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K-yi 1.4 ...S 4 e-27 gs.:' ~~ - '-.,'' "-' ." -7 ? . ,.as., ,"">. .' r-C 4 A1s~,a 'At' .;; ~L - N~' *~~ A~ I -, ,j % .*r.", ' ~' 7' v I., A.LGUNS- MOV1IME-TOS CONTRA -ACULTURATIVOS DO MODEST" ._ - r , . ; ,. ..-" : ; '"'~3 "-x ', :- : " o.. ,. ..L ;. ,-. :_, ii b,;, ,. ..' : . -" . . t : '_,;' ' .r .. -" ". ", " , ,, : . ::-; '_' ", .. .,,, .. .:,... . - ..... , ':.? : ;. ]o, ',,4 ., IL .' ,: . .. ,." ..-..;.. -; .; :; ,. ~ ,.... -., ":-';.- ,.. . : :: -, ,. .,: s., *. ... . ; - ,,:. : ; .DO N IR DIST,' -.7 t- , i~ -". -,,. -. *- *' * :9f A.. , ..*'-,. \ - W**' ^ ,.- . :,, ; l l .- .; _. 0 lI .: ." - a -"t' .. .-" . ir$ -/* '" * .. - t^.", . _, ' :..: . ,-I . I - -.;; * 'I' ;4 ,. - ,,y -... .-" ^ -' *" ." i-, -' .- ' .: ...A*-- .-, . :~,:.,, " r*" I , ,,-,.... .'. "."" '*1 ,- a =.j. .. .. ": : .. ' .... .: .....s~ :. ,,,N- ..L * jL t - *'' TESE DO CONCURSO A DOCENCIa LIVRE - ' 'DA CADEIHA DE ANTBOPOLOGIA E ETNO- ORiFIA DA FACULDADE NATIONAL DE. - I OSOFIA. .'. 4 R. I -OSO ., .. "' ':" ., ,, .:.4 -,- - L * ;' '. *- :. ,,A.. . -- .. . .... . , ""- .' A *- '" " -. . ""_ .- " .::.. ,' : _-,., ,!, .e ;:-' 0,. : :-:* " ; *. -, . .- . .- *'A ": ., '",v ,- - 4 ..... ' _. .-* :. "* :- .. . .. -- : .. V - ^ ."' .- :": .. ;, _- '."-: .. "- ..-. .. :. _; ., . -..:,, :. U . ...,, v ;. o:-, o. .= ;-m "', ,: ": *- '." "" *' '._.'" . " -" : '" _; :t " -' : :!- " "-:. -. .,; }' -,' ;2 '., .t ,. ,". .:- L ... - -A -Si""-?1' i ; .. * -1 --. .. '- "- : -'- *- "*" 'W4 -4 l -. -. -, . -V- l ,"" ".. ... "-., ." -' .. "T-w : .- . -.- ,. ."- . S- . -. .... ... - .--- " ". . :'". -'.4-' '.. - .Z . . -- : ` N_. -, .. .. .*. .- SK ^ : .^... '-.. .. i~ ,..... ", :.. -0 Marina Sao Paulo de Vasconcellos ALGUNS MOVIMENTOS CONTRA-ACULTURATIVOS DO NORDESTE. Tese do concurso a Docencia Livre da Cadeira de Antropo logia e Etnografia da Facul dade Nacional de Filosofia. Rio de Janeiro 1949 PREFACIO A interpretagao de umi assunto cientifico em bases metodologicas deve ser a primeira etapa para uma real compreensao. ], justamente, partindo de uma nomencla- tura exata e estudando os problems sem falsos senti- dos, que se consegue chegar a uma conclusao, e cque, em- bora nao constituindo para alguns a melhor, tem contu- do, o merito de uma apresentagao sem meandros,sendo, a- bsolutamente, objetiva. 0 que tentamos realizar com o trabalho apresenta- do, e o estudo, em bases antropologicas, "latu sensu", de alguns dos muitos movimentos de reagao fen6menos contra-aculturativos que aparecem na nossa historia patria. E como historia patria, compreendemo-la como um mosaico dd cultures de diversas origens que, si em numerosos casos se adaptaram e se interpenetraram, em outros foram verificadas repulsas, revoltas, culminando com verdadeiras lutas armadas. 2sses "movimentos contra-aculturativos" que tambem sao encontrados em todas as cultures das terras,consti- tuem a expressao mais tipica de uma reagao contra pode- res de dominagao, impostos violentamente, e sao uma res posta psicol6gica, das mais convincentes da mente huma- na, a quaisquer atos que possam violar, esfacelando, os padres culturais de um grupo. A interpretagao antropologica, no Brasil, dresses fatos sociais, parece-nos, que a nao ser pelo 40040=- - 2 - -A-M mestre Arthur Ramos, nas suas obras ja classicas, nao foi tratada. Sem duvida, sao numerosos os estudos hist6ricos sobre o assunto, as interpretagoes socio-eco- n6micas e as investigagces geograficas. Mas, a anali- se do factor cultural como element fundamental da expli cagao das reagoes, nao foi ainda tentada. Nosso objetivo e, portanto, estudar esses movimen- tos, buscando as explicagoes na personalidade humana que se projeta no cenario cultural e que e por &le influen- ciada, constituindo um dos mais recentes capitulos dos estudos antropol6gicos, "personalidade e cultural onde se ve que o individuo nao e apenas o element fisiol6gi- co mais o hereditario, mas 4 uma sintese dos dois prime ros, adicionaros a sua poderosa contribuigao psico-soci- al. 0 home, o portador da cultural se desenvolve dentro do seu context cultural e portanto, ele pensa, senate e realize, de acordo com a cultural do seu grupo. Essa interpretagao home e meio cultural- e inces sante, e sem substimar o valor do individuo, poderiamos aceitar a ideia paideumatica de Frobenius, na sua conce- pgao de que a culturala atravessa o homem. Hoje, mesmo que se queira dar um sentido metafisico ao "Paideuma", vamos verificar, nos conceitos modernos de cultural, como o sabio alemao teve razao, em enaltecer a importancia do mecanismo cultural. E, si o pensamen- to organicista de Frobenius deixava-se, as vezes, levar por um certo evolucionismo, contudo, foi ele, um marco basico, na avaliagao do comportamento cultural do home. - 3 - Estudando as reagoes culturais ocorridas em nossa historia, que tem origens varias, teremos oportunidade para realizar o metodo preconizado pelo grande Raimundo Nina Rodrigues: Comparar as cultures alienigenas em seus habitat de origem, como se comportaram no novo am- biente e qual o resultado aculturagao depois dos em bates das outras cultural. A"contra-aculturagao" e, pois, um capitulo,onde as sobrevivencias de outras cultures vem tona na mental dade do grupo e, lutando contra os padres de cultural estabelecidos, querem sobrepujar, ocasionando reagoes especificas, desde as simplesmente individuals, at6 as coletivas. Os resultados absolutamente imprevistos po dem, aparentemente, ser considerados il6gicos, si a ob- servagao for superficial, sem procurar as origens dos fatos. Foi o Nordeste, o ponto que escolhemos para as nos sas observagoes. Regiao por todos os aspects muito caracteristica, apresenta no setor do nosso trabalho,os mais interessantes dados. Sua geografia, seus recur- sos economicos, sua formaQao etnica, constituem um pal- co especffico, onde as reagoes contra-aculturativas sao em nimero apreciavel. Como as mais representativas,a- chamos que PEDRA BONITA, CANUDOS e JUAZEIRO DO NORTE,po dem fornecer os melhores exemplos. Tambem nao poderi- amos deixar de mencionar aspects que muito se relacio- nam com esses movimentos o cangago e os surtos de mis ticismo. -4- Quando fazemos Antropologia, estamos estudando o principio da dinamica cultural, no conceito da continue modificagao do fenomeno da cultural, atraves dos seus fa stores intrinsecos -a inventive humana e, notadamente, dos aspects extrinsecos contact e emprestimo cultu- rais. Dentro, pois, dessa "mudanga cultural", vamos en- contrar os dois processes explicativos da criagao e da transformagao da cultural: o convergentismo, paralelis- mo ou evolugao independent e a migragao ou difusao. 2sses processes sao, evidentemente, realizados pelo ho- mem, objeto preclpuo dos estudos antropologicos. A posigao ecletica deve orientar o antropologo nas suas pesquizas. Dentro dos criterios modernos da compreensao meto- dologica, e a fungao que imphrta na explicagao do feno- meno cultural em correlagao com o context. A descri- 9ao, por mais pormenorizada que seja feita, sua locali- zagao geografica, exatamente fixada, sao auxiliares u- teis, sem duvida, para enriquecer a explicagao. Mas e, essencialmente, a pesquiza da fungao, de como o elemen- to cultural, material ou nao-material e olhado e utili- zado pelo grupo, que vai permitir o conhecimento da con figuragao cultural do grupo. Isto nos leva a uma cada vez maior aproximagao cor a modern psicologia, que compreende o valor da cultu- ra, na apreciagao do individuo. Dividaios o trabalho apresentado, em quatro Capftu los, e, pensamos com isso abranger os aspects fundamen 5 - tais desse assunto; a ambiencia, tomada em seu sentido geografico; o home da regiao, responsavel pelos acon- tecimentos, numa pequena analise de suas possibilidades e problems; um retrospect hist6rico dos tries princi- pais movimentos,escolhidos como os mais tipicos na con- tra-aculturagao, expressao do desajustamento cultural e sobreviventes de padres e estagios culturais anterio- res, que, por circunstancias varias,apareceram como re- agoes especificas, anacrSnicas, as vezes; o ultimo Ca- pitulo vai se referir a exposigao e interpretagao do fe nomeno cultural e das suas varias fases, aplicadas ao tema exposto. 0 nosso trabalho e, pois, a consequencia dos anos de aprendisagem continuada com o Mestre Arthur Ramos a quem devemos a compreensao e am6r aos estudos sociais. - Rio de Janeiro, 25 de Abril de 1949. Marina Sao Paulo de Vasconcellos - 6- CAPITULO I A REGIAO DO NORDESTE. Breve que seja o estudo da regiao nordestina,sob o aspect geografico, e impossivel, dentro do conceito da compreensao total do home, afasta-lo do solo,palco in- dispensavel as atividades humans. O prop6sito e fazer ressaltar a importancia do meio, suas fundamentals propriedades, suas influencias sobre o homem e as respostas que esse home da, de actrdo com a sua mentalidade de adaptagao e invengao. O Nordeste aqui referido, e o do "sertao", da re- giao semi-arida, com chuvas irregulares po Nordeste das secas, da zona da cultural do milho, como diz Josue de Castro, e da criagao de gado. E o "Outro Nordeste" de Djacir Menezes, que nao apresenta as riquezas do lati- fundio agucareiro, mas que 4 tao important quanto aqul le, na formagao da unidade brasileira. Cerca de 670.000 quilSmetros quadrados, segundo o Boletim ng 1, vol. 59, 1936, da I.F.O.C.S., estendem-se para o sertao nordeste, abrangendo desde a margem direi ta do rio Parnaiba, cuja bacia pode ser considerada co- mo divisor entire as duas regioes do Nordeste Nordeste Ocidental com a mesopotamia maranhense e o Nordeste Ori ental ate as margens do Itapicuru, na Bahia, ocupando portanto, uma vasta zona, que contem parte leste e cen- tro do estado do Piaui, Ceara, Rio Grande do Norte, Pa- -7- raiba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e parte centro-nor- te da Bahia, excetuando-se a faixa costeira, que, desde o litoral riograndense do norte ate o baiano,oscila ate 300 quilometros de largura, mas numa media de 80 quilo- metros. 0 solo do sertao e constituido de rochas cristali- nas com predominancia de mica-xistos, onde, em various lugares, aparecem intrusoes de granito, diorito e com- plexos de greda, que, alternativamente com camadas de calcareo, recobrem a base arqueana, com uma espessura de 500 a 700 metros. Os taboleiros al existentes, po- bres em argila de decomposigao, o que Ihes da uma tona- lidade mais esmaecida, sao recobertos de pouca terra a- ravel, atingindo de 700 a 900 metros de altura,mostran- do um aspect arenoso e numerosos seixos mais ou menos arredondados. 2, pois, num estudo de conjunto, o solo do Nordes- te, uma peneplanicie cristalina de altitude pequena e que decresce a vizinhanga do mar. As chapadas e ser- ras Ibiapaba, Araripe, Borborema, Baturite sao os a cidentes mais importantes nesta regiao. 0 efeito erosivo das aguas correntes e do calor so lar sobre o solo, e grande, e os boqueiroes constituem importantissimos acidentes na geografia nordestina, uma vez que, oferecem lugares favoraveis a construgao debar ragens, pois represam a agua das chuvas. 0 sistema hidrografico do nordeste e de carter torrencial e dai, a sua tendencia de, no verao, suas a- guas se reduzirem, e parecerem pequenos lagos que vao -8- secando. S6mente sao perenes, os rios perto da foz,de pois de terem provindo do interior, s6bre terreno rocho so e de grande declive. 0 Sao Francisco, o Parafba e seus maiores afluentes e o Itapicuru (no Maranhao),pela constituigao do leito onde correm, sao perenes,desde as suas nascentes. O regime de chuvas e irregular, com variagoes acen tuadas. Nos meses de Dezembro a Maio, as chuvas caem mais ou menos torrencialmente, quando o ano 4 "inverno- so". Si o ano 4 menos invernoso, comegam as chuvas em Janeiro, ficam ausentes em Fevereiro, recomegando emMar go, para findarem em Maio, e, no caso do ano ser escas- so em chuvas, estas so aparecem em Marco, para findarem em menos de tries meses. Nao havendo chuvas depois do equinoxio de Margo, a regiao padecera da seca. 2stes periodos de estiagem que aparecem em nossa hist6ria desde 1692, segundo I. Joffily,repetiram-se pe riodicamente, em 6poca mais ou menos decenal, diz o Dr. Thomaz Pompeu, e coincidindo com periodceidenticos da Africa Oriental e Australia, pensa o Prof. Quelle,que esses fenomenos sao produzidos por deslocamentos de a- reas de alta pressao. A primeira seca de 1692, diz ainda I. Jofffly, oca sionou uma grande debandada de indios, que, em grupos, cairam sobre as fazendas das ribeiras, saqueando-as,en- quanto que outra parte da populagao, migrou para as la- vras de ouro, em Minas Gerais. 0 grande poder de evaporagao pela elevada tempera- tura e a constituigao do solo que impede o armazenamen- - 9 - to da agua, tornam mais penosos os aspects das secas. Certos pontos do Nordeste foram considerados "cala mitosos", em fungao das secas, e, uma carta foi levant da por F. Freise, mostrando que mais do que outras re- gioes, o Ce-ara, o centro e o oeste do Rio Grande do Nor te, da Paraiba e de Pernambuco, estao sujeitos a severe dade climatica e portanto a repetigao das estiagens. Ro dolfo Theofilo diz que e o Ceara o estado que sofre corn mais intensidade e mais repetidas vezes, o flagelo das secas, dando como explicagao o solo com taboleiros du- ros e arenosos, acentuada inclinagao do terreno per- o mar, o que permit grande escoamento das aguas na esta- gao invernosa e ainda a nao existencia de qualquer rio perene. 1 tao important o fenomeno das secas na vida do nordestino, que 4 possivel dizer com Jose Americo de Al meida: "toda a psicologia do povo ficou dominada pelo concerto da seca". a o folc-lore que nos vai dar, nu- ma "tirada", o valor dessa influencia, quando da seca de 1877/78: "Que e feito dos cangaceiros Que dominavam Teixeira? Deu-lhe a fome uma carreira; Foram esbarrar no lameiro. Que de homes de dinheiro Que ralhavam no sertao? Que 6 feito do valentao Que cevava o guarda-costa? Vive tudo de mao posta, Dizendo Deus dai-nos pao." Jose Americo conta-nos, que, a partir de 1711 ate 1915, houve dezesseis secas, dando todas grandes preju- - 10 - izos e algumas de terriveis consequencias, como a de 1877/79 e a de 1790/93, que foi chamada a "grande seca", com o aparecimento de morcegos. Guy Lassere cita tam- bem, como das mais importantes, a de 1928/31. No solo nordestino, de caracteristicas tao marcan- tes, tries tipos de vegetagao, vao diferenciar este ser- tao, dando-lhe fisionomias diferentes, em sub-areas per feitamente definidasg o agreste, a caatinga e o alto sertao. 0 primeiro 4 sem duvida um ultimo brago da flo resta umida do litoral, pois nele, existe sempre um pou co de agua para vivificar as florestas espinhosas que a li existem; no alto sertao, as savanas e os carnaubais, tornam, pela existencia de um clima menos inclemente, a vida humana menos dificil. 2, porem, azona da caatinga, a que caracteriza o nordeste semi-arido e sua grande extensao, pois abrange quasi todo o interior dos Estados do Piaui, Ceara, Rio Grande do Norte, Paraiba, Pernambuco, Alagoas,Sergipe e norte da Bahia, da para quem a ve de long, na estagao seca, aquela nota de mancha acinzentada,constituida por uma faixa de arbustos e de formagoes herbaceas. 2, sem duvida, a caatinga, o resultado da luta da vegetagao con tra a seca e a perda das folhas, as possibilidades para guardar agua nas suas raizes e caules, sao demonstra- 9oes frizantes dessa luta. As juremas, os angicos, o pau-pereiro, o pau-d'arco, os xiques-xiques, os mandacarus, as corSas de frade, as barrigudas, as macambiras, os juazeiros,as carnaubeiras, vao, entire outras, caracterizar uma flora tipica, que o - 11 - home aproveita em sua vida diaria e tira dela o maxi- mo, quando a ameaga da seca bate as portas, usando ate o xique-xique, a macambira e o gravata, para a sua ali- mentagao e a do seu gado. Ate mesmo a mucuna, bem la- vada, que 4 conhecida em Pernambuco e Bahia,segundo Al- meida Pinto, como coroa de frade, de propriedades noci- vas conhecidas, e usada como alimento nas grandes secas. Tao prejudicial 4 esta leguminosa, que diz um ditado po pular: "A mucuna suja, mata, e lavada, aleja". A pesca, a'pequena agriculture e a criagao, notada mente esta, dao ao nordestino facilidades de melhoria na alimentagao e maiores possibilidades na vida economic ca. n neste ambiente geogrifico, de luta adaptativa, que o sertanejo vive e exerce seu trabalho. E as chu- vas benfazejas que modificam periodicamente a paisagem, com uma rapidez que deslumbra, tornando verdejante o que na vespera era desert, da ao home aquele desejo inten so de voltar a terra, si, pela imposigao das grandes es tiagens, ele se tornou um retirante. - x - - 12 - CAPITULO II 0 HOME DO NORDESTE. O home do Nordeste ter que orientar sua vida no principio da luta para a sobrevivencia. Sua tradicio- nal forga de vontade, deu ensej.o a "Sertoes", concreti- zagao da genialidade de Euclides da Cunha. Proveniente de varios cruzamentos do branco e do indio, e o sertanejo um mameluco resistente e afeitomais ao trabalho que condiz melhor com os padres culturais de onde se originou: a criagao de gado. Foi a extinta ou quasi extinta familia Cariri, que forneceu a base etnica indigena para essa populagao,pois estendendo-se em todo o Nordeste, desde o Paraguag6 e o Sao Francisco ate o Gurupi, travou luta contra os Tupi' que a empurrou para o interior. Mais tarde,com os co- lonizadores lusos, novas e memoraveis lutas foram trava das, durante anos, inquietando constantemente os portu-; gueses. Constituiam os Cariri- numeroso grupo linguistico, subdividido em varias tribus: Tremembe, Jandui,Ic6,etc. A mais recent classificagao desse grupo por Chestmir Lcukotka, admite certas intrusoes com os grupos Caribe e Camacan. 0 contingent negro foi muito pequeno e po demos mesmo dizer, que sua contribuigao, quasi nula na vida do nordestino do interior. As mestigagens entire brancos e indigenas, entire mamelucos e brancos e entire mamelucos e indlgenas continuaram a se processar, e,ho- - 13 - je nao ha mais popula(oes indigenas puras, a nao ser talvez, alguns 0, em Aguas Belas. Assimilados, tanto indigenas como mamelucos foram denominados de "nordestinos", "sertanejos", "cabbclos", passando a constituir a populagao da regiao. A preferencia para a criagao de gado, prende-se as tentativas frustadas dos colonizadores para encontrar minas de ouro e pedras preciosas. As primeiras cabe- gas de gado, deram entao origem aos grandes rebanhos que tornaram depois o nordestino, essencialmente, um criador, embora fizesse s-as pequenas rogas, que segun- do Josue de Castro, "vieram constituir um magnifico ele mento de valorizagao das condigoes de vida regional". 3, pois, esse sertanejo, simples e bem humorado", contemplativeo, musicista e dansador e sobretudo narra- dor", segundo A. J. de Sampaio que, demonstrando a qual quer moment sua bravura, vai com valor e fanatismo,ser itor ou mesmo responsavel, por fatos caracteristicos que o podem levar ate ao exterminio proprio ou alheio, na defesa de suas ideias. Muito novo, o sertanejo ja participa ativamente da vida de seu grupo. 2 vaqueiro e embrenhando-se nas ca atingas, conhece como movimentar-se e como aproveitar a flora regional tanto na epoca de fartura como na de po- bresa. Aprende, na zona brasileira que "contem maior sentido de tragedia", como diz Josue de Castro,desde lo go, na escola viva da experiencia, qual o comportamento adequado para a sua sobrevivencia. Ao lado dessa aprendizagem vivida, ter tambem oser - 14 - tanejo, o notavel acervo das tradigoes, que atraves dos ditados populares, das oragoes, mesinhas e trovas,de u- ma riqueza folcl6rica extraordinaria, a que se apega de modo absolute, e que vao ser, muitas vezes, os roteiros para as suas agoes e processes de trabalho. Tal e o e xemplo de "cura de bicheira". Quando alguma res esta atacada, para que procura-la e traze-la para o curral, si, no alpendre da casa, o sertanejo e seus companhei- ros, acocorados e voltados para o lugar onde foi visto o animal, escrevinham no chao e rezam ou colocam a mao no rasto do animal doente? Sao metodos infaliveis e, si seus antepassados usaram com "bons resultados", nao ha motives para que se usem outros. Falemos, agora tambem, da importancia das "experi- encias" para os prognosticos das chuvas. Si no dia de Santa Luzia, 13 de Dezembro, chuviscou, o mes de Janei- ro tera chuvas. Neste dia tambem sao colocadas seis pedras de sal ao sereno, representando os seis meses do ano; a pedra que amanheceu mais dissolvida, represents ra o mes mais chuvoso. Da maneira de aparecer a auro- ra de Natal e Ano Bom; o cerco da lua; o ocaso do sol; o florescer premature ou demorado do imbuzeiro, do pau- d'arco, do facheiro; o canto e a migragao de certas a- ves; o coaxar das ras; as "mudangas" de certos inse- tos e como se partem as h6stias nas missas de Natal, constituem processes exatos para a predigao das chuvas ou das secas. E conforme sejam os resultados dessas "experiencias", o sertanejo permanece na sua terra ou preve uma retirada. 15 - Quem estuda o home do Nordeste da caatinga, veri- fica que potential human extraordinario esta nele con- tido o investigando as causes de suas sedig-es, de seu cangago, do fanatismo pseudo-religioso, das suas cren-- gas cegas em alguns homens-guias, conclue que e1e refle te a cultural do grupo, o que possibility a compreensao do seu comportamento. Com uma ameaga pairando s6bre suas vidas a sca - acarretando o nomadismo como corolario, pequena densida de demografica, com o trabalho de criagao oqe Ihe da u- ma grande liberdade, tradicionais lutas de terras, des- de as concessoes das sesmarias que explodiram nas lutas politicas dos pequenos chefes locais e consequente for- magao das oligarquias politicas, tudo isto repousando s6bre as bases 6tnicas lusa e indigena nas suas constant tes lutas, o sertanejo esta, evidentemente, inclinado a desforra pessoal. Diz Jose Americo de Almeida que o canga9o ter ori- gem na instituigao dos guardas-costa, defensores das fa zendas ameagadas pelos indigenas e que chegou a ter um carterr de milicia permitida e depois tolerada pelas autoridades", estas pouco eficazes na protegao da popu- lagao. Mais tarde, abolido o perigo dos ataques indf- genas, nao prescindiram os fazendeiros dresses valentes, que lhes davam forga para continuar resguardando suas propriedades e tambem Ihes possibilitavam conquistas territoriais futures. Existia, portanto, uma "paz armada", e a "psicolo- gia do valentao" vai se robustecendo e tornando-se sam- - 16 - bolo do verdadeiro valor do home. A preocupagao dos proprietarios de atrair "cabras de confianga", vai tra- zer, posteriormente, o aproveitamento dos criminosos que ofereciam seus servigos, em paga da protegao dos senho- res. Se, porem, o auxlio dos capangas nao tinha mais razao de ser, tornava-se mais facil para esses, associ- arem-se a alguns, e entao former bandos, que eram em muitos e muitos casos, favorecidos pelos governos lo- cais, ou mesmo estaduais, continuavam seus misteres de "protegao". Mas nao se queira dizer cor isto, que nao possuiam estes individuos habilidades que lhes permits sem ganhar a vida. Gustavo Barroso, em "Lampeao e ou- tros cangaceiros", cite uma trove interessante a respei to: "Querendo tange comboio Inte sou bom comboeiro; Querendo faze sapato Inte sou bom sapateiro; Querendo anda no cangago Inte sou bom cangaceiro Que isso de mata gente So servigo mais maneiro." 0 que admiral o sertanejo e a coragem pessoal, a bravura na luta, e sua concepgao de dignidade pessoal, de hon- ra, muito a fl6r da pele, esta intimamente relacionada com a atividade economic da criagao de gado,sabido que o ep teto "ladrao de cavalo", 6 uma das maiores ofensas. Uma trova nos da um exemplo do significado da reagao in dividual para o nordestino: - 17 - "0 cangaceiro valente Nunca se rende a soldado, MIelhor e morrer de bala Cor o corpo cravejado Do que render-se a prisao Para descer do sertao Preso e desmoralisado." A idea de liberdade do home do sertao, serve de base para a admiragao que acompanha a vida aventureira do cangago, e o folc-lore, espelho das reagoes popula- res, vai nos dar a afirmagao das possibilidades do can gaceiro: "Cbiando Deus o Brasil Desde o Rio de Janeiro Fez logo present dele Ao que fosse mais ligeiro; 0 Sul e para o Exercito! 0 Norte e pra cangaceiro'" E voz corrente no sertao, que o sertanejo foi,ini- cialmente, vitima da justiga: pessoa ou pessoas de sua familia, teriam sido vitimas de assassinos que ficaram impunes. Portanto, o cangaceiro ve-se na contingencia de fazer a sua pr6pria justiga. A literature, a este respeito, e vasta: Cabeleira, Conduru, Rio Preto,Adol- fo Meia-Noite, Jesuino Brilhante, Cirino Guabiraba, An- tonio Silvino, Virgolino Ferreira da Silva (Lampeao) e seus companheiros, que tambem se tornaram conhecidos: Colchete, Jararaca e Volta Seca. Que e, pois, o cangago, senao uma expressao social motivada por todas as causes que viemos citando, forta- - 18 - lecidas pelo baixo padrao de vida que Ihe acarreta a ca rencia alimentar, ignorancia, falta de transport? Se, de um lado, ha a extroversao da personalidade do sertanejo para o cangago, como uma resposta violent a falta de justiga, por outro lado, dentro desse pr6pri o meio, vamos encontrar o fanatico, consequencia, como diz Djacir Menezes, da reagao mistica. Mas, nao h. barreiras intransponiveis entire o ban- doleiro e o fanatico. nste, na defesa de seus pontos de vista, pode arregimentar comparsas, e 1ee pr6prio o sera cangaceiro, chefe de bando, pronto a praticar vio- lncias que justifica e julga necessarias. Nem se di- ga que o mais celerado dos cangaceiros nao participa de urn intense misticismo que se manifesta segundo as mais variadas f6rmas, orando antes da pratica de um crime, trazendo medalhas cor efiges de santos ao lado de amule tos e, sem vacilagoes, aceitando como entidade divina, qualquer individuo que Ihe parega de certas virtudes. Merecemespecial referencia dentro desse grande ca- pitulo do fanatismo, certos "beatos" e "penitentes",que vivendo da caridade public, justigando-se atraves de jejuns prolongados e o uso de cilicios, vestindo tuni- cas, falando em calamidades proximas, e reunindo-se jun to aos cemiterios para orar pelos defundos, merece-m das populagoes sertanejas um grande respeito e auxilio. Muitas vezes, a esses aspects, ainda o fanatico junta outro: o de curar. este charlatao, involunta- rio muitas vezes, pois o faz plenamente convencido de suas propriaspossibilidades e de sua intima participa- - 19 - gao com poderes sobrenaturais, tem prestigio, pois, re- presenta para o seu grupo, a pessoa "qualificada" para combater-as enfermidades. 0 home do Nordeste... deste nordeste das secas,da caatinga, da criagao de gado, do conceito da mais ampla liberdade, cor uma especificidade interessantissima no cangago; o home que aceita e cre nos "santos" e curan deiros..., e este sertanejo rijo, sintese de todas es- sas caracteristicas, que num surto de vida e de ener- gia, vai contribuir, para a formagao da nossa etnia, re sultante que e de uma continuada miscigenagao e acultu- ragao. - 20 - CAPITULO III RETROSPECT HISTORIC; Pedra Bonita; Canudos; Juazeiro do Norte. Parece-nos que, entire os movimentos coletivos ex- troversos mais tfpicos para a exemplificagao e interpret tagao dos fenomenos contra-aculturativos, estao Pedra Bonita, Canudos e Juazeiro do Norte. Um retrospect hist6rico, rapido, s3bre Pedra Bo- nita nos vai relatar o seguinte: Na comarca de Pageu das Flores, no interior de Pernambuco, existed duas pe- dras, cor cerca de trinta metros de altura e apresentan do, mais ou menos, a f6rma de duas grandes colunas. 0 revestimento de mica, de uma delas, da uma tonalidade prateada e da~ sua designagao de Pedra Bonita. Em 1838, um mestigo, Joao dos Santos ou Joao An- t6nio, segundo carta de Francisco Barbosa Nogueira ao senhor Francisco Rego Barros, president da Provincia, datada de 25 de Maio de 1838, comegou a interessar a po pulagao da regiao, mostrando duas pequenas pedras, tam- bem revestidas de mica, afirmando serem diamantes e te- rem sido retiradas de uma mina que f$ra por 1ee desco- berta, apos sua escolha pelos poderes sobrenaturais,pa- ra receber esta misteriora revelagao e dar conhecimento ao seu povo. A mina, proxima a uma lagia, seria a in- dicagao de um pals de riquezas incalculaveis que teria - 21 - submergido, mas que ainda demonstrava as duas pedras-co lunas, torres de um grande templo. 0 pages, era o rei- no de D. Sebastiao, rei de Portugal, desaparecido em lu ta contra os mouros, na Africa, mas que deveria ser de- sencantado,apos certas cerimonias de magia. A ideia do reino sebastianista, como uma verdadei- ra sobrevivencia cultural, era o centro da questco. Baseando-se JoEo dos Santos ou Joao AntSnio em un antigo "pliego de cordel" portugues como diz Gustavo Barroso, que cantava em versos que D. Sebastiao ressus- citaria no dia em que um tal Joao se casasse com uma tal Maria. Dessa maneira, o desencantamento traria,para o povo que praticasse certos ritos, muitas felicidades. A populagconuito se inpressionou com as arengas do novo profeta, mas, as autoridades eclesiasticas conse- guiram que Joao dos Santos se afastasse da localidade. Dois anos mais tarde, um cunhado daquele, de nome JoEo Pereira ou Ferreira, e que, segundo constava,esta- va cumprindo ordens do primeiro, conseguiu reunir cerca de trezentos adeptos para a pratica de atos necessarios a resurreigao. Assim, durante mais ou menos dois me- ses, os novos crentes alimentaram-se pouco, usaram be- bidas alcoolicas, dansaram, praticaram excesses, orien- tados por estranhas praticas de "preparagao". Dizia Joao Pereira, ou Ferreira, aos seus ouvintes, que era peciso sangue, para regar as duas grandes pedras e os campos vizinhos, afim de vivificar o reino e o rei. Prometia aos que, voluntariamete, se sacrificassem, premios, como: riquezas e imortalidade, juventude perpe- tua e a mudanga da c$r dos negros e mestigos para bran- - 22 - cos. Chamando-se a si proprio de "rei", marcou a data para o "grande sacrificio". No dia, sem esperar nova solicitagao, muitos adeptos se atiraran das pedrast e a queles que nao o faziam, eram mortos a facadas. Na re- frega, que durou dois dias, o "rei" tambem foi assassi- nado. Debalde, esperaram os sobreviventes o milagre, for gados pela putrefagao dos cadaveres, retiravam-se ja pa ra outro local, quando foram press por um contingent armado, enyiado pelo comandante Manuel Pereira da Silva, tendo, poren, antes, oferecido resistencia. CANUDOS foi um capitulo da nossa hist6ria, onde se refletiu, de modo insofismavel, as sobrevivencias de una cultural que persistiu, anacronicamente. Falar nesta campanha, e, sen duvida, evocar os be- los "Os Sertoes", obra imperecivel. As modernas com- provagaes cientificas vao trazer novas luzes a certos trechos desta obra, no que se refere, por exemplo,a "ra ga" "mestigagem" e "meio social", como demonstrou Ar- thur Ramos nos seus magnificos capItulos sobre a mesti- gagem no Brasil. No entanto, e aquelo trabalho, boa fonte hist6rica, para o conhecimento do assunto. Se Canudos 6, antes de tudo, a hist6ria de um indi viduo, torna-se depois um capItulo das nossas lutas in- ternas, pela importLncia e perigo que apresentou para a unidade brasileira. Depois de uma vida acidentada, desempenhando va- rias profissoes e mudrndo constantemente de residencia, AntSnio Vicente Mendes Maciel, nascido em Quixeramobim, S23 - no estado do Ceara, talvez em 1835, resolve viver como um penitente, de esmolas, e, viajando muito pelos ser- toes, pregava uma existencia de sacrificios. Aos pou- cos, foi angariando adeptos e ate a proclamagao da Re- pdblica, percorreu numerosas vilas do sertao do Ceara, Pernambuco e Bahia. Em desacordo com a nova forma re- publicana de governor, certa vez, quando passava pela vi la do Bom Conselho, queimou, diante de um grupo, alguns editais relatives cobranga de impostos. Temeroso das consequencias, dirigiu-se, com seus companheiros, para Canudos, pequena regiao situada a margem esquerda do Va sa Barris, decadente fazenda de gado, que servia de a- brigo a individuos desordeiros e fugidos das prisoes. A li is fixaran. A partir de 1893, Canudos se transformou em um lo- garejo povoado de numerosas families que abandonavam os seus lares em Inhambupe, Tucano, Cumbe, Itapicuru, Bom Conselho, Natuba, Massacara, Monte Santo,Geremoabo, Ua- ua, Entre Rios, Mundo Novo, Jacobina e Itabaiana,segun- do Euclides da Cunha, para viver junto de AntSnio Con- selheiro, nome que passara a adotar. 0 aumento de populagao naquela regiao, e, princi- palmente, pela adesao irrestrita dada ao chefe pelos "jagungos", sempre prontos a uma refrega armada,comegou a preocupar as autoridades. Em 1895, a pedido do president da Bahia, Dr. Joa- quim Manoel Rodrigues Lima, foram tentados meios suas6- rios, atraves de dois frades capuchinhos que, no entan- to, nada conseguiram, apezar de permanecerem mais de u- ma semana em Canudos. - 24 - Qualquer ideia de um ataque armado ainda nao teria entrado nas cogitagoes do governor do estado, si nao fos se a madeira que AntSnio Conselheiro desejava para a construgao da sua Igreja, e que, havia encomendado em Juazeiro. Tendo chegado, naquela localidade, a noticia de que o proprio Conselheiro ia buscar a sua encomenda, os habitantes pediram garantias e, pelo governor do estado, foram enviadas cem pragas, comandadas pelo Tenente Mano el da Silva Pires Ferreira. Acampando na pequena vila de Uaua, a tropa foi atacada de surpreza por cerca de tres mil jagungos. 0 Tenente Pires Ferreira teve que abandonar a 19.de Novembro de 1896 a povoagao onde che- gara a 12 do mesmo mes. Foi esta a primeira vitoria dos adeptos do Conse- lheiro. Pela bravura e fanatismo com que combatiam, os ja- gungos deram motives a episodios lendarios, criados pe- la imaginagao popular e que foram fixados atraves de trovas, frases, ditados, repetidos constantemente pelos sertanejos. A reagao do governor foi logo preparada, sob a dire gao do Major Febr6nio de Britto, numa bem equipada e ar mada expedigao, que, seguindo para Queimados, chegou a Monte-Santo, onde demorou-se perto de duas semanas,dan- do assim, tempo para que os jagungos, avisados pelos seus espias, preparassem a resistencia. 0 combat foi iniciado no dia 18 de Janeiro de 1894, e, depois de cinco horas de luta, nenhum resultado posi tivo havia. Quando se apresentou uma relative possibi - 25 - lidade, dispersados os jagungos, os soldados, exaustos, foram acampar a tres leguas de Canudos. Mas ao amanhe cer do dia 19, a tropa legal viu-se cercada pelos serta nejos e depois de uma sangrenta luta, obrigada a voltar a Monte-Santo, inteiramente aniquilada. Nova expedigao foi enviada pelo president da Ba- hia, a pedido do entao vice-presidente da Republica, em exercicio, Manoel Victorino Pereira, cabendo o comando ao Coronel Moreira Cezar. Numa rapida march, pois partindo do Rio de Janei- ro a 3 de Fevereiro, a 8 estava em Queimados,contava es ta expedigao com quasi tries mil homes, bem armados. Lo go, porem, por motives de saude do comandante, houve um retardamento. A expedigao seguiu para Monte-Santo,Ran cho do Vigario, Cumbe e estava as portas de Pitombas, quando numa pequena escaramuga, um official e seis pra- gas foram mortos. Isto, era, no entanto, um aviso, pois tSdos os jagungos estavam no rdduto da antiga fa- zenda, para impedir a tomada pelas forgas legais. Ao atacar Canudos, verificaram as tropas o vigor da defesa. Mortos numerosos de parte a parte,inclusi- ve do pr6prio Moreira Cesar, se verificaram. 0 chefe substitute, Coronel Pedro Antunes Tamarindo, apenas pou de ordenar a retirada, onde tambem pereceu. 0 terceiro desastre para a dominagao de Canudos foi recebido pelos brasileiros como uma verdadeira cala midade. E, entao, os mais exaltados ja asseguravam re ceber os jagungos, auxilio dos monarquistas, chegando ao ponto de destruir jornais, como a "Gazeta da Tarde" do Coronel Gentil de Castro, que foi depois assassina- - 26 - do. Tambem foram empastelados os jornais "0 Ap6stolo" e "Liberdade", acusados de favorecer os rebeldes. Nova expedigao, teve a chefia do General Arthur Os car de Andrade Guimaraes, que deu ao General Claudio do Amaral Savaget, o comando da segunda coluna. 0 ponto de reuniao seria em Juazeiro, de onde partiriam para o ataque a Canudos. Lutando cor grandes dificuldades de transport e abastecimento de viveres, o General Arthur Costa atin- giu Pitombas no dia 27 de Junho, mas viu-se cercado pe- los jagungos dirigidos pelo celebre bandoleiro Pageu. A inda assim, os soldados conseguiram chegar ate a Favela, regiao elevada que favorecia o ataque ao reduto. No en tanto, os rebeldes rechassaram a tropa e dominaram a si tuagao. Por outro lado, Savaget havia travado violentos combates em Cororobo, com perdas numerosas, mas atingi- ra, no dia 28, a uma pequena chapada, a dois quilometros de Canudos. Fome, cansago, desergoes, se verificaram entire os legais. Era necessario terminar, o mais breve possi- vel, com a luta e entao, um ataque ao arraial foi plane jado para o dia 18 de Julho. Mesmo neste forte ataque, s6mente uma pequena parte da praga foi conseguida pelos soldados. A situagao, tornou-se entao, de extrema gra vidade. Outra expedigao foi enviada, sob o comando do Se- cretario dos Neg6cios da Guerra, Marechal Carlos Macha- do Bittencourt, cle, bem orientado ja, quanto as neces- sidades do local, organizou servigos de transport, e - 27 - hospital. Com um efetivo de tres mil pragas e trezen- tos oficiais, em Setembro, reforgou o cerco a Canudos, cerco este que se ampliou e se robusteceu. A resistencia, porem, dos jagungos persistia e o arraial so caiu, depois de lutas sem treguas, a 5 de Ou tubro, quando, diz Euclides da Cunha, tambem "tombaram seus ultimos defensores" e que "eram quatro apenas: um velho, dois homes feitos e uma crianga, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados". Apresentando varios pontos de contactocom Canudos, a sedigao de Juazeiro do Norte, ou como foi depois cha- mado, Juazeiro do Padre Cicero, vai tambem constituir um episodio important das nossas lutas sertanejas. Foi em torno do Padre Cicero Romao Batista, que gi raram uma seria de fatos, evidentemente, em acordo com o meio social e que constituiram problems de dificil solugao, uma vez que, motives politicos entraram tambem em jigo, aproveitando para seus fins, uma multidao in- culta e com uma historic pregressa de crimes. Padre Cicero nasceu no Crato, Ceara, em 1844. Or- denando-se em Fortaleza, fixou-se, posteriormente, no arraial de Juazeiro, entire Missao Velha e Crato,em 1872. A vida simples que levava e sua prestimosidade na- tural, deram-lhe o respeito dos habitantes da localida- A A a de. Sua influencia foi grande, quando da seca de 1877 a 1879, pois conseguira a construgao de pequenos pogos, animara o plantio da mandioca e da manigoba nas terras do Araripe, dando conselhos de grande valia para a popu lagao, quanto a precaugao de doengas, conseguindo uma - 28 - relative melhoria das condigoes higienicas para os mora dores. Permitindo e mesmo estimulando que a sua fama ul- trapassasse os limits normais, foi o seu retrato colo- cado entire nuvens e anjos, e, medalhas foram feitas ten do.no verso sua efigie e no anverso, Nossa Senhora. Tam bem deixou ser impresso, em pequenos pedagos de papel, seu retrato, com oragoes especisis. Isto foi possivel, depois do famoso "milagre" da beata Maria de Araujo, em 1890, que tendo recebido a h6stia consagrada das maos do Padre Cicero, fora presa de violenta crise nervosa" e 'notando os finis "que um fiosinho de sangue Ihe escorria da b6ca entreaberta", "verificaram depois que as mesmas- species eucarlsticas se haviam transformado em sangue rubro e palgitante",co mo nos conta Lourengo Filho. Admoestado pelos seus superiores eclesiasticos,sus penso de ordens pelo Bispo de Fortaleza, Dom Joaquim Vi eira, que numa Carta Pastoral de 25 de Julho de 1894,a- lerta o clero e os fi6is da sua Diocese contra o "mila- gre", taxando-o, ap6s analise, de "grosseiramente su- persticioso", como nos conta Monsenhor Jose Quindere, nao limit mais o Padre Cicero seus atos. Antes, sua influencia parece crescer e na sua ambigao e agora a po litica que vai acenar-lhe com maiores possibilidades pa ra a dominagao complete. Propriet6rio de extensa zona do Cariri e adjacen- cias, aumentou territorialmente Juazeiro, e, a fama -de milagres multiplos que realizava, comegou a ser cantada, sobejamente, no folc-lore. Camara Cascudo cita uma ti - 29 - rada: "Me diz que faz milagres, Que do vinho faz vinagre E muitas curas de assombrar De dia 4 branca a cabega E logo que a noite desga Ja comega a renovar." Padrinho de toda a populagao de Juazeiro e de ou- tras regioes, seu prestIgio pessoal, junto a massa po- pular, levou a que varios politicos pretendessem a sua alianga, constituindo uma carta sua, o mais sagrado sal vo-conduto, pois qualquer um poderia sem receio, aventu rar-se nas regioes onde o cangago imperava. Esta situagao prolongava-se, ate que, modificagoes politicas no governor do Estado vao trazer consequencias imprevistas, no primeiro moment. Tendo sido, em 14 de junho de 1912, o Coronel Mar- cos Franco Rabelo, eleito president do Ceara, terminan do, dessa maneira com o dominio da familiar Accioly, que durante vinte anos havia exercido o governor, nao conse- guira aquele estabelecer a calma no estado. Paixoes po liticas se degladiavam e afirmando terem estabelecido um pacto anterior cor o entao president, exigiam os Accioly "metade dos lugares de eleigao e nomeagao",nar- ra-nos Rodolpho Theophilo. A Assembl4ia do Estado que havia reconhecido o no- vo president, premida por interesses partidarios, re- solveu reunir-se para cassar o reconhecimento. Pouco a pouco, porem, foi sendo normalizada a si- tuagao e o Coronel Franco Rabelo pode exercer, sem mai- - 30 - ores tropegos, o seu mandate. 5, porem, numa determinagao do president do Cea- ra, que vamos encontrar o germe da famosa sedigao do Ju azeiro. Asilo de todos os bandoleiros, aquela vila repre- sentava um serio perigo a vida das outras povoagoes, e assim, a ordem para terminar com o banditismo levou "cer tos chefetes do interior cujo prestigio estava unica e exclusivamente no grupo de capangas que mantinha as or- dens", como bem acentua Lourengo Filho, a unir-se aos politicos da capital, adversaries do governor. A este aspect, junte-se o problema sucessorio da Repidblica, que, deveria, pela praxe, ser indicado pe- lo P.R.C. Partido Republicano Conservador e cujo chefe era Pinheiro Machado. Um protest surgiu do governador de Pernambuco,Ge- neral Dantas Barreto, afirmando ser anti-democr.tica es ta norma e pedindo uma Convengao Nacional. Sua atitu- de foi.apoiada pelos estados de Sao Paulo, Rio, Minas, Alagoas e Ceara, mas tendo sido langada a candidatura de Wenceslau Braz, Sao Paulo e Minas nao mais partici- param da polemica, e dessa maneira, os outros estados nao poderiam contar com uma possivel resistencia. Emissarios cearenses, contrarios a Franco Rabelo, deliberaram com os dirigentes do P.R.C., a deposigao do governador. Se isto nao fosse possivel pelo partido dos "marretas", dirigido por Joao Brigido dos Santos, seria entao provocado por um movimento armado, partin- do de Juazeiro, chefiado pelo Padre Cicero, e que, por certo, logo aniquilaria com a resistencia governmental. - 31 - No dia 9 de Dezembro de 1913, o chefe de Juazeiro resolve iniciar a luta e sem trabalho, conseguiu depor as autoridades da povoagao, bem como desarmar um peque- no contingent da Forga Publica. E assim, tornou-se Juazeiro um verdadeiro estado autonomo e, por um decreto, deu o Padre Cicero posse do governor do Estado ao Dr. Floro Bartholomeu da Costa,seu preposto e que logo se tornaria prepotente e absolute, mesmo para com o seu protetor. As mais inexpressivas medidas foram tomadas pelo novo chefe; mudanga da capital para Juazeiro,dissolugao do Batalhao de Policia e da Guarda Civica do Estado, a- diamento "sine-die", para pagamento de impostos. E,com a franquia telegrafica que tinham todos os despachos as sinados pelo Padre Cicero, foi muito facil a participa- gao dresses atos ao governor federal. Mas os sediciosos haviam-se adiantado no desencade amento da luta e o chefe do P.R.C. maldizia a impruden- cia do fato. 0 governo do Estado do Ceara resolve combater a revolta e enviou o Batalhao Militar do Estado,sob o co- mando do Coronel Alipio de Lima Barros. Ao se aproximarem da vila, foram os soldados inqui etados por alguns tiros esparsos dos jagungos que esta- vam na vanguard da povoagao, mas, a tropa prosseguiu, esperando tomar, sem grandes lutas, a localidade. No entanto, em todos os caminhos haviam sido cons- truidas valas e trincheiras, trabalho realizado por to- da a populagao, dominada pela ideia de defender o Padri nho, dos inimigos que se aproximavam. - 32 - A impossibilidade da tomada imediata da praga, a- gora forte, e a munigao esgotada, forgaram os le- gais a uma retirada cautelosa para Crato, afim de aguar dar reforgos. 0 animo da tropa nao era dos melhores, e ainda, a estagao chuvosa dificultava o envio de auxilio. Por ou- tro lado, as noticias veiculadas constantemente, refe- riam-se a numerosos cangaceiros, provindos de todas as regimes proximas para engrossar as fileiras do Padre C1 cero. A pedido do governo cearense, enviou o General Tor res Homem, da Inspetoria Militar do Recife, suprimentos de munigao e, como corria a noticia de que a sedigao de Juazeiro era feita com a aquiescencia do governo fede- ral, mandou que um seu emissario fosse, "in loco", sa- ber a verdade. E, diz o autor da "Sedigao do Joazeiro", que o Padre confirmou que "agia por ordem do Governo" e, enquanto nao recebesse aviso em contrario, continua- ria lutando. Nova preparativa para novo ataque com um novo co- mandante, Major Ladislau Lourengo de Souza, foi feita, procurando agora, serem fechadas as estradas para Paral ba, por onde se abasteciam os sediciosos. Depois de nove dias de espectativa, veio a ordem para o ataque, que se realizou no dia 23 de Janeiro de 1914. A principio, os Jagungos nao responderan,mas lo go depois, uma tremenda reagao obrigou os soldados a u- ma retirada para a localidade de Crato. Apesar dos protests dos oficiais, o Major Ladis- lau seguio para Barbalha, de onde as comunicagoes com a - 33 - Capital, tornavam-se mais dificeis. A retirada pouco honrosa do Ladislau, possibilitou para os sediciosos o avango para a Capital. Tropas sem qualquer conhecimento de tatica,consti- tuida por fanaticos e bandoleiros, que s6mente visavam a pilhagem ou a viganca pessoal, saquearam Crato e Bar- balha, atingindo Iguatu, t6rmino da Estrada de Ferro. 0 governador Franco Rabelo ordenou nova expedigao, que partiu para Miguel Calmon, comandada pelo Capitao Jose da Penha Alves de Souza. Naquela cidade,aguardou se o ataque e este se fez, sem demora. Apesar de gran de numero, foram os sediciosos rechassados,custando po- r6m a vida do Capitao Jose da Penha. Foi impossivel continuar, no entanto, repelindo os rebeldes, e, varias localidades como Quixada, Quixe- ramobim, Baturite e Redengao foram saqueadas. Baturit4 possibilitou, com sua estrada de ferro a ida dos rebel- des para os suburbios de Fortaleza. Pedidos insistentes do povo ao Governo Federal e ao Inspetor Militar da Regiao para terminar com aquele perigo, nao foram atendidos. Em vista dos aconteci- mentos, resolve o Presidente da Republica decretar o estado de sitio em todo o territ6rio do Ceara, e tambem, a intervengao federal, sendo nomeado interventor o Coro nel Setembrino de Carvalho, e deixando Franco Rabelo o governor estadual. As tropelias, porem dos Jagungos, continuavam e 2 telegramas trocados entire o Padre Cicero e o Coronel In terventor, sao documents interessantes s6bre esta sedi - 34 - gao. Dizia o Padre Cicero que retiraria a sua gente de Fortaleza, si fosse esta a vontade do Interventor. A isto respondeu-lhe o Coronel, encarecendo a presteza com que fosse tomada esta media. Infelizmente, as disc6rdias e as perseguigoes polio ticas continuaram, e, varios cargos politicos foram da- dos aos principals cabecilhas do movimento, honrando-se o Padre Cicero com a vice-presidencia do estado e ao Dr. Floro Bartholomeu, com a deputagao estadual. A influencia do Padre Cc.ero persistiu,fortalecida pela leva crescente de jagungos e dessa maneira conti- nuou ate sua morte, aureolada por um resplendor de san- tidade, resultante daquele meio onde pautara a sua men- talidade e ages. - 35 - CAPITULO IV INTERPRETAQAO ANTROPOLOGICA. Ao buscarmos uma interpretagao antropologica para os movimentos de sedigao, tratados em paginas atras,den tro do conceito cultural, fazemo-la segundo a ecletica metodologia funcionalista. Estudando a posigao do ele mento ou trago de cultural dentro de um grupo, relacio- nando-o com a totalidade cultural e verificando a impor tancia dessa continue interdependencia. Aceitamos, com Kroeber, o criterio da "area geogra fica" conciliando-a com "area funcional" e com Clark Wissler, a nogao da perspectivea hist6rica", de grande valor para as mudangas culturais nas reconstituig~es hist6ricas. Foi este, portanto, o motivo pelo qual,iniciamos o trabalho por um esbogo geografico-humano, seguido de um resume hist6rico. Sa cultural" a responsavel pela explicagao dos fatos socials, tomada na mais ampla significagao do seu termo, que, desde a definigao do etnologo E. B. Tylor como "um complex, no qual estao incluidas ciencias, crengas, arte, moral, leis, costumes e outras capacida- des e habitos adquiridos pelo home como membro da so- ciedade", ate os mais recentes trabalhos de. Antropolo- gia Cultural, tem sido o ponto de partida para as inter pretagoes do comportamento human. 36 - R. Lowie define como cultural "o conjunto de tradi- goes sociais"; R. Thurnwald, citado por H. Baldus e E. Willems, diz que e a sistematizagao e harmonizagao de todos os conhecimentos e habilidades do equipamento ci- vilizador e da individualidade traditional de um povo, constituicao social e mental, em determinado corte trans versal no tempo e ainda, um sistema de attitudes e modos de agir, de costumes e juizos de valor, de instituigoes e organizagoes de uma sociedade; F. Boas diz que e a totalidade de reagoes e atividades mentais e fisicas que compoem o grupo coletivo, as reagoes desse grupo com ou tro e com o meio; B. Malinowski, acha que e o conjunto de artefatos herdados, .bens, tecnicas, ideias, habitos e valores; para R. Linton, e a heran9g social ou espe- cificamente, uma determined variante da heranga soci- al; M. Herskovite acen.tua a aprendisagem como fator es sencial no process cultural, ou seja o conhecimento transmitido atrav6s de sucessivas.geragces. Ainda sao conhecidas outras definigoes: cultural - e a soma das criagoes humans ou o patrimonio material e nao material de um p6vo. 0 que podemos tirar de fundamental nessas defini- goes, sao conceitos basicos, que, entrosados, vao per- mitir a boa compreensao da material prescipua para a Etnologia. Assim: 1) a cultural 6 obra exclusivamente humana; 2) todos os trabalhos executados pelo home, quer se- ja no dominio da simples confecqao material, quer nps manifestagoes intelectuais puras, estao conti- - 37 - dos no conceito de cultural; 3) a separagao de cultural material da de nao-material, deve ser considerada, apenas, como .uma necessidade didatica, uma vez que, a primeira nada mais e se- nao, a exteriorizagao palpavel do pensamento e da inventive do home, 4) a cultural e um acervo de experiencias acumuladas e transmitidas atraves de varias geragoes; 5) essas experiencias transmitidas vao sofrer modifi- cagoes pelas injungoes do meio e da pr6pria inven- tiva humana, sem, contudo, serem abandonados seus aspects, que poderiamos chamar de originarios; 6) os processes culturais criados pelo homem,sao res- postas aos excitantes de ordem externa meio-ambi ente e aos de ordem internal individualidade -4 7) a cultural constitute um todo, que embora participant do do meio geografico, dos determinantes economi- cos e dos fatores biologicos e psicol6gicos do in- dividuo, forma um context pr6prio e e a grande ba se para a.explicagao do comportamento human. Estas observagoes sobre a cultural como unidade fun damental e, portanto, agindo s6bre o home que a criou, nao nos leva a um aspect pouco objetivo, significando uma entidade independent da vontade humana. Mas, diz R. Linton, p6de continuar a existir mesmo depois da mor te das personalidades que dela participaram, pois,embo- ra em forma "latente e mutilada", persistira nos empres timos as outras cultures. Cultura e home se interpenetram de tal maneira,que - 38 - e impossivel dissocia-los e nos modernos capitulos da psico-logia social ja estao assinalados, como acentuam D. Krech e R. Crutchfield pontos essenciais, comos a cultu ra como determinante de opinions e attitudes; a cultural como determinante de contacts interpessoais, a cultural como fonte de frustagoes. Em obra classic, R. Lowie afirmou ser a cultural um fenomeno "per se" e ja L. Frobenius dizia ser ela tao important, que iria, uma vez criada,determinar o comportamento do seu criador. 2 certo, que a integral interpretagao organicista da cultural feita por Frobenius, nao p6de ser mais acei- ta, pois nenhuma cultural more. Se por qualquer even- tualidade hist6rica ela e dominada, vai apenas desapare cer nominalmente, pois os contacts, os emprestimos que dara a outra cultural, vao transformar os elements cul turais do pr6prio grupo dominant. Tambem nao se consider mais a pretensa culturala primitive". este antigo conceito evolucionista, que teve o apogeu no seculo XIX e que continuou mesmo ate os dois primeiros decenios deste seculo, foi o resul- tado de uma observagao etnocentrica dos fenomenos hu- manos encontrados nas sociedades diferentes das euro- p4ias. Observadores faziam girar as manifestagoes culturais de um grupo, em torno dos "mores" europeus ocidentais, num aspect tolomeico, em vez da verdadei- ra compreensao dos fatos. 0 que interessava era o pitoresco, o diferente da quilo que era visto nas esferas europeias e entao, lo- go se estabeleceu uma escala de valores apriorlsticos, - 39 - numa racionalizagao forgada da cultural dos povos africa nes, indigenas, australianos ou melanesoides. Buscavam ainda, esses escritores, ou mesmo viajan- tes e naturalistas, uma cultural pura primitive, acredi- tando na possibilidade de um isolamento integral,que ti vesse assim mantido formas originarias imunes de outras influencias. Mal grado regeitarmos os aspects etnologicos des- se evolucionismo, nao podemos deixar de reconhecer que foi, sem duvida, gragas a um Tylor, a um VIc Lennan ou de um Bachofen, que se iniciaram, com sistematizagao, o estudo da realidade cultural. A cultural e, pois, suscetivel de modificagoes, ja o dissemos antes. Essas transformagoes vao dar uma feigao dinamica a cultural e sao provenientes,diz Hersko vits, do "meio ambiente, da hist6ria e dos fatores psi- col6gicos. Admitindo, portanto, como materia pacifica os em- pristimos culturais que, de modo continuado e concrete sao encontrados em todas as cultures da terra, chegamos ao important capitulo da "aculturagao", hoje,estudo da mais not~vel valia para o conhecimento verdadeiro dos comp6sitos culturais nos varios grupos humans. 0 termo "aculturagao", diz Herskovits, em 1928,era definido pelo Wesbster's Unabridged Dictionary como a "aproximagao de uma raga ou tribu humana a outra,em cul tura ou artes, pelo contacto. Nume recent edigao de 1934, este mesmo dicionario define como sendo "a aproxi magao de um grupo social human de outro, em cultural ou artes pelo contact; a transferencia de elements cul- - 40 - turais de umr grupo social human para outro". Em 1936, o New Standard Dictionary refere-se como "a participa- gao da cultural de um povo por outro povo". No entanto, J. W. Powell, em 1880, ja acentuava as grades mudangas na cultural determinadas pela acultura- cao e W. H. Holmes, em 1896, referindo-se a cermica dos antigos pueblos, afirmava que as artes passam de. lugar a lugar e de povo a povo pelo process aculturativo e assim se explica, porque, povos de diferentes origens tem as mesmas artes, enquanto que grupos com a mesma o- rigem, tem-nas diferentes. Boas, em 1896, tratando do desenvolvimento das mi- tologias americanas, dizia que a aculturagao se proces- sou tao intensamente entire as varias tribus, que era im possivel separar as origens dos mitos, uma vez que,via- jando de tribu para tribu, formaram num grande todo, constituindo um fundo comum nos grupos indigenas. Em 1935, um comite da Social Science Research Coun cil, formado pelos antropologos norte-americanos, Prof. Robert Redfield, da Universidade de Chicago, Ralph Lin- ton, da universidade de Wisconsin e Melville Herskovits, da Northwestern University, apresentou um Memorandum,on de se estabelecia a definigao de "aculturagao", .separan do-a de outros terms que pudessem trazer confusao a compreensao etnologica e um metodo de trabalho para os estudos aculturativos. Aculturagao foi, entao, considerada, como sendo "a queles fenSmenos que resultam quando grupos de indivi- duos de diferentes cultures entram em contact direto e continue com subsequentes mudangas nos padres cultu- - 41 - rais originarios de um ou de ambos os grupos". 0 metodo de trabalho seria a coleta de dados,aclas sificagao, a tecnica utilizada para a analise dos fatos, tipos de contact cultural, situagoes ocorridas, process sos da aculturagao atraves da selecao dos tragos,da de- terminagao e da integragag, os mecanismos psicol6gicos e os resultados da aculturacao. A "aculturagao" e, portanto, o process dinamico da cultural no seu contact de gm grupo com outro grupo e que apresenta, como resultado, neo uma outra cultural, propriamente, mas, uma feigao nova, sintese que e de duas ou mais unioes culturais. Sa "aculturarao", termo que hoje esta generaliza- do em todas as obras de Antropologia Cultural, um pro- cesso mais amplo que a assimilagao, pois, e esta, se- gundo o citado comite, uma "fase do process total que e a aculturagao". Uma vez verificada a "aculturagao", como se com- portarao as cultures que foram submetidas, por quais- quer determinismos historicos, a conviver? E evidence que a situagao e complex e nem se deva supor que uma das cultures va, imediatamente, aceitar a outra, sem a presentar reagoes pr6prias ou comportamentos especifi- cos. Foi, justamente, observando esses fatos, que, em- bora admitindo as cultures como verdadeiras realidades, fizeram os professors antropologos norte-americanos, ressaltar a importancia dos mecanismos psicologicos na "aculturagao", tendo sempre em conta o papel dos indi- vIduos como membros do grupo, suas attitudes, sua rece- - 42 - ptividade ou nao quanto aos elements culturais alieni- genas. Entramos, entao, nos "resultados da aculturagao que o medmo.comite divide em tres aspects: a "aceita- gao", quando a aquiescencia de uma cultural aos padres da outra se faz inteiramente; a "adaptagao", quando ha harmonia entire as cultures dos dois ou mais grupos,for- mando-se, entao, um verdadeiro mosaico cultural numa perfeita conciliagao de attitudes; a "reagao", quando as cultures entram em choque, desejando cada uma guar- dar seus elements culturais e sobrepujar-se a outra. 2, dentro da compreensao da "reagao", e portanto, do fenomeno "contra-aculturativo", que procuramos en- quadrar os movimentos ja enunciados. Essas reagoes culturais aos processes de deminio de uma cultural a ou- tra, estao ligadas, de modo absolute, as forgas psicol6 gicas individuals e coletivas de manutengao da cultural, num desejo cons'tante de resguardar o patrim6nio de suas tradigoes a dominagao estranha. No entanto, quando observamos os movimentos "con- tra-aculturativos", verificamos que, embora reagindo a interferencia de cultural ou cultures diferentes,nao fi- caram os tragos culturais do grupo rebelado, isentos das influencias que repudiam. Na quasi totalidade dos ca- sos, as cultures se mesclaram, em varios pontos, prince palmente no setor material. A "reagoes" estao mais ligadas qo conteudo nao-ma trial, tal, como, a religiao, a magia, as dansas cere- moniais, lutando por uma sobrevivencia psico-emocional. a o que nos narra, com uma notavel penetragao Monica - 43 - Hunter no seu trabalho "Reaction to Conquest", assina- lando os efeitos dos contacts culturais entire europeus e os Pondo, habitantes da Africa do Sul. Essas "reagoes" obedecem a duas especies de lutas: a introversa e a extorversa. A primeira, fechada, de aspect mais individual, conhecida atraves dos suici- dios, do abuso de bebidas embriagantes, dos infantici- dios e abortos voluntarios, do "banzo", uma das expres- soes mais tipicas da hist6ria da escravidao na nossa ter ra, Ainda nas "reagoes" introversas, estao as chama- das "dansas dos espiritos", sobrevivencias de antigos cultos magicos que s6 sao efetuadas ocultamente, dando origem as religioes de misterio, em face das persegui- goes sofridas. A segunda expressao e a extroversa, o conflito aberto, a rebeliao bem caracterizada, a guer- ra. Entao, neste moment, antigas sobrevivencias cul- turais voltam a tona na mentalidade do grupo e a luta armada, juntam-se as interpretagoes de sonhos promisso- res de uma vida melhor, numa volta de antigos her6is ci vilizadores, num verdadeiro process messianico de liber tagao, e o chefe escolhido no moment da reagao, conse- gue prerrogativas especialissimas de "shaman", de predes tinado e cuja vontade deve ser cegamente obedecida. Que encontramos na aprecigao "contra-aculturativa" de Pedra Bonita? Logo, o saudosismo, expresso pelo sebastianismo e, portanto, o desejo da volta a uma determinada epoca an- terior, que supunham aqueles crentes, ser melhor do que a que estavam vivendo. Poi, portanto, uma epidemia ve - 44 - sanica, sem duvida, de fundo religioso que emergiu em forma ciclica, de um ambiente pr6picio ao fanatismo e que logo tomou aspects messianicos. Arthur Ramos assinalou que o delirio religioso "cresce de importancia ao verificar-se que ele raramen- te se confina num individuo" e que "num amplo cont .acto sugestivo", a tendencia "a expansao nao conhece limits" A fe e a obediencia ao chefe, porem, nao bastavam para que se concretizassem os anseios-dos crentes: sa- criflcios penosos foram exigidos para que as recompen- sas fossem equivalentes. ., sob que modalidade se a- presentavam os premios? Justamente, se correlaciona- vam com as situagoes de "inferioridade", criadas pelo impact da cultural dominadora: a c6r, a pobreza, a obe- diencia aautoridade. E foi isto o que vimos prometido pelo mestigo Joao dos Santos quaudo houvesse o desencantamento do reinb de Pedra Bonita. 0 grupo que logo aderiu ao individuo que acenava cor uma future felicidade, estava num estagio cultural inferior a cultural da epoca e, entao, numa supercompen- sagao, agiu violentamente, fazendo face as autoridades, afim de preservar antigos padres culturais. 0 aspect wistico da reagao, foi portanto, o movel determinante, pois e aquele que mais tempo se conserve no plano emo- cional. Em CANUDOS, a complexidade 4 maior, pois existe,a- l4m da massa inculta, a personalidade de um chefe, um "meneur", que, trazendo consigo uma debilidade mental - 45 - paranoide, urdiu o seu delirio com "uma forma social", como diz Arthur Ramos, no meio em que vivia. 2, por- tanto, AntSnio Conselheiro, um tipo que se enquadra nos '"delirios arcaicos": teria desenvolvido um comportamen to retardado, em correlagao com a epoca. fsse comportamento anEcrinico achou guarida e eco junto as populagoes sertanejas, taamboi em estagio cul- tural atraz,&io. Ant6nio I'iaciel, diz Nina Rodrigues, teve a sua vi- da marcada por tries fases, que eram tambem, a hist6ria da progressao de sua psicose: uma, quando procurou a- fastar-se de sua'cidade, buscando varios lugares para esquecer suas desditas e que Favilla enquadrou dentro dos "alienados migradores", qu, pretendem incessantemen te, mas debalde, fugir as proprias alucinagoes. Na se- gunda fase, ja era o Antonio Conselheiro,individuo que, numa roupagem exterior de penitente, pregava uma vida de renuncias; no terceiro period de sua vida, era o "leader" do grupo que o seguia fanatizado. Naquele moment, suas reagoes a epoca estavam em u nissono com as dos seus adeptos a revolt contra a Re pdblica, contra a separagao da Igreja do Estado, contra a secularizagao dos cemiterios, contra o casamento ci- vil, contra as moedas com as novas efigies dos chefes republicans, contra o pagamento dos novos impostos. Seria impossivel, diz Nina Rodrigues, exigir que populagoes sertanejas pudessem compree-der uma nova or- dem econ6mic:.-social, pois se "achavam no, estadio infe- rior da evolugao social". Se modificarmos as palavas "evolugao social" para "estagio de cultural vemos, co- - 46 - mo ja o grande mestre baiano havia encarado o problema sob os fundamentos da modern "contra-aculturagao". A resistencia de Canudos ao assedio das tropas le- gais e, sem duvida, uma demonstragao daqu~le valor pes- soal do jagungo, mas orientado na senda do fanatismo re ligioso, e que represent o desejo veemente da conserve gao de seus "costumes". A interpretagao cultural de Juazeiro do Norte,mos- tra, tambem, muitos pontos de contact com os dois pri- meiros movimentos. Sem ser um paranoide, o Padre Cicero utilizou a mentalidade atrazada da populagao para a consecugao de seus propositos. Suas "curas", seus "milagres", os au xilios que dava aos sertanejos, como estes apreciavem, isto e, ensinando "rezas" mescladas de superstigoes lo- cais e permitindo que fosse sua pessoa confundida com a divindade catl6ica, constituiram as expresses concre- tas de uma fase cultural anacronica do grupo. A trova popular guardou as "qualidades" do Padre Cicero:- "Nao tenho capacidade Mas sei que nao digo atoa Pade Cisso e. uma pess6a Da Santissima Trindade." A reagao armada, coroamento obrigat6rio dos movi- mentos extroversos, deu a caracteristica final a "con- tra-aculturagao". - 47 - Os sucessos.militares iniciais, tambem favorecidos pela pr6pria tropa estadoal, tirada, quasi toda do mes- mo meio cultural, animaram os jagungos. Entao,'ja nao era apenas o religioso, o Santoo", queali estava junto dos sediciosos, era tambem o "iluminado", o chefe mili tar que precisava ser obedecido para a vit6ria final. A crenga, entire os sertanejos, de que as balas das forgas do governor nao penetrariam nos seus corpos e 3i entrassem, nenhum nal lhes poderia fazer, retratam o es tado de espirito dos rebeldes que era o de uma perfeita certeza na legitimidade da sua causaa" e na santidade do "Padim Cisso". Mais uma vez verificamos o desejo de uma existen- cia, em moldes. que eram os unicos compreendidos e esti- mados por uma populagao. A imposigao de outros pa- droes trouxe a volta violent ao ambiente cultural an- terior. Finalisando o nosso ensaio da interpretagao "con- tra-aculturativa" dos movimontos: Pedra Bonita,' Canu- dos e Juazeiro do Norte, podemos, entao, concluir: 1) que houve uma incompreensao dos grupos sertanejos pela cultural dominadora; 2) que esta incompreensao gerou um desajustamento que se exteriorisou pela luta aberta; 3) que este desajustamento foi proveniente de um est6 gio cultural anterior, tacitamente aceito, e, em cujos "mores", as populagoes pautavam a sua vida; - 48 - 4) que os "chefes" daqueles .movimentos sao produtos do seu ambiente cultural, exercendo a funcao de di rigentes, com exito, pela ligagao estreita que e- xistia com a formagao mental do seu grupo; 5) que para se conseguir a diminuigao, ate o desapare cimento de tais movimentos, mister se faz a adogao de normas cientificas para o conhecimento do home, como forga psicol6gica e como criador de cultural; 6) que se torna cada vez mais necessario o estudo da realidade brasileira em suas origens etnicas e cul turais, afim de ser conseguido, sem lutas, o verda deiro progress em todas as areas brasileiras. - x - - 49 - BIBLIOGRAFIA - ALMTEIDA, Jose Americo de A PARAHYBA.E SEUS PROBLEMS, Parahyba, 1926. - BALDUS, Herbert e WILLEMS, Emilio DICIONARIO DE ETNO LOGIA Sao Paulo, 1938. - BARROSO, Gustavo HEROES E BANDIDOS Rio, 1917. 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BIBLIOGRAFIA .................. .... ... ...... . _'_ -_. .. --.:.-. o .' - -'' "' '- .-- .. .i` -r ..- . . '-"- -X -+ flyi 4 .,. ._. ../,' !~~~ : . .'- i * .. ..- .-. ,. ,. -- : ^ -;k . ... ., .d "o i9 .A -1* . -: . . . -? A" -- "'. , - . ~ .: 414 A4 *. r. - -. ,.-.: F ... ... ;. :. '. -- :s I~ rF .I : . : -,.** --A ~ - -.,. . ..' -. .. S. ,. . ^ *:]- .... -* ," '.,".'. ",/ L .',.. -- "-." .-,d s^ :; ,';^ .. -* .. ..- .,; t ' "" " " ;- -- : .. .-, .,, - "* i "' '. $- -... "' '-. , - *.. - . .* .< .* ,,,- - .., ,=- ... ; "' .- .. : ,-.', "* ; ,.-" ,N [^ - ._ ,:- ., ,- ,: .... .- ..-.- o ..- .:; - A:.' A -.-.... -.. -::'--;1 t2 ..4, ..... *,,&7 4 ;::.,:. .% .::. .... . .. . ..- ,,.. ,;; ~nS~ -.;. ~ ';' .. .. ,, .., - ., .-- . -,-:. :; |