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HISTORIC DE UMA TRAIN AO FORTALEZA CEARA 1935 HISTORIC DE UMA TRAIAO FORTALEZA CEARA 1935 NOTA EXPLICA TIVA Pelo "0 Povo" de 21 a 23 e no "Unitario" de 22 de agosto p. findo, o sr. Jos6 Accioly publicou long manifesto, pretendendo, vamente, justificar a sua attitude, quando, corn rara sem cerimonia, e quase a hora just da eleicgo para Governador Constitucional do Estado, abandonou as forgas political congregadas sob a legend da Liga Eleitoral Catholica, afim de fa- zer causa commum corn os seus adversaries da ves- pera. Nesse document, ji hoje tristemente celebre nos fastos da political cearense, o ex-chefe do Partido Conservador, conjugando a perfidia corn os mais intre- pidos assaltos a verdade dos factos, expoz ao sabor de suas conveniencias pessoaes os acontecimentos mais palpitantes occorridos no Ceara, entire o pleito para a Assembl6a Nacional Constituinte e a ultima campanha eleitoral,que se desenvolveu em torno das eleigoes para a integracgo do Estado na ordem constitutional. Lardeando, ainda, tudo isso corn a malignidade de conceitos sobre a conduct que, em face desses acontecimentos, mantiveram various de seus ex-com- panheiros e amigos, ndo podiam estes, em defesa de seus nomes, deixar que vingasse a vil protervia, mal- dosamente langada a publicidade pelo evadido aos compromissos de honra com a Liga Catholica. E' essa a origem deste folheto, onde foram enfei- xadas as respostas que os drs. Edgar de Arruda, Ola- vo de Oliveira e Jos6 Martins Rodrigues, pelo "Cor- reio do Ceara", e pela "A Rua", tiveram de offerecer A obra do despeito e da intriga do sr. Accioly. Para que os leitores possam ajuizar da importan- cia historic e do valor moral a que o manifesto ac- ciolyno ficou reduzido em face da irreplicavel impu- gnagdo que Ihe foi feita, vae o mesmo inserto, em ap- penso, neste folheto, com as cartas dos valorosos e honrados constituintes dr. Ruy de Almeida Monte e Francisco da Silveira Aguiar, juntando-se tambem a altiva e esmagadora resposta do cel. Gabriel Diniz, digno Prefeito do Cedro, ao dr. Jose Accioly. I Resposta do dr. Edgar de Arruda Eu nao sabia que o illustre sr. dr. Jos6 Accioly, possuia entire as suas habilidades, nao obstante a sua "formacio christ5", a arte subtil de ferir e intrigar o seu amado proximo, escondendo a ferina offense sob punhos de renda. Arrancou-me, por6m, dessa leda ignorancia, dan- do-me a dolorosa impressao da queda de um anjo, que eu me acostumara a respeitar atravez de seu procla- mado catholicismo, o manifesto que elle acaba de pu- blicar e de dirigir ao povo cearense para expor as razoes de ordem moral e political, que o levaram a afastar-se da Liga Eleitoral Catholica. E' uma pega inteiriqa, complete como libello con- tra a dignidade alheia, pacientemente trabalhada no biblico remanso de sua fazenda "Bethania", afim de dar a impressao de que s6 a verdade o empolga e o impelle a vir de public prestar o seu tranquillo e se- reno depoimento sobre os factos politicos recentemen- te occorridos neste Estado. Nao Ihe desannunviaram a alma oppressa pelo claro sentiment de despeito que resahe de seu mani- festo, nem as bellezas do sertao em festas neste fim de inverno, nem a consideragco de que escrevia para um public que bern o conhece. De uma serenidade toda apparent, atravez de um estylo propositadamente manso e suave, derrama-se o manifesto em largas columns, como se cahira da penna de um historiador imparcial, construindo para o future a historic political do Ceara. Entretanto, quanto veneno, quanta perversidade se esconde sob a lisa. superficie desse lago artificial, onde s. sia., vinga- doramente, quiz langar os seus amigos e companhei- ros de ate bem pouco tempo!!! 0 illustre paredro, perd6e-me a franqueza, nao ti- nha e nao tern autoridade para apreciar factos em que, segundo diz, foi "parte active, bem que modesta. Nio sendo jejuno em direito, pois que tambem possue sua carta de bacharel, no6 podia ignorar o seu manifesto impedimento, poi evidence suspeigao, para erigir-se em juiz de acontecimentos a que interesses seus se achavam substancialmente ligados. A funcgdo de julgar, pela sua magnitude, requer tao complete isenqio de animo que nao se comprehen- de possa exercel-a quem 6 parte no pleito. Ora, 6 o proprio dr. Jos6 Accioly que se confessa participe, modesto embora, dos successes politicos apre- ciados em seu manifesto, e s6 isso annulla radicalmen- te a legitimidade de seu julgamento. Ademais, nao creio como pensa o dr. Jos6 Accio- ly, que estejam amainadas as paixoes que a ultima campanha eleitoral desencadeiou no Cear&. Se, por- tanto, a elle falta autoridade para julgar, por outro lado ainda 6 muito cedo para quem quer que seja examiner, com imparcialidade, o papel que, nessa campanha, desempenhou cada um de seus protago- nistas. Desse duplo defeito, suspeicgo e inopportunidade, resultou transformar-se o veredictum, que o seu pro- lator pretendera irrecorrivel, num depoimento erro- neo, contradictorio, aberrando da verdade com o in- tuito maligno das mistificag6es deprimentes. E, ainda assim, com todos esses defeitos, quem pe- diu esse depoimento a tao apressada testemunha? Quem a notificou com sobeja autoridade para vir ao pretorio da opinido public, trazendo o seu requisito- rio contra os companheiros da vespera? Nao foi, sem duvida, a Liga Catholica, nem tao pouco qualquer de seus alliados, todos os quaes, empe- nhados na obra de reconstrucqdo do Estado, ainda nao tiveram tempo a perder com os que desertaram as suas fileiras. Tambem nenhuma outra expressed moral, intel- lectual ou political de nosso meio, ja se deu A tarefa de pedir contas ao pressuroso depoente. De tudo isso se college que este deliberadamente se quiz antecipar ao julgamento que nos reserve a posteridade, como que receioso de ver-se condemnado sem defesa. Nao se tome, por6em, desses vAos temores, porque, um dia, haveremos todos de ser julgados, ngo pelas pa- lavras, que escondem o pensamento, mas pelos actos que- praticAmos e que o denunciam e -revelam A luz meridiana. No manifesto em aprego, para justificar a sua con- ducta, rompendo com a Liga Catholica, o dr. Jos6 Ac- cioly relembra factos occorridos desde a eleicgo para a Assembl6a Nacional Constituinte, buscando dar a impressed de que elles succederam, chronologicamen- te, na ordem em que vem narrados. Mas a verdade 6 que, no expol-os, s. sia. nao s6 os altera em sua se- riagdo historic, como os deturpa ou fragmenta, apa- nhando, apenas, as circumstancias que podem servir ao seu proposito de apparecer, em public, como uma victim imbelle da Liga Catholica. Tambem nao devera s. sia. ter envolvido, em suas tricas political, a nobre e generosa alma de'nosso que- rido Arcebispo, de cuja amizade pretendeu fazer um titulo de recommendaqdo a escolha de seu nome, como candidate da Liga Catholica. Mas nem mesmo o eminente antistite e poupado na maneira cavilosa por que o sr. dr. Jos6 Accioly fez a sua romantic narrative. S. excia. nao foi a sua casa convidal-o para ser um dos candidados da Liga. Os factos se passaram de modo mui different. Primeiramente, essa occorrencia nao se verificou ao tempo em que a Liga tratou de organizer uma "chapa unica" como insiniua o manifesto, dizendo que a deliberacgo da mesma Liga, excluindo o dr. Jos6 Ac- cioly do numero de seus candidates, "tomada as por- tas do pleito, era tanto mais inexplicavel, quanto os entendimentos entire os seus directors e os chefes das demais correntes se vinham realizando normalmente, num ambiente de cordialidade, NO SENTIDO DE SER ORGANIZADA UMA CHAPA UNICA". Pretendeu a Liga, corn effeito, organizer uma "chapa unica", de accord com as instruccqes recebidas de sua Junta Na- cional, no Rio de Janeiro. Mas essa tentative de logo se burlou, ante a irre- ductibilidade do Partido Social Democratico, que nao conveiu em allianqas com os chamados partidos da Patria Velha, conforme consta de documents ja pu- blicados na imprensa e que, se necessario, ainda po- derdo ser reeditados. S6 depois de fracassada essa tentative, foi que a Liga, seguindo sempre .aquellas. instruc6es, aguardou a publicacgo das chapas dos partidos para escolher dentre os respectivos candidates aquelles que deviam merecer os seus suffragios. Publicadas essas chapas, tratou, entdo, a Liga de organizer tambem a sua, aproveitando various candi- datos das correntes partidarias. E' mister dizer que a esse tempo o, sr. dr. Jos6 Accioly vinha pleiteando .dois lugares junto aos dire- ctores lecistas, send um para si e outro para o dr. Ola- vo Oliveira, ficando ainda o dr. Manoel Satyro cornm o direito de tambem candidatar-se d Constituinte, f6ra da chapa da Liga. Dessarte, o Partido Conservador, que, f6ra da Liga, n\ osconseguiu eleger um s6 deputado a Consti- tuinte, como aconteceu no pleito, queria sagazmente assegurar-se tres cadeiras em. nossa Assembl6a Cons- titucional. E' assim o desprendimento de seu hon- rado chefe!!! Mas aconteceu que, na primeira chapa organiza- da com dez nomes, s6 foi possivel incluir o `dr. Jos6 Accioly, e nao tambem o dr. Olavo Oliveira, sendo tambem contemplados, nessa chapa, os srs. drs. Fer- nandes Tavora e Jodo Vieira, pelo P. S. D., e Pedro Firmeza, pelo Partido Democrata. Sciente dessa chapa, por tel-a publicado, num furo de reportagem, a "Gazeta de Noticias", o dr. Jos6 Ac- cioly amuou-se, em virtude da exclusio do dr. Olavo. Foi ahi que interveio s. excia. o sr. Arcebispo, indo a residencia do illustre politico, nao para dizer-lhe "que devia ser um dos candidates da Liga",.mas para mostrar-lhe o desarrazoado de seus queixumes, que- rendo outro lugar para o dr. Olavo, que, aliAs, justiqa se Ihe faga, sempre nos declarou que a sua exclusao de modo nenlhum o molestaria. A's ponderag6es do eminente prelado, acquiesceu o sr. dr. Jos6 Accioly. Concomitantemente, por6m, com a organizacgo dessa chapa de dez nomes,. various elements lecistas de relevo e prestigio, inclusive mui dignos sacerdotes, entendearm que a Liga nao devia suffragar quantos tiveram actuacgo political no regimen decahido, mesmo porque a esse tempo ja se explora- va a versdo de que ella se vinha organizando, no Cea- ra, com o intuito de restaurar o prestigio das velhas corporag6es partidarias, tangidas do poder pela re- volugdo de outubro. Prevalecendo, final, esse ponto de vista, foi substi- tuida a primeira "chapa por urma outra de seis nomes, da qual foram excluidos, nao somente o dr. Accioly, mas ainda os drs. Fernandes Tavora, Jodo Vieira e Pedro Firmeza. Certa ou errada, essa 6 que foi a verdadeira atti- tude da Liga, essa 6 que 6 a verdade verdadeira, que o sr. Jos6 Accioly devera contar, porque Ihe n~o6 absoiutamente extranha. Nao houve, portanto, nenhum intuito pessoal de exclui-lo, como elle quer deixar parecer para chegar .a conclusdo de. que havia um systematic proposito nesse sentido. A16m delle, .como se viu, outros tam- bem nao figuraram na segunda chapa lecista, e, se fo- ram mantidas as candidaturas do capitdo Jehovah Motta e do dr. Ledo Sampaio, assim aconteceu, por se tratar de elements que nao tiveram actuagAo marcante na political decahida, al6m de que esse ultimo, se era o chefe do P. S. D., em Barbalha, tambem ahi exercia as funcg6es de Presidente da Liga, circumstancia essa tdo do conhecimento do dr. Jos6 Accioly, mas que elle resolve omittir em seu celebre manifesto. Agora, ferino, e querendo incompatibilizar-me com o respeitavel clero, diz. o sr. Accioly que eu Ihe declare que elle "f6ra victim de uma conjura de pa- dres". Realmente, padres houve que se nao conforma- ram com a primeira chapa, mas, al6m delles, elements leigos se manifestaram do mesmo modo, tal. qual aci- ma ficou exposto, e foi isso que eu, .particularmente, Ihe communique, sob reserve, sem jamais support que da lealdade desse meu gesto, e num evidence abuso. de confianga, s. s. haveria de prevalecer-se, deturpando os meus informes, para implantar a cizania entire mim e o digno clero cearense. Mas continuemos. Affirma elle, categoricamente, que s6 acceitou a indicagdo de seu nome para corres- ponder A prova de estima e confianga corn que d. Ma- noel o distinguiu, mas que Ihe expoz, corn a maior franqueza, "os motivos de ordem pessoal por que nao desejava fazer parte da Constituinte". Os acontecimentos posteriores vieram, porem, pro- var a insinceridade desses motivos. Excluido da cha- pa da Liga, devera o dr. Jos6 Accioly ter permittido que o seu illustre, precioso e dedicado amigo, dr. Ma- noel Satyro, se candidatasse, sozinho, A Constituinte corn os votos do Partido Conservador, conforme f6ra combinado. Mas, ao contrario, procedeu, indo contender, no pleito, com esse seu correligionario, de modo que, di- vidida entire os dois a votaqdo, nenhum delles conse- guiu eleger-se. E era assim que o sr. Accioly desdenhava as f6fas poltronas do Palacio Tiradentes! Ubi veritas? quando diz nao desejar fazer parte da Constituinte, ou quando se langa no prelio, preju- dicando a eleigio certa do dr. Manoel Satyro, se nao tivesse competitor dentro do seu proprio partido? VW-se dahi que s. s. 6 que e realmente muito habil "no meneio dos negocios politicos", como o mostram os acontecimentos que venho -commentando e os que lhes succederam. Continuando a sua geitosi exposiqAo, entra o ma- nifesto nos antecedentes da eleicao de 14 de' outubro de 1934. Depois de atirar a mim e ao dr. Jos6 Martins a pecha da mesma insinceridade que o distingue, por terms acceito os cargos de Senador e Secretario do Interior e Justiga, malediente allusdo a que, adeante, responderei, o sr. dr. Jos& Accioly entra nas demarches que precederam a organizagAo das chapas da Liga para a Constituinte Estadual e para a Camara dos Depu- tados. Affirma, entdo, que, depois de reunida a Commis- s&o Executiva do Partido Conservador e organizadas as listas de candidates solicitadas pela Liga me procu- rou, em seguida, para me communicar que "o dr. Ola- vo Oliveira desejava ir para a Camara Federal e que achava just sua aspiracgo". Corn effeito, recebeu a Liga as listas em aprego, e o sr. dr. Jos6 Accioly nao me fez aquella communica- qAo uma so vez, mas diversas, accrescentando sempre nao era candidate a deputado federal. Por outro lado, al6m das listas, recebi um officio, datado de 24 de setembro de 1934, com as assignatu- ras dos srs. drs. Jose Accioly, Olavo Oliveira, Joaquim Bastos e Stenio Gomes, concebido nos seguintes terms: "0 Partido Republicano Conservador do CearA leva ao conhecimento de v. exc. que se reputa cornm- direito de ter dois re- presentantes- na chapa federal a ser orga- nizada por essa corporagao e espera ver o mesmo attendido. Si, entretanto, injuncg5es insupera- veis tal nao permittirem, DEIXA AO IN- TEIRO CRITERIO DA LIGA A ESCO- LHA ENTIRE OS CANDIDATES APRE- SENTADOS, NA CERTEZA DE QUE MANTERA OS COMPROMISSOS ASSU- MIDOS PARA A MESMA". Accrescenta ainda o dr. Jos6 Accioly, em seu ma- nifesto, que,. ao communicar-me o desejo do dr. Olavo de ir para a Camara, aproveitou o ensejo para repetir- me que nao era candidate, frisando que,. como de outras vezes, eu me limited a ouvir silencioso a de- claraqdo que acabava de fazer, quanto a sua pessoa. Interpretando esse meu silencio, diz s. s. que "era como se a sua renuncia espontanea as posiq6es, pela conquista das quaes andavam outros a brigar, corres- pondesse a um sentiment intimo dos que dirigiam a Liga". Como se v&, pretend s. s. assim demonstrar que da parte da Liga havia o systematic intuito de ex- cluil-o de suas chapas. Mas o illustre paredro nao tinha e nao tem o di- reito de tomar-se dessa desarrazoada obcessao. Se, pelo officio acima transcript, o Partido Con- servador deu a Liga a faculdade de reduzir a um s6 os dois representantes, na chapa federal, a que elle se julgava com direito; se, pelo mesmo officio, ainda foi deixada ao inteiro criteria da Liga a escolha entire os candidatess apresentados, na certeza de que, em qualquer hypothese, o Partido manteria os seus compromissos assumidos para corn a mesma; se, por outro lado, o dr. Jos6 Accioly nao era, nem queria ser candidate, ao passo que o dr. Olavo desejava ir para a Camara Federal; se, conforme accentuia o pro- prio manifesto, preliminarmente ficou combinado e acceito que o Partido Conservador s6 teria um depu- tado federal e cinco estaduaes; nenhuma razdo de queixa podia e p6de ter o dr. Jose Accioly, por ter sido, final, escolhido o dr. Olavo para representante de seu partido na chapa organizada pela Liga. Se esta foi injusta para corn elle, nao o prefe- rindo ao dr. Olavo, toda a culpa Ihe cabe, porquanto nio tinhamos o direito de support que um:bom catho- lico, de verdadeira "formagdo christd", nao pudesse ser sincero em suas reiteradas e dignas affirmativas de renuncia. De certa vez atW me declarou, volvendo pie- dosamente os olhos para os c6us, que, hoje em dia, ta5o profundos e arraigados eram os seus sentiments reljgiosos que nem mesmo mais podia occultar os seus intimos pensamentos. Quanto a mim, bem se v6 que, pelo menos, a esse tempo, eu nao podia por em duvida o valor de tao ve- bemente confissao. Dei a ella todo o credit, embora, hoje, possa ser arrolado pelo proprio sr. dr. Jos6 Accioly entire os maus psychologos, quando trata da acgdo dos "plenipoten- ciarios lecistas" junto ao Governo Federal. Agora, porem, verifico e rectifico o meu erro: o que queria o dr. Jos6 Accioly era que, nao me con- formando corn o seu apparent espirito. de renuncia, Ihe solicitasse, empenhadamente, a grande honra de dignar-se acceitar tambem um dos humildes postos de nossa chapa. Incorri nesse grande erro, confesso, e dahi porque ainda hoje Ihe amargura a alma vaidosa o silencio que mantive, quando me repetiu que nio "era can- didato a cargo nenhum". Doutra vez corn elle ou corn outro que se mos- tre assim tao desinteressado, serei mais cauteloso, afim de nao acarretar novos odios a minha inhabili- dade political. Aquelle tempo, porem, ante o despren- dimento, que eu reputava sincero, do illustre chefe con- servador, a Liga Ihe deu uma prova de alto aprego e sympathia, por elle, entretanto, nio referida em seu long manifesto, -onde, apenas, se esforgou por accu- mular contra ella falsos motives de accusacgo. Embora jA fixados em cinco o numero de depu- tados conservadores A Constituinte Estadual, eu e o dr. Jos6 Martins fomos a sua residencia a Praga de Pelotas, e ahi Ihe offerecemos mais um representante naquella Assembl6a, ficando elle corn o direito, que a ninguem mais concedemos, de escolhel-o livremen- te entire os seus amigos. S. sia. gabou-nos o espontaneo gesto de cordiali- dade, ficando de nos indicar, no dia seguinte, o nome do seu candidate para o sexto lugar. Com effeito,- na manhd seguinte, appareceu em minha residencia para dizer-me que a sua escolha recahira na pessoa de seu parent e amigo, George Moreira Pequeno, em cuja lealdade, realmente, dev6ra por toda a sua f6, porquan- to, como os factos mais tarde o provaram, foi o unico que o acompanhou na renuncia aos compromissos as- sumidos corn a Liga Catholica. E esses compromissos eram formaes, absolutos, SOB PALAVRA DE HONRA, conforme reza a respe- ctiva acta em poder da Liga, datada de 2 de outu- bro de 1934, e assignada por todos os seus candidates A Constituinte Estadual, com exclusdo de meu pre- zado college e amigo, dr. Dario Correia Lima, que, por se achar no Rio, assumiu os mesmos compromis- sos em despacho telegraphico para aqui enviado. Segundo essa acta, os referidos candidates se com- prometteram, caso eleitos e reconhecidos, a votar no dr. Francisco de Menezes Pimentel para o cargo de Governador Constitucional e nos candidates apresen- tados pela Liga Catholica para os dois lugares de re- presentantes do Estado no Senado Federal. Veja, por6m, o public que sorte estaria reserva- da A candidatura do dr. Menezes Pimentel, e o quq restaria daquelles solemnes compromissos, caso o dr. Jos6 Accioly tivesse podido contar corn a solidarie- dade dos demais deputados conservadores na attitude que tomou, rompendo, A hora H, com a Liga Catholica. Quanto ao radio que me dirigiu d. Manoel, dizen- do, -apenas desejo chapa nome Accioly bem logo se comprehend a ligagco existente entire elle e o des- pacho que o dr. Perboyre Quinder6 enviou ao seu tio, Mons. Quinder6, companheiro de viagem de s. excial o sr. arcebispo, avisando-o de que nem elle, nem o dr. Jos6 Accioly tinham sido contemplados na chapa le- cista organizada, mas nao publicada. 0 que admira em tudo isso 6 que, nao send o dr. Jos6 Accioly candidate a qualquer cargo, como .o dizia, amigos seus dos mais intimos, contrariando essa sua nobre e patriotic attitude, porfiassem em immolal-o em postos que o seu generoso desprendi- mento repugnava. E isso o faziam, conseguindo ra- dios de ultima hora e descobrindo' corn rara e inexpli- cavel agudeza que- o nome de seu prezado chefe nao constava da chapa lecista apenas organizada, mas ain- da nao publicada!!! Indo em companhia do dr. Pimentel mostrar aquel- le radio ao dr. Accioly, assim agi por mera deferencia a sua pessoa, porque nada a isso me obrigava. Desse desipacho s6 me cumpria dar satisfaqco ao nosso gran- d(- arcebispo, como o fiz, e mais a ninguem. Entre- tanto, a excepqAo que abri em favor do dr. Jos6 Ac- cioly 6, hoje, por elle transformada em prova de que eu e o dr. Pimentel teriamos ido A sua residencia men- digar o favor de nao acceitar a interferencia de d. Manoel, afim de nao sermos contrangidos a modifi- car a chapa prestes a ser publicada. Jamais foi esse o nosso intuito, razdo por que nao podiamos ter a preoccupagio que s. sia diz ter desco- berto em nossas physionomias. Nao nos repetiu tan- tas vezes que nao aspirava a qualquer cargo? De onde, pois, a preoccupagcao? Preoccupados s6 poderiamos estar, se pudessemos admittir a hypothese de o dr. Jose Accioly vir a acceitar, a ultima hora, aquillo que sempre timbrara em recusar. Mas tal hypothese, que envolvia grave injustiga a sua sinceridade, n6s, entfio, nio podiamos admittir. Sempre impreciso e sibyllino em suas affirma- i5es, diz mais adeante o sr. Accioly que, "ap6s as eleig6es de outubro", eu embarcara para o Rio, se- guindo-se o dr. Olavo Oliveira, chamado com urgen- cia pelo Ministro do Trabalho. Ora,-quem isso leia, fica a pensar que eu segui para o Rio pouco tempo depois das eleig6es de outu- bro; entretanto, essa viagem s6 se verificou a 12 de marco deste anno ou seja ha quasi cinco mezes do pleito. Continuando, affirma s. sia. que "essas viagens repentinas, por via aerea, eram de molde a gerar ap- prehens6es nos espiritos". Eis ahi outra. cavillacgo que nao p6de passar sem o devido reparo. Fui ao Rio, porque o nosso leader, dr. Waldemar Falcdo, cabographou ao dr. Menezes Pimentel, pedin- do-lhe que eu ou o dr. Jos6 Martins seguisse, com ur- gencia, para alli, afim de ajudal-o na defesa dos recur- sos interpostos pela Liga para o Tribunal Superior de Justiga Eleitoral. Essa minha viagem, pois, amplamente divulgada pela imprensa, nao se cercou de nenhum mysterio "de molde a gerar apprehens6es nos espiritos!" A' vespe- ra de minha partida, fui mesmo a r.esidencia do dr. Jos6 Accioly, onde, nao o encontrando, apresentei as minhas despedidas a pessoa de s. exma. familiar. Custa, por6m, a crer que, hoje, finja s. sia. igno- rar o real motivo dessa minha viagem para dar-lhe a apparencia de diverse finalidade. Se, em chegando ao Rio, tratei tambem de poli- tica, fui a isso forqado pelos acontecimentos que la se desenrolaram. Conversei, effectivamente, varias vezes corn o eminente sr. President da Republica, em todas essas occasi6es, porem, fui sempre a chamado de s. excia., como bem o sabem os deputados da bancada lecista, no Rio de Janeiro, mormente o meu caro amigo dr. Fi- gueiredo Rodrigues, que residia no mesmo hotel em que me fui hospedar. Mas o sr. Accioly diz que eu fui visitar o Presi- dente da Republica, em Petropolis. E' outra insinuaqgo perfida, que me vejo obri- gado a repellir, porque tem em vista deixar compre- hender que fui espontaneamente avistar-me com o dr. Getulio Vargas para tratar do caso politico cearense. Em verdade, teria a maxima honra de me apro- ximar de s. excia. o sr. President da Republica para uma visit de cortezia. Mas nao 6 menos verdade que, em chegando ao Rio e antes de fazel-o, fui scientifi- cado por um telephonema do Ministerio da Justiga de que s. excia. desejava que eu fosse a Petropolis, onde, entio, se achava, em dia e hora designados. Sabe disso o dr. Waldemar Falcdo, em cuja com- panhia fui procurar o sr. Ministro da Justiga para ve- rificar se nao houvera engano quanto A hora da au- diencia que me f6ra transmittida pelo telephone. De todas essas minhas conferencias corn o emi- nente chefe da Nagdo, dei inteiro conhecimento, por cartas areas, ora ao dr. Menezes Pimentel, ora ao dr. Jos6 Martins, cartas essas de que, quando nao eram lidas por various outros amigos, inclusive o dr. Jos6 Accioly, pelo menos tinham estes sciencia. Jamais, pois, houve mysterious, quer em minha viagem, quem quanto ao teor de minhas conferencias com o dr. Getulio Vargas. Tambem nao 6 exacto que, em chegando ao Rio eu e o dr. Olavo Oliveira, a situagio se houvesse com- plicado, "trabalhada por influencias mysteriosas, im- penetraveis A visho de observadores distantes". Na Capital Federal, deparou-se-nos a mesma situa- c9io que, pouco havia, os deputados Waldemar Falceo e Figueiredo Rodrigues nos descreviam em longas car- tas lidas na presenga do sr. Accioly em uma reuniao, em minha residencia, a que tambem compareceram os drs. Olavo Oliveira, Pedro Firmeza, Jos6 Martins, Hermenegildo Firmeza e Brazil Pinheiro. 0 egregio brazileiro, em seu devotado patriotis- mo, aspirava levar a paz ao nosso Estado, por meio de -uma honrosa formula conciliatoria, que puzesse termo A lucta partidaria que, aqui, se vinha aggra- -vando de dia. para dia. Foi nessas disposig5es que eu o encontrei, send, por isso, levado a bater-me intransigentemente, pela manutenqdo da candidatura do dr. Menezes Pimen- tel, cujo afastamento, em absolute, n&o. admitti. Dessa minha .inalteravel solidariedade corn a can- didatura do dr. Menezes Pimentel, posso dar por tes- -temunhas todos os nossos amigos aqui e no Rio. E *at6 os meus adversaries politicos, que se achavam na Capital Federal, sabem os extremos a que, .nesse par- .ticular, chegou a minha irreductibilidade, chrismada mesmo de "intolerancia", em opiniio muito insuspeita. A origem de minha candidatura, contra a minha express e declarada vontade, 6 muito bem conhecida do sr. dr. Jos6 Accioly. Firme e inabalavel na adhesio A candidatura do meu prezado amigo, dr. Menezes Pimentel, de manei- ra nenhuma concorri para que meu nome apparecesse em substituicgo do seu. 0 paredro conservador conhece a carta que enviei ao .dr. Jos6e Martins, pedindo a este que a mostrasse ao dr. Pimentel e "aos nossos preciosos alliados". Concluindo essa carta, dizia: "Penso ninguem duvidarA da sinceri- dade com que assim me exprimo. Para mim continuio a dizer s6 Pimentel, e-mais ninguem". E mais adeante, accrescentava, referindo-me ao es- tud. dca formula que lhes f6ra transmittida: "Agora, cumpre aos amigos dahi re- solverem corn a mais ampla e plena liber- dade. Vejam, apenas, os interesses supe- riores de nossa causa, o alto cunho de pa- triotismo que a inspirou, e nada mais". Acima de tudo, ponham os reclamos de nossa honra e dignidade. Agora, jA nao sou o chefe, mas o simples soldado prompto a obedecer As ordens de seus superiores". Falava com absolute sinceridade, como os acon- tecimentos posteriores o demonstraram. Da deliberacgo de manter-se a candidatura do dr. Menezes Pimentel, na reunido a que alludiu o dr. Jos6 Accioly e a que esteve elle present corn os drs. Correia Lima, Sylla Ribeiro e Jose Martins, foi dado conhecimento A nossa bancada, no Rio, em cabogram- ma de 4 de maio, assignado por todos os 17 deputados lecistas e tambem pelos 4 referidos politicos. Desse despacho, transcrevo o trecho seguinte, muito significativo: "PEDIMOS TAMBEM TRANSMIT- TIR EDGARD ARRUDA, EM QUEM E POR QUEM NOSSA CONFIANgA E MAIOR APREgO PERMANECEM IMMU- TAVEIS, TODOS NOS CERTOS NAO PODEREMOS TER MELHOR ADVOGA- DO SUPERIORES INTERESSES NOSSA CAUSA". E' assim o meu accusador: hoje, para elle, a mi- nha viagem ao Rio foi "de molde a gerar apprehen- s6es nos espiritos"; corn a minha chegada A metropole, complicou-se a situag~o, "trabalhada por influencias mysteriosas, impenetraveis a visdo. de observadores distantes"; "os plenipotenciarios lecistas (eu e o dr. Olavo) 'nao se revelavam bons psychologos"; e, por fim, surge a minha candidatura, que o sr. Accioly nao diz, mas manhosamente insinuia haver resultado de nossa actuagdo na Capital Federal. Entretanto, naquelle cabogramma, por elle tam- bem firmado, declara que em mim e por mim a sua "confianga e maior aprego permanecem immutaveis", estando ainda certo de que nao poderia ter "melhor advogado" do que eu para "os superiores interesses da nossa causa". Veja o public quanto pode a paixio political! ! Mas nao admira que s. s. houvesse assim mudado de opiniao a meu respeito, em tao curto 0 que 6 pharitastico, deixando todos estarrecidos, e que tao estrenuo e fidelissimo defensor da candida- tura do dr. Menezes Pimentel, de cuja consolidacgo se supple o factor decisive, tenha vindo, final, a jogal-a as urtigas para ser o proprio competitor desse candidate!!! Eu, a quem o sr. Accioly, em seu manifesto, vi- sivelmente pretend attribuir a felonia de haver tra- balhado, no Rio, contra o dr. Pimentel, sempre estive e continmo ao lado delle; o sr. Accioly, sem embargo de seus protests de solidariedade, anda hoje a re- ceber elogios daquelles mesmos que combatiam todos n6s, nos dias amargos da campanha eleitoral... Tudo, talvez, pura questAo de... gosto. E' tal a sua preoccupagdo de subverter os factos, visando sempre crear situac6es suspeitas para mim e para os drs. Jos6 Martins e Olavo Oliveira, que, sem mencionar a data da reunido dos constituintes lecistas, em que se deliberou manter-se a candidatura Pimen- tel,-e que se effectuou a 4 de maio p. findo, s. s. trans- creve, em seguida, dois cabogrammas do Rio, com as datas anteriores de 2 e 3 do mesmo mez. Por outro lado, jamais declare, no Rio de Janei- ro, a quem quer que seja, que, "infelizmente, o Pi- mentel nao seria o Governador, porque o Getulio nao queria" e que, "no moment, o candidate era eu". Segundo a seriacgo em que sdo narrados os factos pelo sr. Accioly, essa declarasgo f6ra feita ap6s a re- solugio tomada, aqui, no CearA, de manter-se a can- didatura do dr. Pimentel. S6 isso basta para mostrar a sua inveracidade. "No momento, eu ja nao me poderia considerar can- didato, desde que o meu nome ji havia sido afastado, mantendo-se o do dr. Menezes Pimentel. Alias, ntunca como tal me considered. Ao contra- rio, quando, aqui, em Fortaleza, airida estava em dis- cussAo a formula do meu nome, eu, no Rio de Ja- neiro, em entrevista a "Noite", transmittida aos jor- naes desta capital, declarava que o candidate da Liga continuava a ser o illustrado professor de nossa Facul- dade de Direito. Se eu quizera ser o governador constitutional de meu Estado, nao teria lembrado para esse cargo, pri- meiramente, o nome do major Carneiro de Mendonga, e, depois, o do meu caro amigo, dr. Menezes Pimentel, junto a quem envidei grandes esforgos para conven- cel-o da conveniencia de concordar com a sua candi- datura, como elle proprio poderA attestal-o. Aquelle digno military recusou-se, peremptoria- mente, a acceitar a indicaqgo de sua pess6a para o posto em aprego, e o dr. Pimentel s6 a muito custo per- mittiu langar-se a sua candidatura. Mas, diz o dr. Jos6 Accioly que, final, acabei ac- ceitando o mandato de senador por oito annos, sem duvida "como um sacrificio imposto ao meu patrio- tismo", e nao obstante haver firmado um pacto corn o dr. Jose Martins, em virtude do qual nao acceitariamos "posig5es de especie alguma". Confesso a existencia desse pacto, em cumprimen- to do qual, realmente, sempre declinimos todos os mandates politicos. Assim procedemos na eleigao para a Assembl6a Nacional Constituinte, quando, se pretendessemos po- sig6es, ninguem nos poderia negar o direito de plei- ted-las.. Igual gesto tivemos durante a organizagAo das chapas federal e estadual para a eleig~o de 14 de outubro do anno p. findo. Quem com mais servigos d Liga nos poderia pre- terir no desejo que tivessemos de ser contemplados nessas chapas? Se f6ramos ambiciosos, se, como uns taes que, s6 tardiamente, 'vim a conhecer, fizessemos dos cargos politicos a razao supreme da vida humana, ter-nos- iamos logo atirado Aquellas cubigadas cadeiras, sepa- rando o nosso quinhdo, antes de distribuir o gostoso b6lo entire os amigos. Mas ahi estA a clara verdade dos factos, demons- trando o contrario. Foram as responsabilidades political que assumi- mos, em face da opinido public e do Governo Fede- ral, que nos levaram, em ultima instancia, a mim e ao dr. Jos6 Martins, a acceitar, respectivamente, o man- dato de senador e as funcq6es de Secretario da Jus- tiga. Em que pese a ironia com que o dr. Accioly ar- mou, malignamente, a sua phrase, acceitando esses cargos, impuzemos, realmente, grande sacrificio ao nosso patriotism. Os que me conhecem sabem que eu nunca pre- cisei de posicges political para viver. Outros nao po- dem dizer o mesmo. Entregue ha vinte annos aos labores de minha profissdo de advogado, grangeei, graqas a minha indefessa actividade e probidade pro- fissional, uma larga clientele que me vinha remune- rando com generosidade superior ao subsidio se- natorial. Assim, no exercicio do mandate, al6m dos encar- gos que ihe -sdo proprios, s6 terei prejuizos de ordem pecuniaria, com a perda, talvez irreparavel, de meus numerosos clients. Nao ha, no meu caso, fingidos damnos, como quando o dr. Accioly, suppondo trazer uma prova de- cisiva de sua desambicgo, affirma haver renunciado o cargo de Senador por nove annos, com apenas uma s.emana de exercicio do mandate. A renuncia e um facto, mas s. sia. esquivou-se de dizer o pingue tr6co que recebeu. Foi isso no governor do sr. Bernardes, sendo pre- sidente do Estado o sr. Ildefonso Albano. Para afastar a candidatura do sr. Joao Thome6, consumou-se, no Rio, mais um accord na political cearense, em que tomou parte active o sr. Accioly, e de que resultou a sua renuncia, no Senado, indo, por6m, como deputado para a Camara Federal, e a subs- tituigdo da candidatura do sr. Joao Thome pela do sau- doso e honrado desembargador Jos6 Moreira da Rocha, contra-parente e amigo dedicado do renunciante. Dessarte, o desinteresse deste propiciou-lhe, ape- nas, o mandate de deputado federal e a garantia de um president seu correligionario, sob cujo governor podia, como p6de, continuar a influir decisivamente na political do Estado. Eis ahi a verdadeira historic daquella decantada renuncia, que se processou atravez de uma concilia- gdo political assellada .pelo Governo Federal. Agora, porem, o illustre paredro se revolta contra o que elle, injustamente, denominou, em seu mani- festo, de "intervengdo do Presidente da Republica na economic da "Liga" para Ihe impor uma formula con- traria d que ella adoptara". Contesto, formalmente, que p honrado sr. dr. Getulio Vargas tenba querido impor a sua vontade na political cearense. S. excia., nos extremes de seu jamais desmenti- do patriotismo, nao podia desinteressar-se do nosso so caso politico, onde se degladiavam, em lucta aspe- ra e que promettia attingir a excesses truculentos, duas correntes igualmente amniias e solidarias corn o seu- governor. Preso gratidio dos cearenses, pelas significati- cas provas de alto aprego e maior consideragao que delles -recebeu, quando de sua viagem a este Estado, s.. excia. s6 podia, como chefe da NagAo, brazileiro e amigo. extremoso do CearA, voltar as suas vistas de patriot. para o afflictivo quadro das nossas lutas par- tidarias. Ninguem tem, pois, o direito de lhe exprobar, como um gesto contrario is praticas do regimen, o in- teresse com que visse a possibilidade de um entendi- mento amistoso entire os contendores, em ordem a- as- segurar, de prompto, a tranquillidade public e a paz no Ceard. Sobretudo nao.tern esse direito o sr. dr. Jos6 Ac- cioly, que, em seu largo tirocinio politico, que remon- ta, como diz, ao anno de 1896, sempre deu o seu pleno apolo a muitas dessas formulas conciliatorias, che- _gando.mesmo ao ponto, em certa vez, de vir do Rio, cnde se achava, para reconhecer, como Presidente do Estado, o sr. cel. Franco Rabello, cujos exaltados par- tidarios o haviam proscripto do Ceara, ap6s a deposi- cao do governor de que fazia parte. Em summa, o sr. dr, Jos6 Accioly, adoptando o methodo confuso na exposigao de seu manifesto, pre- tende,.afinal, demonstrar que rompeu com a Liga por- que, esta. procurava sempre excluil-o das posigces po- liticas, por- elle, alias, nao ambicionadas, culminando esse proposito na exclusdo de seu nome das cadeiras do Senado, para .uma das quaes alguns amigos seus, "desses que preferem arrostar as agruras do ostracis- mo a mentir a f6 jurada", entenderam que elle .devera ser escolhido, attentos os seus "repetidos actos .de re- nuncia" e a sua actuagdo como "factor, decisive do triumph Aa ILiga". Entretanto, e nio obstante esse vivo-desejo des- ses seus dedicados amigos, nao lhe foi dada a senato- ria em questao. "Ludibriados", como diz, esses seus amigos rom- peram corn a Liga, sendo por isso obrigado a acompa- nhal-os. E' fragillima a explicagio: Antes de mais nada, se era sincero em seus propositos de renuncia a todas as posig6es, nao dev6ra ter permittido que amigos seus, dos mais intimos, Ihe quizessem crear uma si- tuagAo melindrosa, procurando dar-lhe precisamente aquillo que nao desejava, de accord com as suas rei- teradas e formaes declarag6es. Depois, ainda que esses seus amigos tentassem romper corn a Liga, por serem assim desattendidos, o que se impunha a s. s., como chefe sem contrast, era dissuadil-os desse intuito, mostrando-1hes que o seu prestigio e autoridade nada soffreram, de vez que nao se poderia julgar diminuido por nao ter sido aquinhoado numa partilha em que, desde logo, renunciara a qualquer vantagem. A attitude contraria que tomou, 6 que aberra, francamente, das b6as normas de solidariedade poli- tica, a que se achava preso para cornm a Liga, em vir- tude at6 mesmo de compromissos escriptos, como o que se depara no officio do Partido Conservador, da- tado de 24 de setembro do anno findo, e acima trans- cripto. Mas tudo que ahi esta nada seria em face dos acontecimentos que se seguiram. Injustamente, embora, o sr. dr. Jos6 Accioly po- deria, final, ter-se afastado da Liga e consequente- mente da candidatura Pimentel, a qual, por questiono de ordem moral", declarou sempre dar a sua absolutea solidariedade". "Nunca tergiversel um momento, affirma s. s. em seu manifesto. "Minha resposta foi sempre, inva- riavelmente, a mesma: eu nao me evadiria ao com- promisso, que assumira, com o dr. Menezes Pimentel". Sem embargo de tdo peremptorias declarag6es, foi s. sia., por6m, muito al6m. Rompeu com a Liga, abandonou a candidatura Pimentel e veiu, final, a ser o seu competitor na elei- 9go para Governador Constitucional. Affirma-se, no manifesto, que recusou a indica- 9go de seu nome para aquelle alto cargo, tendo-lhe sido dados, "espontaneamente", os votos com que o Partido Social Democratico o suffragou. Sera essa a verdade? Infelizmente, ainda aqui, a historic nao foi contada em todos seus detalhes. Ainda no Rio, de fonte insuspeita, eu sabia que o nome do dr. Jos6 Accioly vinha sendo object de cogitag6es para o cargo de Governador, por parte de elements de relevo do Partido Social Democratico. Aqui, segundo vim a saber depois do meu regres- so da metropole, fazia-se franco trabalho em favor dessa candidatura, nao sendo a elle extranho o sr. dr. Jos6 Accioly. Mui ao contrario, de pleno accord com esse tra- balho, s. sia. chama A sua residencia os deputados Ruy Monte e Francisco Aguiar para solicitar-1hes o apoio A sua candidatura. Ambos negam altivamente, allegando 6s seus sa- grados compromissos com a Liga. Junto ao sr. Aguiar, o sr. dr. Jose Accioly insisted por mais uma vez, indo ao "Palace Hotel" onde esse deputado se achava hos- pedado, sendo ainda dessa vez desattendido. Ora, quem assim procede, segundo penso e ha de pensar o public, nao tinha nem tao grande desinte- resse, nem se esquivava a acceitar a indicaqAo de seu nome para Governador Constitucional. Estarei em erro? 0 public, que 4 o grande juiz, que nos julgue, a mim e ao dr. Jos6 Accioly, ouvindo, se preciso f6r, o depoimento daquelles deputados e mais o do sr. dr. Joaquim Bastos, que tem coi- sas interessantes a referir. Preferia que tudo isso fi- casse em silencio. Nao 6 de meu feitio de catholico verdadeiro commentary e critical os pecadilhos do proximo. Atacado, por6m, defendo-me, porque sou dos que prezam e poem acima de tudo a sua digniddade, visto foi esse o maior patrimonio que me deixou aquelle que, em vida, sempre foi dos mais constantes, deci- didos e leaes amigos do meu gratuito accusador de hoje. Honra lhe seja. Mas elle o disse: "A political tern raz6es que a razAo nao comprehende. Fortaleza, 27 de agosto de 1935. Edgar de Arruda Na discussdo travada em torno do cerebrino -nani- festo do sr. dr. Jose Accioly, deixei mui de proposito que apparecessem documents esmagadores e irres- pondiveis, para, final, treplicar A pobre coritradicta. que aquelle mallogrado politico, em hora triste e aziaga, entendeu de formular A resposta que Ihe. dei. Burilando o seu manifesto corn a paciencia de um artist da perfidia, entire os verdores primaveris de sua bucolica "Bethania", o sr. Jos6 Accioly parece ter sup- posto que ninguem viria contrariar o heraldico his- toriador, em sua pronunciada tendencia para victim das exigencias de amigos, que Ihe nao sabem compre- hender os gestos magnificos de renuncia. Dessa doce e suave illusdo, porem, veiu arrancal-o o protest energico, sincere e verdadeiro daquelles a quem s. s. pretendeu attribuir os sentiments e os actos pouco dignificantes corn que tristemente illus- trou a sua passage por entire os ultimos, aconteci- mentos politicos desenrclados em nosso Estado. Mas, destruindo a pretensa veracidade e insuspei- gAo de seu manifesto, ahi, estdo, publicadas na impren- sa, nao s6 as respostas fulminantes que tambem Ihe deram os drs. Olavo Oliveira e Jos6 Martins Rodri- gues, como ainda as cartas dos nobres e valorosos depu- tados dr. Ruy Monte e Silveira Aguiar. Eu f6ra informado de que esses intransigentes e lealissimos constituintes. viriam a imprensa confuhdir com o seu depoimento arrazador a palavra suspeita do here da Bethania, e, por isso mesmo, habituado. que fu i, na pratica professional, a valer-me, apenas, de documents irrefutaveis, aguardei o pronunciamento daquelles fidelissimos depositarios .de um compromis- so de honra, para voltar a piedosa missAo de rezar o. de profundis por quem, deliberadamente, cortou o fio de sua vida political, demonstrando, sem rebugos, a que ponto se p6de descer na contrafacg6o da verdade. Parallelamente a essas reivindicag5es da certeza, historic, em acontecimentos recentes testemunhados por dezenas de homes de responsabilidade e verifi- cadps A iplena luz meridiana, o autorizado orgdo da archdiocese, do angulo da Acqdo Social Ca-Jholica, condemnava tambem o manifesto com que o espirito religioso de seu autor se insurgia contra a Liga Catho- lica, que e, como frisa "0 Nordeste"o-"um sector do apostolado social dentro da hierarchia ecclesiastica", e Afrente do qual "estA um directorio leigo, corn poderes proprios, dispondo da confianqa immediate e complete dos nossos superiores espirituaes". Antes, por6m, de oppor esses documents a pala- vra claudicante do fallaz historiador, eu quero tirar- Ihe a ultima illusao em que sua vaidade se compraz. Enganando-se, quando nao engana, supple s. s. que Ihe vote eu grande odio, quando, tenho, apenas, por sua pess6a, um profundo sentiment de real pie- dade. A confused Ihe nasce da insopitavel vehemencia comr que atalhei a injustiga clamante de seus concei- tos, na just represalia da dignidade offendida. S6 poderdo comprehender esses movimentos incoerciveis de defesa os que nao transigem nem se abastardam na inviolabilidade dos preceitos moraes a que subor- dinam a sua conduct social. S6 poderdo comprehender a revolta de uma consci- encia ferida pela iniqualificavel leviandade corn que a pretendem macular, os que cultuam e respeitam a hon- ra alheia, dando-lhe os mesmos f6ros de inquebranta- vel garantia que reivindicam para a sua propria honra. Foi, nessa situaqdo, que eu me vim a achar, ante a malicia venenosa do sr. Accioly. Defendi-me, sem duvida, com vigor e. sobretudo, treito A rigorosa ex- posigao da verdade. Nao enredei, nao mistifiquel, n5o adulterei factos e circumstancias. Fui exacto, implacavelmente exa- cto, mas sempre exacto. Separei a apparencia da realidade, restabeleci as lindes que extremam uma da outra, reabri os rumos da sequencia historic dos acontecimentos, dolosa- mente confundidos pelo audaz historiador. A empresa de tal monta ninguem se langa sendo corn pugnacidade e desassombro. Em tudo isso, por6m, nao ha lugar para o mes- quinho sentiment do odio, que nada construe de du- radoiro. Odio de quem e de que? do sr. Accioly e do seu manifesto? Um e outro, apenas, proporcionaram uma excellent oportunidade para um severe julgamento de attitudes. Eu, de mim, lhe agradego o ensejo com que me azou para definir as responsabilidades de quantos participaram dos successes da ultima cam- panha eleitoral. 0 sr. Accioly nao me desperta, pois, odio al- gum, e antes o bemdigo na simpleza corn que se quiz inculcar de chronista de uma phase, ainda pouco co- nhecida, de nossa historic political. Se Ihe nao o honro corn o-meu odio, positivamen- te eu o lastimo na minha piedade, sobretudo agora, quando tudo conjura contra a inopia de seu manifesto. Aqui, sim, ha real "conjura", manifesta na trama de factos e arguments invocados de todos os lados con- tra os puros sophismas corn que ousou justificar, de public, a sua inqualificavel renuncia aos compro- missos pactuados solemnemente com a Liga Eleitoral Catholica. Realmente, de todos os sectors conspiram contra elle os testemunhos que vem surgindo A luz da pu- blicidade. Disse e redisse, por exemplo, que s. excia. o sr. Arcebispo foi a sua casa convidal-o para ser um dos candidates da Liga. Esquece-se, porem, de que, conforme a sua pro- pria confissdo, o nosso eminente e querido. pastor se fez acompanhar de um home da alta envergadura moral do dr. Andrade Furtado. Trata-se, portanto, de facto occorrido na presen- ga de tao abonada e illustre testemunha. E o que diz' ella a respeito? Acaso concorda corns. s. ou commigo, quando affirmei que o sr. Arcebispo f6ra A sua resi- dencia, nao para dizer-lhes "que devia ser um dos candidates da Liga", mas tfo somente convencel-o de que nao era possivel dar-se-lhe o outro lugar que plei- teava para o dr. Olavo? Ora, leia-se o artigo desse brilhante publicista, em "0 Nordeste" de 28 de agosto, e ahi, concordando corn o que declare, se depara este trecho precioso: "Quando do ultimatum do dr. Jos6 Accioly, para que figurassem dois representantes do P. R. C. na chapa lecista A Constituinte Nacional, s. excia. (o sr. Arcebispo, pessoalmente procurou accommodar a situa- gao, indo A residencia de s. s.ia. para alcancar que se contestasse corn o lugar reservado ao seu partido". "0 illustre Prelado da Igreja Cearense, como ami- go particular do dr. Jos4 Accioly, contava retirar a difficuldade corn a sua interferencia delicada.. Era um acto praticado na intimidade, com o carter amis- toso de quem desejava ardentemente ver o exito da tentative de organizaeio dos catholicos para susten- taculo dos principios de f6 na -constituicgo civil da Patria". Nao se senate o sr. Accioly confundido ante a cla- reza desse depoimento? E, agora, onde 6 que "se to- pam corn inverdades, a cada passo", quem "escreveu sob a impressed de alguma leitura de Munckhausen?" Fui eu ou o desapaixonado historiador? Tambem af- firmei que s. s., ao contrario de mim, que nao dei um passo em favor de minha candidatura, logo abando- nada pelo meus amigos na inteira liberdade em que os deixei para aprecial-a, trabalhou fortemente por se ver elevar a curul governmental, em prejuizo da candidatura do dr. Menezes Pimentel, a cujos com- promissos s. s. peremptoriamente declarava que nun- ca se evadiria. Accrescentei ainda que, renegando esses compro- missos de honra, que s6 existiram para opp6r-se ao meu nome, porque, na formula suggerida, nao havia uma senatoria vaga para sua illustre e desambiciosa pes- soa, tratara corn os deputados Ruy Monte e Francis- co Aguiar, solicitando-lhes o apoio a sua candidatura. Vendo, assim, por terra a sua apregoada renuncia aos cargos publicos, exposta, em sua incrivel reali- dade, a maneira por que, assim, se transformara em competitor do..dr. Pimentel, s. s. se limitou a negar que houvesse pedido apoio aquelles deputados para eleger-se ao governor constitutional do Estado. Mas essa negative pura e simples, sem outra au- toridade que a de sua palavra tantas vezes jA com- promettida, bem cedo tambem teve de ceder A dura e dolorosa realidade. Na "A Rua" de hoje, tanto o sr. dr. Ruy Monte como o sr. Aguiar, com a responsabilidade de seu pas- sado de homes de bem, declaram, precisamente, o que affirmei, isto 6, que o sr. Accioly pediu o concur- so de seus votos para a sua candidatura como compe- tidor do dr. Pimentel!!! Ora, em face disso e depois disso, e possivel mais levar a serio o sr. Acioly corn o seu ridiculo manifesto? Pode-se-lhe emprestar autoridade para o commenta- rio de uma phase political que elle julgou propicia a satisfagdo de sua immensa cupidez? Onde estd o ho- mem que, com o entono de um apostolo, afastava de si as posig6es political, como se fossem o peccado a tental-o corn -as suas seducg5es inebriantes? Onde:o redimido, que hoje reconhece os seus passados erros e que se admira de que eu nao possa compreherider, comb realmente nao comprehend, a sua condemna- c6o a praticas que, antigamente, teriam merecido o seu apoio? Ao contrario de sua pretensa regeneragao, "corn a transformaeao politico-social por que passou o Brasil", o que ahi estA e o que foi dito e documenta- do pelos drs. Jos6 Martins Rodrigues e Olavo Oliveira, em suas formidaveis replicas, denunciam, infelizmen- te, que o sr. Accioly 6 um caso litteralmente perdido. Nao duvido de seus anseios de pureza, do clamor de sua consciencia perseguida pelos seus confessados erros, mas desses piedosos e louvaveis intuitos de re- generagdo ainda nao se conhece umra prova insophis- mavel. De seu procedimento, nas ultimas eleiqoes, s6 re- sulta a fraqueza desses propositos logo transforma- dos em crueis decepgoes. Deus, por6m, o ampare e delle se tome de mise- ricordia, como sinceramente o desejo de todo o co- raqao. Fortaleza, 3 de setembro de 1935. Edgar de Arruda Replica do dr. Olavo Oliveira Bem razdo tern Saint-Clair, citado pelo Dr. Jos6 Accioly, no seu recent manifesto: "Ha em political um moment em que 6 preciso saber se separar de Feus amigos". Esse moment e aquelle em que se exige o holo- causto da nossa dignidade, para pasto de interesses pessoaes; esse moment 6 aquelle em que se reclama o sacrificio da nosso honra, em proveito de appetites individuals. 0 traditional e nobre Partido Republicano Con- servador, "no que elle possuia e ainda posse de mais representative", tem invariavelmente assim proce- dido com o Dr. Jos6 Accioly, abandonando-o, nos mo- rnentos em que elle, com o mais absolute despreso a causa collective, passa a servir aos adversaries, miri- ficamente tangido pelas solicitag6es do seu eu. Na memorial de todos a attitude brava e home- rica do P. R. Conservador na fragorosa e renhida campanha 'Bizerril Franco Rabello, decisive para o seu destino proprio, como para o proprio destino do Ceara. Na memorial de todos o seu epilogo, e o triste papel representado pelo Dr. Jos6 Accioly, emprei- tando e realisando, em troca de posig6es officials, o reconhecimento do candidate adverse, aliAs algoz da sua propria familiar. Neste moment, para resguardo da sua reputa- -Ao repudiou-o in totum o glorioso P. R. Conser- vador, para se arregimentar em torno de Thomaz Cavalcante, vexiliario dos seus principios de brio e de civismo. E entAo o dr. Jos6 Accioly tinha a coragem sem par de se proclamar trahid. pelos seus amigos, tao cruelmente vilipend~ados por S. S. No conhecimento de todos a recent L sobrehu- mana campanha da Liga Eleitoral Catholica contra o P. S. D., de certo uma das mais bellas paginas da vi- da republican do Paiz. Alliados e confundidos na mesma ardente as- piragdo de reintegrar no direito e na ordem o nosso amado Estado, estreitamente solidarisados pelo mes- mo elevado anseio cle servir ao nosso patriotism, le- (istas, democrats e conservadores, todos n6s della particip6mos, como uma s6 familiar, todos n6s rejei- tando, sem uma s6 excepcgo, honras e vantagens ma- teriaes, para :afrontar innumeros perigos, pelo sim- ples prazer de cumprir o nosso dever, e de respeitar os nossos compromisbos. E ao cliegarmos a Terra da Promissdo, sangran- do os p6s da &spera:jornada, qual a nossa surpreza e qual a nossa dor, ao ver, corn os nossos proprios olhos, que- as. terriveis hostes inimigas, que a occupavam, estavam sendo dirigidas por um dos nossos generaes, o Dr. Jos6 Pompeu Pinto Accioly, -. que incompre- hensivelmente passr.ra. a ser o competitor do conspi- cuo Dr. Menezes Pimentel, figurando como candida- .to do P. S. D., de cujos homes se comprazia dizer- se separado por um fosso intransponivel o do res- peito a se proprio-e :cuja imprensa o enlameira,qua- tro annos a fios, por todos os modos, chamando-o ate, com .grande revolta nossa, de "podriddo moral em orma.humana". Nesse moment, o P. R. Conservador tornou a abandonal-o, para, numa elementary nogdo de vergo- -iha e character, ficar corn os seus companheiros de soffrimentos, e, por intermedio dos seus orgdos legi- timos, dar plena exacgdo aos compromissos escriptos de todos os seus deputados de suffragarem o illustre Dr. Menezes Pimentel para o Governo do Estado e os nomes indicados pela Liga para Senadores. Agora, como outi'ora, 6 o Dr. Jos6 Accioly quem Fe diz trahido . . E tanta consciencia tern elle do seu acto, que pro- cura occultal-o, declarando que nao se candidatou ao Governo do Estado "como a maldade de certas almas -prouve engendrar e assoalhar para excusa de suas proprias fraquezas", certo de que nesse ponto estdo a sua confusio e a scu opprobrio. Esquece-se S. S.' que os factos sdo de hontem. Esquece-se, S. S. que, al6m dos votos exponta- neos dos elemerntos ccntrarios do P. S. D., obtidos corneum -reciproco ,fiador idoneo, foi tambem vota- do pelo unico deputado conservador, obediente d sua crientagdo, e pessoa da sua absolute intimidade; es- quece-se S. S. de que PESSOALMENTE tudo inten- tou, tudo emprehendeu para conseguir que igual- mente o suffragassem os nossos grandes amigos Dr. Ruy Monte e Silveira Aguiar veros her6es lecis- tas, prototypes de honradez que repelliram as suas Lentativas de alliciamento. E qual a razdo da anomala attitude do Dr. Jos6 Accioly ? Porque nao foi candidate a uma senatoria, eis a verdade nua e crda. E por que se insinua S. S. trahido nesse passo pelos conservadores ? Porque queria que, d semelhanga do seu unico deputado, os outros quatro deputados estaduaes con- .-ervadores jogassem a faca aos peitos da Liga, corn a eixigencia formal de uma senatoria para S. S. Impossivel, dentro da mais comesinha lealdade, em face da palavra de todos solemnemente empenha- da, no tocante a material, circumstancia de relevo, que imprime aos acontec2mentos cunho especial, cuidado- samente occultada por S. S. Saiba o public e sonegou-o o escrupuloso bistoriador Dr. Jos6 Accioly que em document, datado de 2 de Outubro de 1934, e firmado nemine dis- crepante pelos candidates lecistas a deputados in- clusive os conservac'ores Joaquim Bastos Gongalves, Stenio Gomes da Silva, GEORGE MOREIRA PEQUE- NO, Francisco de Almeida Monte, Francisco Silveira de Aguiar e Francisco Ignacio Ramos ficou con- cluido um pacto solemne entire a Liga, representada pelo Dr. Edgard de Arruda, e os alludidos candida- tos, cujo theor 6 e seguinte: "la. A Junta Estadual da LIGA ELEITORAL CATHOLICA do Estado do Ceara incluirA em sua chapa de deputados A Assembl6a Constituinte Esta- dual os nomes dos candidates que abaixo assignam o present compromisro. 2a. Os mesmos candidates,. infra assignados, SOB A SUA PALAVRA DE HONRA, e caso sejam eleitos e reconhecidos, solemnemente se compromet- iem a: 1.0 votar no nome do dr. Francisco de Mene- zes Pimentel, professor e director da Faculdade de Direito, para o cargo de Governador Constitucional do Estado, de accord com o disp6sto has "Disposigoes Transitorias", art. 3.o, da ConstituigAo Federal de 16 de Julho do corrente anno. 2. Votar, ainda de accordo comn o referido prveceito constitutional, NOS CANDIDATES APRESENTADOS PELA LIGA FLEITORAL CATHOLICA PARA OS DOIS LO- GARES DE REPRESENTANTES DESTE ESTADO DO CEARA NO SENADO FEDERAL". Pergunto aos humens de minha terra: vincula- dos a tdo decisive obrigacgo, assumida pelos nossos deputados, sob a sua palavra de honra, era licito ao Partido Republicano Conservador ter outros candi- datos aos cargos de senadores que nao os da Liga ? S6 nao responaerao pela negative aquelles que julgam os contracts escriptos m6ros trapos de papel, e nenhum valor d5o as convengbes political . . So6 responderao pela negative aquelles que, agin- do de maneira contraria, entendem nao ter trahido a 16 jurada e ainda se cnroupam de victims de uma fe- Ionia . . Prescindo do juizo dessa gente. Quero mesmo para mim todos os seus apodos e de "tantas pedras que me atiram hei de former um al- tar", onde brilharA immacula a hostia da minha honra. Nesse tocante galhardamente se portou o P. R. Conservador. No mesmo dia cm que os deputados conservado- res, presents em Fortaleza, assignaram aquelle im- portante document, me procurou em nossa casa, em Forangaba, onde resido, o meu entdo prezado chefe Dr. Jos6 Accioly, a quem votava, como e sabido, grande estima e verdadeira amisade. Falou-me sobre o melindroso them, concluindo que deviamos pleitear uma senatoria, para n6s, posto que para si r'ada quizesse, nesse seu jd proverbial desprendi- mento. Respondi-lhe que, dentro daquelles moldes, .cceitos para garantir a unidade da Liga, eu e os que porventura me ouvissem nao poupariamos .esforgos ncsse sentido. Accrescentei, como era natural, que r s. em tal hypothese seria o nosso candidate. Nesse desideratum bastante me esforcei corn outros emigos, notadamente corn Stenio, F. Monte e Aguiar. Versei varias vezes o assumpto, nao s6 corn o Dr. J os6 Accioly, senAo tambem corn o Dr. Menezes Pi- mentel. Este nunca assumiu comnosco o compro- misso de attender-now, recebendo, entretanto, a nossa pretengco corn grande sympathia. Chegou a autorizar-me a transmittir essas im- press6es ao Dr. Jos6 ApiAoly, ao tempo do regresso do Rio do nosso cornmumn amigo Dr. Sylla Ribeiro, a quem, em conversa no meu escriptorio, communique ( ponto de vista dos conservadores nessa questfo. Os altos interesses da Liga, gysados por cir- cumstancias posteriores, nao permittiram se viabili- sasse a nossa aspiraiao, em grande parte por culpa de s. s. Restava aos nossos deputados cumprir o seu de- c'er, satisfazendo a sua palavra. Nada mais. Em vez de doestos, s6 elogios merecem por esse rcto. Censuras cabem a quem actuou de modo contra- rio. No libello do Dr. Jos6 Accioly ha nesse particu- lar uma passage, a mim referente, altamente signi- ficativa em abono do que affirmo, si bem pesada. Segundo narra, e exacto 6, no dia 8 de Maio, ca- bographei a Stenio avisasse ao chefe que a Liga estava dispondo de duas senatorias. Claro que estava por Elle trabalhando e solicitava aos daqui o seu concurso: E fil-o, com ardor e paixao, nas 48 horas seguin- les, realisando os entendimentos e as ligag6es natu- raes, atW que, a 10, convencido da inanidade do ten- tamen, escrevi ao Dr. Jose Accioly mostrando a sua inviabilidade. Em tempo, isto 6, opportunamente, nesse angustio- so period de 48 horas, fui informado, leal e sincera- mente, pelo meu distinct college e anmigo Pedro Fir- meza de um pormenor de dcstaque, por n6s conserva- dores ignorado: ao assumirem os candidates democra- tas aquelle compromisso,-relativamente As senatorias, tinham tambem recebido da Liga a certeza verbal de que, na hypothese de ser cf.ferecida aos conservadores uma caddira de senador, a outra seria attribuida aos democrats. Ora, as critics contingencies, em que se encon- trava a Liga, do meu conhecimento director, nao per- mittiam essa solucao, por que sei ainda trabalhou o digno Dr. Menezes Pimentel. Nessa attitude dos de- mocratas, innegavelmente legitima, acto algum de hostilidade havia nem ao Dr. Jos6 Accioly, nem ao Partido Republicano Conservador. Punha-se apenas nos terms primitivos da ques- tao. Nada mais. Seria condemnavel excess levar o meu aprego ao meu estimado chefe ao ponto de me insurgir con- tra o pacto de honra dos nossos dignos deputados - homens de fibra e de character, cujo bom concerto se- ria infamia procurar comprometer. Restava conformar-me com os acontecimentos, e pleitear vivamente para o Dr. Jos6 Accioly uma po- siqAo de destaque no Governo lecista a constituir-se, o que effectuei corn pugnacidade, conquistando o comn- promisso indeclinavel de que no mesmo fosse Ed- gard ou Pimentel seria s. s. nomeado Prefeito de Fortaleza, posto de projecqAo, em que esperaria natu- ralmente as futuras eleig6es federaes. De tudo isso sabe o Dr. Jos6 Accioly, a quem o Dr. Pimentel depois offereceu at6 a Secretaria do In- terior e da Justiga. Mas, amigo da verdade, corn irresistivel pendor para victim, nada disso contou no seu bizarro e se- reno depoimento para a posteridade. Preferiu escon- del-o... Ademais, por esse mesmo tempo, chegaram ao Rio proves inconcussas do entendimento do Dr. Jos6 Ac- cioly coom o inimigo, -entendimento confirmado pelo desenrolr dos iactos e transfjrmado em allianga, em virtude do qual terminou S. S. como candidate de combat ao Dr. Menezes Pimentel. Merece reparos a geitosa narrative da escolha do deputado conservador, effectuada inteiramente A fei- gdo do Dr. Jose Accioly. Na reconstituigao do P. R. Conservador o factor pessoal ficou completamente cancellado. Tinhamos duras liq6es no passado. Governava-o na realidade e de direito a Execu- tiva, em nome das forgas, que a formavam. Corn a morte do inolvidavel Padre Cicero, consi- deravelmente se enfraqueceu o nosso sector em Ca- riry, onde, no Crato, o prestigioso Coronel. Anto- nio Luiz element do Dr. Jos6 Accioly f6ra for- cado a alheiar-se do alistamento, por imperiosos mo- tivos de familiar. Nos quadros eleitoraes do Estado tinhamos peso e contingent politico apreciavel, como revelaram as eleiq6es, nos seguintes collegios: a) em For- taleza, Unido, e Aracaty, do nosso college Dr. Manoel Satyro; b) em Baixio, Lavras e Cedro, do Dr. Ste- nio Gomes; c) em Sdo Benedicto e Campo Grande, do Dr. Joaquim Bastos; d) em Sobral, do Major F. Monte; e) em Granja e Palma, meus; f) em Joazeiro, do Dr. Juvencio Santanna, por mim re- presentado. Como se v6, o Dr. Jos6 Accioly de modo algum dispunha de forgas eleitoraes proprias. A sorte dos nossos representantes federaes e es- taduaes, dependia positivamente do concurso das di- versas correntes da nossa corporagio, das quaes, iso- ladamente, nenhuma assegurava, por si, a victoria de quem quer que fosse. Antes de embarcar para o sul, o monsenhor Quin- der6 asseverara-me e assoalhara em Fortaleza - que, daquella vez S. Excia. o grande arcebispo do CearA garantiria a ida do Dr. Jos6 Accioly para a Ca- mara Federal. Foi essa auspiciosa assergao que narrei, ao reunir- se a Executiva, pela primeira vez, e ao expor-lhe leal- mente os motivos determinantes da minha candidatura. Resolvemos unanimemente pleitear dois deputados federaes; na chapa da Liga, de cujo servigo ficou encar- regddo o Dr. Jos6 Accioly, como Presidente da Exe- cutiva. Aos mencionados cargos eramos trez os aspiran- tes: o Dr. Manoel Satyro, o Dr. Jose Accioly e eu, sen- do que o primeiro nobremente se reputava perdido para a Liga, o segundo era considerado patrocinado por D. Manoel, e o terceiro, eu, tinha a seu favor o valioso patrocinio, perante paredros lecistas, de pre- cioso amigo, elevado a just posig&o culminante na Republica, pelos seus peregrinos dotes intellectuaes e moraes. Feridos os debates, o Dr. Manoel Satyro defended a these do nosso afastamento da Liga, com allegativas afinadas no seu criterio. Dentro do ponto de -vista precipuo de que sem o concurso do P.. R. Conservador a Liga seria derrota- da, os demais membros da Executiva votaram em sen- tido contrario. Era arraigado jensamento commum dos suffra- gantes evitar a todo transe o dominio do P. S. D., pensamento esse calorosamente esposado pelo Dr. Jos6 Accioly. Nessa occasido, tinhamos como certo viriamos final ser aquinhoados com dois logares na chapa fe- deral, a ser organizada pela frente unica da Liga. Neste presupposto, e corn larga visdo, a Exe- cutiva em officio de 20 de Setembro de 1934, indi- cou A mesma para deputados federaes os nomes dos seus trez components, pretendentes a investidura, tendo ficado convencionado que o Partido em peso suffragaria sem tergiversag6es a referida chapa le- cista, fossem quaes fossem os escolhidos. Os dirigentes da Liga acabaram por declarar pe- remptoriamente ao nosso plenipotenciario, o dr. Jos6 Accioly, s6 nos confeririam na sua chapa um deputa- do federal que, frize-se todos juntos, n6s pro- prios poderiamos perfeitamente eleger. Por essa epocha, eu me achava atarefadissimo, preoccupado sobremodo, corn o preparo de processes de reajustamento economic, a mim confiados, cujo prazo estava a terminar, pouco tratando de political e sendo-me sacrificio qualquer perda de tempo. A 25 de setembro de 1934, no meu escriptorio, novamente se reuniu a nossa Executiva, compare- cendo a sessdo os drs. Jose Accioly, Manoel Satyro - este trazido pelo primeiro e visivelmente revoltado, - Stenio Gomes, Joaquim Bastos, Francisco Monte e eu. O dr. Manoel Satyro deixou transparecer clara- mente iria tomar attitude different da nossa, ha- vendo mesmo se recusado a assignar o officio, na- quella data por n6s enderegado a Liga. O dr. Jos6 Accioly, largamente nos historiou a irreductibilidade da Liga em contemplar-nos somen- te cornm um candidate e terminou propondo apresen- tassemos chapa propria, d parte. Os restantes membros da Executiva repelliram semelhante proposito, sob o color da imprescindibili- dade do coefficiente de todos os partidos para asse- gurar o desbarato do P. S. D. meta de todos. Rendeu-se s. s. a opinion dos seus pares. Em segui- da, bordou commentaries sobre o precedent histori- co de vir invariavelmente representando o Partido at6 quando lograva este uma unica cadeira, subli- nhando, porem, que nao era candidate. Expressei aos presents que, apesar de muito me merecer s. s., nao desistiria -, por motives especiaes, da minha candidatura, em seu proveito. Deliberou a Executiva manter as indicaqges pri- mitivas J. Accioly, Satyro e Olavo, reservando peremptoriamente A Liga o direito de escolha entire os trez, corn a condigdo do preferida ser apoiado pelo Partido, juntamente corn a chapa da Liga. Essa resoluqgo foi reduzida a escripto. Eis o do- cumento: - "Fortaleza, 24 de setembro de 1934. Exrno: Sr. President da Liga Eleitoral Catholica de Fortaleza. 0 Partido Republicano Conservador do Ceara leva ao conhecimento de V. Excia. que se repu- ta com direito a ter dois representantes na chapa fe- deral a ser organizada por essa corporaqdo e espera ver o mesmo attendido. Si, entretanto, injuncg6es insuperaveis tal nao permittirem, deixa ao inteiro criteria da Liga a escolha entire as candidates apre- se'ntados, na certeza de que manterd os compromis- sos assumidos para corn a mesma. Sauda56es. (a) JOSE' POMPEU PINTO ACCIOLY. OLAVO OLI- VEIRA. JOAQUIM BASTOS GONqALVES. STE- NIO GOMES". Erroneamente, ao meu ver, o dr. Manoel Satyro criara, merck de ogerisa invencivel a Liga, uma si- tuaqco de prevengoes entire a sua pessoa e os dirigen- tes da mesma, tao intense e profunda, que era fatal o 'seu afastamento. Foi nessa occasido, bem como no dia seguinte e antes de exarado o julgamento da Liga, que, lem- brando-me o dr. Jos6 Accioly o meu aproveitamento na Assemblea, para organizer, como jurista, a cons- tituicgo, redargui-lhe que, si fosse eu o adoptado pela Liga, bem podia s. s. acceitar a presidencia da As- sembl6a Legislativa, funccao em que, como substi- tuto eventual do Governador, teria ensanchas para prestar largos servigos ao nosso partido. Avancei que, si fosse elle o preferido, eu me conformaria com o citado posto, apesar de ir recahir sobre os meus hombros o onus de dirigir os amigos, na sua auseri- cia no Rio. Recusou-se. Depois do fielmente neste trecho contado, incri. vel 6 tenha o dr. Jos6 Accioly o arrojo de asseverar que ndo f6ra candidate a deputado federal pela Liga, como delegado dos conservadores, quando existem dois officios do mencionado Partido d direcqdo da re- ferida aggremiagdo, ASSIGNADOS TAMBEM POR S. S., indigitando-o corn outros para o mencionado cargo. Outrosim, 6 pasmoso e at6 hilariante house o ve- Iho e sagaz politico, a nao ser olvidando o senso commum, graphar esta phrase "Presumo nao er- rar, affirmando que si naquella occasido me candida- tasse A Camara Federal, estaria corn a minha eleigdo garantida". Proh pudor!! Corn que votagqo? Jamais s. s. se elegeria sem o suffragio dos mu- nicipios de Stenio, (que tambem enfeixava os de Aguiar), F. Monte, Bastos e meus. E. todos n6s assentaramos, graniticamente, pres- tigiar, corn alma e coraqao, a chapa da Liga, pelos superiores motivos ji. expostos, hauridos no nosso amor a collectividade cearense. Foi o partido, e nao o dr. Jos6 Accioly, que me candidatou A deputacao, gesto igualmente dispensa- do a s. s. e ao dr. Manoel Satyro. Corn o patrocinado pela Liga fosse qual fosse - jamais seria dado a qualquer dos dois outros .con- correr: a) porque se tinham obrigado a isso; b) - porque seria fatalmente derrotado. Tinha s. s. lembranca do que Ihe occorrera na constituinte, pleito em que, sem ser candidate, com- petira corn o dr. Manoel Satyro. Irrefutavel! Opportuno esclarecer que, junto a Liga, sempre detendi corn calor a formula Jos6 Accioly e Ola- vo para os conservadores e Pedro Firmeza e Sylla Ribeiro para os democrats a qual ainda hp- je sinceramente reputo teria sido a mais convenient e acertada. No perfilhamento do meu humilde nome, pela Liga honra que muito me desvanece nenhum servigo pessoal desenvolvi. Devo-a, para mim, A influencia decisive do meu grande amigo, atraz indicado, junto a chefes lecistas da sua intimidade, a qual me 6 tanto mais grata, quanto foi de todo expontanea e imprevista. Nada devo, pois, ao dr. Jose Accioly, na minha acceitagdo pela Liga. E a minha eleigdo, eu a devo em primeiro lo- gar ao meu partido e depois aos combatentes agru- pados sob a bandeira geral da Liga, que me desva- neceram corn o seu honroso suffragio, attengdo ca- ptivante, que jamais esquecerei. * 6 Na delicada trama de insidias, urdida pelo dr. Jos6 Accioly com paciencia benedictina e atravez long period de tempo, voeja a increpacgo de que foi um gesto isolado do dr. Edgard, de Pedro Firme- za, e meu, a pretendida substituicao da candidatura do dr. Menezes Pimentel pela do Presidente da Liga Eleitoral Catholica. Ndo obstante o seu cuidado evangelico em des- figurar a verdade, no proprio venenoso manifesto de s. s. esta a. prova de que os insuspeitos lecistas Wal- demar FalcAo e Figueiredo .Rodrigues, o primeiro leader e o segundo deputado e intimo do dr. Menezes Pimentel, igualmente defendiam, como aliAs toda a bancada e o alto commando da Liga no Rio, a formu- la, por n6s tambem advogada, como capaz no ins- tante de evitar a effusio de sangue no Ceara. 0 que realize com esse fim, foi corn evidence desassombro, na convicgao profunda de trabalhar pe- lo triumph da Liga e em beneficio da paz e da tran- quilidade da minha amada terra. Ha entretanto, nesse particular, uma circumstan- cia caracteristica: em palavras, em cartas, em des- pachos cabographicos e telegraphicos e sobretudo em factos, sempre affirmei e prove que acompanharia a Liga e os nossos-alliados em qualquer eventualidade, fosse qual fosse a sua sorte. E quando, de regresso do Rio, ainda vim traba- Ihar aqui pela victoria da Liga, corn o nome do dr. Menezes Pimentel, declare a este, na presenga do dr. Jos6 Martins, que, si acaso houvesse desmerecido da sua confianga, delle me afastaria no dia seguin- te ao do seu reconhecimento, com os amigos que me quisessem acompanhar. E de s. excia. ouvi palavras de muito affect e amizade, corn a significativa confissio de que elle proprio partilhara do nosso ponto de vista, que elle proprio commungara da nossa id6.a e sobretudo reco- nhecia a nobreza e lealdade do nosso proceder. E de s. excia. e dos seus dignos auxiliares, todos lecistas graduados, venho diariamente recebendo os mais des- vanecedores testemunhos de confianga e aprego, que a um home se pode dispensar. Sao elles os meus juizes e nao um despeitado como o dr. Jos6 Pompeu Pinto Accioly. * Resalto, agora, uma incongruencia typical do dr. Jos6 Accioly, que, incidentemente saliento sem- pre esteve de accord corn a formacao de um gran- de partido, ap6s a victoria da Liga, de cujo directo- rio participaria.. Censurando em tom acre o que indevidamente chama a interferencia do eminente Presidente da Re- publica na economic internal da Liga, s. s. gaba-se e. jacta-se de haver salvo a candidatura do dr. Menezes Pimentel, para aquelle appellando, por intermedio do capitao Juracy Magalhies, uma das figures mais bri- 1hantes da Revolugio e de innegavel valor. Aonde a sua sinceridade? Aonde a sua coherencia? Nao acredito tenha por esse meio alcangado evitar s. s. o fracasso da candidatura do Dr. Menezes Pimentel, a cujo favor tambem nao acredito haja in- tervido junto ao Dr. Getulio Vargas aquelle correct e brioso military, porque semelhante gesto importaria em uma deslealdade da sua parte, de que e incapaz, a pessoas, a que estava intimamente ligado e por cuja sorte se interessava sem misterio e sem rebugos. Repto o Dr. Jos6 Accioly a publicar na integra a alludida carta do capitao Juracy, para corn o seu con- texto desmascarar mais essa mystificag5o de s. s. Duvido que me attend. Talvez, num rasgo de rara elegancia moral, di- vulgue, como me ameaga, cartas intimas que ihe di- rigi, no tracto da amizade, na epocha em que para s. s. nao tinha eu segredcs, nem reserves. Pouco me importa. Na defesa do meu nome serei invencivel, acober- tado, como estou, com o forte broquel da verdade. No remate da luta, n6s, os representantes do P. R. C. na Camara FeiCeral e na Assemblea do Esta- do, estavamos e continuamos no sector que occupava- mos no inicio da peleja: corn a Liga, com o Dr. Mene- zes Pimentel. Contra a Liga e contra o Dr. Menezes Pimentel se collocou final por interesses pessoaes feridos o Dr. Jose Accioly. As urnas, nos pleitos futures, d~iro corn quem es- tgo os bravos e lealdosos legionarios do P. R. C. Aguardemos o seu pronunciamento irrecorrivel, como ultima instancia dos nossos actos. At6 1A, pensando na estima que, como mau psycho- logo, dediquei ao Dr. Jos6 Accioly, eu repetirei as pa- lavras collocadas pelo grande Ega na bocca de Fra- dique: "Eu tambem jA fui a Eleusis; eu tambem jA der- ramei muita fl6r diante de muito altar que nao era verdadeiro"... Fortaleza, 28 de Agosto de 1935. OLAVO OLIVEIRA Replica do dr. Martins Rodrigues Depois de haverem falado os meus prezados amigos Edgar de Arruda e OlavQ Oliveira, cumpre- me tambem responder ao manifesto do dr. Jose Acioly, document de aparente serenidade e finali- dade puramente -historica, mas, em verdade, filho espurio da, decepcgo e do despeito do seu ilustre au- tor, que, conciente ou inconcientemente, sacrifice a cada passo a realidade dos factos aos seus interesses subalternos e aos objetivos apaixonados que efe- ctivamente o inspiraram. Caricatura indigena de Macauley, o ex-chefe do Partido Republicano Conservador, dado agora, no declinio lastimavel de sua carreira political, ao sport de fazer historic em seu proprio beneficio, procurou vestir a sua longa exposicgo das roupagens de uma ilusoria imparcialidade, como se dos acontecimentos: a cuja narrative se entregou, nao tivesse sido parti- cipe, tanto quanto n6s outros, mas apenas um espe- ctador desinteressado e sereno. Por baixo, porem, dessas cinzas enganadoras, que pretendem ocultar a incandescencia da paixdo, cre- pitam, ardentes, os verdadeiros sentiments do im- provisado historiadcr dos recentes acontecimentos politicos -de nossa terra. Mas, certamente, nao me daria eu a tarefa de vir a public roubando ao tra- balho instantes preciosos apenas para demonstrar que, mais uma vez, o dr. Jos6 Acioly esconde a sua alma nos refolhos da insinceridade, se a sua preten- dida exposigio historic nao envolvesse, em mais de uma passage, o meu nome, atribuindo-me, A falsa f6 e com intuitos evidentemente perfidos, attitudes que jamais assumi, no curso da inolvidavel campa- nha political em que nos envolvemos. ,- Gragas a Deus, minha vida public ai estA, curta como 6, aberta ao exame sereno de todos, fresca ainda na memorial dos que, adversaries ou amigos, a acompanham com o calor da sua simpatia ou corn as iras da sua hostilidade. E ninguem, que me conhe- ga, me fara a injuria de atribuir-me actos de traiego ou felonia.aos correligionarios, certo, como 6, que o odio adverse, que nao raro sinto pesar sobre mim, prov6m exatamente da lealdade comn que luto: ao lado dos amigos, do vigor e combatividade corn que me empenho nas lides political, nao me entibiando, nenr recuando, diante do adversario, ainda o mais pugnaz e o mais desleal, como se mostraram, ha pou- co, os elements do P. S. D. Mas o dr. Jos6 Acioly, sob a inspiracgo maligna de seu despeito, nega-me essa elementary justiga, que atW os inimigos me fazem, e insinua, atrav6s de sua exposiglo, increpag6es a minha conduta, que ferem fundo os meus sentiments de dignidade. E' por isso que tambem venho A imprensa. I A PRIMEIRA REFERENCIA A primeira referencia, que em sua perlenga s. s. faz ao meu nome, ndo contem, a rigor, nenhuma acusacao a minha pessoa; mas, como amiude aconte- ee no curso da narrative que estamos examinando, deixa os factos envoltos em semi-obscuridade, ape- nas relatados a meio, para tirar partido do que fica oculto. Assim 6 que, aludindo s. s. a organizagao da chapa da Liga Eleitoral Catolica para a Assembl6a National Constituinte, narra ter ido, na noite do dia em que a mesma se constituiu, ao Palacio Arquiepis- copal, aonde pouco depois teria eu chegado, em com- panhia do capitdo Jehovah Mota. A visit 'do dr. Jos6. Accioly, segundo ele proprio confessa, visava reelamar perante s. excia. o sr. Arcebispo Metro- politano, como fez, contra o fato de haver sido ex- cluido seu nome daquela chapa. Diz o dr. Jose Acioly, que, depois de ponderar, pelos motivos que- entAo exp6s, quanto o procedi- mento da Liga era inexplicavel e desarrazoado, crian- do urna situacio intoleravel para a sua corrente par- tidaria, teria eu intervindo na palestra, e da a enten- der que entrei como um intruso, cuja presenqa nao se justifica. Demos-lhe a palavra, para evidenciar o seu pro- posito: "0 dr. Jose Martins, que, seja dito de passa- gem, ndo fazia parte do diretorio da Liga, tentou de- fend6ela, alegando,. etc. Realmente, a esse tempo nao pertencia a dire- qdo da Liga Eleitoral Catolica, sendo apenas um ca- tolico interessado no triunfo dos seus objetivos. Mas, a convite de various membros da Junta, tivera o ensejo de assistir, na residencia do dr. Edgar de Arruda, A ultima reunido dos elements lecistas, em que definitivamente se deliberara sobre a organiza- gdo da chapa a Constituinte Nacional, e podia, por isso mesmo, corn maior insuspeigao, dizer dos, mo- tivos determinantes da atividade da Liga, naquela emergencia. 0 Exmo. Sr. D. Manuel sabia disso, razdo por que, em face da insistencia irritada do dr. Jos6 Acioly, pretendendo mesmo, impertinente- mente, que s. excia. superpusesse a sua autoridade arquiepiscopal A deliberag&o definitive da Liga, ta- zendo-a modificar ainda a sua chapa recorreu a mim, apelando para o meu testemunho. Vi-me entao na contingencia de incorrer no desagrado do dr. Jose Acioly, que nunca perdoou a minha attitude dessa noi- te, esclarecendo o ponto de vista da LEC e, sobretu- do, mostrando que a decisdo havia sido definitive, nao admittindo mais alterag6es, dada mesmo a divul- gaqdo, que jA tivera, e a circumstancia de estarmos apenas a uma semana do pleito memoravel que se ia ferir. Demais, como o sr. Arcebispo ja o acentuara. este nao intervinha na Liga sendo para, como auto- ridade spiritual, evitar que ella desgarrasse dos principios catolicos que haviam inspirado a sua con- stituicdo, e nao para imp6r ditatorialmente a sua vontade, como o dr., Jos6 Acioly estava, naquele moment, pretendendo, colocando em visivel dificul- dade, corn a sua insistexicia, a alma generosa e os sentiments de delicadeza do nosso preclaro antis- tite. Foi essa, no moment, a minha intervencdo, de- terminada por oportuna solicitagco do Exmo. Sr. D. Manuel, e inspirada apenas nos propositos que ja expius. Esclarecido esse topico, passemos a outro ponto do long arrazoado do ex-chefe da executive do P. R. C., hoje integrado, com geral escandalo, nas hos. tes pessedistas MAIS DUAS REFERENCIA., Depois de long preambulo, em que aprecia a con- duta da Liga, a seu respeito, no ptleito national de 3 de maio -de 1933, o dr. Jos6 Acioly reporta-se, em seu manifesto, as "demarches" para organizacao da chapa a Assembl6a Constituinte Estadual :e A Camara Fe- deral, para as eleig6es de 14 de outubro do ano-passar do. E, a esse proposito, teve ensejo de referir-se, varias vezes, a minha pess6a. Assimr 6 que, segundo diz s. s., o dr. Olavo Oli- veira lhe revelara, em tempo, um facto "que j. deixa- ra perceber claramente o pensamento dominant em certos meios" (Inculcando-se de. vitima, o- dr. Jos6 Acioly entende que esse pensamento era a sua exclu- sdosistematica...). E acrescenta: "0 dr. Jose Martins procur.ara-o para a formagAo de um novo par- tido, de que tambem faria parte o dr. Edgar de Arru- da, etc.". A cousa nao 6 bem esta. NAo procurei, propria- mente, p dr. Olavo Oliveira para isso. Lembro-me, porem, de q-.e, provavelmente em mais de um ensejo, conversei com esse prezado amigo, como o fiz tambem comrn- o dr. Clovis Fontenele e outros, sobre a possibi- lidade da organizacao de uma entidade partidaria, va- sada em moldes novos e capaz, pelo seu idealismo, de algum sopro de rehoyagqo do ambiente politico de nossa terra, que o. abalo da Revolucao deixara em es- tado de apatia. Nao havia nisso, porem, nenhum iritui- to preconcebido, nem qualquer proposito ou pensa- mento oculto a respeito do dr. Jos6 Acioly, de cuja personalidade nesses moments nem sequer me lem- brava, e que hoje se mostra, literariamente, com irre- sistivel vocaqgo para o martirio politico... Pouco adiante, trata o malaventurado competitor do dr. Meneses Pimentel do pacto, que haviamos fir- mado, o dr. Edgar de Arruda e eu, no sentido de nao aceitarmos posic6es political de qualquer especie, so- bretudo para que, por essa forma, nos sobejasse a au- toridade moral necessaria- para impuignarmos as pre- tens6es descabidas de muita gente. Emquanto possivel, esse pacto foi mantido, e foi em razao dele que nem eu nem o dr. Edgar figura- mos: quer na chapa federal, .quer na estadual, onde legitimamente poderiamos ter sido incluidos. Digo mais: nao ha, nessas chapas, um s6 candidate,. que se possa dizer ali figure por indicacgo pessoal minha, ou de Edgar,. tal o desinteresse e espirito de desambi- qAo corn que procedemos. Depois, por6m, como ja a seu respeito esclareceu u dr. Edgar, fomos forgados a -assumir attitude diverse, para obviarmos a dificuldades e ainda por espirito de real sacrificio a causa da Liga. Os que me conhecem, e sabem que sou advogado e nao fiz da political a mi- nha profissAo, nao ignoram em que circumstancias aceitei o honroso convite, que me fez o dr. Meneses Pi- .mentel,- para ocupar a Secretaria do Interior, post aliAs destinado ao dr. Jos6 Acioly. Ate o dia mesmo da eleigao governmental, estava eu no pensamento de nao participar" da administraqao, para permanecer na -actividade professional; mas as circumstancias do moment me forcaram a attitude diverse, impondo-me um prejuizo economic vultoso, que ainda hoje. nao sei como ressarcir. Lastimo ter que descer a essas miu- dezas de character pessoal, a que fui entretanto levado, a contragosto, pela ironia do dr. Jos6 Acioly, aludin- do, malevolamente, ao sacrificio que impusemos ao nosso patriotism 6le que, professional da political, re -nento nao pode compreend6-lo... III A ORGANIZACAO DAS CHAPAS EM 1934 Continuando o retrospect historic, que tenta fazer em seu manifesto, o dr. Jos6 Acioly comenta, como a extranhA-la, a attitude discreta em. que se mantinha o dr. Edgar de Arruda, quando s. s., em re- petidas ocasi6es, afirmava ao chefe da Liga que nao era candidato-a cargo algum, muito embora alimentasse a presumpgdo que nao 6 mais do que presumpc.o- de powder eleger-se sozinho, se se candidatasse, isola- do, a Camara Federal. Em face dessa declaracgo, mais uma vez feita na oportunidade da organizaqao da chapa federal para as eleig6es de 14 de outubro, diz o dr. Jos6 Acioly que o dr. Edgar de Arruda se limitara a ouvir, silencioso, a afirmagdo, que o chefe conservador acabava de fa- zer-lhe, relativamente a pess6a do mesmo chefe. E acrescenta: "Releva notar que a mesma: attitude discreta manteve sempre, em identicas circumstan- cias, o dr. Jos6 Martins, cujas ligag6es intimas corn o dr. Edgar de Arruda sdo conhecidas. Era como se a minha renuncia espontanea as posig6es, pela conquis- ta das quais andavam outros a brigar, correspondes- se a um sentiment intimo dos que dirigiam a Liga". Tern graga, essa de s. s.! Entdo, que 6 que queria o dr. Jos6 Acioly? Que, premidos de dificuldades, ao ouvirmos as suas fementidas afirmag6es de desinteres- se, as suas renovadas declarag6es de nao ser candida- to, Ihe fossemos pedir, pelo amor de Deus e de joelhos em terra, prostrados diante de sua figure heraldica, que nio, que aceitasse, que nio nos criasse o emba- rago de recusar, que fizesse, emfim, ao seu patriotism, o sacrificio, e, aos seus propositos, a violencia, de en- trar para a nossa chapa?! Ora essa! Se o dr. Jos6 Acioly tivesse mais res- peito a si mesmo e A inteligencia alheia, nao viria a public confessar, por essa forma ingenua e indire- cta, que, quando diz digo, nao quer dizer digo, mas diogo... Isto 6, nZo tornaria cristalinamente clara a sua insinceridade e hipocrisia, ao afirmar, repetida- mente, que nao era candidate, sendo-o em verdade e em verdade aspirando desesperadamente A posicAo political que fingia desdenhar! E fala, queixoso, na nossa attitude discreta... E' claro que essa era a unica. attitude convinhavel. Se a Liga queria atribuir apenas um candidate ao P. R. C., que importava nao fosse 6le o dr. Jos6 Acioly, por6m outro, que final ia ser escolhido, nao por mim e pelo dr. Edgar, mas pela Junta da Liga? O que o dr. Jos6 Acioly nao narra, porque Ihe in- teressa aparecer como vitima, e que, nao o incluindo na chapa federal, o convidimos a fazer parte da Cons- tituinte do Estado, posigdo de acentuado relevo para quem nao se enamorasse apenas das delicias da vida carioca. Fizemos mais: pusemos em suas maos, em face de sua recusa, e independent do numero de candi- datos ji indicados por seu partido, mais um logar na chapa estadual, para ser preenchido por quem .s. s. designasse, vindo, para isso, a ser indigitado o nome do sr. George Moreira Pequeno. Quer isso dizer que nos mesmos, num gesto generoso mas politicamente inhabil, Ihe fornecemos o instrument corn que mais tarde havia de consumer, fugindo, semcerimoniosa- mente, aos compromissos mais solenes e respeitaveis, a traigdo miseravel de que fomos vitima e que por um triz nao nos arrebatou, na v6spera do triunfo por que ardorosamente combatiamos, a vitoria penosa- mente conquistada! Ainda a proposito da organizagdo das chapas fe- deral e estadual para o pleito de 14 de outubro, refere- se s. s. A impugnacio, que entao fizemos, do nome de Mons. Jos6 Quinder6, que se nos queria impor corn sacrificio do de Francisco Inacio Ramos, tambem apresentado pela Legiio Cearense do Trabalho. Essa impugnaggo, por6m, tinha um fundamento pondera- vel, e real, e nao um pretexto apenas, como insinua o autor do manifesto. Politico ou nao, Mons. Quindere era sacerdote e, al6m do mais, secretario do Exmo. Sr. Arcebispo:.a sua inclusdo, pois, mais do :jue a de qual- quer outro padre, quebraria o nosso criteria de nao aparecer em public corn uma chapa que denunciasse na Liga o proposito, que nunca tivemos, de inaugurar, no CearA, uma political clerical. Demais, fieis a esse criteria, jA haviamos, antes da apresentagio da candidatura de Mons. Quinder6, recusado aceitar a indicagio de outros dignos sacer- dotes, cheios de servigos inestimaveis A causa da Liga. Como nos explicariamos em face dos patrons dessa3 cutras candidaturas, se abrissemos excepgdo para aquela? Foi isso o que dissemos entao ao dr. Jos6 Acioly e o fizemos sentir corn vehemencia, nas vesperas da organizagio definitive, aos drs. Olavo Oliveira e Ste- nio Gomes, quando nos procuraram em nosso escrito- rio, no Edificio Granito, para nos fornecerem a lista dos candidates conservadores. Poderiamos, entretanto, com just razao, invocar outros motives igualmente aceitaveis. Um deles seria, p. ex., a attitude de hostilidade, assumida no ano an- terior, por Mons. Quindere, que, pondo a sua dedica- g&o pessoal ao dr. Jos6 Acioly acima da causa cato- lica, fez propaganda ostensiva da candidatura do seu chefe politico e chegou ao ponto de mandar impri- mir e distribuir chapas, em que, sob a legend da L. E. C., figurava o nome .desse chefe, que entretanto nfo f6ra incluido entire os nossos candidates! AliAs, andamos politicamente bem inspirados. em nao transigir, em favor de Mons. Quinder6, no crite- rio que haviamos adotado. A sua ma vontade A Liga, de um lado, e,. doutra parte, a sua dedicacgo pessoal ao dr. Jos6 Acioly o le- variam, mais tarde, a assumir attitude identica A do sr. George, corn sacrificio da nossa causa, para 0.que, aliAs, s. revdma. nao mediu esforgos e langou.mao de todos os recursos, como adiante o veremos, constituin- do-se um dos mais preciosos aliados .do P. S. D. S6 podemos, pois, nos louvar, hoje, pela imolagao desse candidate, "personificago da lealdacle", como eloquente e sentidamente o diz o nosso novo e singular Macauley... IV A FORMULA DE CONCILIAgAO Passemos, agora, a parte para. mim fundamental da arenga do ex-chefe conservador. E' aquela em.que s. s. se refere, longamente alias, A formula, que nos veio do Rio, para solugdo do caso do Ceara, corn a substituigqo da candidatura do dr. Meneses Pimentel pela do dr. Edgar de Arruda, formula essa que se re- sumia no seguinte: Edgar de Arruda, governador; Me- neses Pimentel e Juarez Tavora, senadores, respecti- vamente, por oito e por quatro anos. A respeito dessa "d6marche" para uma concilia, cgo na luta political em que.o Estado se agitava, bem assim do andamento que teve, entire n6s, o. exame dessa sugestAo, e, especialmente, do meu papel no .caso - o dr. Jose Acioly disse o que bem Ihe pareceu, fal- tando, em mais de um ponto, flagrantemente, Laver- dade, narrando-a, outras vezes, pela .metade apenas, ou, ainda, desprezando propositadamente a .sequen- cia cronologica dos factos, para tumultua-los e bal- burdia-los ao sabor dos seus interesses. Neste ponto, pois, precisamos report tudo nos de- vidos logares, para que o.publico possa julgar, comn se- guranga, das nossas attitudes, sobretudo do procedi- mento que tive em tudo isso. Nao constitute novidade o saber que s. s., embora veladamente, nos acusava, a mim e aos drs. Edgar e Olavo, de deslealdade para corn o dr. Meneses Pimentel: JA ao tempo :em que os factos se passaram e quando a natural reseiva-.que o caso exigia nao me permitia vir a. public desmas- carar os meus detratores boquejava-se algo contra a minha conduta, partindo as acusag6es sobretudo de pess6as da privanga do sr. Jos6 Acioly. E' que nessa epoca jA o andava tentando o demo- nio da traicgo, conduzindo-o ao cume da montanha, para deslumbrA-lo corn a visdo mirifica do poderio e grandeza que o esperariam li em baixo, se quisesse ficar corn o P. S. D.; e o dr. Jos6 Acioly evidente- mente, por catolico que fosse, nao teria, como nao teve,; a resistencia do Christo A seducdo diabolica que b enirolvia! Dai a sua qu6da, fruto das manhas sata- nicas dos tentadores... Mas, ja inclinado a abandonar os amigos, como dentrb em pouco realmente o fez, s. s. e os seus inti- mos procuravam despistar os observadores, gerando a confused e a desordem em nossas hostes; por isso, langaram mdo desse process infamante, que consis- tia em atribuir a1 mim e a outros amigos, igualmente dedicados a nossa causa, o proposito de sacrified-la. traindo o nosso candidate a governador. 0 sr. Geo- ge Moreira Pequeno, p. ex., fazia verdadeiros comicios contra a minha attitude nessa emergencia. Sabedor disso, encontrei-me, certo dia ja fracassada aque- la formula com esse cidaddo, de quem at6 essa epoca formava o melhor conceito, e interpelei-o so- bre se em verdade andava falando de mim. E, como o houvesse confessado, convidei-o para, mais tarde, num entendimento leal, explicar-lhe, detalha- damente, o meu procedimento, sujeitando-me, ap6s essa exposicao, ao seu veredicto. Cheguei mesmo a marcar-1he hora para receb6-lo, corn esse fim, em meu escritorio, onde, entretanto, nao compareceu. Procurei-o ainda, por duas vezes, em sua residen- cia, sem lograr avistar-me com Ole, de ambas as fei- tas deixando-lhe recados para que me fosse falar. E nada! Se essa gente estivesse de b6a f6, procederia dessa formaa, fugindo a uma explicacdo clara e minuciosa dos facts, dc modo a afastar por uma vez qualquer desehtendimento? Entremos, porem, a apreciar, a margem do mani- festo do sr. Jos6 Acioly, os acontecimentos que se desenrolaram na atribulada semana, que decorreu en- tre 28 de abril e 4 de maio, quando a formula concilia- toria sugerida foi definitivamente recusada pelos deputados estaduaes eleitos sob a legend da Liga Eleitoral Catolica. Recebemos aqui em Fortaleza, no domingo, 28 de abril, em cartas dirigidas a mim e ao deputado Ste- nio Gomes, a communicacgo daquela formula, que, no interesse da pacificacZo do Estado, se encaminha- va ao nosso conhecimento, sob os auspicios da alta po- litica federal. Tem-se acusado os nossos amigos en- tdo no Rio, de haverem anuido em transmiti-la. Mas isso constitute grave injustiga, pois o seu dever elemen- tar era faz6-lo, pondo-nos miudamente a par do que se passava, afim de deliberarmos com pleno conheci- mento de causa. Nao o. fizessem, e teriam sob os ombros todo o onus do nosso possivel fracasso: s6 chefes sem nenhuma nog-o de suas responsabilidades em moment tao critic teriam procedido com essa leviandade. Agiram, pois, de maneira impecavel, comunican- do-nos o teor da proposta. De posse das cartas do Rio, que vieram pelo aereo de 28 de abril, procuro imediatamente o dr. Meneses Pimentel, a quem, de ac6rdo corn as determinag6es expresses do dr. Edgar de Arruda que em sua carta deixava a solugdo do caso ao nosso absolute alv6drio - fiz ciente do conterido integral das missivas. S. excia. estA ai para dizer se o meu primeiro impeto foi, ou nao, C'e repulsa a essa formula, muito embora o nome do dr. Meneses Pimentel fosse substituido pelo do proplio president da Liga, nao havendo, pois, politicamente, o menor decesso para n6s. 0 dr. Pimentel 6 que, de logo, aceitou como ra- zoavel a solugao proposta, e a ela aderiu, fazendo re- serva, apenas, de inicio, quanto A sua ida para o Se- nado, pois, nao tendo consentido na apresentagAo do seu nome por ambicgo ou interesse, nao queria pa- recesse que andava A cata de compensag6es political. N6s 6 que, de maneira alguma, a aceitarmos a f6rmu- la, poderiamos admiti-la em parte, e s6 a toleraria- mos, para remover de pronto as dificuldades que se nos antepunham, se pudesse ser integralmente exe- cutada. Mas, como disse, meu primeiro impulso foi, pura e simplesmente, contra. a aceitacgo, e isso mesmo che- guei a mandar dizer aos nossos amigos no Rio; nao sendo d' admirar esse meu ponto de vista, pois era conheciaa, entire os dirigentes da LEC e seus aliados .- incli3'e i dr. Jose Acioly a minha hostilida- de a qualcuur acordo, jA alias vencida quanto A con- veniencia .k st conceder Luna senatoria ao sr. Juarez Tavora. V A REUNIAO EM MINHA CASA Aceita, porem, a formula pelo dr. Meneses Pi- menrtel, deliberimos, nessa mesma noite, reunirmo- nos, na manha seguinte, em minha residencia, ali comparecendo, para trocarmos ideas sobre o assun- to, ,o dr. Meneses Pimentel, o dr. Jose Acioly, o dr. Brasil Pinheiro e o deputado Stenio Gomes. Exposto o pe em que as cousas se achavam e li- das as cartas que o correio aereo nos trouxera, expli- quei o meu pensamento, dizendo que, individual- mente, era, como todos sabiam, hostile a qualquer acordo. Entretanto, corn as responsabilidades que, no momento me impediam, nao podia examiner a, situ.ago do angulo- do meu ponto de vista pessoal, razio por que entendia, em face da realidade das cousas, que a nossa situaego era particularmente de- licada, podendo agravar-se com a recusa da formu- la sugerida. Nao 6e pois, :verdade como pretend fazer crer o dr. Jose Acioly que tenha sido s. s. o unico a analisar a proposta do ponto de vista moral; pelo contrario, todos n6s o fizemos, salientando a situa- cao desagradavel em que a sua aceitacgo nos colo- caria em face da opinido public, a vista dos repeti- dos protests de inafastamento do nome do dr. Me- neses Pimentel. Efetivamente, o dr. Jose Acioly impugnou a so- lugdo sugerida, e fez, em verdade, naquelle instan- te agudo de nossa campanha political, longa prele- cgo sobre a rehabilitago do nome do Ceard perante a opiniao national, tanto mais inesperada quanto partia de um velho chefe politico, at6 entdo afeito a todos os conchavos, acordos, entendimentos, ou que outro nome tenham, para a partilha das posig5es em nosso Estado; daquele mesmo que, poucos meses de- pois de escorragado do CearA pelo triunfo da revo- luqgo sangrenta de 1912, acomodava-se com os ad- versarios da vespera, ainda quentes da luta contra os seus, para, traindo os correligionarios, reconhe- cer o candidate dos seus inimigos! Emfim, o home parecia ter evoluido... E foi preciso que o dr. Meneses Pimentel, tomando a pa- lavra, rebatesse com vehemencia as palavras do chefe conservador, apelando para o seu bom senso e para as nossas responsabilidades comuns, e tomando exem- plos da sua propria vida political, para que s. s. afi- nal se rendesse, declarando, no fim da palestra, como realmente declarou, que, embora contrario A propos- ta, nao criaria embaragos A sua aceitagdo e concor- daria corn a solugao que a maioria viesse a adotar. E' interessante, para os amadores da psicologia humana, salientar uma circumstancia que, nessa reu- nido, nio passou despercebida A agudeza de observa- gdo de alguns dos presents, que logo a seguir a co- mentaram. E' que o dr. Jos6 Acioly, ao ser cienti- ficado, pela leitura das cartas, de que a formula pro- posta abrangia, logo, as duas senatorias uma para o dr. Meneses Pimentel e outra para o sr. Juarez Tavora nao pode deixar de entremostrar a sua decepgdo, observando de pronto, e irritado: "Mas assim 8les ainda nos querem levar a outra senatoria!" Entenderam os psicologos? 0 que o repugnava na formula e o subconciente para logo Ihe traiu a preocupagco era o facto de nao ficar nem uma se- natoria vaga para ser por ele pleiteada... Nao en- volvesse a proposta as duas senatorias, e provavel- mente s. s. nao teria sido tVo intransigente em sua impugnaqgo... E era assim o seu desprendimento! Emfim, a reuniAo em minha residencia terminou corn a deliberagco de fazer-se outra, mais ampla, na casa do dr. Jos6 Aciolv. A qual estivessem presents tambem elements democrats e outros proceres le- cistas, ainda nao ouvidos sobre a situacAo. E foi o que realmente se fez nessa mesma noite do dia 29 de abril. NA CASA DO DR. JOSE' ACIOLY A' reunido, na noite do dia 29 de abril, em casa do dr. Jos6 Acioly, comparecemos, este, a dr. Me- neses Pimentel, o dr. Correia Lima, o dr. Paula Ro- drigues, o dr. Ruy Monte, o dr. Sila Ribeiro, a dr. Brasil Pinheiro e eu. Novamente expds, ali, a si- tuagdo, li a carta que o dr. Edgar de Arruda me es- crevera, nobilissimo document, em que o seu autor, transmitindo, embora, como era obrigado a faz&-lo, a proposta conciliatoria, punha-nos inteiramente A von- tade para deliberar como entendessemos cbnvenien- te, e afirmava, peremptorio: -"Penso ninguem duvidara da sinceridade corn que assim me exprimo. Para mim continue a di- zer s6 Pimentel, e mais ninguem". E recomendava, ainda, que no exame da solucgo vissemos acima de tudo os reclamos superiores da nos- sa honra e dignidade e os interesses da nossa causa... Era uma attitude elevada e digna, que entretanto a mesquinhez de inimigos pequeninos e infames, de que o dr. Jos6 Acioly se tornou o interpreted, nao soube ou nao quis reconhecer. Diversamente nao agiu o dr. Olavo Oliveira. Convencido de que a formula, sobre ser honrosa: constitufa a salvagao imediata de nossa causa, s. s. aconselhou, 6 certo, a sua adocgo, sempre porem afir- mando que s6 o dr. Meneses Pimentel poderia ser o juiz da situacgo e declarando ainda que, em qualquer hipotese, manteria de p6, como manteve, os com- promissos corn a candidatura do nosso atual governa- dor. Alias, para destruir de vez a infamia adversa. basta salientar a circumstancia de, naquela emergen- cia, haverem pensado por igual forma os nossos de- mais amigos do Rio, notadamente os deputados Fi- gueiredo Rodrigues e Waldemar. Falc&o e o dr. Xa- vier de Oliveira, os quaes se manifestaram a respei- to em mais de uma carta para esta capital e para o proprio dr. Meneses Pimentel, acentuando at6 o dr. Xavier que esse era o pensamento tambem da alta direogo da Liga na Capital da Republica. Retornemos, entretanto, ao que se passou na reu- nido. Expis, como disse, os seus objetivos e fiz a lei- tura da carta que recebera do dr. Edgar. Os drs. Pau- la.Rodrigues, Jos6 Acioly e Sila Ribeiro mostraram- se contrarios A proposta, acentuando o primeiro e o ul- timo, sobretudo,. o receio de que ela escondesse iape- nas uma manobra tendente a. nossa desarticulado.. O dr.. Jos6 Acioly manteve o seu ponto de vista an- terior. 0 dr. Ruy Monte diz. o manifesto, e esta certo o que ele diz partilhava das minhas apreen- s6es, entendendo mesmo que a solugqo. proposta nao nos. colocaria mal, desde que o nome indicado para substituir o do dr., Meneses Pimentel era o do pro- prio. president da Liga. O dr. Meneses Pimentel insistiu mais uma vez em declarar-se de acordo com.a formula, nao pondc de sua..parte. o menor obstaculo a aceitagdo da pro- posta, a que deu plenamente a sua adesdo. Neste passo, o manifesto no -falseia a verdade que,. entretanto, .logo a seguir .6 posta A margem, quando o dr.. Jos6 Acioly afirma que, "depois de lon- gamnente debatido o- assunto, ficou assentado, sem dis- crepancia,. ouvir-se a bancada constituinte lecista, so- bre _o que ocorria". E' falso. Nd6 foi isso o que se deliberou, mas, sim, telegrafar-se aos amigos no Rio, do que fui in- cumbido, ponderando que,_ embora, politicamente. fosse o mesmo para nos a candidatura Edgar, a situa- cdo moral de todos em face da opiniio public seria delicada, a vista dos repetidos. protests de inafasta- mento do nome do dr. Pimentel. Pedia ainda esse despacho que examinassem .a possibilidade de manter a formula anterior, acentuando-se, de logo, que:.o go- verno federal poderia contar, em qualquer caso, corn o nosso apoio, e concluia assim: "Visando apenas o interesse da causa, com in- teiro afastamento de melindres pessoaes, pedimos a opinion. franca dos amigos, afim de.orientar a atitu- de definitive a ser proposta aos deputados lecistas". VII UMA ALEIVOSIA DO MANIFESTO O que se- deliberou fazer, na reunido, foi isso que ai esta, encarregando-me 'eu de transmitir- para o Rio o despacho a que acabo de referir-me e cujo teor. antes de expedi-lo, submeti a aprovaqio do dr. Me- neses Pimentel, element da confianga comum. Mas a falsidade maior do manifesto nao 6 essa que agora mesmo desfiz; 6 outra, que vai as raias da perfidia, e que, enojado de tanta miseria, sou forcado a apreciar. Diz, corn efeito, o dr. Jos6 Acioly, numa auda- ciosa investida contra a verdade, de que ninguem ate agora o jujgaria capaz: "Assim, porem, nao entendeu o dr. Jos6 Mar- tins. Nio sei se por iniciativa propria, ou de outrem, agindo em todo caso contrariamente ao que ficara re- solvido, procurou s. s. os deputados lecistas, corn o intuit de obter suas assinaturas para uma declara- gdo de apoio ao nome do dr. Edgar de Arruda". E acrescenta o manifesto, com ousadia se possi- vel ainda maior: "Mas com tal soluqdo nem todos concordaram. Alguns houve que recusaram por seus nomes naquele document, apesar do dr. Jos6 Martins afirmar, particularmente, a cada um deles, como argument decisive, que s6 faltava ali a sua assinatura. Um des- tes foi o deputado George Moreira Pequeno, que me communicou o extranho facto, e cuja palavra de ho- mem de character ninguem ousarA contestar". O que. af estA nao tern qualificagdo, na escala das falsidades. Em todo caso, admirando, embora, o des- caro de afirmar, que faltou ao Teodorico do Ega, mas sobeja no autor do manifesto, devo agradecer a este a oportunidade, que me da, de recompor os fatos e re- bater essa insidia, que, antes de vir a public pela sua palavra, aparecera apenas em murmuraq6es equi- vocas e medrosas. Em verdade, como me cumpria, e sempre em ab- soluta uniio de vistas com o dr. Menezes Pimentel procurei a esse tempo todos os deputados estaduaes lecistas, nio s6 para os p6r ao corrente do que se ia passando entire n6s, como para sondar-lhes a opiniao. indagando se aceitavam, ou nao, a formula proposta Nas circumstancias, o meu procedimento fa- zendo de pronto a coordenaqdo de todos os amigos - era media de elementary prudencia, para evitar que 9s acontecimentos fossem deles conhecidos por .via inimiga, e de maneira deturpada, e tambem para que, no memento necessario, ao se reunirem todos, comic pretendiamos fazer,ndo houvesse surpresas desagrada- veis. Demais, havia urgencia em se dar uma solugdo definitive a proposta, pois a situagco que da mesma decorria, delicada como era, e cheia dos mais graves perigos para a nossa unidade, nao podia prolongar- se sem riscos ainda maiores para a nossa causa. Falei, pois, realmente, com todos os constituintes le- cistas, a maior parte deles depois que o proprio dr. Me- neses Pimentel Ihes expusera a situacgo, aconselhan- do-os a dar o seu assentimento a proposta. A todos esclareci, lealmente, a situacgo em que nos encontra- vamos, mostrando-1hes as cartas que haviamos rece- bido do Rio, ou transmitindo-lhes verbalmente o con- tefido, e de todos colhi o pensamento, ouvindo, de uma maneira geral, que nao punham duvida em aceitar o nome do dr. Edgar de Arruda, se nisso conviesse o dr. Meneses Pimentel com cuja candidatura todos n6s deputados e elements dirigentes da campanha, nes- ta capital e no Rio, mantinhamos a outrance os com- promissos assumidos. A nenhum dos deputados, por6m, em minhas con- versas com os mesmos, apresentei a esse tempo qual- quer document ou declaracgo escrita de apoio ao nome do dr. Edgar de Arruda; nenhum d6les, por con- seguinte, poderia ter-se recusado a ap6r sua assina- tura em tal document. E' uma falsidade tao clamorosa que, apesar de tudo, nao sei como o dr. Jos6 Acioly tem coragem de torna-la public; e falsidade do mesmo tamanho, igualmente escandalosa, 6 a outra, que Ihe teria co- municado o deputado Pequeno, de que a cada consti- tuinte diria eu, como argument decisive, que s6 fal- tava ali a sua assinatura! Se a afirmagio do autor do manifesto tem por lastro apenas a informacgo des- se deputado, cuide s. s. de arranjar outro abono. Que p6de valer hoje a palavra desse cidaddo, se nem os documents por Mle assinados, contend os compromissos mais solenes e irretrataveis, Ihe mere- ceram final algum respeito e tiveram a forga de im- pedir-lhe a defecgio? 0 certo 6 que nao apresentei document nenhum, aos deputados corn quem me entendi, apoiando o nome do dr. Edgar de- Arruda. 0 que Ihes disse 6 que a formula s6 vingaria, se fosse unanimemente aceita, e que, nessa hipotese, para maior seguranga, deveria constar a aceitacgo, e o compromisso de sufraga-la, de um document semelhante aquele que haviam as- sinado os candidates lecistas relativamente a candi- datura Meneses Pimentel. Desafio a que se prove o contrario disso. Quanto a mim, tenho testemunhos valiosos de minha atuacgo nesse particular, pois em regra nao falei sozinho aos deputados, mas em companhia ora do dr. Brasil Pi- nheiro, ora do dr. Ruy Montc, que poderdo desmen- tir-me, se acaso estou fugindo A verdade. Entre 1.0 e 3 de maio, havia eu me entendido corn todos os constituintes, nao havendo deixado de tratar pessoalmente sendo com o deputado Ubirajara Indio do CearA, a quem, entretanto, dei ciencia dos factos por intermedio do Revdmo. Padre Helder Camara, tendo-me servido da companhia deste para falar ao deputado Carlos Benevides, a esse tempo no quartel do 23.0 B. C. E todos, a essa altura dos fatos, estavam de ac6rdo com a formula, pois a sabiam aceita pelo dr. Meneses Pimentel, s6 tendo, alias, feito alguma re- serva a mesma, no inicio, o deputado Hildeberto Bar- roso, que, como o dr. Sila Ribeiro, enxergava, na pro- posta, apenas uma manobra desarticuladora, mas que, finalmente, a ela anuira, segundo me disse, na noite de 2 de maio, no Palace, o mesmo dr. Sila Ribeiro. A solugio definitive aceitando ou recusando a proposta dependeria alias de uma reunido cole- tiva, que, ouvidos todos os interessados, iamos final promover. Quanto A attitude do sr. George Moreira Pequeno, merece, sem duvida, um capitulo especial. VIII 0 CAPITULO GEORGE Como disse na seccgo anterior, a attitude do depu- tado George Pequeno, a respeito da formula em apre- go, merece um capitulo especial. Na 5.a-feira, 2 de maio, ji havia eu conversado, sobre o assunto, com todos os deputados, menos com os srs. George Moreira e Carlos Benevides por se achar este no quartel do 23. Naquele dia, porem, cerca das 11 horas, ia eu pas- sando pela porta da Sorvetaria Nice, quando avisto o sr. George, que, ao me ver, indaga se queria falar-lhe, informado que f6ra dessa minha intenqao. Confirmei-lhe que at6 ja o procurara, e passAmos, entAo, ali mesmo, a tratar do assunto, confessando-me George que a material nao Ihe era extranha; o que nio admira, porquanto dela tinham j6i inteiro conheci- mento o dr. Jos6 Acioly e os demais deputados con- servadores. Fiz-lhe, apesar disso, uma explanagio mais ou menos longa sobre os acontecimentos. E 6 sumamen- te interessante saber-se que o sr. George formulou simplesmente ligeiras objeq6es A formula proposta, na qual, finalmente, assentiu. Essas objec6es visa- vam, especialmente, a situagio pessoal do dr. Jose Acioly. 0 sr. Moreira Pequeno apenas me disse, anuindo ao nome do dr. Edgar de Arruda, desejar saber se este teria, na hipotese de ser aceita a sua candidatu- ra, a mesma b6a vontade que o dr. Meneses Pimentel j6 manifestara no sentido de aproveitar o dr. Jos6 Acioly num dos postos da future administration. Res- pondi-lhe afirmativamente, aludindo ate a uma carta do dr. Olavo Oliveira para o dr. Stenio Gomes, na qual o ilustre representante conservador declarava que, na hipotese de vir a ser o governador, o dr. Edgar, que nio era extranho aquele pensamento do dr. Pimentel, haveria tambem de cumpri-lo. A isso, o deputado George me perguntou ainda se seria livre ao dr. Jos6 Acioly escolher o posto que desejasse prefeitura, Secretaria da Justiqa ou da Fazenda; ao que Ihe retruquei ser do meu conheci- mento que o chefe conservador seria convidado para a prefeitura de Fortaleza, o que nao queria dizer nio pudesse vir a ocupar outro cargo, se assim o dese- jasse. Aproveitei o ensejo para sugerir ao sr. George aconselhasse o dr. Jose Acioly a aceitar uma indica- cgo dessa especie, porquanto intimos de s. s. boqueja- vam que era proposito seu recusar. Confirmando essa intengdo, o sr. George me declarou, sob pergunta mi- nha, que nenhuma humilhaggo via, para seu chefe, na aceitaqAo de um cargo dessa natureza, onde aliAs muito poderia fazer pelo partido; e acabou por me lembrar me incumbisse eu de convencer ao dr. Jos6 Acioly. Recusei-me, entretanto, a isso, alegando nao ter intimidade corn s. s. para tratar de assunto dessa es- pecie, e o sr. George acabou prometendo falar-lhe a respeito. No curso dessa palestra, que teve tom amistoso e cordial, e da qual saimos em plena harmonia de vis- tas, nao poderia deixar de vir A balha, como veio, a senatoria do dr. Jos6 Acioly, aliAs sob provocagao minha. Fui eu quem, entrando em maior intimidade corn o deputado de que fizeramos present ao chefe conservador, Ihe declare que, mesmo nao vingando a proposta em discussao, era muito dificil a Liga dar uma senatoria ao dr. Jos6 Acioly, por isso que a isso se haviam de op6r os elements democrats, pleitean- do um logar tambem para si. Lembrei-lhe entdo que, ao serem tornmados, em outubro,- os compromissos dos deputados estaduals cujo teor o dr. Olavo Olivei- ra ja divulgou em sua resposta ao manifesto essa reserve, embora nao houvesse sido escrita, f6ra ex- pressamente feita pelos drs. Moreira da Rocha e Pedro Firmeza, em nome do seu partido. Eis ai, fielmente narrada, a minha primeira pa- lestra cornm o sr. George Pequeno, a respeito da f6r- mula em discussao. Dela sai, como qualquer outro em identidade de circunstancias, na convicgdo plena de que da parte de s. s. nao haviam de surgir dificul- dades tanto mais quanto a mesma cousa o havia dito, na primeira reuniao, em minha casa, o sr. dr. Jos6 Acioly. Razao de sobra tinha eu, pois, para, nessa noite, depois de haver falado com o deputado Berievides e corn o dr. Sila Ribeiro, considerar resolvida a situa- gao pela aceitaqgo da formula. AliAs, essa mesma era a convicgco que nutria, na tarde desse mesmo dia (2 de maio), o dr. Meneses Pimentel, que, tendo de viajar, corn urgencia inadia- vel, para sua fazenda em Canind6, afim de salvar um aqude em perigo de arrombamento, despedia-se de mim, cerca das quinze horas, assentando comigo a con- vocagao, para a noite do dia seguinte, de uma reuxniio plenaria dos deputados lecistas, em que a questao fos- se definitivamente solucionada, A manha de 6.a-feira (3 de maio), por6m, nos re- servava novas e desagradaveis surpresas, colocando- nos, desde esse moment, no rastilho da traigAo que se preparava na sombra. Cerca das 10 para as 11 horas, chegavam ao meu conhecimento noticias alarmantes quanto A attitude do sr. George Moreira Pequeno, que f6ra visto, no caminho da Rede de ViaqAo Cearense, onde trabalha, na companhia de elements pessedistas, e, pouco de- pois, viajando de automovel ao lado dos mesmos. De par comr essa informacgo, pess6as de f6 vinham fa- zer-me ciente de que o referido deputado, em gestos descomedidos e linguagem exaltada, debatia nos ca- fes da Praga do Ferreira a questUo em exame, acu- sando gravemente a mim e aos nossos amigos do Rio, que haviam encaminhado a formula. Era sintomatico. Mas nio era tudo. Pouco depois, novos informes asseguravam que o sr. Jos6 Acioly havia sido procurado, em sua propria residencia, por uma comissdo de graduados elements pessedistas, que ali f6ra vista, no moment mesmo em que um dos nossos deputados ia A casa de s. s., para falar-lhe. Noticias concordantes oriundas de fontes diver- sas evidenciavam que o P. S. D., sentindo que, na emergencia, o ponto fragil das nossas colunas era o sr. Jos6-Acioly e o seu deputado, que nao tinham ou- tro alvo sendo a conquista de umna senatoria, iniciava contra n6s bem arquitectada ofensiva, no proposito de romper a nossa linha de batalha. A situagao tornou-se, a essa altura, pouco mais ou menos alarmante, e foi certamente esse dia de 6.a-feira a data critical da angustiosa semana political quO viviamos. Imediatamente procurei o dr. Jos6 Acioly em sua propria casa, la o tendo encontrado ainda agita- do e de maos frias. S. s. nao me tocou na visit dos pessedistas; mas, inquerido por mim sobre o caso que vinha ocupando a nossa atividade dos ultimos dias, mostrou-se vivamente hostile A proposta, ainda entao porem me afirmando que nio aconselharia os seus amigos a aceita-la, porque a ninguem havia de acon- selhar uma indignidade, mas que nao interviria na deliberagao dos mesmos, pondo nas maos do sr. Geor- ge a decisdo de sua attitude. Dali sai para procurar, quanto antes, o sr. Mo- reira Pequeno, indo eu e o deputado Stenio Gomes C residencia deste. Encontrdmo-lo exaltado. Rece- beu-nos no vestibulo de sua casa, sem ao menos nos mandar entrar e sentar-se. E passou, agitando-se, a falar da Liga, do deputado Olavo Oliveira e do dr. Edgar de Arruda, queixando-se, sobretudo, de que o dr. Jos6 Acioly era mais uma vez ludibriado pela LEC, acusagdo que repeli, de pronto, sustentando, sem contestagdo de sua parte, que a Liga nao assu- mira compromisso de especie alguma no sentido de fazer o sr. Jos6 Acioly senador. Escusado 6 narrar o que de parte a parte nos dissemos neste moment. Foi entdo que Ihe afirmei, tendo-me s. s. declarado que, em hipotese alguma, votaria no nome do dr. Edgar de Arruda, que a sua attitude discrepava do sentiment geral, pois todos os mais deputados estavam ja de acordo com a formula proposta para o caso do Ceara. E, como ja vimos, real- mente o estavam atW aqu6le moment. Mantendo-se no seu ponto de vista de hostilidade ao dr. Edgar de Arruda e o que 6 de notar confessando, sem re- bugos, que a sua nova attitude era determinada pelo facto de a solugco sacrificar a senatoria do dr. Jos6 Acioly, o sr. George Moreira Pequeno, em face da minha declaragdo quanto aos seus colegas, disse-me final que a sua conduta nenhum mal nos traria, por isso que, nao sendo deputado senao por dedicagio pessoal ao chefe conservador, ia renunciar o manda- to, que passaria a ser exercido pelo sr. Placido Cas- tello. Semr descer a outras minucias desnecessarias, foi o que se passou no meu ultimo entendimento, a res- peito da formula, com o deputado do sr. Jos6 Acioly. Entretanto, as informag6es sobre a sua inteligen- cia com o P. S. D. se multiplicavam, vindo a saber- se, no mesmo dia, que s. s. andava em constantes conciliabulos corn a gente adversa, conciliabulos que se realizavam em pontos diferentes, e at6 na sua propria residencia, que, segundo s. s. mesmo chegou a confessar a amigos nossos, mais ou menos gaudio- so e ufano, se tornara o P. C. (posto de comando) do P. S. D.! A situagAo era, portanto, nessa tremenda 6.'-fei- ra, francamente periclitante, tanto mais quanto o0 pessedistas, emquanto abusavam da ingenuidade dos amigos do sr. Jos6 Acioly, procurando atrai-lo com promessas, langavam a ofensiva noutro setor, tentan- do a conquista do sr. Joio Thom6 e, por intermedio deste felizmente porem sem o menor resultado - de elements da corrente democratic. Para isso, att um emissario fora despachado. do Rio. pelo sr. Vicen- te Saboia. Sentindo a gravidade do moment, reuni, cerca das 13 horas, em minha residencia, various amigos, para em conjunto estudarmos a situacgo. E ali re- solvemos despachar, quanto antes, portadores para Canind6, afim de p6r o dr. Meneses Pimentel ao corrente dos acontecimentos e solicitar-1he ndo re- tardasse, por forma alguma, o seu regresso. Enviei- Ihe mesmo, pelo deputado Francisco Monte e. pelo dr. Hider Correia Lima os nossos emissaries um recado escripto, em que Ihe dizia que o instant era critic e que s6 ~le poderia controlar a situagco. Es- se bilhete, em que eu chamava, corn urgencia, a Fortaleza, o dr. Meneses Pimentel, serviu a este, depois, como document cabal, para calar a b6ca de intrigantes, que tiveram a audacia de acusar-me perante esse prezado amigo... Nesse angustioso dia, ainda se verificaram fatos altamente significativos. Entre outros, posso anotar, p. ex., a visit de Mons. Quinder6 ao depu- tado Joaquim Bastos, no Palace, onde. s. revdma., dando como perdida a situacio da Liga, disse ao re- presentante lecista que era o moment do salve-se quem puder e que, se ele queria salvar-se, fosse pro- curar o dr. Jose Acioly! 0 dr. Joaquim Bastos, sentindo naturalmente que estava diante de um emissario do chefe da cor- rente conservadora, retrucou-lhe que, sendo embora desta corrente, ficava corn os compromissos assumi- dos para corn a Liga e que, na hipotese do fracasso desta, agiria na conformidade do que deliberasse a executive do seu partido... Ao mesmo tempo, sabiamos, corn o maior escan- dalo, de fonte inteiramente digna de fe, que pessoa dedicadissima ao dr. Jos6 Aci6ly, e que s6 devia estar com a nossa causa, confessara haver-se entendido com o cel. Moreira Lima, propondo-1he solucionai o caso cearense, corn o langamento da candidatura do chefe conservador ao governor constitutional, indo, em compensagdo, o Coronel para o Senado de Republica. Eram, sem duvida, os prodromos da combina- gao, que ja entio se entabolava, e em virtude da qual o dr. Jos6 Acioly, de aliado da LEC, e sustentaculo intransigente da candidatura Menezes Pimentel, vi- ria a ser, mais tarde, o competitor deste, no pleito da Assembl6a, ombreando-se, na mesma chapa pessedis- ta, corn o ex-interventor do Ceard... Na noite ainda de 6.'-feira, cerca das 19 hs., re- gressava a Fortaleza o dr. Meneses Pimentel, quem ji em parte ciente do curso que os acontecimentos iam tomando,. pfis de logo ao corrente de tudo quanto se havia passado desde a v6spera ate aquile moment E do mais que nesta noite ainda ocorreu, da reu- nifo do dia imediato e dos fatos, que a seguir se des- enrolaram, em sucessdo logica e previsivel, em face dos antecedentes, atW a defecggo do dr. Jose Acioly e do deputado George Moreira Pequeno, direi, corn o desenvolvimento possivel, nos capitulos seguintes, para edificagdo de co6vos e p6steros! IX DA NOITE DE 3 PARA A MANHA DO DIA 4 Retomo, a altura da noite de 3 de maio, ap6s o regresso do dr. Meneses Pimentel, a narrative dos acontecimentos extraordinarios que, no curso apenas de uma semana, se verificaram a proposito do exa- me e discussed da f6rma Edgard Pimentel - Juarez. Como disse anteriormente, o dr. Pimentel Fq sentara comigo, antes de partir para a sua fazenda, uma reuniio plenaria dos deputados e amigos, a rea- lizar-se logo depois que s. s. tornasse a esta Capital. Mas a precipitacgo dos factos sucessivos, que ocorre- ram de 5." para 6." feira, e a urgencia de empregar to- dos os esforgos, em sentido divers, para conjurar a situa.go, me fizeram ndo dar os passos necessarios A realizacqo dessa idea, aliAs desaconselhavel nas cir- cunstancias de indecisfio e incerteza, em que naqu6le dia nos encontravamos. Entretanto, como, do Rio, os amigos, em cabo- grama de 3 de maio a mim dirigido, pedissem resposta urgente, ate o dia imediato, a proposta, que nos havia sido transmitida, c como Ihes houvesse eu ecimunicado que, nessa mesma data nos reuniriamos para uma decisao definitive a noite ainda recebe- mos long despacho, em que a bancada fazia vehe- mente apelo aos constituintes lecistas, no sentido de sceitarem, como soluggo digna e salvadora, a formula sobre que iam deliberar. Entre parentesis, nao posso deixar sem reparo o facto de o sr. Jos6 Acioly nao haver escrupulizado em publicar, em seu manifesto, dois telegramas a mimr dirigidos por elements da representacgo lecis- ta, entio no Rio, e ambos cifrados, o que Ihes da o character de absolute confidencialidade. At6 entao em plena harmonia de vistas corn s. s., transmiti-lhe, naturalmente, para ciencia sua, o teor desses despachos, devidamente traduzidos, sem en- tretanto Ihe haver dado, at6 hoje, qualquer autoriza- do para a sua divulgagdo. 0 seu procedimento, pois, tornando-os publicos, sobre constituir at6 acto delictuoso, nio tern qualificagao do ponto de vista moral, e me autoriza mesmo a presumir que, se s. s. nao teve escrupulo de proceder por essa forma sem cuvir nem a mim, como destinatario, nemr aos autores dos despachos n5o o terA tido quigA, tambem, quanto d adulteraglo dos textos respectivos, por cuja autenticidade nio posso, portanto, responder. Outra circunstancia a salientar 6 que ambos os cabogramas divulgados pelo manifesto um de 2 de maio, assinado pelos drs. Olavo Oliveira e Pedro Firmeza, e o outro de 3, subscrito por estes e tambem pelos drs. Waldemar Falcao e Figueiredo Rodrigues - sao anteriores a reuniao plenaria dos constituin- tes lecistas, que se realizou a 4. 0 dr. Jos6 Acioly oculta maliciosamente a data dessa reuniao e redige o manifesto, nessa parte, de forma a, dar a entender que os cabogramas Esc posteriores A mesma- E nao o fez por acaso e sem objetivo; mas corn o proposito, que bem se entremostra, de fazer crer aos seus lei- tores que, ap6s a decisao de recusa da formula, ain- da se conspirava contra a candidatura Pimentel, que s. s. teria salvo . corn a sua miraculosa carta ao Capitdo Juracy ! Essa sua desconhecida vocagio para taumaturgo politico, s6 agora descoberta, ccm o atribuir-se o mi- lagre de haver feito cessar, corn o poder mirifico de sua missiva ao sobrinho ilustre, todas as dificuldades contra a vitoria da c usa lecisla,teria de cer Lo se s. s. estivesse de b6a f6 alguma. coisa daquela deliciosa candura corn que o saudoso Padre Cicero afirmava, convencido, aos seus interlocutores, que com um te- -egrama ao imperador Francisco Jos6 havia apressa- do o fim, em 1918, da tremenda luta, que por quatro anos ensanguentou o s6lo europeu ! Tornemos, porem, aos factos. 0 dr. Pimentel regressara, como disse, cerca das 19 horas do dia 3, de sua fazenda nos sert6es de Ca- nindL. Pu-lo de pronto a par de quanto se passara em sua ausencia, inclusive os factos graves. Na mesma noite ainda, o dr. Meneses Pimentel e eu estivemos no Palace com various dos deputados ali hcspedados, trocando id6as sobre a situagio, saindo dali s. s., cerca das 21 horas, em minha companhia, no proposito de, em reuniuo coletiva dos deputados. a ser convocada para a manhA de sabado, proper a to- dos a aceitagdo da formula, incumbindo-se ainda de, antes, demover, de sua impugnagdo, ao dr. Jose Acio- ly e ao deputado Fequeno. Mesmo, porem, que estes persistissem em seu proposito assentara s. s. conosco aceitariarnos, ainda assim, a formula ji amplamente discutida. Entretanto, pouco depois, me encontrava eu corn o deputado Ubirajara Indio do CearA e corn o Revdmo. Pe. Helder, os quais me explicaram que, em virtude de um despacho enviado, do Rio, pelo deputado Je- hovah Mota, mandando observer, at6 nova determi- nag'io, as instrug6es anteriores, nio tinham outra ati- tode a tomar, em face das circunstancias, sendo man- ter a candidatura Meneses Pimentel. E' claro que, r-om essa modificagdo do estado das coisas, nao nos era possivel insistir na aceitagdo da formula, e nio nos cumpria tomar outro caminho que nao o da re- *cmposicgo da situagco com o retorno a posigao an- terior. E foi o que imediatamente deliberamos fa- zer o dr. Pimentel e eu convocando os deputa- dos estaduais a se reunirem no dia seguinte pela ma- nha, para nao retardarmos mais a solucAo. X A REUNIAO DO DIA 4 DE MAIO A reuniao do dia 4 de maio efetuou-se As 10 hs. da manha na chacara de residencia do dr. Edgar de Arruda, no Bemfica, presents todos os constituintes 7ecistas menos o deputado Carlos Benevides e mais os drs. Meneses Pimentel, Jos6 Acioly, Sila Ri- beiro e o autor desta replica. Em face do que se passara na noite anterior, n5o havia possibilidad, de vingar a formula, o que quase tudos os presents nao ignoravam. A reuniao ia apenas dar A recusa da proposta o character de delibe- ragdo coletiva, que ela deveria ter; e tao previsto era c seu resultado que, de antemio, por sugestfo minha, o deputado Ruy Monte redigira o telegrama em que haviamos de comunicar, aos amigos do Rio, a resolu- z;ao a ser tomada. Verdade 6 que, na manha desse dia, o deputado Jehovah Mota, segundo viemos a saber posteriormen- te, telegrafara aos deputados integralistas, autori- zando-os a concordar com a candidatura Edgar de Arruda, desde que o dr. Meneses Pimentel anuisse no afastamento do seu nome condigdo a que todo., desde o principio, subordinaramos a aceitagdo da proposta. Mas esse despacho nao chegou a tempo de alcangar a reuniao e modificar o ponto de vista que, na v6spera, o deputado Ubirajara me havia trans- mitido. Narrando o que se passou nessa reuniao, o dr. Jos6 'Acioly fA-lo, como sempre, de maneira insufici- .nte: e n-do satisfatoria, falseando a verdade.- Assim e que s. s. afirma que eu nada disse;.nesse moment, sobre as ddmarches que andara a fazer em prol da formula. Nao e exacto. Fui eu quem exp6s, nessa oca- siao, os motives que ali nos c6rigregavam, e nao po- dia fugir de manifestar-me sobre o que, a proposito, se havia passado nos ultimos dias. E assim fiz. Lembro-me bem de haver falado na prop6sta e no fracasso da mesma, pelo facto, que salientei, de nao haver reunido a unanimidade dos sufragios dos can- didatos lecistas. Assim conclui eu s6 havia urn caminho a seguir, que era o de manter-se a candida- tura do dr. Meneses Pimentel, telegrafando-se, nessc .entido, aos membros. da bancada entdo no Rio. Todos os presents, depois de falar o dr. Meneses Pimentel, que declarou preferia a aceitagdo da f6r- mula proposta, mas que, por amor a causa comum, concordava em manter a sua candidatura se mani- festaram, sem discrepancia, pela volta A situacao an- terior, embora alguns deles houvessem mesmo cha- mado a atencgo para a crueza da luta em que nos lamos empenhar e que, segundo as mais fundamen.- tadas previs6es, envolvia, na sua rudeza, atW o risco da vida de cada um. Foi alias por sugestdo minha que, resumindo o re- sultado dos debates, foi submetido a deliberagAo e assinatura dos presents deputados e chefes poli- ticos o despacho, jA redigido, explicando aos ami- gos os motives determinantes da recusa da formula, com a autorizagho, que ao dr. Edgar de.Arruda se re- novava, para continuar a ser, no Rio, o advogado dos superiores interesses de nossa causa. Lembro-me ainda de que, nessa mesma reuniao a proposito da volta a situagco anterior se falou na questdo das senatorias, ficando de logo esclarecido que uma delays a Liga reservava para o dr. Edgar de Arruda e sobre a outra nada podia adiantar-se, no moment, por es- lar Dresa a negociagbes, podendo vir a destinar-se ao sr. Juarez Tavora. E ninguem extranhou isso, por- que todos os deputados presents bem sabiam que estavam vinculados A Liga pelo compromisso de su- fragarem os candidates que a mesma indicasse, quais- quer que 6les fossem circunstancia que, na ocasigo, foi at6 salientada por alguns d6les, notadamente o de- putado Dario Correia Lima, que apenas se reservava o direito de nao votar no sr. Juarez, deixando em branco, nessa hipotese, o seu voto. Foi o que ocorreu na reuniao de 4 de maio, a qual terminou cornm a resolugio de se publicar tambem, na imprensa, a reafirmagdo, que todos os deputados ha- viam feito, da solidariedade ao sr. Meneses Pimentel. Por sinal que essa nota foi redigida, em colaboracio, pelo dr. Jos6 Acioly, pelo Pe. Helder Camara, tam- bem ali present, e por mim. Os factos posteriores mostraram que f6ra bem inspirada a minha sugestao de se deixar suficiente- mente documentada, corn a assinatura de todos os deputados e at6 dos chefes politicos, a renovagdo do compromisso geral para corn a candidatura Meneses Pimentel, fazendo-se, assim, a prova de que se dera a recomposicgo de todos os nossos elements e nao se quebrara a unidade de vistas e de aqAo dos mesmos. E' certo que essa providencia nao impediria, como nao impediu, que os traidores violassem, sem nenhum motivo e sob alegaq5es fragilimas, o compromisso reiteradamente assumido; mas, pelo menos, Ihes ti- rou, entAo, o pretexto, que certamente invocariam, de haverem abandonado a candidatura Pimentel, porque esta fora, naquele moment, afastada. Hoje, gracas a esse document de 4 de maio que eviden- cia a reintegracgo de nossas forqas e a sustentacdo do c-bjectivo inicial da luta n6s podemos pegar os mis- tificadores pela g61l e, exibindo-os aos apupos da platea, tornar indiscutivel a sua felonia e a sem-ce- rimonia corn que, finalmente, esquecendo o respeito a si proprios, quebraram solenemente a sua palavra e faltaram A f6 jurada ! XI A HISTORIC DE UMA TRAICAO Era de supor que, corn as deliberag6es tomadas na manhA de 4 de maio, nio nos viessem mais a as- saltar duvidas sobre a attitude do dr. Jose Acioly e do oeputado George, nem o seu procedimento nos fosse mais motivo de susto. Pois um e outro nio haviam assinado o document, em que se solidificava, mais uma vez, o apoio a candidatura Pimentel ? ! Assim, entretanto, nao sucedeu. A sedug5o diabolica se infiltrara na alma do chefe conservador, do seu deputado e dos seus amigos. Estes, especialmente, que haviam sentido, nos acon- tecimentos daquela semana, sorrir-lhes a possibili- dade de fazerem do seu idolo governador, nao podiam ver, sem magoas, fugir-lhes a risonha perspective. E desde entao o trabalho satanico nio cessou mais de processar-se. No proprio dia 4 de maio, cerca das 13 horas, ten- do terminado a reuniAo coletiva dos deputados jA de- pois das 11, o sr. George Moreira Pequeno f6ra vis- to em novos entendimentos com chefetes e elements pessedistas, sucedendo-se nesse, e nos dias imediatos, as reunites em que esse deputado tomava parte, com adversaries nossos e pessoas da intimidade e paren- tesco do dr. Jos6 Acioly. Entfo o chefe conservador nao sabia da attitude altamente extranhavel dos seus amigos e parents, inclusive os mais intimos? E porque nao coibia, corn um gesto oportuno de reprovagdo, essa conduta cen- suravel da gente da sua maior privanga, daqueles sobre quem teria, se o quisesse, a autoridade moral necessa- ria para tanto? JA no dia 5, a situaqAo de desconfianga, entire os nossos amigos, corn relagao ao dr. Jos6 Acioly, era tal que, para descarregar o ambiente e tambem para comprometer cada vez mais a s. s., sugeri aos reda- tores da "A Rua" ouvirem-no em entrevista, o que realmente fizeram, sendo as suas declarag6es publi- cadas na ediq&o do dia 6 de maio (2.'-feira). S. s. reafirmava, mais uma vez, a sua integral solidariedade com a candidatura Meneses Pimentel e assegurava que a mesma era a attitude sem discre- pancia assumida pelos deputados conservadores elei- tos sob a legend da LEC, acentuando, corn enfase: "Nem poderia deixar de ser assim, porque nos, homes de honra, temos por norma invariavel man- ter os compromissos assumidos". Essas palavras tem, hoje, apenas, a sonoridade dos vocabulos inuteis, e podem repercutir, simples- mente, como vozes de ironia para comentar a con- duta posterior do dr. Jose Acioly e do seu deputadc,. - "N6s, homes de honra, temos por norma invaria vel manter os compromissos assumidos"... Como e doloroso constatar quao depressa o ex-chefe conser- vador se esqueceu de sua afirmaqAo tao perempto- ria e tAo enfatica! JA entao, evidenciando seguir, na vida political, aquele prudent conselho da sabedoria Arabe, se- gundo o qual nunca se deve mostrar o fundo do seu pensamento, como nio 6 de bom aviso mostrar o da sua bolsa s. s. apenas nos despistava... Os factos cada vez iam esclarecendo mais os propositos seus e de seus amigos, que preparavam ardilosamente o terreno para o lancamento de sua candidatura. O proprio dr. Jos6 Acioly nio cita, no seu mani- festo, como a. justificar-se, o concerto de Talleyrand, de que s6 os loucos ficam numa casa que se incendeia, e nao pergunta porque teimar em manter-se a candi- datura Meneses Pimentel, se ela estava a pique de ser queimada pelos que tinham o dever de ampard- la?! Responde-se a isso, mostrando-se que essa can- didatura, por deliberacgo unanime, inclusive de s. s.: fora mantida de pe, ap6s as demarches para a sua substituigdo, pela forma ja explicada, e que, tanto quanto n6s outros, s. s. tinha tambem o dever de sustenti-la. Continuemos. No dia 7 de maio, em seguimento ao trabalho em favor do sr. Jos6 Acioly, o sr. Juarez Tavora descia da sua eminencia de chefe revolucionario de alto coturno e das alturas imaculadas de sua procla- mada pureza, para proper, ao dr. Edgar de Arruda, no Rio de Janeiro, em nome do seu partido, os nomes do chefe conservador e do sr..Joio Tom6. Qualquer desses velhos politicos at6 pouco re- pudiados como carcomidos e indesejaveis ja ser- via ao ex-vice-rei do norte, em pleno declinio de seu prestigio e decaido mesmo de seu primitive e intan- givel idealismo, que, como fruta de beira de estrada, se colocava, assim, ao alcance da mdo atrevida de qualquer gar6to... 0 dr. Edgar de Arruda nao podia, logicamente: aceitar qualquer d6les, de vez que era de tr&s dias an- tes o telegrama dos. deputados lecistas, mantendo, por motives sobretudo de ordem moral, a candidatura do sr. Meneses Pimentel. No entanto, esse procedimento impecavel e era isso o que o P. S. D. desejava corn a sua mano- bra servia para irritar o sr. George Pequeno, que: em constant contact com os pessedistas, logo tive- ra conhecimento do teor do despacho em que o sr. Juarez comunicava aos amigos o fracasso da demar- che, e interpelou, a proposito, ao deputado Olavo Oli- veira, dizendo aqui, por esse tempo, que a candida- tura do sr. Jos6 Acioly devia ter sido tomada em con- sideragdo pelo dr. Edgar de Arruda... As reunites entire pessedistas e aciolistas, ora na casa de Mons. Quinder6, ora na do proprio sr. George, ora na do sr. Franklin Gondim, continuavam a ser frequentes, denunciando, assim, plena inteligen- cia entire 6les. Os nossos amigos andavam francamente alarmados, em absolute desconfianva, quanto a leal- dade do sr. Jos6 Acioly. E a sueessdo dos factos ia justificando e confirman- do dia a dia as suspeitas. No dia 11, chamado com urgencia pelo governor da Republica, devia embarcar para o Rio o cel. Felipe Moreira Lima, interventor federal. Era grande, nos arraiais pessedistas, a exal- tagdo produzida por essa partida absolutamente ines- perada. Na noite de 10 interrompendo por instantes a azafama da assinatura dos actos do seu testamento - o Coronel recebia uma manifestacgo de solidarieda- de frrestrita dos doze deputados do P. S. D., aos quaes se reunira o sr. Erico Mota. Pois bem. Na mesma noite, alta madrugada, ale- mento graduado da situacgo, em singular agodamen- to, acordava um dos notarios desta Capital, para que este fizesse o reconhecimento da firma do sr. Geor- ge Moreira Pequeno em document a ultima hora fornecido por este ao Interventor Federal! 0 teor exato desse document, ndo sei ate hoje qual fosse. Mas, certamente, aproveitava ao P. S. D., pelo me- nos para manobrar contra n6s, tal a satisfacgo corn que foi recebido nos arraiais daquele partido, que, desde esse moment, quase sem reserve, passou a considerar o sr. George tambem integrado em suas hostes. E o sr. Jose Acioly acaso ignoraria o passo. no mais brando dos qualificativos, pelo menos incon- veniente e levianissimo, que havia dado, junto aos adversaries, o seu preposto, o home da sua inte- gral e irrestrita confianga? Ninguern t9o ingenuo que o acredite... Entrementes amigos leais do dr. Jos6 Acioly tra- balhavam, dentro dos quadros da Liga unica forma por que honestamente poderiam fz&-lIo, dados os compromissos assumidos no sentido de obter fosse s. s. escolhido para um dos dois logares de senador. Corn esse proposito, os deputados Stenio Gomes, Francisco Monte e Silveira Aguiar, obedecendo a ins- trugbes do dr. Olavo Oliveira, me procuraram para ouvir minha opinion. Falei-lhes corn a lealdade que Ihes devia, salientando, o que eles nao ignoravam, que a Liga nio tinha a respeito, quaisquer compromissos com o dr. Jos6 Acioly, e esclarecendo-Ihes as dificul- dades que antevia, pois a corrente democrat tam- bem havia de pleitear posicgo igual para si; e nao me parecia just que a LEC, que era a maior forca elei- toral, cedesse aos partidos justamente os postos su- periores da representagdo. Disse-lhes, finalmente, que, nao me ficando bem, como representante da Junta da Liga, trabalhar pelo dr. Jos6 Acioly pois quebraria, assim, a imparcial idade em que nos devia- mos manter nada tinha, entretanto, que opor a que eles agissem no sentido indicado, e que de mi- nha parte nao haveria de sair qualquer hostilidade a esse movimento. Chegou mesmo a ser desenvolvido. corn a simpatia do dr. Meneses Pimentel, proficuo trabalho em prol da senatoria do dr. Jos6 Acioly, o qual todavia cessou, diante da evidencia, a que os mais cepticos vieram final a chegar, de que s. s. nao estava sendo fiel a nossa causa e, estimulado por seus intimos e seduzido por enganadores cantos de sereia, aqui e alhures entoados, queria substituir-se ao proprio dr. Meneses Pimentel. No entanto, como j' fiz sentir na replica que, em 24 de maio ultimo, opfis a cavilosas afirmag6es do de- putado Pequeno. a Liga, pelos seus elements diri- gentes, nunca, em tempo algum, explicit ou im- plicitamente, se comprometera a votar no dr. Jose Acioly para senador; nem mesmo estava obrigada como parece pensar s. s., a dar um logar no Senado ao seu partido, a vista do concurso prestado por este nas eleig6es. Esse concurso, cuja valia ninguem ne- ga, ji estava compensado com a eleigdo de um depu- tado federal e various estaduaes; e, se 6le foi precio- so, nao menos, o foi o das demais correntes, certo como e que a unido de todas as nossas forcas eleitoraes e que nos assegurou o triunfo. Em todo caso, se o sr, Jose Acioly nao logrou ir para o Senado, como era seu ardente desejo, deve-se sobretudo ao seu deputado, sr. George Pequeno, que assumira attitude insolita, vivendo em franca articula- qio corn os adversaries e fazendo praga mesmo, de maneira escandalosa, dos seus sentiments e incli- nagoes. Demais nao e escusado repetir o ex-chefe conservador nio era extranho a essa articulagao, que se fazia em beneficio de sua candidatura ao Gover- no do Estado, como a sucessdo dos factos veio final evidenciar. XII O DR. JOSE' ACIOLY, COMPETITOR DO DR. ME- NESES PIMENTEL! E foi isso o que levou, final, aquiles proprios que, sendo embora seus amigos, queriam trabalhar di- gnamente em seu favor, a desistirem dos passes que vinham dando. Pouco a pouco se firmou a conviccao de que s. s. nos trafa, com o pensamento, que entdo o animava, de ser o governador do Estado, fazendo-se quem o diria desse homem de honra", que, segundo as suas proprias palavras, tinha "por norma invariavel man- ter os compromissos assumidos"?! o competitor do proprio dr. Meneses Pimentel, de cuja candidatura o manifesto tern o sans fagon de afirmar ter sidp s. s. o salvador... No Rio, ninguem ignorava o trabalho intenso que se desenvolvia em torno desse nome, a ultima hora adotado, pelo P. S. D., como taboa de salvacao para o seu desespero de naufrago. Aqui, nio eram menos significativas as atividades nessa mesma direccao, sendo certo que os parents e as pessoas mais che- gadas ao sr. Jose Acioly, inclusive o deputado Pe- queno, ja em complete unido comr os pessedistas, pro- curavam desesperadamente aliciar mais alguns dos constituintes lecistas, empregando nesse sentido, corn o afan de quem via nessa tarefa uma necessidade de sua propria conservacgo, todos os processes de sedu- gao, ainda os mais vergonhosos e reprovaveis. Fo- ram, assim, dias de vergonha e de lama, na historic political do Ceard, os ultimos dessa campanha memora- vel, durante os quaes o desespero adverso e a gana de muitos, que exergavam, na victoria pessedista, a possibilidade de bons negocios para o seu enrique- cimento, transformaram o campo da luta em com- petigdo mesquinha de interesses aviltantes! Mas, final, cerca do dia 17 para o dia 18, o pro- prio sr. Jose Acioly, que at6 ai agia por omissao, man- tendo as aparencias de solidariedade conosco, maw deixando a sua entourage preparar ativamente o ter- reno para a sua candidatura ao Governo do Estado, o proprio sr. Jos6 Acioly descobria o seu jogo politico, evidenciando as inteng6es ocultas, que vinham sen- do, de ultimo, o movel das suas attitudes. Efetivamente, na manhd do dia 18, s. s., que dc antes ja vinha procurando conquistar, com blandicias e suavidades, a solidariedade complete do deputadc Silveira Aguiar o qual, segundo nos confessou, an- dava suspeitoso dos seus mal encobertos propositos - mandou chamar a sua residencia, pelo sr. George aquele nosso dedicado e lealissimo amigo, que a cam- panha provou ser um character de rija tempera inamolgavel. Aguiar relutou, a principio, em tender ao cha- mado, desconfiando de logo do seu objective, a vista dos antecedentes do caso. Mas, por n6s mesmos acon- selhado, compareceu a residencia do chefe conser- vador, e, ao chegar ali, viu realmente se lhe confir- marem as suspeitas. 0 dr. Jose Acioly, entrando em conversa corn aquele deputado, formulou suas queixas contra a Li- ga Eleitoral Catolica, por quem se dizia constante- mente ludibriado (E s. s. ndo queria nada...). Era alias, de ultimo, o tema habitual de suas palestras corn os amigos, no prepare moral do terreno para a felonia que ia praticar. Depois, descobrindo o seu pensamento e in- teiramente confiante de que Aguiar o acompanha- ria na traicgo o dr. Jos6 Acioly declarou ao seu interlocutor que amigos daqui e do sul da Republica. entire os quaes elements prestigiosos na political na- cional, insistiam corn 6le por que apresentasse a sua candidatura. Em face disso, queria saber qual a ati- tude que, na emergencia da mesma, assumiria o sr. Silveira Aguiar. Homem de bem, Aguiar Ihe replicou, de manei- ra peremptoria, que nao podia voltar atras dos com- promissos ainda de fresco renovados corn a candida- tura Meneses Pimentel; proceder de maneira contra- ria seria, ao seu ver, uma indignidade. A isso, o sr. Jos6 Acioly, que evidentemente nao contava corn a recusa, como que descaiu, amolecido, na cadeira onde se achava, e se declarou, magoado e abatido, abandonado pelos amigos em que tanto con- fiava... Depois, reagindo um pouco, tentou ainda con- quistar o voto de Aguiar, insistindo em que este o acompanhasse e at6 Ihe perguntando se 6Ie aca- so achava que teria mais prestigio no governor do dr. Menezes Pimentel do que no do seu velho chefe e amigo de longos anos. Aguiar, por6m, nao transigiu, e a tudo respondia, dignamente, que so tinha um caminho, que o dever a ambos apon- tava: sustentar os compromissos assumidos! Alias disse-lhe Aguiar que s. s. estava sendo victim de um logro e que :-io devia ter a ingenuidade de acreditar que os pessedistas fossem sinceros, quando propunham suffragar o seu nome: o que 61les queriam era desagre- gar-nos primc'ro, para, depois, faze-em o candidate de ti a preferencia! Da casa do dr. Jos6 Acioly, Aguiar, profundamen- te impressionado com attitude deste, saiu directa- mente para a residencia do dr. Meneses Pimentel, onde Ihe narrou a surpreendente ocorrencia, indo ambos, de pronto, ao meu escritorio, para m'a comunicarem. Con- fesso que a noticia nao me causou nenhuma surpresa. Se 6 possivel ter satisfagio em tao dificeis conjuncturas, eu tive a que p6de ter o clinic, que, numa enfermida- de complicada, v6 a march da molestia confirmar- Ihe o diagnostic, desde o principio com acerto formu- lado... De certo tempo aquela data, eu pressentira a traiq5o que se preparava e chamara mesmo, para ela, a atengdo dos amigos, comunicando-a, at6 em car- tas e iolegrnmas, aos que se achavam na Capital da Republica. Apenas tinhamos, agora, naqu6le fato dolorosa- mente concrete, a positivaqdo indubitavel da felonia. No mesmo dia, apesar da decepqgo que a attitude de Aguiar Ihes causara, os empreiteiros da candida- tura Jos6. Acioly procuravam para ela o apoio de oaf- tros deputados e elements lecistas, investindo, numa ofensiva furiosa, contra as nossas hostes. 0 sr. Geor- ge Moreira Pequeno ia a casa do dr. Sila Ribeiro e Ihe afirmava contar ja corn quinze deputados, depen- dendo o triunfo apenas de mais urn voto, para o que desejava aliciar o -do sr. Hildeberto Barroso. E, como o dr. Sila indagasse, curioso, qual o deputado lecista que, al6m dele, George, votaria no dr. Jos& Ac:.oly, George Ihe afirmou que contava tambem corn o voto do sr. Aguiar, o qual, entretanto,. nio -queria ninguem viesse a saber de sua attitude. Compreende-se- bem a alcance da perfidia. Era preciso dizer ao dr. Sila que Aguiar mantinha segre- do sobre o seu procedimento, para que nro se pudesse apurar a veracidade da informa~go... Cientes disso, atrav6s de palestra do dr. Sila corn o deputado Ruy Monte, d i-ios o fato a conhecer ao deputado Silveira Aguiar, que, possuido de just re- volta, dirigiu, no dia 20, ao dr. Jose Acioly, a carta que, a seguir devidamente autorizado por seu au- tor dou publicidade, e que 6 a prova documental, preconstituida, da traicio do chefe conservador, e do proposito, que entao o animava, de se fazer candidate em contraposigAo ao dr. Meneses Pimentel: "Fortaleza, 20 de maio de 1935. Ilustre amigo dr. Jose Acioly Nio voltei ai, ante-ontem, para dizer o resultado de mir-ha conversa com o dr. Pimentel, acerca da senatoria, primeiro porque ficara o dr. Rui Monte incumbido de falar ao distinto amigo a respeito, e .emais porque a attitude do George, dizen- do ao dr. Sila Ribciro que eu estava com- promctido, sob reserve, a votar para go- vernador no respeitavel amigo, me colocou em posicgo de nao poder mais tratar do re- ferido assunto, uma vez que tal afirmativa nao encerra a expressio do que decorreu na nossa palestra. Quando, cnte-ontem, o digno amigo in- terpelou-me se podia contar comigo para se eleger governador, respond sem vacila: nao, pois estava comprometido corn ,o dr. PimentAl, compromisso em que via cmpenhada a minha honra e dos 16 cole- gas; entretanto, quanto A senatoria, envi- daria ,os meus esforgos para conseguir". Essa carta, que 6 o document de um home:n honrado, prova indestrutivelmente duas coisas: a) - que o sr. Jos6 Acioly procurava aliciar deputados nos- sos par i se eleger governador; b) que, mesmo por esse tempo, os seus amigos, num gesto de nobre de- dicag~o, ainda tentavam faz6-lo senador, tentative fracassada pelos motives expostcs. Aguiar foi, em pess6a, entregar-me o referido do- cumento, para que eu o fizesse chegar. as mdos do dr. Jos6 Acioly. Era isso Lerca das 14 horas do dia 20 de maio. Saf do meu escritorio, a essa hora, em com- panhia do dr. Ruy Monte, corn destino A casa do dr. Menezes Pimentel; e, logo a seguir, na esquina da rua BarZo do Rio Branco com a Rua Guilherme-Rocha, en- contravamo-nos com o sr. George Moreira Pequeno, que, chamando de parte o meu companheiro, Ihe transriitiu recado do dr. Jos6 Acioly para ir a sua re- sidencia. Atendendo A solicitagio, o dr. Ruy Monte foi a casa r. chefe conservador, incumbindo-se de ser, le proprio, o portador da carta do deputado Silveira Aguiar. Uma vez ali, o sr. Jos6 Acioly tentou tam- bem, de maneira habil, alicia-lo para a suq causa, di- zendo estar em dissidio cornm a Liga e perguntando- ihe se podia contar corn o seu concurso; ao que o dr. Ruy altiva e dignamente se recusou, retrucando-1he que, mantendo os seus compromissos cornm a Liga, es- tava seguindo o caminho que o proprio dr. Acioly ain- da recentemente tragara aos seus amigos. Conhecida, como era, a demarchee" junto a Sil- veira Aguiar c o trabalho intenso dos seus intimos pela sua can:'datura poi- o proprio dr. Ruy j6 f6ra procurado, nesse sentido, por mais de um emissar' , propondo-lhe um d6les at6 a senatoria para que e que se havia de sup6r pedisse o dr. Jos6 Acioly o con- curso do deputado Ruy Monte? Para que? 0 dr. Jos6 Acioly abusa escandalosamente da cc: iplacencia dos outros, quando, depois disso e em fc: de tantas provas e documents, ainda pretend su.tentar que nao foi candidate ao governor do Es- tado. Nao foi, como o nao f6ra a deputagio federal e a senatoria, enchendo a b6ca, insinceramente, de des- prendimento e de renuncia, mas com o coragdo re- pleto de aspi-ag6es e desejos vehementes, cuja insa- tisfagdo acabou por gerar-lhe a amargura, a dece- pgco e o despeito! S. s. nao foi candidate ao governor do Estado, cm cc- traposicgo ao nome do dr. Menezes Pir-entel... Mas entdo para que, mesmo depois do fracasso dos primeiros passos junto aos deputados Aguiar e Ru- Monte, ainda foi, na 3.a-feira, 21 de maio, ao quarto daquele, no Palace, renovar-lhe os pedidos em favor do seu nome? Porque, no mesmo dia, emissaries seus, pess6as de sua propria familiar, faziam insistentes tentativas para falar corn Aguiar, que se recusou ate mesmo a receb6-los? Porque s. s. visitou pe-s6as da familiar do deputado Stenio Gomes e mandou emissaries a este, ja quan- do os deputados se achavam recolhidos ao quartel do 23.0 B. C.? Por que?! Alias, a traigco 6, na vida public, o clima moral do sr. Jos6 Acioly, e parece que, no sangue politico, Ihe circula, venenoso, o virus da felonia... A sua vida pregressa ai estd, aberta ao nosso exame, mostrando, na trajcctoria de sua carreira po- litica, os marcos das successivas traig6es que consu- mou: a traicgo ao sr. Tomis Cavalcanti, em 1912, para o reconhecimento do sr. Franco Rabelo; a traicgo, feita a este, pouco depois, e que provocou os suces- sos lamentaveis de 9 de novembro; a traiqgo aos seus amigos do P. R. C., em favor da reeleigaio do sr. Joaio Tome; a traigco a este, em 1924, repudiando a candi- datura do mesmo para se tornar o seu opositor e, afi- nal, levar ao governor o desembargador Moreira da Rocha; a traicgo ao sr. Matos Peiyoto, em 1927, por ocasido do acordo para a Camara Federal, em que foi esquecido o compromibso de assentar-se o nome da- quele Ipara successor do president Jos6 Moreira; e, finalmeute, a. traigdo a leg lidale, em 1930, quando s. s., amigo da situaqAo politi-A, vendo-;, por6m peri- clitar, se recusou a acsinar o manifesto da bancada ao povo cearense, concitando-o a prestigiar o Governo constituido, e telegrafava, d:pois, aos seus amigos, aconselhando-os a nio resistirem & "corrente que em- polgava a Nacgo!" Com essa f6 de oficio, nio era de espantar que s. s. faltasse, agora, em 1935, A palavra tantas vezes jurada em favor do sr. Meneses Pimentel. E, no en- tanto, o dr. Jose Acioly nao tinha, como jA vimos, nem mesmo pretexto para faz&-lo, porquanto, se era desejo seu ser eleito senador, nio havia de nossa par- te o menor vinculo nesse sentido. Alias, o sr. Jos6 Acioly sempre disse, e ainda hoje o afirma, que nao entrou na campanha por ambigdo ou por interesse, mas por patriotism, e que, por con- seguinte, nada desejava, inclusive a senatoria. Mas entao porque s. s. rompeu corn a Liga? - perguntarA o leitor, interdito e espantado. Quem o sabe? quem poderi penetrar os segre- dos reconditos nos refolhos daquela alma indevas- savel? Satisfizemos-lhe sempre, integralmente, os mais ardentes desejos, que se resumiam em nada aspirar nem desejar, e, no entanto, por isso mesmo, s. s. nos abandon, nos trae e ainda por cima nos injuria e in- vectiva... Homemn paradoxalmente ingrato, o sr. Jos6 Acioly! Fortaleza, 30 de agosto de 1935. J. Martins Rodrigues APPENSO AO POVO CEARENSE S6 agora julguei opportuno dirigir-me ao povo cearense, e particularmente ao "Partido Republicanc Conservador", para exp6r as raz6es de ordem moral e political, que me afastaram da "Liga Eleitoral Ca- tholica", ap6s haver assegurado, com a firmeza de mi- nha attitude no moment mais critic da lucta, a esta- bilidade da candidatura Pimentel. Eu esperava que amainassem as paixoes desenca- deiadas pela campanha,a que o Ceara foi arrastado num passo decisive de sua vida political, para dar meu de- poimento sobre os factos, em que fui parte active, bem que modest. Fa-lo-ei corn animo sereno, sem a intengdo pre- concebida de ferir melindres de quem quer que seja, tdo s6 preoccupado da verdade, que ha de resahir inequivoca do que se vae ler. Antes, porem, me seja permittido narrar o que occorreu em torno de meu nome, quando foi da orga. nizagdo da chapa da "Liga" para as eleig6es da Cons. tituinte Nacional . 0 episodic talvez carega de maior importancia. todavia, figura-se-me convenient divulgA-lo nos seuw detalhes, para que, atravez a succesio dos aconteci- mentos, se possa apprehender o movel de certas atti- tudes, nem sempre perceptivel aos que s6em conten- tar-se com o aspect externo das cousas. Encontrava-me eu em casa, no dia 25 de abril de 1933, quando as 5Y2 da tarde, tive a honra de receber a visit de D. Manoel, Eminente Arcebispo do Ceara Acompanhava-o o dr. Andrade Furtado, director dc "0 Nordeste". Velho amigo meu, julgando com excessive bene- volencia minha formacgo christd, entendia S. Excia. que eu devia ser um dos candidates da "Liga", con- forme mais de uma vez se externara em palestra com- migo. E, requintando na sua gentileza, nao se dedi- gnou de pessoalmente me procurar com aquelle de- signio. Desvanecido, agradeci a prova de estima e con- fianga com que me distinguia. Mas Ihe expuz, corn a maior franqueza, os motivos de ordem pessoal por que nao desejava fazer parte da Constituinte,lembrando-lhe entdo o nome do Dr. Olavo Oliveira, por cuja candi- datura me vinha interessando. Nada tinha a oppor A minha suggested, disse-me D. Manuel; achava, entretanto, pelos arguments que expendeu, que eu nao devia recusar o lugar que me estava reservado na chapa da "Liga". Diante da insistencia amiga de S. Excia., aca- bei por ceder A sua vontade, express de forma tdo li- sonjeira para a minha pessoa. No dia seguinte, A tarde, informou-me o Dr. Ma- nuel Satyro que o directorio da "Liga" se reunira e deliberara excluir de sua chapa, al6m do meu, os no- mes dos Drs. Fernandes Tavora e Pedro Firmeza. Nada tendo solicitado para mim, ao revez disso, s6 tendo acquiescido em ser candidate pelo que acabo de relatar, natural era procurasse inteirar-me do que se dera. Assim, fui, A noite, ao Palacio Archiepiscopal, onde encontrei D. Manoel em companhia de D. Fran- cisco, Bispo do Crato, e Monsenhores Tabosa Braga e Jos6 Quinder6. Logo ap6s, chegavam o Dr. Jos6 Mar- tins e o Capitdo Jehovah Motta. Este ultimo cumpri- mentou de long os presents e dirigiu-se para outra sala, onde permaneceu at6 a hora em que me retire. De inicio, communiauei a S. Excia., o que pouco antes me informara o Dr. Manoel Satyro, dizendo- Ihe da e-tranheza que me causara a resolugno attri- buida 4 "Liga". D. Manoel confirmou o facto, manifestando de modo claro e significativo a contrariedade de que se achava possuido. Data venia, Donderei que se nao justificava o pro- cedimento da "Liga". Sua deliberagqo, tomada As portas do pleito, era tanto mais inexplicavel, quanto os entendimentos entire seus directors e os chefes das demais correntes se vinham realizando normalmente, num ambiente de cordialidade, no sentido de ser orga- nizada uma chapa unica. Assumindo, de improvise semelhante attitude, creava ella para n6s outros um verdadeiro impasse, attenta a difficuldade de adoptar, a hora que era, as providencias de natureza eleitoral que se faziam mister. 0 Dr. Jose Martins, que, seja dito de passage, nao fazia parte do Directorio da "Liga", tentou defen- de-la, allegando que ella nao tivera o intuito de hos- tilizar este ou aquelle politico; apenas julgava accer- tado excluir os candidates que fossem chefes de par- tido. Retruquei-lhe que o Capitdo Jehovah Motta e o Dr. Ledo Sampaio, contemplados na chapa lecista, chefiavam, respectivamente, o Partido Integralista do CearA, e o "Partido Social Democratico", do impor- tante municipio de Barbalha. E accrescentei que a "Liga", obedecera, no caso em apreco, a um criteria sui generis: emquanto alguns candidates eram exclui- dos da sua chapa, por serem chefes politicos, outros, por essa mesma razdo, eram incluidos. A fragilidade do argument, corn que se buscava justificar tal incongruencia, resaltava, A evidencia, do seu simples enunciado. Nem ella podia passar des- percebida ao espirito lucido do nosso preclaro Arce- bispo, que desejoso, sinceramente, de me ver eleito deputado A Constituinte, interveiu para me dizer que talvez ainda pudesse conseguir fosse meu nome suf- fragado pela "Liga". Corn o respeito que S. Excia. sempre me mereceu obtemperei que nao pleiteava nem pleitearia nada para mim. Eu s6 poderia concordar naquelle momen- to corn a inclusdo do meu nome na chapa da "Liga", si o mesmo fizesse esta corn os meus adversaries, que del- la tinham sido igualmente excluidos. Ao que, declarou D. Manuel: "Releve-me dizer,'Dr. Jos6 Accioly, que o sr. e um politico pouco habil. Penso que si eu fizesse igual offerecimento a outro politico, elle o acceitaria sem hesitar". E' possivel que assim fosse. Mas, prefer ficar com o meu ponto de vista pessoal. O que se seguiu e do dominion public. Nunca soube a que forgas occultas devia attri- buir a exclusio summaria do meu humilde nome da chapa lecista. Disse-me, passados dias, o Dr. Edgard de Arruda, respondendo a uma pergunta minha, que "eu f6ra victim de uma conjura de padres". E nio me preoccupei mais com o caso. Quando se approximou o advento do regime legal, julguei asado o moment para reorganizar o "Parti- do Conservador", por forma a habilitA-lo a desempe- nhar, no ambito da political national, o papel que ihe cabia, como forga organic constructive que sem- pre f6ra. Dei a essa ingente tarefa todas as energies de que era capaz, ajudado por amigos e correligionarios cuja dedicago nao esmorecera nos dias sombreados de in- certezas e apprehensbes do ostracismo. Nio houve sacrificios que eu nio me impuzessE para reconstituir as fileiras conservadoras, attingidas em alguns municipios, pelos effeitos do movimentc outubrista. Nao limited minhas actividades A Capital: fui a zona sul' do Estado, corn o objective de coordenar os elements esparsos do Partido, e estimula-los, corn meu exemplo, para o prelio das urnas, que dentro em pouco tempo ia travar-se. Visitei depois as s6des dos municipios proximos de nossa fazenda, regressando em seguida a Fortale- za, onde os trabalhos da qualificagdo eleitoral exigiam minha presenga. Minha actuagdo em prol da causa, a sombra de cuja bandeira nos congregavamos, inspirou A genero- sidade do-Dr. Olavo Oliveira o seguinte despacho te- legraphico, dirigido para Uruqu&: "Amigos enthu- siasmados com dynamismo do prezado chefe". Marcadas as eleig6es para a Camara Federal e a Constituinte Cearense, as diversas correntes parti- darias do Estado, balanceando as forgas de que pode- riam disp6r, trataram de organizer suas respectivas chapas. Lecistas, Conservadores, Democratas, Integralistas e Agrarios, bem que ideologicamente separados, ti- nham sob certos aspects, objectives e pontos de vista communs. Era, pois, natural sua approximagAo, como consequencia logica da evoluqgo, que nos ultimos tem- pos se operara na political cearense. Dahi a formacgo da Frente Unica, sob a legend da "Liga", constituida pelos elements a que me refiro. No campo opposto, o partido "Social Democrati- co", organizado depois da Revolugao, arregimentava- ve dentro dos seus proprios quadros para enfrentar as correntes adversas. De accord com suas possibilidades eleitoraes, julgava-se o "Partido Conservador" com o direito de pleitear dois lugares na representagdo federal e sete na estadual. Reunida a Commissdo Executiva, de que eu era president, para tratar do assumpto, houve ella por bem delegar-me poderes para agir naquelle sentido junto aos directors da "Liga". Convidei o Dr. Olavo Oliveira, cuja habilidade no meneio dos negocios politicos ninguem contestara, a acompanhar-me nas demarches que se iam iniciar corn aquelle fim. S. S., porem, esquivou-se, dizendo que, como chefe do partido, ninguem tinha mais autori- dade do que eu para falar em nome do mesmo. 0 dr. Olavo Oliveira, que aspirava a uma cadeira na Camara Federal, sabia que eu nao seria em hypothese alguma seu concurrente. E' opportuno narrar aqui um facto, que em tem- po S. S. me revelara e que ja deixara perceber cla- ramente, o pensamento dominant em certos meios. O dr. Jose Martins procurara-o para a formagdo de um novo partido, de que tambem faria parte o dr. Edgard de Arruda, tendo S. S. declinado o convite, sob a alle- gagdo de que nao tinha motivos de se separar de mim. Informou-me ainda o dr. Olavo que os Drs. Ed- gard de Arruda e Jos6 Martins tinham firmado um pacto, em virtude do qual nao acceitariam posig6es de especie alguma. Fago aos dois illustres cavalheiros a justiga de acreditar que, si mais tarde acabaram acceitando, res- pectivamente, o mandate de Senador por oito annos e o cargo de Secretario do Interior do Estado, nao foi sinAo como um sacrificio imposto ao seu patriotism. No desempenho da missao que me f6ra commet- tida, tive various entendimentos, ora corn o dr. Edgard de Arruda, ora juntamente corn este e o dr. Jose Martins. Delles, como me cumpria, nunca deixei de dar sciencia a Executiva. Afinal, acabou a "Liga" por nos communicar que s6 poderiam ser reservados ao "Partido Conservador" um lugar na chapa federal e cinco na estadual. A si- tuagdo, em que ella se encontrava, era premente: dia a dia surgiam novos candidates, amparados alguns por elements catholicos de prestigio. Donde a impossibili- dade de nos attender in-totum. Examinada a formula proposta, resolvemos una- nimemente acceital-a por amor da causa que abraga- ramos. Qualquer divergencia, razoavel que fosse, poderia accarretar-1he o fracasso. Consoante o que a "Liga" assentara com os repre- sentantes das diversas correntes, deviam estas remet- ter-lhe duas listas com alguns nomes de sua preferen- cia, entire os quaes ella pudesse escolher os candidates a Camara Federal e A Constituinte Carense. Convocada para aquelle fim, reuniu-se a Com- missio Executiva e, depois de organizadas as alludi- das listas, enviou-as ao seu destino. 0 dr. Olavo Oliveira declarou, nessa reunido, que, convencido de que, de accord com o desejo de D. Ma- noel, eu seria candidate da "Liga Catholica" a depu- tagAo federal, resolvera pleitear para si o logar que seria destinado ao "Partido Conservador". E, tornado mais claro seu pensamento, accrescentou que n5o podia renunciar ao que julgava ser um direito seu. Presumo nao errar, affirmando que si naquella occasido me candidatasse A Camara Federal, estaria corn a minha eleiqao garantida. Mas, eu seria incapaz de contrariar, em proveito meu, a aspiragio de um cor- religionario a quem, mais do que simples, solidarie- dade political, me prendia velha estima pessoal. Declarei-lhe, pois, que sua candidatura teiia o apoio do nosso partido. Eu nao era e nem seria seu competitor. S. S., dando uma prova de sua grandeza d'alma, alludiu, entdo, a hypothese de eu ser eleito a Consti- tuinte do Estado, e, como tal, escolhido para exercer o cargo de president daquella Assembl6a. Nao era somenos a honra para mim. Mas, prefer ficar onde estava. Procurei em seguida o dr. Edgard de Arruda para Ihe communicar que o dr. Olavo Oliveira desejava ir para a Camara Federal, e que eu achava just sua aspiragao. Aproveitei o ensejo para Ihe repetir que eu nao era candidate a cargo nenhum. Como de outras vezes, limitou-se o president da "Liga" a ouvir silencioso a declaracao, que eu acaba- va de lhe fazer, quanto a minha pessoa. Releva notar que a mesma attitude discreta man- teve.sempre, em circumstancias identicas, o Dr. Jose Martins, cujas ligaq6es intimas corn o dr. Edgard de Arruda sdo conhecidas. Era como se minha renuncia espontanea as po- sic6es, pela conquista das quaes andavam outros a bri- gar, correspondessem a um sentiment intimo dos que dirigiama "Liga". Eu me antecipava assim, sem atW entdo o perceber, a uma exclusao premeditada, que nao tardaria em se tornar um facto concrete Entre os nomes, que figuravam na lista organi- zada pela Executiva do "Partido Conservador", con- tava-se o do Mons. Jose Quindere como candidate a Constituinte do Estado. Impugnou-o a "Liga", em nome da qual falavam, invariavelmente, os drs. Edgard de Arruda e Jose Martins, sob o pretexto de que a candidatura do esti- mado sacerdote iria servir de pabulo a exploracgo. que os inimigos da egreja vinham fazendo em torno do supposto clericalismo da corrente catholica. Claro que a ninguem seria licito censurar-ihe a orientaq&o. Mas, a verdade, e que o caso se nao en- quadrava no criterio, que ella adoptara como norma para escolha de candidates. Nao se tratava propria- mente, adverti eu, da indicaqdo de um representante do Clero, o que s6 por si bastaria a Ihe recommendar q nome, mas de um politico antigo, figure de relevo do "Partido Conservador", que, no regime decahido, mais de uma vez o elegera deputado a Assembl6a do Estado, Inuteis as razoes que invoquei: estava escripto que o Mons. Quindere, personifica~go da lealdade, ha- veria de ser immolado. .D. Manoel embarcara dias antes para Buenos Ay- res, levando comsigo o seu dedicado Secretario. Em via- gem, foi este informado pelo seu sobrinho Dr. Per- boyre Quinder6, do que succedera: nem elle, nem eu foramos contemplados na chapa lecista organizada, mas ainda nao publicada. Sabedor, logo depois, daquella communicagio, di- rigi-me incontinente A Western e cabographei ao Mons. Quindere, nestes terms: "Rogo nao traba- lhar meu favor. Al6m de inutil, seria humfihante". Inutil, porque eu nao voltaria atraz da resolugdo que sponte mea tomara; humilhante, por seria nivelar-me aos que, na ansia de vingar posig6es, nao vacillam na escolha dos meios. No dia seguinte, estava ainda sentado a mesa do almogo, quando se annunciaram os drs. Menezes Pi- mentel e Edgard de Arruda. Iam mostrar-me um radio que acabavam de receber de D. Manoel, e que me de- ram a ler sem articular uma palavra sobre o seu con- teudo. 0 meu grande amigo, levado da sua bondade, mais uma vez a minha inteira revelia, se interessava pelo meu humilde nome, com cuja exclusdo systema- tica das cogitag6es da "Liga" nao se conformava. E' evidence que o radio f6ra expedido antes do meu cabogramma chegar as mdos do seu destinata- rio: aliAs, D. Manoel nao teria feito mais aquella v& tentative a meu favor. A physionomia dos dois illustres visitantes tra- hia bem as preoccupag5es, que naquelle difficil mo- mento, dominavam seu espirito. A chapa, posto que ainda nao divulgada pelos jornaes, ja se achava como disse linhas acima, organizada. A intervengdo, corn que se nao contava, de D. Manoel, a ultima hora, era de effeito decisive. Um dos nomes nella contempla- dos teria de ser forgosamente substituido pelo meu. Si eu andasse A cata de posig6es, ter-me-ia limitado, e obivio, a responder aos Drs. Menezes Pimentel e Edgard de Arruda. que a outros, que nao a mim, cabia resolver o caso. E desde aquelle moment, estaria victoriosa a indicagao do meu nome, fosse qual fosse o candidate que houvesse de ser sacrificado. Mas, ao envez disso, que fiz eu? Levantei-me. e fui buscar a minha banca de trabalho a copia do ca- bogramma que na vespera dirigira ao mons. Quin- der6. 0 meu gesto de abnegagAo, traduzido naquel- le document, causou-lhes uma sensagco de desafo- go. A "Liga", com os seus pro-homens estava de parabens. Em compensagco, e nao era pouco a elegan- cia moral de minhas attitudes era uma vez mais ex- alqada. Seguiram-se as eleig6es, sem controversial, as mais renhidas que ainda se tinham realizado no Ceara. Nao precise relembrar episodios dessa prolon- gada e aspera campanha, que se desentranhou aqui, ali, acolA, em scenas pouco edificantes de nossa cul- tura civica. Consola-nos a certeza de que a intoleran- cia nao 6 privilegio de nossa boa gente... Do pleito, como era de esperar, sahiu bafejada pela victoria a "Liga Catholica", merce do concurso prestado, sobretudo, pelo "Partido Conservador". Pouco depois, chegava do Rio, aonde f6ra a pas- seio, um dos vultos mais salientes da sociedade cea- rense, pela sua independencia tanto economic, conmo pelos seus dotes pessoaes. Amigo particular do dr. Olavo Oliveira e meu, procurou-me, sem demora, para trocar idas' com- migo sobre o moment politico de nossa terra. Nao agia unicamente por si, mas autorizado por quem ti- nha responsabilidades na situagdo dominant no Es- tado. .Achava elle que eu devia ter na political cea- rense um posto correspondent aos requisitos que a sua amizade me attribuia, e que, por isso mesmo, era tempo de nortear minha accgo de outra forma. Eu me .estaria sacrificando por uma causa ingrata, por quem nao merecia minha confianga. A palestra, que foi longa, decorreu no tom de mutuo respeito, que se devem velhos amigos, mesmo quando afastados um do outro por divergencias occasionaes. Separimo-nos como. nos encontraramos; elle corn seu modo de ver eu intransigente no apoio A candidatura Pimentel. No- comeqo de novembro, recebia carta de uma das figures mais prestigiosas da Revolugo, muito desvanecedora para mim, mas cujo pensamento do- minantt nao se conciliava com o meu. Daquella de- marche, como da carta a que me report, e da respos- ta que Ihe dei, teve sciencia o dr. Olavo Oliveira, para quem eu nao tinha segredos em political. Diante do triumph obtido nas urnas pela "Liga" logico era esperar que ella pudesse eleger, sem em- baragos, seu candidate ao cargo de Governador do Estado, no caso o dr. Menezes Pimentel, apoiado pe- la maioria absolute da Constituinte. Mas, a political tem razoes que a razao nao com- prehende. 0 dr. Edgard de Arruda, ap6s as eleicges de outu- bro, embarcara para o Rio,a servigo da corrente catho- lica, de que era e presumo ser ainda president. Se- guiu-se-lhe, chamado com urgencia pelo Ministro do Trabalho, o dr. Olavo Oliveira. Essas viagens repentinas, por via area, eram de molde a gerar apprehens5es nos espiritos. A si- tuaggo parecia complicar-se, trabalhada por influen- cias. mysteriosas, impenetraveis i visdo de observa- dores distantes. As noticias procedentes da metropo- le jA se nao coloriam do optimism anterior. 0 Pre- sidente- da Republica mostrava-se esphingetico. Ti- vera boa impressed do dr. Edgard de Arruda, que o visitara em Petropolis. Mas com elle se nao abrira. .No seio da bancada lecista nao havia uma orientagdo uniforme,ao passo que uns gravitavam para o Cattete, .outros tendiam para a opposiggo. Um destes, porque amigo pessoal do dr. Menezes Pimentel, estaria corn as expanses, a que se entregava, sendo nefasta a sua causa. S6 corn muita finura de tacto lograriam os drs. Edgard de Arruda e Olavo Oliveira, contornar tamanhas difficuldades. Cornm effeito, moment houve em que ihes pare- ceu ganha a partida: a pouco e pouco o Presidente cedia, deixando entrever a possibilidade de um ac- cordo em torno do nome do dr. Menezes Pimentel. Mas, a illusgo nao durou mais do que a estafa- da rosa do poeta. Os plenipotenciarios lecistas nao se revelavam bons psychologos... 0 Chefe da Nagao tinha um eandidato ao Governo do Ceara; somente, esse candidate nao era o dr. Menezes Pimentel, mas o Dr. Edgard de Arruda. Era o que rezavam as ulti- mas cartas dos drs. Edgard e Olavo para o dr. Jose Martins, vindas por via. area e confirmadas por ca- bogramma do segundo, datado de 29 de abril. 0 dr. Olavo informava mesmo haver sido incumbido pelo Ministry Agamenon, em nome do Presidente da Re- publica, da missdo de trabalhar junto a "Liga". em fa- vor do dr. Edgard. O effeito produzido pela nova formula, de- todc em todo imprevisivel, foi desconcertante. No mesmo dia, pela manhn, a convite do Dr. Ste- nio Gomes, com quem me encontrara a porta do seu escriptorio, estive- em companhia delle na residencia do dr. Jos6 Martins, onde jd se achavam os Drs. Me- nezes Pimentel e Brasil Pinheiro. Nessa reunido, a unica voz que se ergueu para combater a intromissdo do Presidente da Republica na political do Estado, foi a minha. Declarei que mi- nha attitude seria a mesma, isto 6, de absolute soli- dariedade corn a candidatura Pimentel. Nada tinha a allegar contra o dr. Edgard, de quem era amigo, e que eu considerava digno de exercer o governor do' Esta- do. A questdo era para mim de ordem moral.Preci- savamos rehabilitar o nome do Ceara, perante a opi-. nigo national. A. victoria fora nossa, alcangada ao pr.eq6 dos mais ingentes sacrificios. Nao se-justifica- va, pois, a intervengo -do Presidente da Republica na economic da "Liga"-para ihe impor uma formula con- traria a que ella adoptara, no uso de um direito ina- lienavel. 0 dr. Jose Martins encarava corn pessimismo a situagIo creada pela attitude do Chefe da Nagdo. Da nossa resistencia a sua vontade, podiam resultar s6- rias complicag6es para a "Liga". 0 caso do.Para va- lia por uma advertencia: apesar da opposig-o alli -.ontar corn a maioria absolute da Constituinte, f6ra obrigada a acceitar um candidate indicado por S. Excia.. Tudo seria possivel, objectei eu; mas, na hypo- these de sermos vencido, cahiriamos corn dignidade. . 0 dr. Pimentel, disse estar prompto a renunciar a sua candidatura, uma vez que esse seu gesto viesse obstar a effusdo de sangue. Dos que se achavam a frente do Governo do Estado, accrescentou S. S., eram de esperar todas as violencias. Os drs. Stenio Gomes e Brasil Pinheiro nao emit- tiram sua opinilo. A' noite, effectuou-se nova reuniao, convocada para a nossa casa. Estiveram presents a ella os drs. Menezcs Pimentel, Paula Rodrigues, Sylla Ribeiro, Ruy Monte, Correia Lima, Brasil Pinheiro e Jose Martins. Este expoz os fins da mesma, lendo trechos da carta do dr. Edgard e alludindo 6 do dr. Olavo. O illustre dr. Paula Rodrigues mostrou-se surpre- hendido corn o que acabava de ouvir,declarando nao se justificava a retirada da candidatura Pimentel. Identica declarag~o fez em seguida o dr. Sylla Ribeiro. Minha attitude e minha linguagem nao se modi- ficaram. Nao deviamos submetter-nos a humilhacdo que se queria infligir ao Ceara, negando-se-lne a pre- rogativa de escolher livremente seu primeiro magis- trado. O dr. Ruy Monte partilhava das apprehensbes do dr. Jos6 Martins. S. S. encarava mesmo a questao sob outro angulo. A solugdo proposta nao collocaria mal a "Liga", pensava S. S., desde que o nome in- dicado para substituir o do dr. Menezes Pimentel era o do seu proprio president, o dr. Edgard de Arruda, Usando da palavra, o dr. Pimentel renovou as declaragoes que fizera na reuniao da manhd, com res- peito a sua candidatura. Era do ponto de vista pes- soal, uma attitude elogiavel. Mas, havia a encarar outros aspects da questao, sem duvida de maior re- levancia. Depois de longamente debatido o assumpto, ficou assentado, sem discrepancia, ouvir-se a bancada consti- tuinte lecista sobre o que occorria. Nao fazia ainda uma semana que ella reaffirma- va de maneira categorica sua solidariedade corn a candidatura Pimentel. Seria, pois, fazer-lhe injuria suppo-la capaz de, a um simples aceno do Cattete, fu- gir aos compromissos que assumira, para se confor- mar corn outra candidatura. Assim, porem, nao entendeu o dr. Jos6 Martins. Nao sei se por iniciativa propria, ou de outrem, agin- do em todo caso contrariamente ao que ficara resolvi- do, procurou S. S. os deputados lecistas corn o intui- to de obter suas assignaturas para umrn declaraio de apoio ao nome do dr. Edgard de Arruda. Mas, corn tal soluqdo nem todos concordaram. Al- guns houve que recusaram p6r seus nomes naquelle document, apesar do dr. Jose Martins affirmar, par- ticularmente, a cada um delles, como argument de- cisivo, que s6 faltava alli sua assignatura. Um destes foi o deputado George Moreira Pequeno, que me com- municou o estranho facto, e cuja palavra de home de character ninguem ousara contestar. Conforme se combinAra, reuniram-se depois os dezesete constituintes da "Liga", na chacara perten- cente ao dr. Edgard de Arruda, entdo no Rio. Alem daquelles, estiveram presents A reuniao os drs. Me- nezes Pimentel, Jose Martins e eu. Della resultou, por unanimidade, que a "Liga" continuaria a presti- giar o nome do dr. Menezes Pimentel. 0 dr. Jos6 Martins nada disse sobre as demar- ches que andara a fazer em pr61l do dr. Edgard, o que nao podia deixar de provocar justos reparos. Explicando a attitude do Integralismo, deciarou o deputado Ubyrajara Indio do CearA, em seu nome e no do seu college Carlos Benevides, que nao votariam em outro candidate que nao o dr. Menezes Pimentel. Essa declaraqdo vinha confirmar, de modo irre- fragavel, o informed que me prestdra o illustre depu- tado George Pequeno. Os integralistas nao tinham assignado o manifesto de apresentagdo da candidatu- ra Edgard. Eram assim trez, pelo menos, os que ha- viam desattendido ao appello do dr. Jos6 Martins. Do deputado Hildeberto Barroso, dizia-se que tivera igual procedimento. Da deliberaqdo tomada em favor da candidatura Pimentel, deu-se conhecimento, por cabogramma, aos representantes da "Liga", no Rio. No dia seguinte, dizendo-se sensibilizado, la o dr. Menezes Pimentel visitar-me para agradecer minha attitude, que elle bondosamente qualificava decisive do exito de sua candidatura. Sem embargo do desassombro com que mais uma vez affirmaramos o proposito de levar o Dr. Menezes Pimentel ao governor, o ambiente no Estado contmua- va carregado. Espiritos impressionaveis reputavam mesmo a situagao perdida. 0 Governo Federal teria meios de nos aniquilar, como castigo a altivez de que deramos prova. Concomitantemente, fazia-se no Rio trabaiho acti- vo no sentido de compellir a "Liga" a acceitar a can- didatura Edgard de Arruda. A elle, segundo carta de respeitavel sacerdote, nao era estranho o presiden- te da "Liga". Ao contrario, corn a acquiesceicia des- te, alguns membros da colonia cearense tentaram obter do dr. Amoroso Lima um telegramma para os dirigentes da Liga, no Estado, a favor da formula sug- gerida pelo Cattete. Em uma reunido, a que comparecera o missivis- ta, fizera o dr. Edgard de Arruda esta revela~go sur- prehendente: "Infelizmente, o Pimentel nao sera Go- vernador, porque o Getulio nao quer. 0 candidate no moment sou eu". Posto que o president da Junta Nacional da "Liga Catholica", corn autoridade, portanto, para fa- lar em nome della, achou o Dr. Amoroso Lima conve- niente consultar a respeito o Sr. Cardial D. Leme; mas S. Eminencia oppoz-se formalmente, 6quella demarche. No dia 2 de maio, os drs. Olavo Oliveira e Pedro Firmeza cabographaram ao dr. Jos6 Martins nestes terms: (De Rio, 2 2 h. 06) S6 transmittimos nosso cabo depois seguramente convencidos impossibilida- de manter Pimentel ante insuccesso todas medidas co- nhecidas ahi para impol-o confianga Getulio. Unica solugio salvadora seguir alvitre Getulio, que tendo to- da forga sobre nossos adversaries, igualmente tudo po- de contra n6s, visto nao contarmos ahi com Tribunal nem president deste nem commandant guarnigdo regido, atravez cujas autoridades correm medidas ga- rantidoras. Temos agora ensejo "Liga" plenamente victoribsa nome Edgard. Amanha, diante m4 vontade Getulio insatisfeito acabaremos tereeiro candidate por elle tambem escolhido depois nossos amigos, sof- frerem talvez ate sacrificios vidas. Insistimos respos- ta immediatai incontrindo manter situaqo indecisa tambem caso urgindo visto ida Getulio Argentina. Abraqos. Olavo Oliveira, Pedro Firmeza. Dir-se-ia que o panico contagiara os signatari.os do despacho acima. Mas, aos que ndo tinham perdi- do-o senso da realidade, acudia esta pergunta: porque tambem nao teriam assignado aquelle despacho os de- mais membros da bancada, inclusive o illustre dr. Waldemar Falcdo? Leader da bancada, seria absur- .do pensar que elle estivesse alheio ao que se passava em tao angustiosa situagao... Ha uma circumstancia, no.. caso, a assignalar: oc drs. Olavo Oliveira e Pedro Firmreza eram os deputa- dos, que, pouco tempo depois, haviam de constituir, corn o dr. Edgard de Arruda, o Directorio do novo Partido a se organizer sob a chefia do ultimo. Havera nada mais claro? Dizia Talleyrand, procurando justificar sua adhe- sao aos. Bourbons, que s6 os loucos ficam numa casa que se incendeia. A candidatura Pimentel estava a pique de ser queimada pelos que tinham o dever de amparal-a; porque teimar-se em mantel-a?.,. Nesse estado de cousas, mais de uma vez fui pro- curado por elements prestigiosos de various matizes para concordar com a indicagao 'do meu nome para Governador do Estado, como formula de concilia~go. Nunca tergiversei um moment. Minha resposta foi sempre, invariavelmente, a mesma: eu n5o me eva- diria ao compromisso, que assumira, com o dr, Mene- zes Pimentel. Estdo ahi todos quantos em hora tao difficil fo- ram 6 nossa casa com aquelle objective. Elles que di- gam da franqueza e sinceridade com que Ihes desvelei meu pensamento'. Quem, como eu, renunciou, o cargo de Senador |