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oomal Pessoal SLucio Flavio Pinto Ano III N2 51 Circula apenas entire assinantes 1 Quinzena de Novembro de 1989 ELEIQAO 0 enigma devorador A primeira eleigao para president em quase 30 anos ndo empolgou o Brasil. Nem a festividade do centenario da Repiblica. Delas pode ficar a sensagao de que nao estao de acordo com as ansiedades da populagao K ,-- daddos escolherem o home pdblico mais poderoso do pais, a eleigdo de 15 de novem- bro deveria funcionar tamb6m como um mar- co comemorativo A altura do acontecimento hist6ri- co que com ela coincide: o centenfrio da Repiiblica brasileira. Mas a apuraqdo dos votos deixados nas urnas por 82 milh6es de pessoas, obrigadas a com- parecer aos locais de inscriCio compulsoriamente, pode resultar em uma crise ainda mais profunda do que aquela para a qual deveria ser solug~o. Essa crise, a ser confirinada pelo segundo turno de vota- qio, a 17 de dezembro, resultarA de uma manifesta- gio de negatividade do eleitorado. A esmagadora maioria nao votarf a favor de algu6m, mas contra uma situagao que, apenas palidamente, encontrou entire os candidates algu6m capaz de canalizar essa difusa corrente de protest. Em 1960 o brasileiro que votou tinha a altrna- tiva de propostas, de figures emblemAticas, de ca- rismas e a sociedade, muito menos complex do que hoje, estava tamb6m menos dilacerada por con- trastes e paradoxos. A revista Veja visualiza dois Brasis por tris dessas desigualdades: 30% de seus habitantes cor acesso ao mercado, participando - em graus variados, mas efetivamente da circula- qao de riqueza; e os 70% restantes a margem do circuit econ6mico, vivendo das sobras, com um inico patrim6nio de eqiiidade nominal: seu voto. Em 1960 certamente era menor a distincia en- tre o mais rico e o mais pobre. A base da pirimide nio era tio extensa e tio enterrada no subsolo da decencia e da dignidade humans quanto agora, um nivelamento por baixo tio deprimente que pode tor- nar otimista a relagao de 70 por 30% da revista paulistana. Tempos atras era moda falar de uma imaginaria Belindia (metade B61gica, metade india), mas nio era precise recorrer a ficqio para encontrar um padrio de refer6ncia sobre esse pafs dos con- trastes. Bastariapensar no Ira de Reza Pahlevi, on- de um dos Ex6rcitos mais modernos do mundo re- primia uma das massas mais fam6licas e o sobera- no vivia num mundo reconstrufdo alucinadamente das mil e uma noites. Parece que falta f6 ao Brasil capaz de pavi- mentar o caminho de lideres de seitas como os aio- talas, mas ha no pais sucedineos estilizados para encarnar o vudd da mis6ria que esmaga na subcida- dania e no segundo circulo do inferno social as quase 100 milh6es de pessoas que Veja, com base em pesquisa official, inclui no outro Brasil. A hipnose coletiva A formula de fascinio empregada por Fernando Collor de Melo deita as as raizes da sua inspiracio no lado negro da Belindia. Joga a culpa nos marajis do servigo pdblico, um sfmbolo primitive e anacr6- nico da infelicidade coletiva, mas eficaz em mentes que, pela fome e pelas condiq6es de vida, regredi- ram a esse estado primal da consci8ncia. Para elas, um bode expiat6rio ao alcance das mdos vale mais do que as causes reais de sua angdstia, mas fixadas em pontos fora do alcance de sua estrutura mental. Algu6m precisa ser responsabilizado, nem que seja para pagar o pato. Esse estado de hipnose que marca a fronteira do fanatismo coletivo serviu tamb6m maravilhosa- mente para Senor Abravanel, o Silvio Santos dos audit6rios nas tardes de domingo, dentro da telinha azulada, a anestesiar a base da pirimide social em seu inico instant de lazer. De aventura em aventu- ra, desde a venda de produtos por pregio nas ruas at6 a agiotagem sedutora dos carnes empurrados aos incautos telespectadores, Silvio Santos mostrou que o cargo mais alto da administrag~o pdblica 6 um botim ao alcance de qualquer pirata mais audacioso. Nao sendo ele, pode ser o Faustio. Em nenhuma democracia estavel, cow institui- c6es consolidadas e o poder submetido a fiscaliza- gio de seus cidadaos, uma pessoa poderia descer de paraquedas na campanha eleitoral a duas semanas do dia da votagao sem ter dito, nem a partir daquele moment, nem em qualquer ocasiio anterior, uma s6 frase que sugerisse sua vocag~o de home pdblico. A inica caracteristica marcante na biografia de Sil- vio Santos 6 sua capacidade de ganhar dinheiro por qualquer meio, mas especialmente atrav6s de expe- dientes sancionados pelo poder. Essas falcatruas cor endosso official levam ao sucesso porque tornam-se invisiveis a compreensio da sociedade. O pobre mortal que gasta dois tergos de seu dia para arranjar um rendimento de 760 cru- zados novos no final do m6s, quase 85% dele gasto no mais frugal cesta de alimentos, acredita que basta o glamour do astro da television para creden- cid-lo a ser o guia do pafs. Id6ias nao contam. As- sim como a televisao precisa criar massa para domi- nar, na relaqio democratic do eleitor com seu voto o comportamento 6 de manada, ji que a eleigio nio integra um process pedag6gico de formagio do ci- dadio; 6 um jogo de regras viciadas que a elite sempre consegue estabelecer. 6 assim se explica um fato desconcertante. O senador Mario Covas, candidate do PSDB, 6 reco- nhecido quase unanimemente como um home probo, competent, preparado, sincere e honest, mas sem estilo para convencer uma maior proporcio de eleitores a votar nele. O estilo que Silvio Santos e Collor t6m (e em certa media tamb6m Luis Inacio Lula da Silva e Leonel Brizola) atrai o eleitor, que sera capaz de votar em Covas no segundo turno se ele, por uma circunstincia inesperada, conseguir ser um dos dois candidates a ultrapassar a primeira eta- pa. Isto quer dizer que o eleitor m6dio, nao tendo encontrado o seu candidate, vai escolher aquele que, por motivaaio emotional, por reacao a outran- ce, esta mais pr6ximo do seu estado de espirito, do quadro instintivo que reflete de sua condigio. Os dois candidates que passarem para o segun- do turno serao um sintoma do estado de enfermida- de do pafs, mas nao um rem6dio. Nio expressario uma posiqio ativa em relacao a essa identificaaio que conseguiram estabelecer com a maioria do eleitorado porque ele nao votou reflexivamente, colocando-se ao lado de um program, mas por rea- q o contra o que julga ser a fonte de seus dramas. Depois, o vicuo Havera um vicuo de legitimidade porque a re- presentaqao political estara em descompasso com a condiqio social da NaqIo. Alguns podem achar que o pr6ximo president sera o Menem brasileiro, mas n6s ainda nem tivemos o nosso Alfonsin, papel ao mesmo tempo dramitico e tragico que esta bem aci- ma da vocagdo do Sr. Jos6 de Ribamar Costa, o Sarney, nosso primeiro president com apelido au- to-incorporado. At6 os erros que Alfonsin cometeu exigiam uma grandeza que faltou ao nosso Ribamar, grandeza que levou Alfonsin a antecipar o fim de seu mandate (final melanc6lico, mas de sua auto- ria), em contrast com a pequenez de vistas que fez Sarney espichar o dele obsessiono que o levou a tentar com Silvio Santos, desastradamente, um gol- pe que Getdlio aplicou antes, superdimensionando os motins de comunistas e integralistas). O vicuo que se seguird a 15 de novembro on a 17 de dezembro podera sei preenchido atrav6s de formulas como o parlamentarismo, mas 6 dificil acreditar nesses arranjos engenhosos. A trajet6ria at6 o dia da eleiqao registra mais pma vez a falencia das elites brasileiras. Leitora desinteressada do Iluminismo, ela achou que instaurava a democracia liberando a matricula dos partidos politicos e redu- zindo ao minimo as exigencias para a apresentagio de candidates, dando ao registro provis6rio dessas agremiaq6es toscas uma elasticidade patol6gica, de que 6 exemplo acabado o PMB de Armando Correa et caterva. Enquanto essa liberalidade alimentava apenas o circo dos Marronzinhos e En6as, a elite se divertiu. Quando o fogo descontrolou-se, ela entrou em panico. Silvio Santos foi apenas o oportunista que viu chegar o moment de tirar vantagem, o mote de uma 6poca que teve em Gerson o seu profeta. Abravanel estava pondo em pritica, embora depravadamente, a maxima do fil6sofo da comunicagio, McLuhan, costurado de maquiavelismo de algibeira: o meio 6 a mensagen e 6 tamb6m o fim. E assim o SBT cresceu, para desespero global do sr. Roberto Mari- nho, a outra harpia insaciavell no c6u dos neg6cios brasileiros. Se nao pode ser mais president, Silvio Santos mostrou, a si pr6prio e aos Faust6es da vida, que eles podem chegar la e chegardo se antes nio chegarem a compostura, a decencia e a dignidade ao padrao politico national. A political crua Durante os 10 dias em que o sr. Abravanel alimentou a ilusao de ser candidate (sustentar ilu- soes 6 sua especialidade), o pafs viu as mascaras cafrem. Ningu6m disse, mas os envolvidos na no- vela (e foram quase todos os personagens da cam- panha eleitoral) levaram as iltimas conseqiincias o que deveria ser uma tirada de humor negro da Vov6 Zulmira, a personagem do infelizmente falecido Stanislaw Ponte Preta. Advertia ela que ou restau- ramos a moral, ou todos nos locupletemos. Os ame- ricanos t6m um ditado mais cru e direto para definir a situaqao: se o estupro 6 inevitavel, relaxe e apro- veite. degradadio da cena polftica deve ter sido acompanhada cor atengao e deleite, ao menos em certos stores, pelos militares, eternos candidates a tutores na sociedade brasileira. Todos dirao que nao ha clima, apesar de tudo, para novos pronuncia- mientos. t verdade. Mas tais verdades costumam ter curta duraqao numa sociedade tio instivel como a nossa. O Brasil anseia por uma transigao para valer, na qual pudessem ser aparadas com determinaqao e coragem as arestas que dao ao pafs uma tensao pr6- explosiva, mas houvesse uma ponte segura para a travessia do dificil moment da passage. Uma aceleraqao pode resultar em grandes desgastes e di- ficilmente haverd quem garanta que na superagao desse etapa alguns dos valores cada vez mais esti- mados neste final de s6culo, como a' liberdade, a pluralidade ou a alternincia de poder, subsistam. A hip6tese de ter Fernando Collor de Mello na presid6ncia neste moment angustia porque ressalta ainda mais a vacuidade de poder. Collor represent, organicamente, a mais antiga, mais predadora e a mais voraz das elites brasileiras: a dos plantadores de cana e usineiros do Nordeste, ha quatro s6culos sugando a Nagao a sombra do Estado cartorial. Collor nao tem densidade pessoal e nem equipe para tomar conta do pals. Essa impotencia real, que os recursos de assessoria mascaram, poderA dar-lhe um papel de Luis XIV: depois dele, o dillivio. No Bra- sil, os dildvios costumam materializar-se em novos periods de tutela sobre a sociedade. JA a vit6ria de Lula, que representaria uma efetiva mudanga no control do aparelho de Estado, colocard o Brasil numa situaaio de alguma forma similar A do Chile de Salvador Allende. Ha enormes diferengas entire o lfder do PT e o Ifder do PS. Al- lende era, quando subiu ao poder, o melhor politico chileno, sob qualquer crit6rio que se fizesse a ava- liagao Desde as peregrinaq6es pelo pafs como m6- dico, Allende formara sua consciencia, seu progra- ma e sua equipe. Chegou a presid6ncia na plenitude desse process de amadurecimento, temido pelos inimigos, mas respeitado at6 pelos mais ferozes de- les. No entanto, armou-se contra o governor da Uni- dade Popular uma conspiraqio sem paralelo na his- t6ria do continent e sem guardar correspond6ncia cor a radicalidade da experiencia de transiqio so- cialista no Chile (e nao de governor socialista. O sucesso do golpe deve-se tanto a obtusidade dos militares chilenos que o promoveram, de formagao prussiana, como ao fato de na Casa Branca estar Richard Nixon, o mais doentio dos inquilinos do maior centro de poder do planet. MArio Amato, president da Federagao das In- distrias do Estado de Sao Paulo, A qual se filia 'um terco do Produto Interno Bruto brasileiro, declarou que 800 mil empresirios sairiam do pafs se Lula se elegesse president. t frase de fancaria: esses em- presarios nao conseguiriam ganhar tanto em outro pafs. Mas certamente eles armariam uma conspira- cao de fazer inveja ao que os Ibad e Ipes de 1964 organizaram. Justamente poque tnm um ganho que raros mercados poderiam Ihes dar em outro local do planet, investiriam muito na desestabilizagao do governor. 0 PT conseguiria administrar melhor essa contra-ofensiva do que o PS de Allende? E claro que a sociedade brasileira precisa estar preparada para uma mudanca de poder para valer e nao apenas decorative, mas ela 6 incomparavel- mente mais complex, cor extremes muito mais destacados, do que a chilena. A hist6ria pode colo- car o PT diante de um desafio que esta acima de sua capacidade de domfnio e agir cor ele como a esfin- ge mitol6gica, s6 que devorando mais do que o viajante desafiado pelo enigma. O Brasil 6 paquid6rmico, se mexe cor ener- vante lentidio. Enquanto comemoramos (abulica- mente, alias) nosso centendrio republican, a Repi- blica Democratica da Alemanha, no dia seguinte ao da mudanca de governor, determinava o fim do muro de Berlim. Provavelmente jamais houve, neste Bra- sil dominado nominalmente por jovens, transforma- gao tao brusca. Num dia se condenava o odiento muro separando ideologicamente o territ6rio uno de uma cidade. No outro dia o mundo se dividia entire a alegria de tomar conhecimento da decisao de eli- minar essa barreira e a preocupaaio com as conse- qiincias da reunificaqao da Alemanha, prevista e temida. E isto na velha Europa, que consideramos cristalizada. Nao se pode ter a mesma sensagao no dia se- guinte ao da eleigao presidential que restabelece uma caminhada interrompida em 1960 e lanqa o Brasil na dltima d6cada do s6culo, tio incertamente que justifica a timidez da sociedade diante das duas datas cfvicas. No Brasil, as datas tem sido apenas datas. Este nosso pais de anoes 0 bonde da hist6ria raramente passa duas vezes a frente dos que atuam na vida pdblica. Esta li- qio estara sendo dolorosamente reaprendida pelo deputado Ulysses Guimaries ao final da apuraaio dos votos para a presid6ncia da Repdbli- ca, desfecho melanc6lico para uma das mais bri- lhantes carreiras polfticas do pafs. E Ulysses foi at6 privilegiado: teve duas oportunidades. O bonde da hist6ria cruzou pela primeira vez o caminho dele quando Trancredo Neves adoeceu e nio p6de ser empossado president. A Constituigio era clara: as- sumiria Ulysses interinamente, na condigio de pre- sidente da CAmara dos Deputados. E convocaria eleiq6es, que poderiam ser diretas se tomasse a ini- ciativa de enviar mensagem ao Congresso nesse sentido, ou indiretas, prevalecendo os dispositivos entio em vigor. Mas Ulysses concordou com o arranjo de per- mitir a Sarney substituir um president que nio existia legalmente, arranjo montado com um sofisma desmoralizado agora, durante o julgamento da can- didatura Silvio Santos por um Tribunal Superior Eleitoral mais altivo (o vice 6 vice do president altes de ser vice da Repiblica). Alguns alegaram em defesa do deputado do PMDB sua preocupagio cor tropas e Urutus nas ruas. Mais do que a tonitroante mas constitucio- nalmente desajeitada interpretagio do general Leonidas Gongalves, entretanto, pode ter pesado sobre a decision de Ulysses o fato de que ele nio poderia concorrer A eleigio que iria convocar, cir- cunscrevendo-se a interinidade de uma transicio sem a gl6ria plena. Ali houve a marca da esperteza e da sagacidade, que os politicos brasileiros consi- deram a consumaqio de sua vocagio (as eternas ra- posas do "jeitinho"), quando deveria ter havido a dimensio de grandeza do estadista, que raros politi- cos conseguiram alcangar neste pafs. Ainda assim, menos luminoso, o bonde da hist6ria se ofereceu novamente a Ulysses na pro- mulgagio da Constituigao de 1988. Naquele mo- mento ele poderia aposentar seus pianos de atingir o dltimo estagio da vida pdblica, que 6 a presiden- cia da Repiblica, mas se credenciando, como o principal condutor da Assembl6ia Nacional Consti- tuinte, ao papel de reserve moral da Nagio, um De Gaulle sem guerras e heroismos culminantes, mas ainda assim uma indispensavel fonte de consult dos cidadios. Tendo renunciado outra vez a esse convite da hist6ria, o "doutor" Ulysses se aposenta da forma mais ingrata que pode haver para um polf- tico: rejeitado pelas urnal E um destino ingrato em relagio ao curriculo do home, mas implacavel- mente just diante dos dois moments maximos em que a hist6ria convocou sua participagio. 0 pigmeu paroquial Em sua pr6pria ordem de grandeza, o deputado estadual Agostinho Linhares viveu situagio seme- lhante a de Ulysses Guimaries, embora sem direito 4 - negacao mais do que justificada a duas passa- gens do bonde da hist6ria. Ao sair de Bel6m no dia 31 de outubro para encontrar-se cor os articulado- res da candidatura de Silvio Santos e comecar uma saga que o colocaria no noticiario destacado da im- prensa national (na pagina polftica em fungio das eleig6es; em outras circunstancias, poderia acabar na pagina policial), Linhares declarara aos jorna- listas: nio renunciaria & condigio de vice-presi- dente na chapa do PMB (Partido Municipalista Bra- sileiro). Depois da tempestade, ele admitiria que per- manecer na chapa, fosse ela encaberada por Ar- mando Correa' ou Silvio Santos, seria "o mais de- cente". Afinal, tinha sido escolhido pela convenglo do partido e agora teria que se submeter a um grupo sem representatividade. Mesmo que nao pensasse na temeridade que a candidatura Silvio Santos expres- sava ou nio estivesse em condig6es de examina-la de uma perspective 6tica (se a considerasse dessa maneira nio faria parte daquele cfrculo de polfti- cos), Agostinho Linhares poderia ter desconfiado que a inica maneira de entrar definitivamente para a hist6ria era agir com a decencia que vislumbrara, mas descartara. As circunstancias deram a Linhares uma condi- gio a que ele nio poderia aspirar por m6ritos pr6- prios. Nio sabendo nem momentaneamente colocar- se a altura, ele 6 hoje o sfmbolo national do que ha de mais oportunista, velhaco e degradado na polfti- ca professional brasileira. Linhares podera repetir A exaustio que renunciou por motives superiores, pensando nos beneficios que poderia alcangar legi- timamente para si e para o Estado do qual 6 repre- sentante. Mas nio convencerA a opiniao pdblica de que fala a verdade. Nio 6 apenas porque os outros personagens dessa 6pera bufa dizem o contrario, mas porque Li- nhares, ao negociar cor os promotores da candida- tura Silvio Santos segundo as regras por eles esta- belecidas, tornou-se um primus inter pares ou, em linguagem menos casta, farinha do mesmo saco. O cabega de chapa do PMB e president do partido, Armando Correa, disse ao Jornal do Brasil que Li- nhares pediu realmente 600 mil cruzados, sob a ar- dilosa alegagio de que seria a indenizagio pelos gastos de campanha (que nio fez). O deputado pa- ranaense Joio Felinto, o principal piv6-na transa- gio, disse que Linhares levou muito mais dinheiro de Fernando Collor de Mello (atrav6s do senador Ney Maranhio, de Pernambuco) para impedir Silvio Santos de assumir o PMB. O journal fez refernncia a um milhio de d6lares. 0 espelho do home 1 pouco provavel que algum dia essa hist6ria venha a ser passada a limpo. Gangsters nio dio re- cibo; o neg6cio escuso das mafias 6 verbal. Diante delas, s6 ha uma attitude: evita-las. O deputado Agostinho Linhares quer fazer crer A sociedade que entrou e saiu inc6lume de uma articulaqio mais do que suja, reivindicando para si uma ingenuidade ou uma pureza que sua carreira nao autorizam. Se nao 6 o mais preparado dos politicos pa- raenses, ele 6 certamente um dos mais sagazes. Na iltima eleiqio, seduziu algumas dezenas de perso- nagens obscuros da margindlia political para que saissem candidates, mas seu inico objetivo era en- grossar a votaqio da legend do PMB e reduzir os custos da campanha. Te'.e pleno 6xito: mesmo corn a menor das votaq6es individuals, elegeu-se graqas aos votos pingados de todos os outros candidates, que serviram de muleta muito ttil e ficaram todos de fora. Mas a esperteza de Linhares nao 6 recent. Ele comecou na vida piblica como president da Co- dem, uma empresa metropolitan com jurisdiqAo municipal, idiossincracia bem de acordo com um governor que adotava como seu o piano urbanistico de outra cidade, tendo o cuidado apenas de mudar o nome. Piano bem feito independe de seu alvo, foi o raciocfnio, o mesmo que deve ter levado a Codem a encomendar freneticamente pianos a empresas parti- culares de consultoria, pianos retirados dos arqui- vos quando Linhares, como vereador, tornou-se o "pai" dos Planabel, Planaverde e quejandos. Com convicqio inabalivel e aparente humilda- de, o professor de matemAtica financeira e funcio- nArio do Banco do Brasil foi construindo sua carrei- ra. Descobriu que um bom caminho para a ascensio pode ser alcangado pela participagio em eleig6es, quaisquer que elas sejam, tenha ou nio possibi-lida- des reais de veneer. Linhares 6 exemplo de uma disposig o por competir que s6 nio 6 elevadamente olimpica porque a legislacgo brasileira sobre o as- sunto 6 satanicamente permissive. As eleig6es slo organizadas nio exatamente para amadurecer cada vez mais a democracia e expandi-la, mas para man- t--la sob o regime tutelar das elites. Nio espanta que a ela tenham acesso os mais deslavados oportu- nistas e que se transform tio facilmente em ins- trumento de neg6cio. Assim, Linhares pode aspirar A grandeza, mesmo depois de tanta baixaria. O Jornal do Brasil diz que ele pediu a Silvio Santos apoio para con- correr ao governor do Pari em 1990. Pessoalmente, Linhares foi mais modesto: pretend ser um novo Antonio Lemos, prosseguindo a obra do prefeito (na 6poca intendente) que modernizou e embelezou Bel6m no inicio do s6culo. Mas se houve dose de injustiqa pessoal no destiny que o povo brasileiro reservou ao "doutor" Ulysses, sera absolutamente correto se o povo paraense, ao inv6s do bonde, apontar para o "doutor" Linhares a lata de lixo da hist6ria. Violencia: em estado de alerta J osimar Alves de Oliveira seria apenas mais um entire algumas centenas de pistoleiros, que transitam livremente pelo Para, se nao tivesse protagonizado uma incrivel hist6ria de viol6ncia entire os dias 31 de outubro e 1 de no- vembro, capaz de retratar fielmente a situaqio da seguranqa piiblica no Estado. Preso quando tentava arrombar a agencia da Telepard em Pacajas, um dos novos municipios surgidos na Transamaz6nica, Jo- simar estava sendo conduzido preso e algemado - por um sargento e um soldado da Policia Militar pa- ra Tucuruf, numa Kombi alugada (porque a policia local nio disp6e de viatura pr6pria). O pistoleiro conseguiu burlar a vigilfncia dos dois PMs, pegou o rev6lver que estava em sua ca- panga, apontou-o para os militares e, com dois tiros certeiros, executou-os. Depois foi A delegacia de Pacajas matar o delegado Diomedes da Silva, que estava dormindo em seu plantlo, roubou todas as armas que ali estavam (uma metralhadora, tres re- v6lveres e um rifle) e libertou o preso Joilton Jesus Brito, o "Fogoi6", que passou a acompanhi-lo. Na fuga, Josimar foi interceptado por uma pa- trulha da PM, trocou tiros com os militares, matou um soldado e baleou gravemente o comandante do grupo, tenente Edvaldo Sarmanho, conseguindo no- vamente fugir. O pistoleiro pegou uma familiar de lavradores como ref6ns quando encontrou outra pa- trulha, que passou a persegui-lo. Josimar perdeu a direqlo do carro, atirando-o num igarap6. Tres criangas e a mie morreram nessa ocasiao, mas o pistoleiro mais uma 'vez escapou Dez dias depois, ainda nao bavia sido localizado por dezenas de ho- mens da PM que montaram um cerco na area. Como essa combinagio de fria competencia do bandido cor desastrada incompet6ncia da polftica p6de ocorrer? Os dois PMs que conduziam o preso foram tragicamente punidos cor a morte pelo com- portamento adotado, displicente ou sabe-se la que qualificativo empregar. Em defesa deles e da mem6- ria que restou para suas famflias seria possivel ar- gumentar que desconheciam a periculosidade do home apanhado na tentative de arrombamento. Mas tamb6m se poderia levantar outras hip6teses dolosas em relagio ao prop6sito que os fizera levar o preso de Pacajas para Tucuruf. Entre as varias hip6teses de explicaqio e re- constituigio do epis6dio, fica o resultado concrete: a fuga rocambolesca do preso. Tio logo a noticia se espalhou, o que os dois PMs poderiam ignorar pas- sou a ser conhecimento geral: Josimar era tido como um pistoleiro muito perigoso, mortal no tiro, deci- dido na execuiao. No entanjo, a PM saiu alvoraCa- da na perseguigio do fugitive, sem um piano defi- nido de acio e, aparentemente, sem comando. Em todos os confrontos, um home s6 saiu-se sempre melhor, inclusive no moment delicado em que leva ref6ns. O saldo foi trigico para o lado da policia. Ela esta desaparelhada e seus homes t8m uma formaglo mais do que deficiente. Josimar conseguiu invadir sem qualquer problema a delegacia, matar o comissArio que dormia no plantao e levar armas pri- vativas, que Ihe deram um grande poder de fogo, 5 que ele usou com mais eficiencia do que os milita- res. Nio espanta que se tenha safdo melhor: prova- velmente um pistoleiro como ele treina mais do que qualquer home da PM, nio s6 por dispor de uma ragio de balas mais generosa, como pela qualidade das armas a que tem acesso. Ademais, o rendimento de um pistoleiro professional 6 bem superior ao vencimento de um PM e a poderosa clientele dos pistoleiros da-lhes condig6es de estfmulo e protegio sem paralelo corp os da corporagio military. O epis6dio de Pacajas pode funcionar como um grave alerta ao governor e a opiniio pdblica. Du- rante algum tempo a PM notabilizou-se no interior do Para (e tamb6m na capital, mas af em menor in- tensidade) por sua atuacio parcial. Foi acusada de agir como milfcia particular dos fazendeiros contra posseiros, sem se orientar por qualquer dos muitos crit6rios que constituiriam a aago pdblica de segu- ranga. No famoso conflito de Perdidos, em Sdo Ge- raldo do Araguaia, marco da tensio entire o governor e a I geja, os posseiros afixaram uma placa na en- trada de suas terras advertindo que a PM nio pode- ria passar dali; s6 admitiam a presenga do Ex6rcito. O mesmo ocorreu, 10 anos depois, com os garimpei- ros de Serra Pelada, que nio admitiam a PM senio a distancia. Nesse perfodo, a PM imprimia sua marca na execurao de sentengas judiciais de reintegracio ou manutenago de posse, despejo e outras ag6es liti- giosas, mas sempre indo al6m dos limits estabele- cidos nos mandates. Mesmo porque quem a trans- portava, Ihe fornecia os meios e a recompensa era os autores dessas ag6es, os fazendeiros. Para eles, era mais eficaz e safa mais barato usar a forga pd- blica, que nio estava submetida a um control efe- tivo da sociedade e por isso exorbitava cor natu- ralidade e contumacia. Cor a liberalizagio polftica, a situaqio foi mudando. A polfcia jA nao podia ser usada, ao me- nos com a desenvoltura anterior, como milfcia par- ticular. t dessa fase a contratagio de numerosos grupos de pistoleiros, mas agindo nio mais disper- sivamente e sim como conjunto, sob a coordenagio de profissionais saidos da pr6pria polfcia, das for- gas armadas ou de empresas privadas de seguranga. Desaparelhada e despreparada, a PM deixou de tender as exig6ncias do novo moment. Sua fungio mais nobre passou a ser a de servir de ligagio in- termediria para o recrutamento de "quadros". O desnivelamento entire o policial military e o pistoleiro professional esta mais do que evidence nesse epis6dio de Pacajas. Tal correlagio de forgas nio seria fonte de problems se ambos estivessem do mesmo lado, como frequentemente estao. Mas quando se chocam, o resultado 6 que a seguranga pdblica esta ameagada porque a polfcia nao tern condig6es de dar protecao aos cidadios, seja indi- vidualmente ou em conjunto. A polfcia nao 6 mais a maior "expert" em seguranga pdblica, para garanti- la; na vanguard encontram-se os agressores da lei. Ningu6m sabe quantos pistoleiros profissionais ha em atividade no Para, mas todos os que acompa- nham essa atuaago concordam em que o ndmero vai al6m de algumas centenas. Ha os pistoleiros que agem isoladamente, como se fossem aut6nomos. 6 Mas ha as centrals, conhecidas como sindicatos do crime. Um dos mais poderosos dentre eles 6 o de Imperatriz, no Maranhio, de onde 6 originrio o pe- rigosfssimo Josimar Alves de Oliveira. Sem preci- sio, impossfvel de obter nessas quest6es, calcula-se que s6 ali, de uma forma articulada, haveria mais de 500 pistoleiros de aluguel. O Para, pela vizinhanqa territorial e pela conturbaago social, 6 o principal client desse "sindicato". Os pistoleiros transitam com poucos empeci- lhos de um lado para o outro dos dois Estados (ou- tro circuit important abrange o Piauf e o Ceara). Quem pensar neles tendo na mem6ria a imagem dos pistoleiros do velho oeste norte-americano criados por Hollywhood cometera um erro. Josimar, por exemplo, ,apareceu em Pacajas como um pacato vendedor de agdes de sadde. Outros sio, nas horas vagas, lavradores ou garimpeiros. Nio andam cor revolver na cintura, ner fogem a cavalo trocando tiros cor delegados. Quando sio contratados, rece- bem a arma dos clients, que os protegem durante os dias seguintes ao do atentado e depois lhes ga- rantem uma safda mais segura. Voltam entio para atividades que pouco tnm a ver com o crime. De- volvem atW a arma, que 6 conseguida atrav6s de ex- pedientes junto a esse meio-campo difuso entire o setor policial e a marginalidade. A ininterrupta carreira de pistoleiros ja famo- sos, como Zezinho da Codespar, ou o surgimento de personalidades que representam uma nova etapa dessa atividade, como o feroz ex-cabo Aragio, mostra que a pistolagem professional encontrou seus meios pr6prios de sobreviv6ncia, em relagio aos quais pode muito pouco a estrutura policial do Es- tado. O epis6dio de Pacajas ocorreu justamente no moment em que o governador H6lio Gueiros de- terminou a incorporaiao de mais mil homes ao efetivo da PM, de sete mil, parte considerivel ainda fora dos quart6is apesar da devolugio em massa feita pelo governador a partir da sede do governor (onde havia a maior relagio PM / "per capital" do pafs). Mas a PM s6 ter condig6es de former um quinto, no maximo, dessa cota e ainda assim sem se preocupar com qualidade. Mas como pensar em qualidade se um coronel da PM estava ganhando o equivalent ao vencimento de um sargento do Ex6r- cito? l claro que ha corondis ou mesmo oficiais de patente inferior ganhando entire 10 mil e 15 mil cru- zados novos por mes, al6m de outros oficiais da re- serva em faixa ainda mais elevada, mas eles sao uma excecao, que s6 se sustenta em fungao das distorg6es que se foram acumulando na corporaqio por injunc6es political. O que nao ter faltado 6 es- se tipo de interferencia, fonte de carreiras paralelas que afetam a consist6ncia do serving que a PM po- deria prestar a um dos Estados mais explosives do pafs. Sua contribuicgo, alias, ter sido mais a de in- crementar do que a de reduzir essa explosividade. Ela s6 nio 6 vista pelos que acham epis6dios como o de Pacajas casos isolados de violencia individual, quando eles sao o sinal de alerta para uma situag&o de gravidade que o organismo social nio consegue captar em toda a sua dimensio. Caso Batista: um rumo novo? Preso sob acusacio de participar do assassi- nato do deputado Joio Carlos Batista, cometido ha quase um ano, Roberto Cirino de Oliveira foi no dia seis de outubro a presence da jufza Yvonne Santia- go Marinho, no Forum de Bel6m, dizer que nada te- ve com o crime, apontou o pistoleiro P6ricles como o autor dos tiros contra Batista e fez varias outras acusag6es, que s6 nio tiveram maior repercussio porque apenas um journal, o "DiBrio do Pard", va- rios dias depois do depoimento, o noticiou. Robertinho, 21 anos, nascido em Soure, disse que havia realmente uma conspiraqio para assassi- nar o deputado do PSB, cuja lideranga political re- sultou de sua atividade como advogado de possei- ros. Pelo menos 30 fazendeiros estabelecidos ao long rodovia Bel6m-Brasflia, principalmente em Paragominas, se reuniam para tramar a eliminagao de Batista. No primeiro atentado, executado por P6- ricles e Catingueira, o tiro acertou o pai do entio advogado, sem mata-lo. Mas o segundo, em frente ao pr6dio onde o parlamentar morava, foi fatal. Ro- bertinho garante que, nesse dia, estava na casa de um compare no quil6metro 48 da Bel6m-Brasflia. Robertinho admitiu conhecer o empresario Joaquim Fonseca, do grupo Jonasa, dono de uma fazenda vizinha do Parque Eldorado, na qual tra- balhou durante dois anos e onde tamb6m conheceu P6ricles, mas negou que Fonseca estivesse envolvi- do na morte de Batista (o nome do empresario foi tamb6m associado ao atentado contra o ex-deputado Paulo Fonteles). Robertinho acusa, entretanto, os empresarios Josiel Rodrigues e Joevi Campos de participacao na morte de Batista. Os dois foram de- nunciados na Justiga e estao foragidos, corn manda- do de prisao expedido. Tamb6m foram relacionados ao caso Fonteles. Robertinho fez uma grave acusagao contra o delegado Brivaldo Santos, primeiro responsivel pelo inqu6rito da morte de Batista, dizendo que ele telefonou para Josiel da delegacia de Castanhal, alertando-o para fugir porque seria procurado. Dias depois da publicagao da noticia, Brivaldo defendeu- se argumentando que nio havia telefdne funcionan- do na delegacia de Castanhal. Robertinho disse ain- da ter assumido participagao no assassinate de Ba- tista por orientagao do advogado Paulo Rola, que assim queria proteger Josiel e Jeovi. Denunciou A jufza as ameagas que um filho de Josiel, conheci- do cmo Galego, estaria fazendo para forgi-lo a ino- centar o pai. As declaraq6es de Roberto Cirino s6 dio um novo rumo ao caso Batista porque as investigaq6es ainda sdo pouco consistentes e foram repassadas & Justiga sem condiq6es de definir um rumo certo ou pelo menos convincente. Robertinho se declarou vaqueiro de profissao, mas o relate que fez da pr6- pria vida nio deixa divida de que 6 mesmo pistolei- ro. Pode ser que tenha feito as declarag6es, modifi- cando seus depoimens anteriores, apenas para apro- veitar a oportunidade que o director do Presidio Sao Jos6 Ihe deu. Mas pode estar servindo a algum dos interesses que tem interferido sobre o process com a clara intengio de tumultua-lo, obstruir a apuraqio e fazer cor que mais esse acaso de violencia acabe, irresolvido, no arquivo morto da Justiga. Kayath assume sua candidatura 0 m6dico Henry Kayath quer ser candidate ao governor do Para em 1990. Mas para poder viabili- zar sua intengao ele tera que superar um dificil obstaculo colocado em seu caminho: anular o ato do president Jos6 Sarney que o destituiu da superin- tendencia da Sudam "por improbidade e desfdia" (ver Jornal Pessoal n0 50). A partir de uma acio por ele apresenda & Justiga do Trabalho, em Bel6m, na semana passada, comegarf a ser travada efetiva- mente a primeira batalha pela sucessao do governa- dor Hl6io Gueiros, cor lances dignos de uma com- plicada movimentafio em tabuleiro de xadrez. Ter recorrido a Justiga trabalhista demonstra que Kayath, depois de muitas reticencias, assumiu de vez sua candidatura, provavelmente com o estf- mulo senio o apoio, ao menos por enquanto de Gueiros. Ao mesmo tempo, confirm que o prop6- sito principal do governor federal ao atingir o ex- superintendente nao foi administrative, mas polfti- co: tornar Kayath inelegivel. Evidentemente, esse nio 6 um objetivo pessoal do president Sarney ou do ministry do Interior, Joao Alves, responsaveis pela consumagao e pela sugestio da media. Ela interessa apenas ao ministry da Previdencia Social, Jader Barbalho, inspirador da forma adotada para exonerar Kayath, cor desonra. Jader quis afastar, com um golpe de mestre, o concorrente potential. Trata-se de fato de um golpe politico. Cor as armas de que dispunha, contidas nos autos do in- qu6rito realizado por uma comissio que Joio Alves designou, o governor poderia simplesmente ter afastado Kayath, cor base no Estatuto do Funcio- nario Pdblico. Ou, mesmo recorrendo a CLT, res- peitando o dispositivo da Consolidagio que veda a declaragao das raz6es da dispensa por just causa. Ao optar por exonerar o superintendent pela CLT, mas anotando a motivagio do ato, o inspirador do decreto assinado por Sarney estava menos preocu- pado com os desdobramentos judiciais da media. O que pretendia era enredar Kayath nas malhas do process judicial de tal maneira que nio conseguis- se se livrar delas a tempo de poder candidatar-se ao governor. Ambos sabem que demissio por just cau- sa no servigo ptblico 6 causa de inelegibilidade. Mas Kayath ajuizou sua agio no TRT prova- velmente confiando na celeridade que tem o proces- so numa instincia de rito muito mais sumrrio do que o da Justiga comum, onde ele melhor poderia contestar o m6rito do ato presidential, mas nio a tempo de poder inscrever-se as eleig6es de 1990. Mesmo com essa vantagem, o ex-superintendente comecou uma dificil corrida contra o tempo. De- pendendo do desfecho do caso, ele teria que estar em plena condigio de registrar-se como candidate em janeiro (na hip6tese de pedir a revisao do de- creto presidential para reassumir a Sudam) ou em abril (se estiver apenas na condiiao de cidadao, que deve ser a alternative escolhida ). Socilar: liquidante acusa dirigentes Os dirigentes da Socilar Cr6dito Imobiligrio, que era a maior do setor na Amaz6nia, podem ser denunciados pela pritica de crimes contra o Sistema Financeiro Nacional se o Minist6rio Pdblico federal endossar a posigio do liquidante da empresa, no- meado pelo Banco Central. Durante o process de liquidagio extra-judicial da Socilar, a comissao de inqu6rito apurou fatos "que sdo passiveis de confi- gurar a pratica dos ilicitos previstos na legislagio penal especifica como crimes de agio ptblica", in- formou a liquidante, Maria de Nazar6 Soares, em comunicagio enviada no m6s passado ao Procurador Geral da Repdblica no Pard. Ela diz que uma s6rie de "crimes contra o Sistema Financeiro Nacional" podem ter sido prati- cados por ex-dirigentes da Socilar, A frente dos quais estA Armando Carneiro, que exerceu mandates politicos at6 1964 e 6 irmao de Oziel Carneiro, candidate ao governor do Estado em 1982 e ocu- pante de virios cargos pdiblicos. Armando 6 o cabe- qa do grupo Carneiro, que compreende outras em- presas e represent uma famflia cor tradigio no Estado. A liquidante pediu tamb6m que fossem de- nunciados os dirigentes da Casul (Construtora Am6- rica do Sul), FlAvio do Espirito Santo e Aldebaro Barra. Todas as irregularidades apontadas pela liqui- dante da Socilar foram praticadas no financiamento e na construcio do conjunto residential Geraldo Palmeira, corn 1.100 unidades. O contrato cor a Casul, no valor de quase 2,2 milh6es de OTNs, foi assinado em junho de 1986, mas recebeu virios aditivos at6 janeiro deste ano. Justamente nesses aditivos 6 que a comissao de inqu6rito encontrou os desvios, diz Maria de Nazar6 Soares. A Casul recebeu 3,2 milh6es de OTNs al6m do valor contratual (quase 30 milh6es de cruzados no- vos, em valores de margo deste ano). A Socilar deu a quitagio total do financiamento, Imds a Casul dei- xou de amortizar quase dois milh6es de OTNs. A Socilar liberou o equivalent a 4,8 milh6es de OTNs para a construtora, embora, para concluir os 30% da obra que ainda faltavam, ela s6 precisaria de 1,3 milh6es de OTNs. Gragas a manobras nas datas das assinaturas dos contratos de financia- mentos, desonerando a construtora de alguns encar- gos, a Casul deixou de recolher 290 mil cruzados antigos (valor nao atualizado pela liquidante). Os peritos do extinto BNH chegaram A conclu- sio de que os im6veis foram comercializados por preqos mais de quatro vezes acima dos valores de mercado (o que justificaria a apresentagio de agio civil piblica "para a defesa dos direitos dos mutui- rios, por parte do Minist6rio Piblico"). Afirma a liquidante que, "por mera deliberaqio de seus di- ,_.Xctores, sem autorizaqio legal e respaldo regula- mentar, foi autorizado o financiamento total das ,unidades integrantes do Conjunto Geraldo Palmeira -(100%), quando o permitido 6 de 90%". --,- Acrescenta que os ex-dirigentes da Socilar es- .: tibelecem os juros de 3,5% ao ano, "quando os ju- ,.'rds eram de 10%, e fixaram o prazo de financia- *: neruo em 300 meses, "quando o permitido era de 18l, meses". Essas "liberalidades" representaram Sum ganho equivalent a quase 3,4 milh6es de OTNs Spaq a Casul. Mas a empresa ainda foi brindada cor ) "mps ,101 mil OTNs porque Armando Carneiro dis- 'rensou-a do pagamento de juros. "Este ato isolado praticado pelo referido ex-diretor nio poderia ter sido feito, pois de acordo cor o artigo 154 da Lei das Sociedades An6nimas 6 vedado aos administra- dores praticar atos de liberalidade A custa da com- panhia", observa a liquidante. Ela informa que a decision de Carneiro "afetou o Sistema Financeiro Nacional, pois a importancia que foi dispensada de ser paga pela Construtora deveria ter sido repassada ao FAL, Caixa Econ6mica Federal e Companhia de Seguros". Desde o dia 24 do mes passado a comunicagio da liouidante da Socilar esta na Procuradoria Geral da Repdblica, em Bel6m. Maria de Nazar6 compro- meteu-se a apresentar novas provas para reforqar a convicgqo do Minist6rio Piblico a apresentar a de- niincia contra os ex-dirigentes da Socilar, afastados dos cargos quando foi instaurado o process de li- quidagio extra-judicial da empresa. Mera coincidncia ? No dia 8 o president do Banco Central, Wadi- co Bucchi, decidiu declarar cessada, a partir dessa data, a liquidagio extra-judicial da Socilar. Em conseqiiuncia, dispensou Maria de Nazar6 Vieira Soares das fung6es de liquidante. Nao foi dada ne- nhuma explicagio sobre as raz6es dessa decision, que havia sido antecipada virios dias antes por nota publicada em uma das colunas de um journal de Be- 16m. A suspensdo da intervengio do Banco Central na Socilar e a dispensa da liquidante nfo afetarfo a comunicagio feita ao Minist6rio Pdblico federal, mas impedirao, obviamente, que Maria de Nazar6 fornega mais documents ao procurador Jos6 Au- gusto Torres Potiguar, para quem o pedido foi dis- tribuido na Procuradoria da Repdblica no Pard. A ex-liquidante deixara claro, em sua petiqio, que as investigag6es ainda estavam em curso e ela poderia apresentar novas proves. I Jonal Pessoal Editor responsivel: Lucio Flavio Pinto Enderego (provis6rio). rua Aristides Lobo, 871 Belim. Pari. 66 000 Fone: 224 3728 DiagrarmaCio e ilustra4io: Luiz Pinto Op;Fo Jornalistica |