotando MIagalhaes Barataporpequena margem de votos. Tambem foi senador (1959-1967). Nao conseguiu vol- tar ao govemo do Estado, que disputou em 1960 (derrotadopelo baratista Aurilio do Carmo) e em 1966, quandofoi candidate :las oposicpes contra o tenente-coronel e ex-prefeito de Bel6m, Alacid Nunes, naprimeira eleicdo diretapara o cargo depois do movimento military de 64. A pacificapdo political quepromoveu, gracas ao seu distanciamento dosgrupos locals, j reconhecida como um dos m6ritos desua administracdo (1951-1956). Seria um odsis de tolerdncia, depois de anos de violent antagonismo politico no Pard entire baratistas e anti-baratistas. Morreu em 1981, no Rio deJaneiro, onde nasceu, aos 86anos. FEVEREIRO/2000 AGENDA AMAZONICA 5 I HISTORIC Um novo enredo para a Cabanagem N ao foi por amor A democracia ou em respeito a auto determinacp dos povos que a Inglaterra rejeitou a autorizacgo dada pelo regente do Brasil, Diogo An- t6nio Feij6, para entrar corn tropa armada na Amaz6- nia, em 1836, e reprimir a revolt dos cabanos, eclodi- da no ano anterior. Nem a Inglaterra, nem a Franca nao esta- vam interessadas numa empreitada de conquista military na Ama- z6nia nessa 6poca. Nao pretendiam se apossar da regiAo. O que queriam era manter a navegacgo livre para navios de qual- quer bandeira em todo o curso do rio Amazonas, o suficiente para lhes permitir continuar a vender seus produtos na area, em escala que ja era entao crescente, embora ainda inexpressi- va no conjunto do comdrcio international. Talvez s6 estives- sem dispostas a mudar essa estrat6gia, de enfase commercial e nao military, se houvesse o fechamento do Amazonas a navega- cao estrangeira. O eixo prioritirio dos seus interesses estava voltado para a Asia e a Africa. Essa pode ser a principal licio a extrair da documentacao do Minist6rio das Relac6es Exteriores da Inglaterra (o Foreign Office), que s6 agora esti sendo revelada (ver Agenda Ama- z8nica n" 5). Descoberta casualmente em Londres pelo pesqui- sador ingles David Cleary, que a remeteu para Bel6m, a corres- pondencia travada entire integrantes da armada de sua majestade britAnica enviada ao Pard e a chancelaria em Londres devera ser publicada ainda neste ano nos Anais do Arquivo Pfblico do Para. Trata-se da mais substantial base primiria de informaOes sobre a Cabanagem surgida nas iltimas d6cadas. Sua importan- cia exigira uma revisAo critical de toda a bibliografia existente. Infelizmente, dois anos e meio depois da remessa feita de Londres por David Cleary, a correspondencia da marinha inglesa ainda nao foi publicada. Esse atraso impede o franco acesso a esse acervo pelos pesquisadores e demais pessoas interessadas na maior revolt popular da hist6ria brasileira. Apesar dessa limi- tacgo, entretanto, alguns intelectuais ji comegam a se manifestar sobre o assunto, dando infcio ao necessirio debate que serg precise travar para bem incorporar os novos documents a his- toriografia sobre o epis6dio. Em outro lugar desta edigAo, public carta enviada de Bra- silia por Vicente Salles. Ele toca em pontos de alta sensibilida- 6 FEVEREIRO/2000 AGENDA AMAZONICA de para a compreensAo dos acontecimentos que ensangiienta- ram violentamente a vida no GrAo-Pard entire 1935 e 1840, pro- vocando a morte de 20 mil a 30 mil pessoas (numa populagao total de 150 mil habitantes). Um deles 6 a participacgo estran- geira nos acontecimentos. A carta do embaixador ingles no Rio de Janeiro ao seu supe- rior, lorde Palmerston, em Londres, relatando o encontro sigiloso com Diogo Feij6 (a peca mais important da documentagao), nro deixa mais margem de dfivida: a Inglaterra e tamb6m a Franga - poderiam ter tido ali o pretexto para invadir e ocupar militarmente o Para, se quisessem. Os dois paises foram autorizados, pelo ho- mem que governava o Brasil em nome do imperador Pedro II, ainda sem idade para assumir o trono deixado vago pelo pai, a colocar 800 homes armados para enfrentar os cabanos cercados em Bel6m (Portugal, que seria contatada depois, tamb6m poderia mobilizar outros 400 homes, embora o 6dio ao domino portugu- es no Pari, pouco alterado a despeito de 13 anos de independen- cia national, fosse uma das causes da revolta. O governor do Rio de Janeiro fingiria ignorar a invasao do territ6rio brasileiro, que autorizara secretamente. Recorria a forga estrangeira porque se sentia sem condigoes de sufocar a rebe- liMo cabana por seus pr6prios meios. Maior atengo seria dada a outra sublevagAo popular que irrompera no extreme oposto do pais, na provincia de SAo Pedro da Aldeia (o Rio Grande do Sul de hoje), a Farroupilha. A Inglaterra (como a Franca) tinha muitos interesses comer- ciais jA estabelecidos no GrAo Para, mas nao a ponto de se envol- ver numa operagco military, exatamente porque essa empreitada nenhuma vantage adicional Ihe traria. A invasao permitiria a qual- quer desses dois paises contar com uma reserve territorial para o future, mas tal reserve nao era entdo considerada atraente. O que Inglaterra e Franga queriam era um livre com6rcio sem maiores investimentos. Inclusive para que continuasse a ser rentdvel, nas proporgoes em que esse com6rcio era travado. A gestAo territorial e a administracgo military poderiam permanecer cor o govemo local. Mesmo porque o imp6rio brasileiro continuara a honrar os compromissos coloniais anteriores, especialmente corn a Inglater- ra. Era muito mais lucrative manter a situagAo como estava. A documentacgo agora revelada mostra que a presenga mercantil inglesa era relativamente forte no Parn, onde se haviam "formado estabelecimentos e consideraveis dep6sitos de merca- dorias". Quando Richard Warren, comandante do Snake, um dos navios da esquadra enviada ao Pari, entrou em Bel6m, em maio de 1836, encontrou ancorados no porto da cidade oito navios mercantes, tres deles ingleses. Das demais embarcagces, uma era dinamarquesa e quatro americanas (num indicador da penetra- gAo tamb6m em expansAo da preserica da jovem naAo america- na, mas ainda inferiorizada em relagAo ao Brasil). Uma das correspondencias reproduz os nomes de firmas inglesas que assinaram um manifesto pedindo ao rei da Inglater- ra indenizacAo: M. Calmont Bros. & Co, Win. & G. Barradaile, John Knipp (ou Knight) e R. & W. Harrison. Um comerciante ingles, Gray, foi morto pelos cabanos. Os outros foram forcados "a abandonar praticamente todas as suas propriedades e se refu- giarem a bordo do navio de Sua Majestade Racehorse" Interesses a defender, portanto, havia -e eles nao se limita- vam a carga do navio Clio, saqueado em Salinas pelos nativos, que mataram quase toda a tripulacio do barco mercante ingles. Tamb6m seria fAcil derrotar os cabanos: havia apenas 150 ho- mens armados em Bel6m, "em estado deplordvel", quando o ca- pitio Strong desceu em terra, em abril de 1836, para parlamentar com o chefe cabano, Eduardo Angelim. Strong, official de carreira da maior marinha de guerra do mundo naquela 6poca, avaliou poder tomar Bel6m dos rebeldes usando 220 dos homes que estavam sob o seu comando na esquadra de tries navios, "incluindo os fuzileiros com pequenas armas". Se quisesse, ele at6 poderia atacar com sucesso os navi- os de guerra do marechal Jorge Rodrigues, que faziam o cerco a Bel6m, mas que nao se atreviam a tentar atacar a capital, corn receio de uma forga superdimensionada pelos enviados do go- verno do Rio de Janeiro, mas que Strong achava possivel esma- gar com facilidade. Diante de relates e observag6es de profissionais tarimba- dos, cor participagCo direta nos acontecimentos daquela 6poca, tornam-se definitivamente inverossimeis certas afirmativas da his- toriografia cabana, que ji antes nao mereciam muita atencAo. Elas passam a condig~o de mera mitologia, de que 6 exemplo um trecho de Cabanagem Epopeia de um Povo (2 volumes, Bel6m, 1985), no qual o recen- temente falecido jornalista Carlos Rocque garante que Eduardo Angelim, "quando Presidente [dapro- vincia] recebeu tentadora proposta de um capitol ingles, para proclamar a independencia do Parn, no -'- que teria apoio de potencias estrangeiras. E o cau- dilho negou-se at6 a discutir a sugestao". Mesmo entAo, nenhum document conhecido registrava tal acontecimento. No entanto, esse tipo de observag~o 6 repetida em quase todos os livros acatados como fonte de credibilidade sobre a Cabanagem. Reconstituindo os contatos entire Strong e Angelim, Pasquale di Paolo (em Cabanagem- A RevoluFdo Popu- larda Amaz6nia, Conselho Estadual de Cultura, 1985), afirma que o capitao ingles props ao president cabano a "declaraco da independencia da Amaz6nia. Antes dele, o coronel Gustavo Moraes R8go Reis tamb6m havia registrado (em A Cabanagem, Govemo do Estado do Amazonas, 1965) que os ingleses "sugeri- ram e ofereceram proteg~o a provincia, caso fosse proclamada a separagAo political do Imp6rio". Ao registrar a morte de Angelim, em 1882, o journal Didrio do Grdo Pard destacou que o antigo lider cabano havia recusado "recursos militares do govemo Americano para proclamar a in- dependencia da Amaz6nia". Todas essas hist6rias tnm origem no que ainda 6, de lon- ge, o melhor livro sobre a Cabanagem, os Motins Politicos, de Domingos Ant6nio Rayol, concliido em 1890 (ha s6 ura ree- digio, em tres volumes, feita pela Universidade Federal do Parn em 1970). Rayol reproduz testemunho pessoal que Eduardo Angelim Ihe prestou, anos ap6s a Cabanagem, segundo o qual "houve quem o aconselhasse a proclamar a separaqco political do Parn, como nagao livre e independent, cor promessa de protegAo estrangeira, respondendo ele que nio trairia nunca a si:' prtria para trocar o nome de cidadlo brasileiro com o qual se julgava enobrecido!". Com sua prudencia, Rayol julgou-se no dever de acres- centar, ao depoimento que o terceiro president cabano Ihe dera pessoalmente, uma observacgo: "O que hi de verdade nessa asseveraq~o, nao o sabemos: a nao ser a palavra do pr6- prio informant, confirmada na carta que o mesmo dirigira ao general Andr6ia em 30 de abril de 1836". Nessa carta, escrita quando se preparava para abandonar Bel6m, cedendo ao cer- co das tropas imperiais, Angelim reafirmou a submissao ao imperador do seu pais, em nome do qual Andr6ia fora enviado ao Pari, "a despeito de todas as vantagens prometidas logo no principio da revolucqo por alguns agents estrangeiros, que me patentearam a necessidade de ligar-me a seus Estados". Evitan- do qualquer outro comentirio, o Bardo de Guajard ainda aduz que "qualquer tentative contra a integridade do imp6rio seria de todas a maior calamidade, atentas as deploriveis condioges em que se achava a provincia". Se tal proposta realmente foi apresentada, por6m, dela nao h~ urm inico document escrito, nem em qualquer dos arqui- vos brasileiros, nem na correspondencia estrangeira que agora estd sendo revelada. O epis6dio sempre se restrin- giu a testemunho oral. Infelizmente, a inica fonte, Eduardo Angelim, foi demasiadamente lac6nica, li- mitando-se a fazer referencia na carta ao military que seria o repressor da Cabanagem e na conversa I S com Rayol, sem dar nomes ou detalhar circunstAn- cias. O livro de mem6rias que teria escrito sobre a Cabanagem se perdeu. Agora, cor a incorporacao da correspon- dencia da armada inglesa, a insistencia em relates desse pa- drAo se tornou insustentdvel. O historiador amazonense Ar- thur Cezar Ferreira Reis, apesar de incluir o epis6dio revelado por Angelim como um dos capitulos ("Os Ingleses sugerem a secessAo") do seu famoso livro A Amaz6nia e a cobiga inter- nacional, foi prof6tico ao p6r em questao as fontes de refe- rencia utilizadas para apresentar a proposta de secessao na Amaz6nia por estrangeiros. A bibliografia jA entAo existente se referia nao a uma, mas a virias insinua6oes, e a mais de um pais interessado em fomentar a separacgo da Amaz6nia do territ6rio brasileiro. Embora nao tenha seguido em seu livro o conselho que deu aos outros, Ar- thur Cezar ponderou corn sabedoria: "A correspondencia do ca- pitAo Strong e a dos agents consulares com os seus govemos 6 que poderio dar a resposta definitive". Pena que nao tenha ido atris dessa correspondencia. Nem outros historiadores. Essa documenta0Ao, evidentemente, continue a ser apenas uma das peas de referencia sobre a Cabanagem, nao tendo, por si s6, o poder de alterar todo o entendimento que se vinha tendo desse important moment da hist6ria brasileira. Mas a partir de agora s6 se pode retomar a s6rio a producAo historiogrAfica a respeito considerando esses pap6is. Quem quer que os ignore, tentando repetir chavoes que eram ditos no passado sem a preo- cupagio de comprovacAo documental, estarAo complete e defi- nitivamente ultrapassados. FEVEREIRO/2000 AGENDA AMAZONICA 7 AGENDA COTIDIANA Clara Pandolfo e a cria9ao da Sudam Prosseguindo com a s6rie iniciada no numero'4, public o depoimento de Clara Pandolfo sobre a criagao da Sudam, em outubro de 1966. Vindo do 6rgdo anterior de planejamento regional, o primeiro do Brasil, a SPVEA, criada em 1953, Clara Panclolfo 6 uma das principals referencias sobre um capitulo da hist6ria da Amaz6nia ainda inconcluso. Suas informag6es e observag6es (que detalham entrevista concedida a Agenda no 2) ajudam a former opiniao exatamente quando uma nova regra institutional estd sendo examinada pela administration federal para a region. Como foi o seu dia, o que estava fazendo naquela 6poca, suas tarefas, fungdo que ocupava, temas de sua preocupagao ?- A mudanca institutional de SPVEA para Sudam ocor- reu no bojo da chamada OperaCo Amazonia, lanCa- Sda pelo govemo federal em outubro de 1966, objeti- vando inaugural uma nova political desenvolvimen- I tista para a regiao, com a reformulagAo das estratdgi-- as atW entAo adotadas e a reestruturacAo dos 6rgios encarrega- dos de sua execucao. O conjunto de instruments criados no context da Operago Amazonia, para viabilizar o desenvolvi- mento regional, incluiu, entire outros dispositivos legais e medi- das administrativas, a lei n 5.173, de 27.10.66, que extinguiu a Superintendencia do Piano de ValorizaqAo Economica da Ama- z6nia (SPVEA) e criou, para substituf-la, a Superintendencia de Desenvolvimento da Amaz6nia (Sudam). Anteriormente, o govemo military revolucionario, instaurado no Brasil, a 31 de margo de 1964, decretara intervenoo federal na SPVEA, sendo nomeado interventor o general de divisao Emesto Bandeira Coelho, gadcho de nascimento, mas, havia muitos anos, resident em Bel6m. Os dois meses dessa interventoria (de 7 de abril a 4 de junho de 1964) foram marcados por muitos inqu6ritos e devassas nos varios stores da Superintendencia, abrangendo as administra- G6es anteriores da SPVEA e de sua subsidi'ria, a Rodobris. 8 FEVEREIRO/2000 AGENDA AMAZONICA A partir de 4 de junho de 1964, assumiu a Superintendencia da SPVEA o general de divisAo Mario de Barros Cavalcanti, de quem recebi atenciosa carta comunicando-me haver proposto ao President da Reptiblica a minha permanencia como membro tecnico da Comissao de Planejamento da SPVEA. Por essa 6po- ca, eu estava vivamente empenhada em acompanhar o curso de uina proposi go que eu apresentara ao plenario da Comissao de Planejamento, visando a implementaqAo de um Programa de Olei- cultura na Amaz6nia. Para apreciagAo desse program, a Comissao de Planejamen- to havia criado um Grupo de Trabalho constituido por mim e mais tres membros: um agr6nomo, o dr. Nady Bastos Genu, um econo- mista, o dr. Henrique Osaki amboss trabalhando na SPVEA) e um quimico industrial, o dr. Miguel Cunha Filho, professor da Univer- sidade Federal do Ceara, temporariamente residindo em Bel6m. Essa proposicao fixava diretrizes e sugeria medidas para o desen- volvimento de uma political oleifera para a Amaz6nia e execugAo de um program de cultivo racional de esp6cies oleaginosas. As conclusoes do relat6rio final do G.T. foram aceitas pelo plenario da Comissao de Planejamento, que se manifestou favoravelmente, ratificando a proposicao original de minha autoria. Em decorrencia dessa decisAo plendria da C.P. foi firmado, em outubro de 1966, um convenio entire a SPVEA e o Institut de Recherches pour les Huilles et O6agineux (IRHO), entidade de renome intemacional em oleicultura, sediada em Paris, estabele- cendo a inteira responsabilidade tecnica do IRHO na execucAo do plantio, ficando a SPVEA corn as responsabilidades financei- ra e administrative. Surgia, assim, o chamado Projeto Dende - plantio experimental de palma africana, executado pela Sudam, As proximidades de Belem que se constituia em uma das mi- nhas preocupaq6es quando ocorreu a mudanga SPVEA/Sudam. O relato aqui feito serve, tamb6m, para evidenciar o cuida- do e a meticulosidade corn que eram examinadas as mat6rias t6cnicas pela Comissao de Planejamento. Foi uma longa cami- nhada desde que apresentei minha proposigAo A C.P. em 1963, at6 outubro/66, quando foi adotada a primeira providencia con- creta corn a assinatura do conv&nio SPVEA/IRHO. A 30 de novembro de 1966, o general Mario de Barros Ca- valcanti, que estivera entAo a frente da administraqAo da SPVEA, foi empossado como Superintendente da Sudam, e continuou prestigiando a iniciativa. A execugo do Projeto Dende foi uma realizaSgo bem suce- dida mercer do decisive apoio que sempre recebeu por parte dos virios administradores que se sucederam no exercicio da Superin- tendencia da Sudam. Entretanto, em 1974, em obediencia a deter- minagdes emanadas do Minist6rio do Interior, o Projeto foi trans- ferido a iniciativa privada, quando ainda nto se achava inteira- mente concluido. Hoje, 6 corn muita alegria que constato os frutos dessa experiencia vitoriosa corn o crescente interesse, na region, pela dendeicultura, que se constitui em uma das mais promissoras atividades agricolas, sobretudo no Estado do Par!. Todavia, guar- do comigo a frustra&io de nao haver podido realizar a outra parte do program, que contemplava a valorizaq~o e explorag o racio- nal de esp6cies oleaginosas nativas da Amaz6nia, aproveitando o know-how adquirido com o dende, convenientemente adaptado. Durante a vigencia do convenio eu vinha mantendo entendimen- tos cor o institute frances, no sentido de que, paralelamente ao plantio do dend&, erm rea contigua, fossem realizados experimen- tos, inicialmente com a palmeira Pataua (Oenocarpus Pataua), que 6 frequente na regiao, em concentrag6es chamadas popularmente "patauazais" e que fomece um 6leo de excepcional qualidade, perfeito sucedaneo do 6leo de oliva. Irfelizmente, quando esses entendimentos estavam em curso e o IRHO se mostrava vivamente interessado, ocorreu a transferencia do projeto, inviabilizando o prosseguimento das pesquisas. O que sentiu quando a Sudam sucedeu k SPVEA? Achou que estava melhorando ou o contrario? Ficou cor saudades do antigo 6rgAo ou ja estava mesmo na hora de ele desaparecer? Como ji tive oportunidade de dizer, em entrevista concedida a essa Agenda, a SPVEA, em sua curta trajet6ria de 13 anos (1953/ 1966), deixou um lastro apreciivel de realizagoes, considerandc as adversidades da 6poca em que atuou. Com jurisdigAo sobre uma area vasta (mais de metade do territ6rio national), pratica- mente desconhecida a 6poca pela ausencia de informaoges t6cnicas; com organizaCgo socioe- con8mica extremamente precAria, vivendo de atividades primirias de extrativismo vegetal, da , pesca e de uma agriculture rudimentar de sub- sistencia; corn uma populaoo escassa, que no alcangava sequer a densidade demogi-fica de 1 ' habitante por km2, nao Ihe foi fdcil dar cumpri- mento a gigantesca tarefa de que estava encarre- gada, a de elaborar e p6r em execuqAo um Pro- grama de Emergencia para o ano seguinte ao de sua criao (1954) e um Piano Quinqiienal para T o period 1955/59. Entretanto, a SPVEA conseguiu !evar a bom termo essas atribuicges, valendo-se, para tanto, da cola- boragAo de t6cnicos nacionais e estrangeiros, especificamente convocados para a finalidade de definir a realidade amaz6nica da 6poca, identificar seus prcblemas basicos e proper possi- veis solug6es para, progressivamente, equaciond-los. Nesse tra- balho, a SPVEA teve, inclusive, substantial ajuda da FAO (Food Agricultural Organization);; entidade ligada A Organizacao da Nac6es Unidas, criada em 1943 com a atribuig~o de tracar uma political mundial de alimentacgo. Em decorrencia de Acordo assinado anteriormente, em 1951, entire o Brasil e a ONU, vdrias Misses T6cnicas da FAO, em estreita conexAo com a SPVEA, percorreram e estudaram a regiao amaz6nica, apresentando re- lat6rios de alta valia, notadamente nos stores de geologia, flo- resta, pesca e agropecuaria. Entretanto, o 1 Piano Quiinq0enal para a Amaz6nia, elabo- rado pela SPVEA, nao chegou a ser posto oficialmente iem exe- cuCgo por nao ter logrado o exame e pronunciamento do Con- gresso Nacional, que o marginalizou, sem aprovi-lo, nem rejeiti- lo, conquanto se constituisse em trabalho serio e valido. Mesmo assim, a SPVEA procurou materializar os programs e projetos previstos naqueles documents, obtendo sucessos parciais com.. mudangas positivas no panorama regional. Nos seus primeiros anos de atuagAo, a SPVEA conseguiu mobilizar a populaoo amaz6nica, alcangando prestigio e alto con- ceito, mas as crescentes interferencias politico-partiidrias nos pla- nos e projetos do 6rgao, ensejando a pulverizagao das verbas, iam dificultando, cada vez mais, a concentraoo de recursos orcamen- tArios nas ages basicas indispensiveis a implantagAo da infra- estrutura econ6mica. Com o decorrer do tempo, a SPVEA foi so- frendo um progressive desgaste, que se agravou consideravelmen- te a partir de 1963, na fltima administraao que precedeu o movi- mento revolucionario, quando jd entao eram evidentes os sinais de enfraquecimento e esvaziamento do 6rgao. A ComissAo de Planejamento, por exemplo, unidade de capi- tal importAncia na vida da instituigAo, por Ihe estarem afetos os trabalhos de planejamento e as decis6es t6cnicas, vinha sendo marginalizada, com suas reunites ordinArias, antes regularmente semanais, passando a rarear, tendo funcionamento aleat6rio. No inicio de 1966, o Presidente da Repiblica, Marechal Hum- bertc de Alencar Castelo Branco, em visit aos estados e territ6- rios amaz6nicos entAo existentes, anunciara que a SPVEA seria inteiramente reformulada e ganharia novas atri- buic6es e contomos mais amplos. Assim, a con- Scretizacgo do ato, expresso pela lei 5.173, nao surpreendeu os funcionarios da SPVEA que, em Sansiosa expectativa, ji aguardavam a mudan- S a. Por isso, a transi~go SPVEA/Sudam nio chegou a ser traumdtica. O ambiente de traba- lho praticamente nao mudara: o mesmo pr6- dio, o mesmo superintendent, a presenga de grande parte dos antigos companheiros de tra- balho e a Sudam que surgia acenando com uma nova filosofia de agio e cor o fortalecimento do 6rgao e da regiao. Algum companheiro de trabalho saiu da Superintendencia nessa transicto? Quais eram as expectativas? O que mudou funcionalmente para a senhora? A Sudam aproveitou grande parte dos funcionarios da SPVEA. Nao houve demiss6es. Os que foram considerados exce- dentes e os que preferiram deixar a instituigSo foram relotados em outros 6rgAos da administrator federal da area. Quanto a mim, nomeada por decreto da Presidencia da Repiblica, assumi as fungaes de membro do Conselho T6cnico, criado na estrutura do novo 6rgAo. Um ano ap6s, em dezembro de 1967, o Conselho T&enico foi extinto e substituido pelo Conselho Deliberativo (Con- del), passando eu a exercer as funcoes de Dire&o Geral do Departamento de Recursos Naturais, rec6m-criado. Como foi o ato em si de instalacgo da Sudam? Quem falou? O que disse? A posse do primeiro superintendent da Sudam, general MArio de Barros Cavalcanti, ocorreu no dia 30 de novembro de 1966. Foi uma cerim6nia simples, mas muito concorrida, com a presenga de virias autoridades e ampla cobertura da imprensa, realizada no audit6rio da SUDAM. O empossado pronunciou um breve discurso, reiterando que a mudanga institutional levaria A consolidaqAo do process de desenvolvimento regional e a me- lhoria defuncionamento do 6rgao. Ao final, foram servidas ta- cas de refrigerantes aos presents. FEVEREIRO/2000 AGENDA AMAZONICA 9 PERGUNTA/RESPOSTA Nesta seg9o, respond a perguntas feitas em palestras e que nao pude tender por falta de tempo. Embora o debate costume ser o melhor moment desse tipo de acontecimento,quando deixado para o final fica inconcluso e insatisfat6rio. Nas respostas, procuro manter o tom coloquial das conversas. Fazer a hist6ria de olhos abertos re:,proximago que s6 a alta ciencia e a melhor cultural podem propiciar. N~o basta que ele entire em contato corn a realidade bruta. 2 precise que esteja habilitado a transformi-la pelo melhor padrio cientifico, tecnol6gico e econ8mico disponivel. E assim que age o colonizador quando se transplant para a col6nia. E da mesma maneira que deve agir o colonizador, se quiser ter capacidade de previsao e antecipaco, sem a qual a hist6ria a ser escrita nao sera a sua. Tal habilitacgo s6 sera possivel, hoje, em diilogo cor o mundo. Desde que tenhamos estruturas para filtrar a incorpo- ragAo dessa contribuig~o externa. Nao filtros policiais ou geo- politicos, que podem ter grandeza formal, mas nem sempre muito mais do que isso. De filtros do saber 6 que precisamos. Trazer o mundo que queremos e do qual precisamos, jd que a Amazonia estA sendo enviada para o mundo, na forma de mi- Ihoes de toneladas de massa bruta ou gramas extraidas de uma plant. Sua "cura" pode seguir o principio da homeopatia, usan- do como antidoto o element que causaria a doenga se nao fosse potencializado. Seria possivel agora, neste moment de cruise, o I Hi uma forma de "abrir os olhos" das massas governor brasileiro investor macicamente na Ama- para que consigamos melhor nos desenvolver, visto z6nia? Que retornos trariam rapidamente ao pais? ue estas sao manlpuladas incessantemente? (Alu- no do CQolgio Vera Cruz) Cinco anos atrAs fui a Barcelona, na Espanha, participar de um seminario sobre a Amaz6nia, promovido pelo Museu da Ci- encia. Fiquei impressionado com dois itens da exposiCAo monta- da pela equipe de Jorge Wazensberger: uma drvore amaz6nica inteira, replantada nas dependencias do museu, e uma maquete animada mostrando o ciclo da Agua na regiao de tries perspecti- vas (do solo, da copa das arvores e do satdlite). Alta tecnologia como espelho refletor critic sobre nossas consciencias, gracas a sensibilidade e a competencia das pessoas que organizaram aquela mostra. Acredito no poder de impact de iniciativas desse tipo. Elas serdo capazes de abrir a percepcgo das pessoas, permitindo-lhes distanciar-se de seu ambiente para ve-lo melhor e amd-lo, sem o que nos faltarA energia para as grades mudancas de que a Amaz6nia 6 tao carente. Investimento nos meios tecnol6gicos e na melhor qualificagAo das pessoas que irto trabalhar nessa ati- vidade 6 fundamental para um projeto educacional, cultural e civilizat6rio capaz de tirar nossa regiao dos trilhos que a tern conduzido a trag6dia. Digo trag6dia pensando no distanciamento entire o proces- so'produtivo e a ciencia, entire o process decis6rio e as expec- tativas sociais, entire a criacao da riqueza e sua partiC.o, entire hist6ria e destino, entire potential e materializagco, entire inten- gAo e realidade. Para que o habitante native se torne capaz de valorizar os recursos da regiao e possa utilizd-los a seu favor, mas em condigOes de enfrentar a competing mundial, ele preci- sari passar por esse duplo movimento de distanciamento e 10 FEVEREIRO/2000 AGENDA AMAZONICA A capacidade de investimento do governor nos pr6ximos ancs deveri ser a mesma dos iltimos: bem baixa. Pelo menos o" investimento fora da quitacgo da divida piblica, extera e inter- na, e dos interesses mais diretamente ligados a atividades consi- deradas prioritirias para o setor financeiro e o com6rcio exterior. Na Amaz6nia, o que mais interessa sAo justamente mat6rias pri- mas e insumos bdsicos que proporcionam efeito econ8mico multiplicador no ponto de origem do capital ou na praga do comprador do produto. E infraestrutura de suporte, como ener- gia e transport, principalmente, para fazer a mercadoria do hin- teland chegar mais rapido e mais barato aio porto litorineo, um salto para entrar no circuit da globalizagAo. Investir maciaamente, portanto, 6 impossivel. Mas nem 6 mesmo necessario. O que 6 precise 6 investor com inteligencia e determinag~o, investindo bem e sempre, at6 que o projeto sus- tentado por tais recursos se complete. Somos a regiAo do precd- rio e do inacabado, como, de resto, o pr6prio Brasil. O grande problema 6 que tanto o govemo como os empresirios nacionais querem tirar da Amaz6nia o retomo mais ripido possivel. t uma posigAo imediatista. STalvez por isso, o "desenvolvimento sustentivel" nao vi muito al6m de um jargso para uns e uma demonologia para ou- tros: A sustentabilidade nao surge de siibito, do di; para a noite. Nem 6 um:a formula de aplicag o generalizada. Temr que combi- nar o aproveitamento do saber acumulado, mesmo quando insu- ficiente ou precario, corn a mais avangada abordagem tecnol6gi- ca ou cientifica. Tal cronologia requer capital e tempo. Mas o avanco econ6mico quer poupar um e tangenciar o outro. Teoricamente ja hi umri agenda amaz6nica definida. Do ponto de vista official, 6 a Amaz6nia 21 e o Avanga Erasil. Mas nenhum dos dois documents 6, a rigor, um instrument de de- senvolvimento. O primeiro 6 umra declaraqgo de intenl6es. O segundo 6 um conjunto de projetos, antecedido de sofisticadas elaborag6es metodol6gicas e seguido de uma proposta de ges- tAo inovadora. Mas nAo ha um capitulo amazonico nesse pros- pecto national. A Amazonia continue (ou voltou) a ser definida cop 'Yresiduo, como aquela pega do quebra-cabe desprezar o que ji existe. Mas nao podemos aceit--lo como o limited. Temos que partir para uma agenda endogenamente ama- z6nica, definindo a nossa parte e convocando o mundo exterior para apresentar a sua e produzirmos a insergdo decent da Ama- z6nia no mundo. Nao mais esse cendrio da pilhagem. Vicente-Salles: enviou;i.de Brasilia, a primeira manifestag o de um grande historiador sobre a nova documentagao sobre a Cabanagem, oriunda da Inglaterra. A mat6ria que v. publicou na Agenda AmazOnica so- bre a documentacao inglesa a respeito da Cabanagem, acaba de ter desdobramento na ma- t6ria do Elias no Didrio do Pard que afirma ter sido eu indagado a respeito e respon- dido "ainda n;o teve tempo de consultA-la". Tempo ou oportunidade? Na verdade, quero dizer que ainda nao botei a mro na massa, por- tanto nao posso me manifestar. Tudo o que sei at6 agora do as- sunto foi o que disse a v. "Ain- da nao tomei conhecimento di- reto". S6 sei o que vazou. O que me ter chegado 6 insuficiente para former opiniao. Agora, am- pliado cor o que li nas pAginas do Elias Ribeiro Pinto. Me report a antigo trabalho que v. publicou cor o titulo "Os estrangeiros nio quiseram to- mar a Amaz6nia no s6culo XIX". OLiberall5/11/1979, por- tanto li se vao 20 anos. EntAo afirmei a v. que, se quisessem, nacqes estangeiras teriam ocupado a Amaz6nia durante a Cabanagem, "indepen- dentemente de quaisquer escri- pulos." Mantenho a opinion: "E possivel que a image de re- giao pobre e inisernvel, t6rrida e in6spita, que 6 a image rra- dicional da Amaz6nia, nbo te- nha despertado o interesse de potencias estrangeiras".... A documentaq o atual traz A baila os ingleses (6 precise nao esquecer os norte-americanos). Creio que sern oportuno, ao examind-la, levar em conta o carAter e sentido do capitalis- mo ingles em expansio nesse exato moment. Entio 6 neces- srio recorrer B vasta bibliogra- fia sobre o mais bem sucedido projeto imperialist do s6culo XIX, executado precisamente pelos ingleses, que foi a con- quista e ocupago da india, esta sim a j6ia da coroa de Gui- lherme IV, lapidada pela Rainha Vit6ria. A india era rica e po- pulosa. Como a Indo-China, a Polindsia. 0 Oriente inspirador de vasta literature que narra o aviltamento de cultures milenA- rias produzia tudo o que a In- glaterra necessitava, em mindri- os e em frutos da terra. O Ca- nada e e a Australia tomaram- se reserves estrat6gicas. A Afri- ca do ouro e do diamante. A Africa... era precise acabar corn o trifico negreiro para nio des- povo-la. Reter "in loco" a mio- de-obra que escasseava. 0 GrAo-Para, .6aquela altune, representava mni extensAo da mis6ria da Irlanda, que Ihe fica- va a ilharga, cuja classes campo- nesa era a mais miserivel entire as mais miseriveis da Europa. A Inglaterra ali se debatia coin a questao agrnria. Basta assinalar que numa decada de miseria, o ano de 1846, cerca de 500.000 irlatrdeses morreram de fome. Os prop.:ietrios ingleses, implacd- veis, 3xpulsavam e tomavam as terra, dos camponeses irlande- ses, ,itvendo chegado em cer- tos attos at6 50 mil expropria- dos. (A. Mallet-J.Isaac, Curso de historia universal, tpoca con- temporanea, 4 vol., p. 137). Nao sou perito em hist6ria universal. Louvo-me portanto de escassa bibliografia. Mas 6 sa- bido que, a partir de 1815, o im- peric ingles se desenvolveu medinte dois processes: por con qista, muitas vezes extre- mamente violentas, e por expan- sflopacifica, ocupando sence- rimoniosamente espagos vazios. Podi,-se considerar a Amaz6- nia win destes? Mas que atrati- vos m teriais oferecia? Pouco se sabia da grande utilidade da borracha. O algodao de melhor qualidade era produzido no MaranhAo (onde os ingleses estavam estabelecidos com grandes neg6cios). A Compa- nhia das Indias, aquela que conquistou a(s) India(s), nio foi a mesma que no s6culo XVIII venceu a Conmpanhia Francesa durante a guerra dos 7 Anos? O; docmemntos atuais reve- lainm. -ij6 como vilio da hist6- ria. Os ingleses como est6icos capitalistas. Dqtados de muito bor senso. Nao 6 bem assim. N:o estamos tocando num \es- peiro? Os conciliAbulos teriam sido apenas politicos, ou uma estrategia que envolveria tam- bem interesses ocultos da ma- conaria? Feij6 represent a ver- tente mac6nica paulista que derrotou a vertente carioca, na luta pelo poder, tornando-se tutor do infante Pedro e em conseqiencia tutor do Imperio. Feij6 foi um dos instituido- res da loja Amizade, em SAo Paulo, em 1827, dentro da qual se expandiu forte sentiment national. Ele se empenhou na tarefa de unificago do pais, restaurou o prestigio das soci- edades secrets e o poder mi- litar, ambos desorganizados por Pedro I, monarca incom- petente, forcado a abdicar. Nio se pode perder de vista o papel dos ingleses na cria- gco do estado national brasi- leiro, cor sua esquadra de alu- guel e seus almirantes tiranos, a exemplo do tristemente c6le- bre Grenfell, a servigo da ar- mada imperial, assim como o Guilherme Inglis, assassinate pelos cabanos em 1835. TAo obscure 6 o epis6dio da fragata "Clio" (cuja documen- tag~o a ser revelada pode tra- zer alguns esclarecimentos), como o trogo de mercenarios alemAes. Portanto, 6 verdade que a hist6ria ainda nao est, definitivamente escrita e que ha muita coisa a localizar. Quanto mais cedo melhor. ....................Vicente Salles FEVEREIRO/2000 -- AGENDA AMAZONICA 11 -.a- '- "< .- ,' ': .. -"- '. .. .,- .. . -; ,- :=U, ,- .':1 -:- : % : ..,.,.;.::. -:...:", '-..':> :'= .:.-/,.. .:.v, ' MEMORIAL Conversa urbana o impact do aumento do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), dizendo que os novos valores resultam de um novo cadastro, o "multifinalitArio", montado com base em precisas imagens areas. Atrav6s desse novo instrument, o govemo municipal poderi investor mais, fazendo com que parte do imposto se transform logo em investimento para consolidar a "cidade das luzes" da gestAo petista. Um ping e ur pong? O anincio 6 reproduzido nesta pdgina num moment propfcio. Nele, em fevereiro de 1971, a Codem (a rec6m-instalada Companhia de Desenvolvimento e AdministragAo da Area Metropolitan de Bel6m) anunciava a execucAo da primeira parte do Piano Metropolitan de Desenvolvimento Integrado, atrav6s do Cadastro T6cnico da capital paraense. "Corn esse autentico censo imobilidrio, vamos ficar conhecendo melhor nossa cidade. E vamos poder arrumr-la. Urbanizar suas dreas. Planejar com bases t6cnicas o tragado de suas ruas. Torni-la nao apenas Grande. Mas bela tamb6m", prometia a publicidade. A Codem, criada sob inspirag~o t6cnica, jd estava trabalhando para cumprir sua finalidade: fazer Bel6m crescer "dentro de um piano de desenvolvimento integrado. Crescer toda. Ficar grande, ou melhor, Grande". Faria outros pianos depois, nem todos retirados das estantes, raros aplicados enquanto pianos, algo mais do que projetos utilitarios pingados e aplicados isoladamente. Tres d6cadas depois, a prefeitura procura amortecer va se acostumando a chamar esta cidade de Grande Belem Po ai wda lewer I ca 'Pin maia pere aWr pem vock mihr-BeIm A paum pu do Plann ManpoTamo de T -' nlnmudou mqira Alih, mudn uam q~ nrad. *emovimentn nrgrndn ji rvi am ezecun. t Mla*. pan ntot d Cndrm, Blerm madana aia a Cadqrm T&nicn de Rkilm. Cm tw e urin- Pnncipaldmne em r manialidad& tjo We imnvhihlrin, vamns ficar conheccndo Bedm lo dcre nort r poues en ms ulsga- "nthe na o ciladd. E vsmwos podreuma-a. m o saps. ULtanii aM iws. Phnrrr no m ~ls Iad A Blnkm de hnir drv acirer denme de ra ph- c s a umcdo &de ai. falA InQ -th o Eapuina no dc dlse'nlvnimentn imrerada Crccr adi. Cramds M) beta atmbOm. Ficar grnnide ou mrclhr, Grande. I irso ~a rtod. ONa pmntctma notx enim- S.t i (,rande Becbl quc surga. fPm i kai d.W-Amtitde no ao dncrnolisaowo mmuo- cmda Cadrm. poawe- iji sUo em andimenU pM inr mi CodesO nhalL. I se acostmn nda aaamsmn was eassremian a lhIlrWITA 3!I, [3IA Mt lUM It IILLV Dumiiiit BA A MUmP A u CODE! Agenda Arnazanica Travessa Benjamin Constant 845/203- Belm/PA- 66.053-040 e-mail: jnmal*amainn.m.hr Telefones: 2237690/2417626(fax) Produio grifica: luizantoniodefariapinto |