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A ressaca Journal Pessoal Va L 0 C I 0 F L A V I O P I N T O (peg. 3) Quem control A D2a imprensa? POLITICAL LPAS. 6) Ojogo dos caciques K Almir Gabriel faz o elogio dejarbas Passarinho. Helio Gueiroir'2pra . armadilhaspara Almir Gabriel. 0 eleitor de 1994 vai ser surpreeidhi pelos esquemas de dispute que estco sendo montadospara 1998. Tudo se embaralha para que tudo continue sempre igual. E opovo esquece. Q ue tal Almir Gabriel e Jarbas Passarinho de um lado e Helio Guei- ros do outro lado na dis- puta eleitoral do pr6xi- mo ano? Ou Helio e Jader reunidos contra Almir? Seria a complete in- versdo do que aconteceu em 1994, mas hoje essas hip6teses deixaram de ser um mero delirio. Assim ter sido ha muito tempo na political paraen- se: hi poucos tragos de continuidade entire uma e outra eleigao. E como se, a cada nova eleigao, ocorresse como num jogo de baralho, em que as cartas sdo reembaralhadas aleato- riamente e, de prefer6ncia, o mais desconexamente possivel. 31: a? K d J1> A5^^~^T^^T Esse eterno recomegar da politi- ca paraense parece resultar de dois components basicos: enquanto a massa do povo (diluida por alta taxa migrat6ria, com grande disper- sdo territorial) nao tem conscien- cia do process hist6rico do qual faz parte, as elites nao tem qualquer projeto para o Estado ou, se o conceberam em algum moment, ele acabou se reduzindo a tomar e manter o poder. A desmem6ria de uma parte ajuda a manipulagao de outra. i por isso que, na semana passa- da, dois movimentos do jogo de po- der passaram quase a margem do conhecimento public, mas poden- do ter causado mais uma perplexi- dade aos que os registraram. No comego da semana o senador Jader Barbalho ocupou integralmen- te os 20 minutes reservados pelo TRE ao PMDB na televised para fazer uma espdcie de previa do lan- gamento de sua possivel candidatu- ra ao governor do Estado no pr6xi- mo ano. Nem o pr6prio senador deve saber ao certo o que disputara em 1998 ou mesmo se participara dessa dispute (tem assegurados mais quatro anos de mandate a partir de entao). Mas achou necessario fazer uma reserve de lugar. No final da semana o governador Almir Gabriel compareceu ao M A ESPANCA NO CAMU (g A I 2 JOURNAL PESSOAL2" QUINZENA DE MAIO / 1997 S encontro regional do PPB e fez o elogio do adversario que tanto fus- tigou na eleigdo de 1994, o ex-go- vernador Jarbas Passarinho, a quem conseguiu derrotar no segundo tur- no. Passarinho foi atacado em duas frentes: pela via informal, foi real- cado seu passado de associagdo ao regime military; pela via direta, os marqueteiros de Almir chegaram a questioner sua reconhecida hones- tidade pessoal relacionando-o ao tristemente famoso muro (o "muri- nho") da penitenciaria de Santa Iza- bel, o mais caro da hist6ria do pais. Talvez Passarinho nao chegue a assumir publicamente a alianga com seu adversario (tratado em familiar como detrator), mas seu silencio avaliza o aprofundamento da rela- 9do entire o PPB e o governador. No pronunciamento do final de sema- na, Almir Gabriel destacou o "apoio desinteressado" do PPB a sua admi- nistragdo e garantiu que vai procu- rar mant6-lo at6 a eleigdo. O PPB tem 20% das cadeiras da Assem- bl6ia Legislativa e (o que 6 ainda mais interessante) uma estrutura partidaria no interior, em condi95es de ser usada pelo metafisico PSDB se ele nao puder mais contar cor a fungco de abre-alas interiorano de- sempenhada pelo PFL em 1994, e tamb6m para se contrapor ao PMDB, ainda o principal partido estadual. O senador Jader Barbalho usou linguagem de palanque no precioso horario de televised para ressusci- tar o governoro do "trabalho", o slo- gan mais forte da campanha de 1990, em oposigdo ao tambem res- suscitado governoro da preguiga", a marca que teria passado de Hl6io Gueiros para Almir Gabriel. Mais uma vez o ex-governador aposta na desmem6ria do povo para criar um sentiment de nostalgia diante de uma realidade de desesperanga em relagdo ao governor atual, farto na re- t6rica e escasso nas realizag6es. Ate entdo Jader vinha sendo mais ambiguo. A hip6tese de um acordo cor Almir Gabriel parecia mais vi- avel do que a alternative do rompi- mento em fungdo de duas variaveis: a obtengqo de um ministerio no go- verno Fernando Henrique Cardoso e a aprovagao da emenda da reelei- 9do em todos os niveis. O ministerio de Jader (pendente de criagao), do Desenvolvimento Regional, inviabilizou-se. A reelei- 9ao dos governadores em condic6es id6nticas as do president devera definir-se nos pr6ximos dias. De- pendendo do empenho de FHC, po- dera ser confirmada. Se a pressao dos senadores conseguir escapar as amarras presidenciais, sera exclui- da do texto em tramitagao. O problema do PMDB, o de sem- pre, 6 que ele s6 tem Jader Barba- Iho para as disputes majoritarias. Nao haveria nenhum motivador para o ex-governador se antecipar em 1998 a uma necessidade que s6 pre- cisaria ser posta em 2002 senao a da preservagao de seu poder. Ele sabe que, sendo ou nao can- didato, sera um tema de campanha e seu reduto sofrerd as consequen- cias de mais quatro anos de deterio- raydo. Podera voltar no pr6ximo se- culo cor imagem realmente reno- vada? Este ganho compensara todas as perdas decorrentes de seu deslo- camento para o piano federal? Es- capara ao que aconteceu corn Lau- ro Sodr6 e Jarbas Passarinho? Na duvida, o senador optou por antecipar o movimento de sua pega no tabuleiro completando-a corn uma reunido com a bancada estadu- al, na qual anunciou que sera can- didato ao governor e que podera rom- per corn o governador. Quem qui- ser que interpreted sua aparigdo na te- levisdo como o pr6-langamento de sua candidatura ao governor. O que ele quer 6 que considered essa hi- p6tese, reavivando os trunfos que poderia usar (nenhuma novidade, mas eles ja deram resultados no pas- sado). Jader estara disposto a en- frentar Almir Gabriel se ele puder concorrer a reeleigdo sem precisar deixar o cargo de governador? Por enquanto, ao que parece, ne- nhum dos adversarios em potential do governador parece considerar ne- cessirio tratar dessa questao. I mais 16gico esperar que o Senado a re- solva para s6 entao reagir a ela como um fato consumado, inclusive por ser uma complete novidade no pro- cesso eleitoral brasileiro. Mas pare- ce que apenas dois grupos mante- rdo suas pretensbes em qualquer si- tuagao: o PT e o senador Ademir Andrade. Ambos, riao por mera co- incidencia, ja foram selecionados pessoalmente pelo governador Al- mir Gabriel como seus adversaries preferenciais. Para o PT paraense a participaco na eleicgo com candidatura pr6pria ainda parece ter a forca de dogma, eliminado do horizonte de algumas sec6es estaduais do partido. Para 1998 o PT ter a vice-prefeita de Belem, Ana Julia Carepa, e os se- cretarios municipals Valdir Ganzer e Luis Araujo, conforme as opq6es de suas varias correntes internal. Todas elas irdo defender dos resul- tados que a administraqco Edmilson Rodrigues obtiver at6 a eleicgo. Se tivesse que escolher pessoalmente, o prefeito segundo algumas fon- tes penderia para o lado do seu se- cretario de educagco. Mas uma an- dorinha, por maior que seja a sua au- tonomia de v6o, nao -faz verdo no t6rrido cenario petista. Em relagao ao senador Ademir Andrade, a inc6gnita esta em saber se ele dispora de f6lego ($$$) para montar uma maquina pr6pria de pro- duqgo de votos, a semelhanga do que fez Jader Barbalho em 1990 (cor a diferenga, fundamental, de que Ja- der ja havia sido governador). Sem essa estrutura, a eleicgo de 1998 acabara sendo uma tribune para o senador do PSB propagandear sua candidatura para quatro anos depois, mas ja quase descartando o grande sonho de ser governador do Para. Neste espectro de hip6teses como se insere o ex-governador Helio Gueiros? Oriundo de matriz seme- lhante a de Jader, Gueiros tem se preocupado em dar sinais de vida. O principal incide sobre o PFL: o ex- alcaide nao aceita o atual sistema de troca, por favorecer apenas o ex- governador Alacid Nunes. Um even- tual apoio a Almir teria que resultar em compensac6es muito maiores do que as recebidas por Alacid, ou des- cambar para um rompimento. E essa a 16gica do movimento li- derado pelos deputados federais Vic Pires Franco e Raimundo Santos, que querem deslocar Alacid do co- mando do PFL e indicar ao deputa- do Luiz Otavio Campos, president da Assembleia Legislativa, a porta da rua se ele mantiver como de- vera fazer a lealdade a Almir Ga- briel. O PFL sofre do mesmo problema vivido pelo PMDB: que outro can- didato, alem de Helio Gueiros, po- deria se apresentar para a eleicgo majoritaria? Qual a composicao melhor para os interesses desse gru- po em uma eventualidade de nao poder apresentar concorrente a al- tura da busca da reeleigdo por Al- mir Gabriel? Se as coisas nao sairem bem, o PFL ja ter a partitura para ler: e uma mfisica que se apresenta como opo- sicionista, recortando contra um fundo de imbilidade no present um passado de realizacoes (fantasia que uma ma administrago do PT torna- ra mais audivel para o eleitor caren- te de fosfato mental). O governador sabe que sua segu- ranca funda-se na extensao, para a eleicgo de governador, das mesmas regras eleitorais para a presid6ncia da Republica. Como, porem, ficara a ponderacao de forcas se a reelei- cgo passar, mas o obrigar a se de- sincompatibilizar do cargo? Mas se isso ocorrer, Helio Gueiros nao con- tara com seu grande trunfo (o filho como vice-governador) porque tam- bem Helio Gueiros Jr. teria que se desincompatibilizar para o pai sair candidate. Surgiria ent.o a possibi- lidade, aparentemente impensavel, de uma alian9a tatica cor o arqui- inimigo Jader Barbalho, no dobra- dinha que multiplicaria os rendi- mentos de seus carismas, asolando seus efeitos negatives? Caso se abram perspectives para tres, quatro ou cinco candidaturas ao governor, haveria mais equilibrio na dispute e o que nao passaria de aven- tura poderia se transformar em ris- co calculado. Esse pode ser o cal- culo de risco que politicos como Jader Barbalho e Helio Gueiros es- tdo fazendo. O tabuleiro, portanto, ainda tern poucos movimentos consumados. Mas os primeiros que ja aparecem mostram que, como das outras ve- zes, os inimigos de ontem tornam- se os amigos de hoje e vice-versa, conforme os riscos se apresentam para os que simplesmente querem continuar a deter o poder, mesmo que o tenham, assumido com a pro- messa de usa-lo para mudar um Es- tado aniquilado por esse inico modo de fazer a political. * Ssensa;ao pos-pritattzaqio da Companhia Vale do Rio Doce "L3_U; a de illll ressaca N.t:-s m1o- mcnitos nfao a razdo a midlhor fonic de inforima 5io. ma? a inipressio, o instinct, a miuttiio V'ndo. no dia se- guintc. o empresario Benjamin Stein- brich ser incensado pela grande im- prensa e posar de p!ai'"!ot comlerti- do \elo a mininha inioia'lirl a linaL~'le d& Bab\ Ptgnaiar, Nas ddcadas de 5ti a 7u Piignatar. foi construindo a unarein de un enm- preendedor que saira do ra'rniiPm dourado para aam lidade responsatel. criatia. inovadora Acabou entrcgan- do ad:i gcncral Geisel a Caraiba Nlc- tais. inm ntucI que nos i ustou. por b;u- x\o I eqiuiallcntc a 5t iN mllells dj dolarcs. consol;dando a nossa depen- d.nicia das mlportai;cs de cobre A dit:renga. talker. scja dc que en- quanto por tras dc Pigintarn' so ha\ ta o proprio PIgntar.r. agoIra temos a sensaqio de que urna loni.a sombra escura sc projcla por tras do perfil dc Stcinbruch O liado ima is its\cl des- sa somnbra e quc elc substitui unma muilinacional brasileira coinandada pelo Esrado (crnaiio dc uina faccta modernzadora do nosso inevita el patrimonialismno estatal) por urma cmprcsa faniihar. se acreditamos na hist6ria official Sc desccndnimos de So Tomi, al- goz da fe reilaosa e ascnidcnte do cxpcrunenialhs mo scientific. a corpo- raio familiar que nos assust:a en- quanto regrcssiio na orgamizai'ao em-- presarial. apenas umna moldura den- tro da qual a tela ainda nao fol colo- cada Mas qual ser'a a tela' Steinbnu- ch. quando muito. no ambientc car- naxalesco em que o leldao de privnti- zaioo da Vale acabou se transtbfman- do. serai apenas o abre-alas da coulis- sdo-de-frentc A dor que fica latejando na cabeqa nesse dajy-ai,- e de que fizemos al- gunma coisa de nmito errado no cni- balo do porre ci\.co semrdo a naoaio por nosso augusto president. Apesar do esforgo de reconstituriS o do que aconteceu ao unpulso dos 'vapores eti- licos neoliberais, prova\clmenitc so teremos uma complete noqio do que praticamos quando. jA a razdo aluan- do sobre mformaq6es completes, a remissao ter-se-a tornado impossivel. Nao propriamente por ser iacei- tavel a pnratizacao. mas pelo ipo de pri\atiza;o que o gocmrno praticou Sc a esmagadora rmaoria dos critics da \cnda da CVRD tce uni compor- tanmento ditado por orienttadIo Idco- logica. tambimbn fini macI;amente ide- oli6gic o argnumento dos que concL- beram e consumnaram o ato A \ale c especial o bastante para rio se aco- modar no niodelo de praii atzaqiio. se.la ele qualqucr dos modclos, Id.i- lizados c c'xcutados em todo o mnim- do ate auora Ncnhuin go\erno pri\atzou unia rmultliacional. inulto imentos unla em- presa estrategica. que no scu atl\o lem comalo comiponlence mais precco- so o patrimonto logisuco Dc forma negal\a. o Brasil iio\ou por com- pleto e pensa qiue cuimprm um r.cct- tuarlo rotinetro Deivou de entrecar dirertamente ato scnl povo una multli- nacional que Ihe pertencia indireta- inente (e pela problemainca \ia da soci:dade political permitindo que cada eidadJlo arrenmatasse pedaois de parttcip.io acioniana dc unmi a gian- te (que. uceses parinietros icaria eni tLnm:ilho l usto Por isso. o discurso pragmatic e tc- nico dos pnratrzadores toniou-se t(io ideologico quanto o do PC do B. o que nuis ~. destacou rn a trincheiras (quan- do o compare principal foi ou deverna ter sidr: dc ;stado-nmior. preparatoino para o confront aberto). Ou seja falou ao pats a duimns'io hist6rica do proprno ato Se nao fti supinainente maquia\'clico. nosso presidcnte pecou no que deTeria ser scu maior bern professional a com- preens5o do context. \Vat arder nas chamas da sociologia para sempre. amda que brilhe nos retraros oficiais Sc a priaulzaq~o era o que de me- Ihor o Brasil poderia fazer coim a Vale o dia da ressaca nos insmua que nio reazannos a methor pnmaizaq5o. que cedemos espaqo estrategico a uma combinaqo de esperteza & es- peculaqIo e que perdemos um dos melhores moments que a histona nos concede para demonstrarmos nossa competing cia como ci\ilizaqao O Brasil que bateu, exultante. o mar- teo da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, transferindo o control da Vale a um Pignatary globalizado e. de si mesmo. o que tern prevalecido nas horas decisivas: uma cancatura 0 leilao da Vale: a hora da ressaca 4 JOURNAL PESSOAL2A QUINZENA DE MAIO / 1997 Universidade: triste campo Minha primeira idea de unriver- sidade quem a deu foi Miguel de Unamuno. N~o cor sua fina filosofia, porem: foi ao colocar-se di- ante das tropas do general Franco, que invadiam a Universidade de Salaman- ca, uma das mais antigas e legendarias do planet. O comandante da turba, cujo nome a poeira do tempo se encar- regou de varrer dos registros hist6ri- cos, gritava: viva a morte. Unamuno re- plicava: viva a inteligencia. Seu corpo franzio foi apenas um detalhe na invasao, que se consumou. Mas seu gesto ficara para sempre na mem6ria dos que encaram a universi- dade, ate hoje, como o centro por ex- celencia do saber contra a ignorincia, da razao contra a barbaric, da civiliza- cao contra a selvageria. Minha mais recent image da uni- versidade quem a proporcionou foi o reitor da Universidade Federal do Para, Marcos Ximenes. Colocando o en6rgi- co (mas doce) Unamuno de cabega para baixo, o musculoso reitor paraense cha- mou a policia para o campus do Gua- ma e saiu de la escoltado por agents ninjas da Policia Federal, sob a cober- tura de atiradores de elite e a prote9io de soldados da tropa de-choque da PM. Nem quando percorri o campus da Uni- versidade da Col6mbia, numa Bogota sob sitio, deparei com cena tao pateti- ca, tao melanc6lica e tao infitil. Situa95es invertidas: o que deve- ria ser o reduto da intelig8ncia trans- formou-se num p6lo de barbarie. In- capazes de dialogar e definir a vit6- ria pela hegemonia das id6ias, os con- tendores acabaram sancionando - voluntaria ou involuntariamente o uso do poder categ6rico das armas. E o pior s6 nao ocorreu porque o cen- turiao (no caso, o coronel Magela), sob um relampejar de bom senso, conseguiu arrancar a formalizagao de uma tregua ate a pr6xima batalha de batalha campal, ja que nem esse elementary principio belico era respeitado. Que triste espetaculo nos tnm pro- porcionado esses guerreiros neol6gicos de uma Itarar6 academica. Nem nos rin- gues parlamentares ocorreu uma tal de- monstragao de selvageria e obscuran- tismo. E como se a Universidade do Para tivesse renunciado ao discerni- mento e se houvesse transformado na- quela academia de simios descrita por Franz Kafka numa amarga e, como sempre, just novela sobre o irracio- nalismo (mais at6: o absurdo). A hegemonia que o legado do pen- samento transmite como patrim6nio as universidades humanizadas no mundo inteiro 6 de que a hegemonia deve fun- dar-se sobre o convencimento, no em- bate de ideias e programs. Mas os gla- diadores do Guama s6 conseguem con- ceber a hegemonia como o produto de um golpe de mao, de um coup d'dtat malapartiano. Nao vislumbram reforms e revolu- 56es como realizac6es de base, induzi- veis por pregag6es que podem come- car em desertos de homes, mas tnm a possibilidade de alcangar a planicie social. Nao: s6 depois de conquistar um aparelho de Estado e que poderao rea- lizar seus projetos. Por isso, a eleigao de um reitor passou a ser uma fonte de ferocidade canina. As elites da UFPA criaram um mons- tro e perderam a capacidade de domes- tica-lo. Essa entidade monstruosa teve uma origem remota ate decent, plan- tada no combat ao centralismo auto- ritario de uma institui9ao de ensino que comegou no Brasil com atraso de um seculo em relagao ao restante do conti- nente e ate hoje nao se livrou do rango autoritario, radicalizado sob os gover- nos militares. O igualitarismo ja era um anacronis- mo quando esgrimido, no inicio da de- cada de 70, mas desempenhava a no- bre fungao de escudo, servindo de pon- te para a recuperacao da autonomia universitaria. No caso da UFPA, a par- tir dos anos 80, o igualitarismo inte- gral tornou-se uma moeda de troca, usada conforme as conveniencias do mercado. Permitiu a execugao de um projeto de dominio da universidade a partir de uma elite compact, sedimen- tada (literalmente) em torno do Nucleo de Geofisica e Geoci8ncias, e de um fisiologismo de esquerda cor ligag6es extra-muros. Diga-se, em favor dessa elite de ge6- logos e engenheiros, que ela demons- trou competencia. Nao por obra do aca- so, Jose Seixas Louren9o, que esta na origem desse projeto (concebido ainda na Alemanha, por onde passou essa ge- rag~o na consolidacgo de suas carreiras, sob a inspiragao de um prussianismo esclarecido inovador, antitdeico nos seus termss, 6 hoje um dos maiores nomes do establishment cientifico, muito mais ativo nos bastidores da ciencia do que na sua produgao intellectual. ourengo foi sagrado reitor por Brasilia mesmo sendo o segundo da lista e nao houve problema nas bases. Nilson Pinto conquistou o 10 lugar e Brasilia nao atrapalhou. Mar- cos Ximenes, na primeira eleigao uni- versal, repetiu o sucesso sem maiores complicagoes porque elementos-chave da oposicao continuaram a ser obsequi- ados cor funq9es (e salaries) na ad- ministragao. Mas Ximenes enfrentou um period recessivo e nao teve criatividade (ou competencia) para ajustar a universida- de a fase das vacas magras, sofrendo um desajuste agravado por seu cacoete autoritario. Acrescentam os mais pr6- ximos que a auto-suficiencia do reitor ou a inexperi8ncia do seu candidate (ou as duas coisas juntas) fizeram-nos dis- pensar ou ignorar os ajustes pr6-elei- torais realizados nas tres bem-sucedi- das eleig6es anteriores, o que teria con- tribuido para acirrar ainda mais os ini- mos contestat6rios. As manobras golpistas da oposicgo, desenvolvidas em tomo da deliberada ambigiidade da consult a comunida- de, foram possibilitadas pela expecta- tiva golpista do reitor. Qualquer que JOURNAL PESSOAL -2- QUINZENA DE MAIO / 1997 5 fosse o resultado, Ximenes estava se- guro de confirmar o seu candidate (ain- da que ele pudesse nao ser o vencedor nas trEs formas de consult feitas) gra- gas ao poderoso lobby de seu grupo em Brasilia. Todos iriam usar a tal consulta-elei- qao como o cadaver que serve de es- tandarte aos movimentos de massa, cada um dos grupos com prop6sitos opostos. Enfrentaram-se, assim, uma concep- cao exclusivista de poder e uma prati- ca oposicionista de tipo leninista (ou jesuitica, para lembrarmos o famoso confront entire Settembrini e Leo Na- phta em A Montanha MAgica, de Tho- mas Mann). A democracia e a condicao univer- sitaria teriam que sair cor escoriaq6es generalizadas desse confront, que transformou o process de escolha do principal administrator da universida- de em epicentro de um abalo fatal da instituicao, como se esse moment, mesmo send um dos principals, fosse tudo ou fosse o principal. Vivemos uma fase primaria de popu- lismo, na qual o argument sofisticado, o pleno desenvolvimento do raciocinio, a consistencia das ideias e o saber cons- truido com m6todo sao deixados de lado (e mesmo vetados) porque a plateia nao quer nada disso, ou, se algum dia vier a deseja-lo, este nao e o moment. Vive- se um nivelamento por baixo, como se o crit6rio da verdade nos campi nao fos- se o saber e s6 o saber. Apolitica dentro da universida- de nao pode ser praticada da mesma maneira como e sancio- nada fora dos seus muros, o que a im- pediria de desempenhar seu papel es- pecifico na vida social. E saudavel que para ser politico bastem condi9oes iguais a todos, mas os que frequentam a universidade passaram por uma sele- cdo previa, de acordo com crit6rios dis- tintos. Os mais rigorosos foram apli- cados em relagao a professors e pes- quisadores, nao sem motivagdo. E que a razao de ser da universidade 6 o ensi- no e a pesquisa. Esta 6 sua atividade- fim. O resto, apesar das distorgies cris- talizadas, e atividade-meio. O corpo docente ter o peso de 70% pode ser exagerado, mas a ponderadao esti em algum lugar al6m da metade, em algum ponto acima da media que assegure o prevalecimento do que e fim sobre o que 6 meio na instituicgo uni- versitaria. Os estudantes podem afastar profes- sores das salas de aula demonstrando que eles nao sao capazes e participar de inuimeros movimentos para interfe- rir na vida acad8mica. Mas a delega- pco de poderes e a representatividade sao elements indescartaveis de uma comunidade baseada na excelencia, a ser dirigida pelos melhores dentre os que nela transmitem o saber da huma- nidade. Nao pode o debate na universidade ser definido em decibeis, na ousadia de liderangas, na agressividade das vanguardas, no sedutor argument fa- cil ou resultar de efeitos desencadea- dos a partir de uma teia de arranjos e compromissos estabelecidos extra- muros, segundo objetivos ultra(ou sub)-saber. Uma ma administragao possibilitou que a UFPA fosse conduzida ao dificil impasse em que se encontra. Uma pes- sima elite oposicionista se alimenta desse caos como um organism anae- r6bio, que nao precisa da oxigenacao da inteligencia para viver. Pelo contra- rio, viceja no irracionalismo, fazendo dele a catapulta para projetar seus pla- nos golpistas e colocar mediocres em posic6es que, pelos criterios de sele- cao academica, eles jamais poderiam ocupar. Nas lamentaveis cenas que a univer- sidade proporcionou a opinion publi- ca, o mais triste 6 verificar que um Unamuno redivivo e nacionalizado, ao inves de enfrentar a legiao armada fas- cista, teria que proclamar o prevaleci- mento da intelig8ncia diante de sua pr6- pria comunidade universitaria, ende- moniada pelo fascinio do poder a qual- quer custo e para qualquer fim um triste fim para uma institui9go a qual o saber de um povo foi confiado. * A palavra do secretario SsecretArio de Seguranca Publica, Paulo Sette Cimara, volta a sustentar que a culpa pelo erro cometido pela policia no epis6dio sangrento de Eldorado de CarajAs "recai sobre os ombros do comandante da operacao", o coronel MArio Pantoja, jA punido administrativamente (e atd hoje em obsequioso silencio). E o que diz o secretArio em carta que me enviou, reproduzida a seguir na integra: "Em homenagem a voc6 (permita-me tratd- lo assim), a sua forma de fazer jornalismo e a importincia de sua opiniao pessoal, gostaria de tecer rapidas considerac6es em torno do artigo 'A lei de Eldorado', inserida na ediIao da 1a quinzena de Maio do Jornal Pessoal. Voce estA convict de que o Comandante da PM e o Secretario de Seguranga foram 'inca- pazes de avaliar o risco que o envio de tropa armada exclusivamente cor fuzis e metralha- doras oferece a uma operaqao de repressdo de massa ndo merecem permanecer em seus car- gos'. Mas nao 6 bem assim. Veja, LUcio, a decisao do que fazer, cabe a mim. Uma rodovia cor o movimento daquele, nao pode ficar interrompida, pois nao ha alter- nativa para a grande circulacio de veiculos (6ni- bus, cargas, carros, etc.). Sua desobstrucIo se fazia necessaria e a ordem absolutamente legal foi por mim dada, recomendando a repeticao do que havia sido feito no dia anterior, advertindo para a importancia do acompanhamento da ope- racao pela imprensa. Ao Comandante Geral da PM, cabia definir quem deveria dar-lhe cum- primento e optou pela maior autoridade da PM na Area. A este, cabia decidir o como dar cum- primento A missao. Este depend de circunstan- cias que s6 o comandante do 'teatro de opera- qbes' pode avaliar. A ele compete definir o efe- tivo, o armamento, a disposiCao da tropa, a con- veniencia e a oportunidade de dar inicio A aClo e pode, at6 mesmo, suspender a operagao sem que isso characterize desobediencia, desde que haja justificativa para tal. Finalmente, toda agao policial, por mais sim- ples que aparente ser, oferece risco, pois em ambos os casos estAo series humans. E 6bvio esperar-se que os policiais nao cometam erros, mas como medicos, juizes, etc., todos comete- mos. Mas posso assegurar-lhe que no epis6dio de Eldorado de Carajis, a responsabilidade pelo erro da policia recai sobre os ombros do co- mandante da operacao. E pelo erro dos mani- festantes (embriagados pelas palavras de or- dem e pelo dlcool, buscando um confront des- necessdrio, pois jd haviam alcangado o que queriam, a Macaxeira), recai sobre sua lide- ranga local. Apesar disso, nada justifica os mortos e feridos e apaga o emblematico epis6- dio que nos atingiu a todos e que nIo pode nem deve ser esquecido". Sem questioner o m6rito das colocac6es feitas pelo secretario, caberia pelo menos fazer uma ponderago quanto aos critdrios de repartilAo das responsabilidades pela ope- raco policial executada em Eldorado. O comandante do batalhao da PM em Ma- raba saiu da cidade a frente de 106 homes. O major Jose Maria de Oliveira saiu de Pa- rauapebas com 65 homes. O official superi- or comandava efetivamente as duas movi- mentacges de tropa ou s6 aquela que estava diretamente sob o seu comando? Na acgo, as duas tropas deixaram a impressao de agirem autonomamente, uma recuando ate o limited do toleravel, a outra investindo sem esgotar a fase suas6ria, precipitando as execug6es. Se isso 6 verdade, entLo ambas obedeci- am a um comando superior, executando, cada uma A sua maneira, uma determinacgo ("de- socupar a estrada de qualquer maneira") fei-- ta sem a devida analise das consequencias, apesar de o comando da PM e o governor do Estado por extensIo ter contado com um adiamento de 24 horas A ordem inicial para avaliar melhor um epis6dio, que, como re- conhece o secretario, tornou-se emblemati- co e nao pode, nem deve ser esquecido, nao para ser remoido na mem6ria, mas para re- ceber o esclarecimento satisfat6rio. Que ain- da esta por ser dado. 6 JOURNAL PESSOAL2 QUINZENA DE MAIO / 1997 Um poder descontrolado (Os meios de comunicado in Sdustriais se beneficiam de uma singular depravaCgo das leis democraticas. Efetivamente, se a televised e, por osmose, a impren- sa, nao gozam, a priori, da liberda- de de anunciar noticias falsas, nos- sa legislagCo Ihes concede por ou- tro lado o poder exorbitante de men- tir por omissdo, censurando e vetan- do aqueles que nao Ihes conv6m ou possam prejudicar seus interesses. O quarto poder e ainda e ade- quado chama-lo assim 6 portanto a unica de nossas instituig9es capaz de funcionar fora de qualquer con- trole democratic eficaz, ja que toda critical independent dirigida contra ele, toda solugdo alternative, perma- necem desconhecidas do grande public, simplesmente porque nao t6m nenhuma chance de serem am- plamente difundidas e, consequen- temente, de atingirem este publico. Fui buscar essa certeira reflexao de Paul Virillo, um dos mais respei- tados analistas atuais dos meios de comunicagdo em todo o mundo, quando mais um critic an6nimo me formulou duas quest6es encadeadas: eu s6 passed a atacar o grupo Libe- ral quando os Maiorana teriam me tirarado de la; e o fago at6 hoje como uma questdo pessoal. Claro que Paul Virillo nao veio intencionalmente em meu socorro. Sua reflexao, de 1993, feita em seu penultimo livro, diz respeito a im- prensa francesa e universal. Mas se aplica como luva ao imp6rio que os Maiorana estabeleceram nesta ter- ra. A critical a atuaCdo dessa rede de comunica~go nao pode ser circuns- crita aos terms de uma idiossincra- sia pessoal: e uma exig6ncia social, uma condigao para a boa sauide po- litica, um requisite da democracia. Os fatos e as pessoas entram, se mantem ou desaparecem do notici- ario dos veiculos das Organizacges Romulo Maiorana conforme os in- teresses da corporacgo e nao de acordo cor o fluir da realidade e as exigencias da opinido public. Tomemos um exemplar caso atu- al como demonstraqgo. Ate que se transformasse em prefeito eleito de Bel6m, Edmilson Rodrigues sofreu um sutil ou aberto boicote do grupo Liberal, que apostava em Ramiro Bentes. Entre a elei9go e a posse, a cobertura tornou-se mais favoravel. Nos primeiros dias da nova adminis- traqdo, o tratamento foi generoso. Mas quando a prefeitura questionou um credit de 1,2 milhdo de reais da corporagao junto a gestao anterior, o nome do prefeito foi riscado do no- ticiario e seu governor submetido a tiroteio (dado a esmo em fungo da incompet6ncia do grupo empresari- al para praticar jornalismo estrito senso). Agora a acidez comega a su- avizar-se com a possibilidade de composigdo entire as parties. E o compromisso com a opiniao public, onde fica nessas idas e vin- das puramente (impuramente, seria mais exato dizer) comerciais? Pode uma empresa (ou qualquer institui- 9)o) transformar noticias em mer- cadoria de neg6cio? Nao estardo fin- cadas ai as raizes mais profundas do estado de desinformagao, de inde- fesa e de impot6ncia da sociedade paraense? Logo, a critical da midia, centra- da no grupo Liberal em virtude de seu excepcional dominio do merca- do, esta muito long de ser um exer- cicio pessoal. Ao contrario: seu in- teresse social 6 excepcional, rele- vante. ara que a opiniao public nao permanega inteiramente sub metida a esse arbitrio (em lin- guagem mais dura, em alguns casos poder-se-ia ate falar em escroque- ria), os senadores brasileiros pode- riam imitar o que seus colegas fran- ceses fizeram em novembro de 1992: transformar o desrespeito ao direito de resposta por um veiculo de comunicagao em delito, estabe- lecendo a puniqgo decorrente desse novo tipo de crime. S6 assim o cidadao poderia inter- vir eficazmente quando ultrajado por atuaygo ou omissao (mentira ou boicote) de 6rgdos de comunicag-o como os do grupo Liberal, que nao acatam o direito de resposta e des- denham da via judicial, por sabe- rem-na inalcangavel ou in6cua di- ante de seu pr6prio poderio, usado inescrupulosamente para esmagar os que se atrevem a revelar'seus metodos de a~go (por isso o desem- bargador Benedito Alvarenga foi inscrito no index do journal . uanto a origem das critics, tomo a liberdade de reprodu zir um document que ates- ta a natureza das relad9es profissio- nais que mantive com o grupo Li- beral durante os 14 anos que a ele prestei servigos, tendo, nesse perio- do, torado a iniciativa de dele me desligar tr6s vezes por divergencia com suas decis6es editorials. Trata-se de uma carta que enviei a Rosangela Maiorana Kzan, dire- tora e uma das donas da empresa, no dia 13 de novembro de 1988 (um ano depois de ter lanpado este jor- nal e quatro anos antes de nossa li- tigancia judicial, por ela desencade- ada), devido a um incident que ela provocou ao intervir numa progra- mango da TV Liberal antecipada- mente acertada. Como fui obrigado a juntar esse document aos autos de uma das a6es por ela propostas contra mim, essa carta particular tornou-se public. Ela talvez ajude meus critics - an6nimos, mas, qupm sabe, de boa fe a fazerem melhor juizo sobre as motivag~es da perseguiCgo que venho sofrendo ha quase cinco anos (e ainda em curso, infelizmente, gra- 9as a venalidade de certos magistra- dos e ao medo de varios outros). Mostra que o exercicio da critical nao significa a busca da destruig~o do criticado e este pode ganhar com a critical se ela for feita corn compe- t6ncia e honestidade, ao inves de anatematiza-la como pecado mortal. Esta e a integra da carta dirigida a diretora administrative da empre- sa: "Eu poderia fazer de conta que nao tenho nada com isso, mas ndo 6 o meu estilo. A tua attitude de on- tem, sabado, ter a ver comigo. Aceitei participar dos programs na televised porque, a dois dias da data para realiza-lo, o Nelio [Palhe- ta] insistiu para que eu aceitasse fa- zer o 'A Palavra 6 Sua'. Ele nao ti- nha outra pessoa em condi96es de JOURNAL PESSOAL -2A QUINZENA DE MAIO / 1997 7 desempenhar a tarefa. E claro que se voc6s nao me pagassem eu nao iria, ao contrario de outras vezes. Mas o dinheiro nao 6 tudo para mim. A partir do moment em que, nas circunstancias relatadas, eu passed a fazer o program, voc6s tinham obrigac6es comigo. Fazer o progra- ma me custou muito, inclusive pe- las restrig6es do 'Diario do Para'. Tu sabes muito bem que, fosse ou- tro o jornalista, dificilmente o pro- grama poderia ser apresentado ao publio sem a imagem de comprome- timento cor a campanha Xerfan, que infelizmente voc6s transmiti- ram. Este 6 um detalhe important. A indicacqo do [jornalista] Ronal- do Brasiliense para participar do pro- grama de ontem foi apresentada na quarta-feira. O veto veio no exato moment em que iamos para o estu- dio. Houve tempo suficiente para voc6s e os homes de confianga de voc6s darem uma definico 'a partir de cima', de cfipula. 'Desconvidar' o Ronaldo na hora do program nao e apenas descortesia ou grossura, mas falta de respeito professional. Isto e o que me atinge. Se durante tr6s dias voc8s nao se manifestaram ou nao tomaram conhecimento, 6 inadmis- sivel que apenas na hora da grava- c9o decidam interferir. as duas, uma: ou voc6s deci dem fazer jornalismo, com todas as implicaqoes, ou es- tabelecem regras bem claras sobre a interfer6ncia que voces vdo fazer em cima do trabalho dos outros. Com essas regras bem claras jorna- listas como eu podem decidir se aceitam ou nao convites como o que o Nelio me fez. O que nao pode e voc6s inventarem e reinventarem as regras, conforme as mudancas de temperament de voc6s. Afinal, um program como 'A Palavra 6 Sua' nao envolve apenas os nomes e as indiossincrasias de voc6s. Ha pro- fissionais no meio e profissionais gostam de ser respeitados. Interfer6ncias ha em todas as em- presas jornalisticas. A Globo nao vetou durante tanto tempo o Caeta- no [Veloso] ou o Saturnino [Braga]? S6 que eu acho que ha tambem a necessidade de padres profissio- nais serem adotados. Se voc6 nao soube ou nao p6de interferir na pro- ducdo do program para eliminar um desafeto, nao pode atropelar o respeito a outras pessoas para 'des- convidar' o Ronaldo. So aceitei fa- zer o program em consideragdo ao Nelio e aos outros tres convidados. Meu constrangimento foi tanto que eu simplemente nao faria o progra- ma em outra circunstancia. E nao farei mais isso, o que me leva a sus- pender minhas participag6es na TV Liberal. Ja disse varias vezes a ti e ja es- crevi isso no meu journal que o gru- po Liberal regrediu adotando essa forma de participagao na campanha Xerfan. Quem poderia ajudar a em- presa a chegar a um ponto de equi- librio entire seu legitimo desejo de tomar parte no process eleitoral e a necessidade de manter seu padrao professional, omitiu-se ou agiu com oportunismo. Deixou ou levou o grupo a entrar incondicionalmente e desajeitadamente na campanha como cabo electoral. Este ato trara sequelas no future, sem representar qualquer vantage para a empresa. Mas esta e outra hist6ria. O que eu queria mesmo era registrar minha indignacgo com a situacgo de saba- do e transmiti-la a vocF". 0 Um modelo roto resuime-sc quI o cdi- L tor Gengi. Freire entroU numn neilocN noniial de quase ( mt-I 1h6es de reats para se tor- nar o dono do titulo de ram lornal com 121 anos de \ida .-1 P vtl1Ii U d-' Pii r-' Lten atras de st unia Insto- ria que Ihe deu tradtiio a de ser o "lornal da fannlia paraensc". Naio e por LIu- tro mnotivo que scu logoti- po e o fitco ainda em es- Lilo gotico da grande ini- prensa paraenseo Mas hia algum tempo A PrI)inci.i \eni sendo o jor- nal mais scnsacionalisla do mercado Quase metade da capa da edi;ao do dia 7. por exemnplo. fti ocupada pela fotorrafia de gimeas que nasceram coni uina unica cabe~a. was morrt.- ram! logo Num lornal de circlnlaV o ceral. a foto era chocainte pClo tamianhio. pdla unitdez. pelo trataincn- to editorial Os response is pela dc- cisio que colocon cssa toto na pruncira pagina aiegarao que o material era exclusi- \o c que a edicio daqucle dia \-endiu muito Mas ha tempos .4 Prnivuinti vCni co- mctendo esses atos de etica para la de duvidos a o jor- nal contuiua a ser o de mce- nor tiragem entire os trrs di- arios. Neni como recurso de markeung. ao que parece. a iogada rende o que prome- teinm a scus praticantes 0 sensacionalismio ree- la o lado neero do ornalis- nio, sua condri'io exclusi\a dc negucio Ma.s ha os que o cultr.am C o0s qun com C le conseguemin succsso Os0 niil- ores c\cnlplos sio os tabloi- diL Ilondrinos. que .cindLm conij atIua Nlas c Ls tim amia pohlica edLtorial (inclu- sive dc inestiinento) coe- rentc corn seus diganio - principlis (ou falte de) A Proainia pretcnde chegar aos incsmols iesultados agin- do contraditoriiamente Ndo tcnt conseguido Nio consec- guira Ncssc c:iaso. e melhor jo- gar fora o logotipo gorIco. esquecor a tradi do. cortar o nimcro de paL2inas. dimi- utir drasticamente o prego- de capa e i\-estir numa hl- nba editorial de apelo po- pular Mas take os que se disponlhain a entrar nesse can3inho acabem secido surprecndidoa pela cons- tata'ao de que mesmo ir por ai t LigC unia compe- iLncia especifica que. atr agora. teni falladu aos mandarins da nmprensa c scus factoides (tun Jos poucos C'\cinplos citavx-cls So do FIlash. dc lian Mla- rianhulo) Ha formulas de suces- so. imas nio fonnulas n11111- cas NlMsmo elas rLque- recm inrcligincia para sc ajustarin as condi'es do mercado local aliii. e claro, de unia boa doske de anti-corpos C ncos .4 P'rovit'cia. para recou- quistar sue lugar, poderia fazer o que faz falta no mcrcado inmestir na inte- llg-tncia do jornalisnio Margens invertidas O poeta Bertold Brecht recomendava num de seus poemas que, ao inves de condenarmos um rio por ser turbulento, d6ssemos atencgo as margens que o comprimem. Pensei em um sentido exatamente inverso ao desse poema quando li a noticia sobre a decisao do juiz Julio Ayres, da 8' Vara Civel de Sao Luis. Ele condenou o Banco do Brasil a pagar 250 milhies de reais a um comerciante que, sete anos antes, ajuizara uma agao de indenizagdo equivalent a tres salaries minimos pela devolugao indevida de um cheque seu. Nao satisfeito, o juiz mandou abrir a macarico o cofre do banco para a retirada do dinheiro que 1a houvesse, no cumprimento da decisao. Candidamente, quando a noticia estourou como bomba, chocando todo o pais, o juiz explicou sua decisao atribuindo-a a um erro de calculo (o valor supera o que sera gasto na macrodrenagem das baixadas de Bel6m, o maior investimento piblico ja feito nesta cidade de 1,2 milhao de habitantes). A complete sensaygo de impunidade em que se acham acantonados muitos magistrados, propiciada pelo corporativismo do judiciario, e nao uma aritmetica alucinada, e que explica essa manifestadao explicit de ma f6, audacia e cinismo ou seja, ao contrario do poema brechtiano, margens tao largas e permissivas que tudo autorizam e coonestam. O episodio e triste, mas muito mais desastroso sera se para nada servir. Se o judiciario nao estreitar as margens da tolerancia ao erro e a venalidade, sera a hora de a nacao estabelecer o control externo para expurgar de vez do aparato judicial pessoas como esse juiz Julio Ayres, que proliferam como ervas daninhas no 6gao arbitral da sociedade. Puxando conversa O escrit6rio de advocacia do qual faz parte o secretario estadual da Fazenda, Jorge Alex Athi foi contratado pelas Organizagdes Romulo Mai rana para tratar do credito que o grupo alega junto a prefeitura de Belem, heranga ainda da g tao H6lio Gueiros. A cobranga da divida, de 1,2 r lhao de reais segundo o grupo Liberal, podera. judicial ou administrative. Mas a ponte para ui negociagao cor a prefeitura do PT, que question o valor do debito, ja foi estabelecida.. A cobertura dada pelos veiculos da familiar M orana a administragao de Edmilson Rodrigues sofreu uma certa modulagao de tom para se ad quar ao novo moment. Podera ir ao pianissimo voltar ao estridente. O servigo pOblico Deveria ser norma de aplicapgo an6nima, mas como trata-se de excecgo no servigo public e reco- mendavel registrar. De- pois de ler o artigo "Hidro- vias O Pard fica fora de rota" (edicgo da a1 quin- zena de abril), o superin- tendente da Administra- 9Io das Hidrovias da Amaz6nia Oriental, Anto- nio Alberto Pequeno de Barros, decidiu encami- nhar-me o "Resumo Con- solidado do Estudo de Al- ternativas T6cnicas para a Implantacqo da Hidrovia dos Rios Tapaj6s/Teles Pires". O document mostraria, no entendimento do supe- Srintendente da Ahimor, que "os dados t6cnicos es- Sto todos devidamente es- : tudados" e que ja estao concluidas determinadas atividades que asseguram a viabilidade da hidrovia em todo o seu percurso, de 1.043 quilometros, corn um investimento de 140 milh6es de reais. Em seis anos esse dinheiro retor- naria ao investidor, garan- Stindo a rentabilidade do projeto, alem de sua evi- dente significagdo social. Para ser definida, po- rem, a questao ainda de- pende de mais avaliag6es, que faremos em proxima edigao, contando cor a boa vontade da Ahimor. ex- as, Ironia A Associacqo Nacional ter de Jornais e a Associagco Mundial de Jornais (ANJ ,, Mundial de Jornais (ANJ ser na na ai- Ja le- ou e FIEJ) conceberam um anuncio-padrao para assi- nalar o "dia mundial da li- berdade de expressao". As frases do anuncio ("A li- berdade e uma conquista" e "Em 120 paises ainda existem censura e repres- sao a imprensa"), publica- das no dia 3 em O Libe- ral, soaram como auto-cri- tica ou ironia. Ao inves de ser vitima, o journal e agent desses delitos, censurando quem o incomoda e reprimindo a liberdade de seus leito- res, cujo direito de respos- ta desrespeitam e, de in- formag o correta, igno- ram. Cor esse comporta- mento, O Liberal contri- bui para colocar o Brasil no lado-negro dessa rela- C9o de 120 paises, cor uma originalidade que fi- cou fora de moda gragas ao avango da consci6ncia dos povos. Quando pegaremos esse trem? Intervalo No dia 1 de junho de- verei estar em Veneza, na Itilia, falando, no encon- tro annual da Fondazione Macondo, sobre minha utopia pessoal na Amaz6- nia. Depois, irei a outras cidades, inclusive Milao, onde deverei receber um premio que o Corriere de- lla Sera, o maior journal italiano, confere todos os anos a um jornalista sele- cionado no mundo inteiro. Por isso, o Jornal Pesso- al nao circular na '1 quin- zena de junho. Espero es- tar a postos por aqui na 2" quinzena. Journal Pessoal Editor. Ljcio Flavio Pinto Redaqao: Passagem Bolonha, 60-B 166 053-020 Fone: 223-1929 e 241-7626 Contato: Try. Benjarhin Constant, 845t203 / 66 053-020 Fone: 223-7690 e.mail: lucio@expert.com.br Editoradao de arte: Luizpe / 241-1859 |